Versão Inglês

Ano:  1971  Vol. 37   Ed. 1  - Janeiro - Abril - (13º)

Seção: Notícias e Comentários

Páginas: 57 a 75

 

Noticias e Comentários - parte 1

Autor(es): -

XX Congresso Brasileiro de Otorrinolaringologia

Será realizado de 4 à 9 de setembro de 1971 em São Paulo o XX Congresso Brasileiro de Otorrinolaringologia. A Comissão Executiva é composta, dos seguinte colegas: Otacilio de Carvalho Lopes F.°, Presidente - Aroldo Miniti, Secretário - Marco Elizabetsky, Tesoureiro. Tôda a correspondência deverá, ser enviada para Alameda Rio Claro, 28 - São Paulo.

O Programa Oficial é o seguinte: TEMAS OFICIAIS:

1 - Emergências em otorrinolaringologia: Coordenador Prof. Paulo Mangabeira Albernaz.
a) Hemorragias Nasais e Naso Sinusais.
b) Hemorragias Rinofaríngicas e Laríngicas.
c) Dispnéias Faríngo Laríngicas.
d) Surdez Súbita.

2 - Métodos objetivos da avaliação da audição: Coordenador Prof. Geraldo Sá.
a) Audiometria de respostas evocadas (Audiometria Cortical).
b) Microfonismo Coclear (Fenômenos elétricas cocleares).
c) Psicogalvanometria e outros métodos de respostas elétricas.
d) Impedância Acústica.

3 - Imunopatologia em Otorrinolaringologia: Coordenador Prof. José Kós.
a) Imunopatologia do Tecido Linfático:
   Al: Conceito Atual do Sistema Linfático.
   A2: Ponderações Clínicas.
   A3: Tecido Linfático e Reações Imunológicas.
b) Imunopatologia das Doenças Granulomatosas em Otorrinolaringologia:
   Bl: Aspectos Imunológicos.
   B2: Aspectos Clínicos.

CONFERENCIAS INFORMAIS:

1 - Vertigem - Coordenador Prof. Hélio Hungria.
a) Conceituação de Vertigem.
b) Síndromes Periféricas (sem alterações do aparelho cócleo-vestibular).
c) Síndromes Periféricas (com alterações do aparelho cócleo-vestibular).
d) Diagnóstico Diferencial entre Vertigem Periférica e Central.
e) Cirurgia da Vertigem (Estado atual).

2 - Patologia das glândulas salivares - Coordenador Prof. Octacilio Lopes.
a) Semiologia e Sialografias.
b) Sialolitíases.
e) Inflamações Recidivantes.
d) Doenças degenerativas (benignas).
e) Tumores.

3 - Indicações Cirúrgicas das Sinusopatias - Coordenador Prof. Ermiro E. de Lima.
a) Conceitos Atuais.
b) Exame Radiológicos.
c) Sequelas das Cirurgias das Sinusopatias.
d) Cirurgia das Complicações das Sinusopatias.
e) Mucoceles e Osteomielites.

4 - Indicações das Próteses Auditivas - Coordenador Prof. Pedro Luiz M. Albernaz.
a) Estado atual das Próteses Auditivas.
b) Indicações na Criança.
c) Indicações nas Disacusias Senis.
d) Indicações nas Disacusias com Recrutamento.
e) Prescrição e adaptação.

5 - Disfonias - Coordenador Prof. Pedro Bloch.
a) Conceito de Disfonias.
b) Causas Tumorais.
c) Tratamento Medicamentoso.
d) Tratamento Cirúrgico.
e) Tratamento Foniátrico.

6 - Cefaléias - Coordenador Prof. Maurilio Soares.
a) Causas Neurológicas.
b) Causas Oftalmológicas.
c) Causas Otorrinolaringológicas não Naso Sinusais.
d) Causas Naso Sinusais.

CURSOS DURANTE O CONGRESSO:

