Versão Inglês

Ano:  1971  Vol. 37   Ed. 2  - Maio - Agosto - (22º)

Seção: -

Páginas: 154 a 157

 

Nossa Experiência no Tratamento Cirúrgico dos Traumatismos do Ouvido*

Autor(es): Humberto Afonso Guimarães **
Nicodemos José Alves de Sousa**

Introdução:

Os traumatismos que atingem o osso temporal com freqüência, lesam estruturas nobres que estão no seu interior como a membrana timpânica, a cadeia ossicular, o nervo facial, a artéria carótida interna, a veia jugular, o labirinto e outros nervos e vasos do meato acústico interno.

Dependendo do agente causal, sua intensidade e do tipo de lesão, podemos ter comprometimento de uma ou várias das estruturas acima referidas o que torna o tratamento bastante variado.

A finalidade de nosso trabalho é apresentar nossa experiência em traumatismos de ouvido em pacientes atendidos no serviço de Otorrinolaringologia da Santa Casa de Belo Horizonte, nu período de outubro de 1959 a junho de 1971, mostrando aspectos que achamos mais importante, na semiologia e nossa conduta quanto ao tratamento.

Observações:

Tivemos 15 casos distribuídos de acôrdo com o quadro I.




Fizemos, dependendo do tipo de traumatismo, exame neurológico completo, topodiagnóstico da lesão do nervo facial quando havia comprometimento dêsse nervo utilizando o teste de Schirmer, gustometria química, algiacusia, exame ORL completo pesquisando no ouvido principalmente a presença de hemorragia, liquorragia, infecção, laceração do conduto, fratura, laceração da membrana timpânica, hemotímpano, etc.

Em todos os casos fizemos audiometria e exame vestibular avaliando assim o grau de acometimento das funções cocleares e vestibulares. Exceção feita aos 2 casos de traumatismo cirúrgico com secção do nervo facial que nos foram encaminhados por outros serviços onde a audiometria tinha sido realizada.

Fizemos de acôrdo com o traumatismo, RX nas incidências de Schuller, Chaussé III, Stenvers, Guillen, rochedos projetados nas órbitas e nos casos de traumatismos por projétil de arma de fogo, contando com o auxílio do nervo-cirurgião, fizemos arteriografia da carótida para estudar a relação de proximidade do projétil com a carótida interna. Achamos importante estudar esta relação pois poderíamos ter hemorragia grave na remoção de um projétil no hipotímpano.

No quadro 2 temos os vários tipos de lesões encontradas nos 15 pacientes, chamando a atenção que os quatro casos de traumatismo craneano tinham fratura longitudinal do rochedo.


QUADRO II - Correlação entre os tipos de lesões nos diferentes traumatismos.



OBS. - 1 paciente de traumatismo craneano teve paralisia imediata num ouvido e tardia em outro

Tratamento e Resultados

No quadro III apresentamos o tratamento dos casos em que havia paralisia facial nos vários tipos de traumatismos.


QUADRO III - Tratamentos e Resultados na Paralisia Facial



A descompressão total por via translabiríntica foi executada por haver sinais clínicos de lesão do nervo facial comprometendo o gânglio geniculado além de anacusia e arreflexia vestibular.

Os casos de descompressão total por via fossa média foram executados por haver sinais clínicos de comprometimento do gânglio geniculado com preservação das funções coclear e vestibular.

Nos casos de enxêrto do nervo facial usamos o nervo fibular sendo que em 1 caso o enxêrto se estendeu dêsde a porção do nervo facial no foramem estilo-mastoídeo até sua bifurcação na parótida e os outros dois casos os enxêrtos foram feitos nas porções timpânicas e mastoídea do nervo.

No quadro III apresentamos também o resultado do contrôle post-operatório num período de tempo que variou de 1 mês até 30 meses, Consideramos como bom as casos em que o paciente consegue fechar o ôlho e houve recuperação quase que completa da mímica facial.

Esclarecemos também que êstes casos de paralisia facial foram operados num período de tempo que variou de 6 a 63 dias após o traumatismo, correspondendo êste último, àquele em que Houve pouca melhora da paralisia.

No quadro 4 apresentamos os tratamentos e resultados de lesões da membrana timpânica e cadeia ossicular.


QUADRO IV - Tratamentos e Resultados de Lesões da Membrana Timpânica e cadeia ossicular.



Novamente esclarecemos que uma mastoidectomia radical no traumatismo por arma de fogo foi feita associada a uma descompressão do facial por via translabirintica e a outra o vulto da lesão no conduto levava o perigo de uma estenose do mesmo. O caso de mastoidectomia radical no traumatismo cirúrgico foi o que levou à secção do nervo.
Consideramos os casos classificados como ótimo no quadro IV, quando houve pega do enxêrto, fechamento da perfuração e do "gap" e cura da infecção.

Em todos os casos de traumatismo por projétil de arma de fogo efetuamos a sua remoção visando a cura da infecção, à restauração funcional do ouvido e o tratamento da lesão do nervo facial.

Conclusão:

Devemos portanto antes de tomar uma conduta nos traumatismos de ouvido, avaliar criteriosamente os sinais e sintomas encontrados assim como os exames complementares e as vêzes trabalhar em colaboração com um neuro-cirurgião de modo a indicar um tratamento eficaz e em tempo útil aos acidentados.

Resumo:

Os autores apresentam 15 casos de traumatismos variados do ouvido. levando a diferentes tipo de lesões e sua conduta no diagnóstico e tratamento destas lesões assim como os resultados obtidos. Chamam a atenção para determinados detalhes no diagnóstico como exame neurológico completo com arteriografia carotidiana nos traumatismos por projétil de arma de fogo.

Summary:

There are reported the management and results of fifteen cases of ear trauma. It is stressed the value of complete neurologic examination with carotid arteriography in those trauma caused by gumfire injuries.

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* Trabalho realizada no serviço de O. R. L. da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte - MG.
** Assistentes do Serviço de Otorrinolaringologia da Santa Casa de Belo Horizonte, e da Faculdade de Ciências Médicas de MG.

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