Nossa Experiência na Neurotomia Vestibular
Autor(es):
Nicodemos José Alves de Souza 1,
Roberto Eustequio Santos Guimarães 2
Carlos Eduardo Carvalho Coelho 3
A secção do VIII par craneano como tratamento das doenças Vestibulares Periféricas, é uma cirurgia que está caminhando a largos passos e entrando na rotina de muitos serviços de otologia. A técnica tem variado conforme a patologia a ser tratada, o estado da audição ou a preferência do cirurgião.
uma cirurgia que está se difundindo cada vez mais, sendo indicada no tratamento de síndromes Vestibulares Periféricas resistentes ao tratamento clínico ou à cirurgia conservadora. como no caso da Doença de Meniére.
Podemos esquematizar a secção do VIII par, dividindo-a em três grupos principais:
- Via Translabiríntica: a) transmatoídea; b) transmeátíca, transvestibular.
- Via Fossa Média.
- Via Fossa Posterior.
A finalidade do nosso trabalho é apresentar e discutir três casos operados no nosso serviço, pela Via Translabiríntica-transmastoídea. Em todos os casos havia anacusia e por êste motivo preferimos a via Translabiríntica, por não ser necessário preservar a audição. No terceiro caso havia suspeita de Tumor ao nível do labirinto.
Observações:
1.° caso: M. J. M. - sexo F. - 34 anos, casada, branca.
Aos 10 anos de idade aproximadamente apresentou três crises de vertigem rotatória objetiva, com sintomas Neurovegetativos, não se lembrando se têve sintomas auditivos, nem o intervalo entre as crises. Aos 17 anos começou a apresentar hipoacusia no ouvido direito, progressiva, sendo que aos 19 anos apresentava surdez total (sic).
Passou bem dos 10 aos 28 anos de idade, (há 6 anos) quando voltou a apresentar crises vertiginosas intensas, com sintomas Neurovegetativos, quedas para o lado esquerdo, zumbido no ouvido direito que aumentava de intensidade durante as crises. Há 3 anos as crises vertiginosas aumentaram muito em intensidade e freqüência, raramente ficando quinze dias sem vertigem, e às vêzes tendo duas crises ao dia ou várias na semana, precisando acamar-se e incapaz para o trabalho.
Exame ORL - normal.
Audiometria - anacusia - OD.
Exame vestibular - hiporreflexia vestibular Direita.
RX - Schuller, Stenvers, rochedos projetados nas órbitas - suspeita de alargamento do MAI direito.
Exame neurológico - normal - incluindo RX crâneo, pneumoencefalografia liquor, Cisternagrafia contrastada do Ângulo Ponto - cerebelar - inconclusiva. Operada em 22-12-1970 - Neurotomia Vestibular - Via Translabiríntica.
Normais as estruturas do MAL
Completamente recuperada - ausência de zumbido, desequilíbrio ou tontura.
2.° caro: H.A.L. - sexo F. - 59 anos, casada, branca.
Há 1 ano nota zumbido no ouvido direito (chiado), inconstante e vertigem subjetiva relacionada com posição da cabeça (quando se deita, quando se levanta).
Há 6 meses nota hipoacusia no ouvido direito, progressiva, sendo que há 3 meses apresenta surdez total (sic), sensação de parestesia na hemiface direita.
Exame ORL - normal.
Audiometria - anacusia - OD.
Exame vestibular: instabilidade com tendência de queda para a direita, vertigem de posição em todos os decúbitos, hiporreflexia vestibular direita à ENG., sensibilidade da parede posterior do meato acústico externo direito diminuída.
Exame neurológico: normal, incluindo liquor, arteriografia cerebral.
RX - Schuller, Stenvers, rochedos projetados nas órbitas - sem alterações. Cisternografia contrastada do ângulo Ponto-cerebelar - inconclusiva. Operada em 26-4-1971 - Neurotomia Vestibular - Via Translabiríntica. Normais as estruturas do MAI.
Passando bem, sem vertigem, com discreta instabilidade.
3.° caso: A. J. S. - sexo M. - 34 anos, casado, branco.
Há 8 anos surdez pregressiva ouvido direito, chegando à anacusia em 3 meses, (sic). Há 2 anos apresentou paralisia facial periférica direita, de início súbito. Nega vertigem, desequilíbrio, zumbidos. Há 2 meses secreção viscosa no OD.
Exame ORL - pequena perfuração timpânica central, no OD, por onde saía secreção viscosa clara.
Audiometria - anacusia - OD.
Exame Vestibular - arreflexia vestibular direita - com ENG.
Exame elétrico do Facial - teste de Hilger. - Bloqueio parcial à direita.
Eletrogustometria - diminuição à direita - Schirmer - discreta diminuição à direita. Paralisia Facial Periférica Direita - grau III.
Exame Neurológico - normal.
RX - Schuller, Stenvers - ausência da imagem dos canais semicirculares à direita. Cisternografia contrastada do Ângulo Ponto cerebelar - inconclusiva.
Operado em 1-6-1971 - Neurotomia Vestibular Direita Translabiríntica.
Não encontramos alterações nas estruturas do MAI ou no nervo facial em todo seu trajeto intratemporal. Havia obliteração dos canais Labirínticos por tecido ósseo. Fixação da platina do estribo - semelhante a otosclerose obliterante.
Exame anátomo patológico do Nervo Vestibular - Fibrose peri-neural moderada.
Exame de estrutura mole de dentro do Vestíbulo - Tecido conjuntivo fibrilar algo denso, com pontos de calcificação.
Passando bem - inalterada a paralisia facial.
Conclusões:
Nos casos apresentados, o resultado da cirurgia quanto à sintomatologia vertiginosa, foi ótimo confirmando a estatística de outros autores.
Resumo:
Os autores apresentam três casos de Neurotomia Vestibular por Via Translabiríntica, cuja indicação foi para cura de vertigem rebelde ao tratamento clínico, e suspeita de tumor ao nível do labirinto.
Summary:
There are repotted three cases of Translabyrinthine Neurotomy, two for and one as a diagnostic procedure.
treatment of dizziness, and one as a diagnostic procedure.
Bibliografia:
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Portmann, M., Antoli-Candeia, F., Coltadon, F., Fisch, U. P., Guerrier, Y. et Prades, J. - Procédés chirurgicaux concernant les tumeurs péripétreuses et le conduit auditif interne. Revue de Laryngologie, 1-2. 91, 90108.
Guimarães, R. E. S. - Neurotomia do VII par craniano. Rev. Bras. de Otorrinol. 37:6-15, 1971.
1 Assistente de Otorrinolaringologia da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais e do serviço de Otorrinolaringologia da Santa Casa - Belo Horizonte.
2 Do serviço de Otorrinolaringologia da Santa Casa - Belo Horizonte.
3 Assistente de Neurologia e Neurocirurgia da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais e do serviço de Neurocirurgia da Santa Casa - Belo Horizonte. (Prol. José Gilberto Alves de Sousa.)