1 - Otites Médias Crônicas - Prof. Richard Bellucci (New York).
2 - Semiologia do Aparelho Vestibular - Prof. Wallace Rubin (Tulane, New Orleans).
3 - Cirurgia Otoneurológica - Prof. Ugo Fisch (Zurich).
4 - Doenças Vestibulares Periféricas - Prof. Robert Wolfson (Philadelphia Medical College).
5 - Cirurgia Reconstrutiva do Ouvido - Prof. Antoli-Candela (Espanha).
6 - Timpanoplastias - Prof. David Austin (Univ. Illinois, Chicago).
7 - Cirurgia Funcional do Nariz - Prof. Eugène Myers (Univ. Philadelphia).
8 - Atualização em Otoselerose - Prof. David Mvers (Univ. Pennsylvanía).
9 - Atualização dos Problemas Clínicos e Cirúrgicos das Amígdalas - Prof. Rezende Barbosa (São Paulo).
10 - Atualização Clínica e Cirúrgica das Sinusopatias - Prof. Leonidas Mocolin (Paraná).
11 - Audiometria Tonal, Liminar e Supra Liminar - Dr. Aziz La.smar (Guanabara).
12 - Radiologia em Otorrinolaringologia - Prof. Fernando Chammas (São Paulo).
13 - Organização da Clínica O. R. L. (Métodos de trabalho e produtividade) - Dr. Rudolf Lang (Pôrto Alegre).
14 - Aplicações Clínicas da Impedância Acústica - Prof. Peter Alberti (Univ. Toronto).
15 - Micro-Cirurgia da Laringe - Prof. Ivo Kuhl (Univ. Rio Grande do Sul).
16 - Patologia não Cancerosa da Laringe - Pref. Jorge Barreto Prado (São Paulo).

CURSO PRÉ CONGRESSO - Sob os auspícios da Sociedade Brasileira de Otologia: Curso de atualização em Cirurgia Otológica na semana que precede o Congresso (entro os dias 30 de agôsto e 3 de setembro). Será ministrado pelos Drs. Austin e Ugo Fisch. Demonstrações cirúrgicas com TV. circuito fechado (tradução simultânea), demonstração anatômica, projeções de filmes, aulas teóricas e mesas redondas.

CURSO PÓS CONGRESSO - Especialmente dedicado a Residentes e Iniciantes em Cirurgia Otológica. Ministrado pela Prof. Antoli-Candela e seus colaboradores Drs. Miguel Olarieta, Julio de Sanjuán e Felipe Alvarez de Cózar.

PROGRAMAÇÃO SOCIAL OFICIAL:
a) Sessão solene de abertura pelo Presidente de Honra do Congresso o M. D. Governadar do Estado do São Paulo, S.r. Laudo Natel, no Palácio dos Bandeirantes (Morumbi).
b) Coquetel aos Congressistas com recepção no Jóquei Clube do São Paulo.
e) Churrasco oferecido aos Congressistas e acompanhantes, numa Fazenda em Campinas.
d) Jantar do Congraçamento, aos Congressistas e acompanhantes no Buffet Freire, com apresentação do "Show M. M. B.".
e) Visita noturna ao C. E. A. S. A., encerrando-a com a famosa "Sôpa de Cebola''. Nota: Tôdas estas atividades sociais, estão incluídas na taxa de inscrição.




Roteiro da Semiologia da criança com problema de comunicação
(para o especialista em Otorrinolaringologia)

História
   Pré-natal
   Trans-natal
   Pós-natal
       rubéola materna - doenças viróticas
       eclampsia - traumas.
       trauma e anoxias durante o parto.
       uso de ototóxicos - meningites etc.

Exame otorrino completo
   órgãos fonatórios
   mobilidade labial
   língua
   palato mole
   cordas vocais.

Exame foniátrico
   desenvolvimento da fala
   fala repetida
   fala espontânea
   linguagem interior.

Audiometria
Testes psicométricos
   estado emocional
   coordenação motora
   discriminação auditiva é visual
   dominância
   QI.

EEG
Nas crianças entre 5-10 anos - verificar como está o aprendizado leitura e escuta.

Seqüência do interrogatária em Foniatria.

Nome do paciente, idade, sexo, nacionalidade, nome do pai e da mãe, profissão do pai e da mãe. Irmãos: data:

I - Desenvolvimento da fala - com que idade: 1.º - começou a balbuciar; 2.° - passou a imitar os sons; 3.º - usou a primeiras palavras com senso; 4.º - usou frases com 2 ou 3 palavras; 5.º - usou sentenças completas.

II - Quantidade de fala - muita ou pouca: 1.º - gosta de falar?; 2.° - Construção de frases (boa, regular, má).

III - A fala é inteligível: 1.° - aos pais; 2.° - aos irmãos; 3.° - a estranhos.

IV - Se não fala como se comunica: 1.º - com gestos - movimentos dos olhos, expressões faciais, sons primitivos, outras maneiras.

V - De que modo os pais estimulam a fala.

VI -Existem outras pessoas na família com defeito de fala -. quem - quais os defeitos?

VII - Fala-se mais de uma língua na família?

VIII - Audição - Foi feito exame de audição - quando, por quem e resultado. Já apresentou: dores, supurações, infecções, outras doenças no OD e OE? Os pais tem a impressão que a audição é perfeita, quais as razões desta suposição.

IX - Funções vegetativas: 1.° - sabe mastigar e controlar a língua, comida mole e dura; 2.° - sabe engulir líquidos - alimentos mais sólidos; 3.º - sabe usar canudo, assoprar vela, encher balões, assobia.

