Versão Inglês

Ano:  1971  Vol. 37   Ed. 2  - Maio - Agosto - ()

Seção: -

Páginas: 98 a 100

 

Sôbre um Caso de Transformação Maligna de Papiloma Nasal 1

Autor(es): Lamartine Junqueira Paiva 2,
Ronaldo Jorge Nazar 3,
João sofista Ferreira 4
Ossamu Butugan 5

1 - Introdução:

O papiloma da fossa nasal e seio paranasal é considerado tumor benigno e raro; mais raro, ainda, é a ocorrência de transformação maligna dêste tumor. Mabery, na revisão da literatura até 1965, encontrou sòmente 14 casos de transformação maligna de papiloma nasal.

A finalidade dêste é relatar um caso de papiloma nasal e sinusal que se transformou em carcinoma, cujo paciente foi atendido na Clínica O.R.L. do Hospital das Clinicas.

2 - Relato do Caso:

O. G. P., 52 anos, masculino, pardo, foi atendido no dia 15 de agôsto de 1970 na Clínica O.R.L. do Hospital das Clínicas da F.M.U.S.P. com história de obstrução nasal direita e epistaxis freqüentes há 10 anos e que há 15 dias teve hemorragia nasal que necessitou tamponamento nasal. - Nega outras queixas. - A rinoscopia anterior mostrou no têrço posterior da fossa nasal D, uma formação esbranquiçada, polipoide, ocupando tôda cavidade nasal, discreta secreção amarelada. - A rinoscopia posterior revelou formação de mesmo aspecto ocupando tôda região coanal D. - O exame radiográfico mostrou opacificação dos seios maxilar, etmoidal e esfenoidal D. - A biópsia nasal revelou "processo inflamatório crônico de natureza inespecífica, com acentuado edema intersticial, polipoide, da mucosa nasal".

A 10-11-70 foi operado pela técnica de Caldwell-Luc e "polipectomia nasal" D., encontrandose na região do osteo maxilar formação polipoide que se continuava na fossa nasal D, sendo esta formação removida junto com parte da parede do meato. - O etmoíde e esfenoide foram abertos, encontrando-se sòmente mucosa hiperplasiada.

O anátomo-patológico da peça operatória revelou "papiloma da mucosa da fossa nasal e do seio maxilar".
Evoluiu satisfatòriamente, porém, a 15-12-70 retornou ao ambulatório com queixa de rinorreia purulenta, dor na região maxilar D. e cacosmia, medicado, mas não obteve melhora. - O exame radiológico de 29 de janeiro de 1971, acusou "sinusopatia D.", fêz-se punção maxilar que foi normal.

A 18-2-71 retornou com agravamento e piora da sintomatologia dolorosa na hemiface D., rinorreia purulenta, quando então fêz-se nova punção maxilar que foi normal. - Uma semana depois o paciente procurou o Pronto Socorro referindo dor intensa na hemiface D., obstrução nasal, rinorreia purulenta e trismo. - Ao exame foi constatado prose palpebral D., paralisia do oculo-motor D. - A rinoscopia anterior foi notado secreção muco-catarral; formação polipoide, esbranquiçado, localizada na região posterior do meato médio e logo atrás desta formação havia uma formação tumoral de coloração rósea, sem ulceração, de aspecto degenerado. - E pela rinoscopia posterior foi observado pequena formação tumoral semelhante à degeneração polipoide da cauda do corneto inferior, ocupando a coaria D. e na porção mediana D. do teto do cavum havia uma pequena massa tumoral de mesmo aspecto do tumor coanal. - O paciente foi internado e realizou-se vários exames:

Biópsia nasal: carcinoma plano celular.

Exame oftalmológico: ôlho D. sem percepção, prose palpebral Sup. D. Paralisia do ovulo-motor D. - Sensibilidade corneana diminuída à D. - Alteração do reflexo pupilar D.

Fundo de ôlho: leve assimetria no calibre e coloração nas veias entre os 2 olhos; à Direita são mais engurgitadas e mais escuras. - Não havia edema de papila.

Exame Radiológico: sinusopatia D. não havia evidência de tumor na região de base de crâneo. Exame Neurológico: comprometimento do 2 °, 3.°, 4.º e 6.1 par à D. e 5.° par sensitivo à D.
O neurologista concluiu que o caso tivesse comprometimento da base de crâneo; sendo o diagnóstico clínico, pois o exame radiológico não revelou imagem de comprometimento da base do crâneo. E, acrescido do resultado anátomo-patológico chegou-se à conclusão de que o tumor era inoperável e foi instituído radioterapia.

Com as aplicações de radioterapia, o paciente teve melhora da sintomatologia dolorosa, queixando-se sòmente de uma discreta obstrução nasal.

No último seguimento ambulatorial do dia 8-6-71, o paciente apresentava-se relativamente bem.