X - Condições atuais: 1.º - Articulação - boa, regular ou má; 2.º - sons produzidos isoladamente; 3.° - inteligibilidade dos fonemas e palavras; 4.° - capacidade de ligação dos sons.

XI - Respiração - pela bôca pelo nariz - função involuntária. Ritmo de respiração - pouco fundo, sincronizada, suficiente para fraseado comum - outras qualidades de respiração.

XII - Voz - tipo de emissão - tom, timbre, volume, entoação; capacidade de controle.

XIII - Aparelho de fonação - lábios (estrutura e função) Paralisia do lábio superior e inferior. Movimentos dos lábios, fechar, abrir, esticar, estalar, arredondar.

XIV - Dentes - Condições - boa, má, regular. - Falhas, irregularidades. Oclusão - normal, aberta, prognatismo, progeniano.

XV - Mandíbula - estrutura e função, caída, inflexível.

XVI - Palato duro - alta, raso, abobadado.

XVII - Palato mole - estrutura, função, anomalias.

XVIII - Língua - estrutura, função - freio curto, tic, inflexibilidade, outras observações.

XIX - Capacidade de compreensão - compreender ordens, compreender palavras.




Algumas Residências em Otorrinolaringologia nos Estados Unidos

Aprovadas pelo Council on Medical Education, American Board of Otolaryngology e American College of Surgeons, através do Residency Review Comittee for Otolaryngology.






Departamento de Otorrino da A.P.M.

No dia 17 de março foi empossada a nova Diretoria do Departamento de Otorrinolaringologia da Associação Paulista de Medicina que tem como Presidente Dr. Otacilio de Carvalho Lopes F.°; 1.° Secretário: Dr. Luiz Pereira Barreto e 2.º Secretário Dr. Lídio Granato. Na solenidade do posse estiveram presentes o presidente da A. M. B. Dr. Pedro Kassab, e o secretário do interior da Federação Brasileira de Otorrinolaringologia Dr. C. Meireles Vieira.




Jornada Otorrinolaringológica

Realizar-se-á no Rio de Janeiro, GB a 1.ª Jornada da Otorrinolaringologia da SUSEME. nos dias 4 e 5 de Junho próximo, no Centro de Estudos Treinamento e Aperfeiçoamento (CETA) na Praga da República, 111 anexo ao Hospital Souza Aguiar. Inscrições poderão ser feitas no local da Jornada nos dias 1, 2 e 3 de junho das 9 às 15 hs., gratuitamente.




Urbanismo e Medicina

Prof. A. C. Pacheco e Silva

Todos nós, habitantes dessa grande, dinâmica, trepidante - e por que não dizer - tumultuada cidade que é São Paulo de hoje, sentimos a cada passo os efeitos do seu rápido e inaudito crescimento, da explosão demográfica, do gigantismo industrial, do congestionamento do tráfego, da deficiência dos transportes, da carência dos meios de comunicação - telefones, correios e telégrafos - dos ruídos cacofônicos, das obras intermináveis, da falta d'água e do uma infinidade de outros fatôres que tornam a vida difícil e por vêzes insuportável e intolerável.

Na verdade, tudo quanto se observa na nossa Capital não constitui fato isolado, específico à nossa metrópole, dado que fenômeno semelhante ocorre em tôdas as megalópolis do mundo, em maior ou menor escala, com o seu cortejo de contrariedade e dissabores.

Não é, assim, sem razão, que os médicos dos grandes centros estão hoje sèriamente preocupados e alarmados com a incidência de tôda unia série de fatôres, resultantes do crescimento urbano rápido e exagerado, sôbre a saúde física e mental do homem. A observação demonstra gerara vida citadina uni estado peculiar de tensão psicofísica, que se convencionou chamar do stress, palavra inglêsa que não encontra similar nas outras línguas, razão por que foi adotada em tôda a parte.

A natureza humana está, sem dúvida, despreparada para sofrer tamanhos e tão profundos impactos resultantes das grandes e bruscas mutações que se operam no mundo moderno, nesta era tecnológica que esta revolucionando a vida na superfície da terra. Se por um lado os benefícios colhidos são, sob múltiplos aspectos, evidentes, o progresso não deixa de acarretar também sérios inconvenientes para o indivíduo e para a coletividade.

O inaudito desenvolvimento da ciência e da técnica tem permitido, de certa forma, uma melhor adaptação do homem ao meio cósmico. Domina êle, presentemente, a matéria, o átomo, a energia e o espaço. Mas, em contrapartida, o ritmo acelerado e as atuais condições de vida terrena, as emoções repetidas, as reações psíquicas insólitas provocam abalos no sistema nervoso, acarretando um estado de angústia o de ansiedade, em virtude, sobretudo, da insegurança e receio quanto ao futuro.