3 - Comentários:

O papiloma nasal é também relatado como tumor fibroepitelial, fibroepitelioma, sinusite papilar, polipo com metaplasia invaginado, papiloma epitelial, papiloma invaginado, papiloma mole ou duro.

O papiloma nasal é, histològicamente, um tumor benigno e é de ocorrência rara. - A transformação maligna do tumor foi relatada pela primeira vez em 1897 por Hellman. - A seguir outros, autores descreveram casos de carcinomas originários de transformação de papiloma nasal.

O presente caso é o de um paciente com 52 anos de idade, masculino, com papiloma nasal e sinusal que se transformou em carcinoma plano celular.

Os pacientes portadores de papiloma nasal são, geralmente, do sexo masculino e do grupo etário acima de 50 anos de idade, como é o nosso caso.

Talvez devido à sintomatologia, geralmente são observados a obstrução nasal e epistaxe. - Apôs a malignização do papiloma, a queixa dolorosa é o sintoma que mais chama a atenção.

Talvez devido aos poucos casos, de transformação maligna do papiloma nasal descritos na literatura, vários fatôres são tidos como os responsáveis por êste acontecimento. - A maioria refere que a malignização do papiloma, geralmente, ocorre após vários anos de evolução. - Alguns atribuem e dão um valor muito grande ao fator radioterápico, isto é, a radioterapia teria um efeito cancerígeno sôbre o papiloma. - Outros descreveram como causa da malignidade, às repetidas recidivas dos papilomas nasais após 1 mês da cirurgia.

O nosso caso começou a apresentar dor que foi se acentuando, sendo dois meses depois confirmado o diagnóstico de carcinoma plano celular, com sintomas neurooculares de comprometimento de base de crâneo. - Devido a esta rápida evolução e extensão da neoplasia, a terapêutica-cirúrgica não foi efetuada, sendo instituída a radioterapia. - Com esta orientação o paciente teve melhora da sintomatologia dolorosa, porém julgamos que o prognóstico do caso é sombrio.

4 - Resumo:

Os autores apresentam um caso, raro, de papiloma nasal que se transformou em carcinoma plano celular. - Discutem o "material", comparado aos dados da literatura, chamando atenção para a raridade desta ocorrência.

5 - Summary:

The autores present a peculiar case of nose papiloma which developed to a celular level carcinoma. - They discuss the material comparing the results to the, literature data, overtopping the rareness frequency of this abnormality.

Bibliografia

1. Fechner, R. E.; Alford, D. O. - Inverted papilloma and squamous carcinona - Arch. Otolaryng. 88: 507-512, 1968.
2. Hellman, L. - Papilloma durum der nasen - and stirnhollenshleimhant uebergang in carcinom: mit rucksicht anf die casuestik 6: 171192, 1897, Apud Mabery etal.
3. Henrot, J.; Desnos, J; Vignard, J. - Ewing's or Ringert'z papilloma of the nose and sinus. Ann otolaryng - 87: 49-64, 1970.
4. Kramer, R; Som, M. L. - True papilloma of the nasal cavit. Arch otolaryg 22: 22-43, 1935.
5. Mabery. T. E; Devine, K. D.; Harrison, E. G. Jr - The problem of malignant transformation in a nasal papilloma. Arch Otolaryng. 82: 296-300, 1965.
6. Marcial - Rojas, A. A.; Deleon, E: Epithelial papillomata of the nose and accessory sinuses. Arch Otolaryng - 77: 634-637. 1963.
7. Norris, H. J. - Papillary lesions of the nasal cavity and paranasal sinuse Part I: exophytic (Squamous) papillomas. - A study of 28 cases - Laryngoscope - 72: 1784 - 1796, 1962.
8. Saxen., A. - The relationship of nasal polyps and papillomas to cancer. Acta otolaryng (supl) - 100: 98-99, 1962.
9. Skolnik, E. H.; Leowy A.; Friedman, J. E. - Inverted papilloma of the nasal cavity. Arch Otolaryng - 84: 61-67, 196-6.
10. Smith, A. T.; Decker, J. P. - Papillary lesions of the nose and sinuses Traus. Amer. Laryng. Assoc. 83: 176-189, 1962. - Apud Mabery et al.
11. Verner, J. L.; Magnda, T. A.; Young, J. M. - Epithelial papillomas of the nasal cavity and sinuses - Arch. Otolaryng - 70: 574579, 1959.




1 Trabalho realizado na Clínica O. R. L. do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade São Paulo.
2 Professor.
3 Médico-assistente.
4 Médico-residente.
5 Assistente-Doutor.

Imprimir:

BJORL

 

 

 

 

Voltar Voltar      Topo Topo

 

GN1
All rights reserved - 1933 / 2024 © - Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico Facial