Esmagado pela intensidade da vida cotidiana, pela imperiosa necessidade de acompanhar de perto e de se integrar no ritmo vertiginoso e acelerado, de se lançar em árdua concorrência vital, o homem das grandes cidades se defronta com uma infinidade de problemas os mais díspares, de ordem biológica, psicológica, social, econômica e cultural os quais exigem constante esfôrço, dispêndia de energias, desgaste de fôrças e consequente exaustão física e mental.

A juventude, sobretudo, é a que mais se ressente dos efeitos das grandes aglomerações humanas, dificilmente se ajustando à maneira de viver, dada a tensão emocional e as vicissitudes das grandes e desumanas capitais. Busca ela, por isso, com grande freqüência, uma evasão, que pode se traduzir por diferentes reações: atos de violência; revolta contra a família e contra o meio social, atitudes insólitas de reivindicações; vestuário excêntrico; perversões sexuais; uso e abuso de drogas psicotrópicas e do álcool, no afã de se furar à realidade que a cerca, de livrar-se da angústia vital que a domina, acabrunha e desencanta, numa tentativa de lograr compensação da frustração afetiva.

Todos êsses fatos atuam em ação concorrente; contribuindo para despertar problemas de patologia social que assumem, nas megalópolis, gravidade alarmante e proporções incríveis, impondo medidas enérgicas de caráter médico-social, no propósito de, se não evitar, pelo menos atenuar, tanto quanto possível, os efeitos desastrosos criados por condições de vida desfavoráveis.

Sem a menor dúvida, o homem é um animal gregário, a sua tendência o compele à medida que se superciviliza, a viver em grandes grupos, mas a história e a experiência ensinam que, quanto maior é a concentração humana, mais graves são as suas conseqüências sociais, como demonstram a decadência e o desaparecimento de muitas cidades que haviam alcançado já alto nível de civilização.

Fato verdadeiramente paradoxal, nesta era em que o homem realiza proezas admiráveis, jamais concebidas no passado, salvo como para ficção, é o do agravamento crescente o perigoso das relações humanas, sobretudo nos grandes centros, onde se registram desentendimentos profundos, conflitos freqüentes, elevação do índice de criminalidade, desregramento dos costumes, atingindo gravemente a família, célula da sociedade.

Mitchell Gordon, grande autoridade no assunto, em sua bem documentada e instrutiva obra "Sick Cities" afirma estar a maioria das megalópolis modernas sèriamente doentes. Várias causas são por êle apontadas como responsáveis pelas doenças ditas de crescimento, figurando entre as primeiras o congestionamento do tráfego, que seria o maior responsável pelo processo de "auto-esclerose", observado nos grandes centros urbanos.

Surpreendentes são as conclusões a que chegaram os estudiosos dêsse problema: à medida que os veículos de transporte, tanto de cargas como de passageiros, adquirem maior velocidade graças aos aperfeiçoamentos técnicos, o tráfego nas ruas dos grandes centros vai se tornando progressivamente mais lento e difícil, em virtude dos congestionamento e engarrafamentos que ocorrem nos pontos em que há maior afluência de veículos, sobretudo aias horas do rush, quando o movimento se intensifica. Em Nova York, por exemplo, a velocidade do tráfego era, em 1907, quando havia ainda em circulação muitos veículos de tração animal, de 18,4 quilômetros por hora em média, tendo caído, presentemente, a 9 quilômetros e meio, com tendência a se tornar ainda mais lento.

A gravidade do problema é de tal ordem, que o govêrno dos Estados Unidos destinou recentemente grandes verbas para o estudo e a aplicação de medidas visando a solução do tráfego lento nas grandes cidades americanas, que traz graves inconvenientes e grandes prejuízos à nação. As implicações psicológicas no que tange à circulação dos veículos são múltiplas, considerando a importância do fator humano, tanto na segurança como na fluidez da circulação.

Tal noção global, no estudo dessa questão, comporta uma série de condições particulares, conforme nos utilizamos de um automóvel, de um veiculo de transporte coletivo ou caminhamos a pé.

Mas o automóvel, que na definição de Euclides da Cunha é o veículo que libertou a velocidade do trilho, é o que mais influi sôbre o transito e merece maior atenção pelos efeitos resultantes do seu uso, indispensável que é aos que trabalham nas grandes cidades e têm necessidade de se deslocar de um para outro lado. Quando o motorista está com pressa, capacitado a ter á sua disposição um veículo rápido, e fica imobilizado no tráfego intenso, é assaltado, não raro, por uma reação neurótica, que nem sempre, logra superar, donde reações violentas e imprevistas.

A velocidade, disse Gilbert Robin, se integra no indivíduo, despertando-lhe a brutalidade da aceleração, a ânsia de ultrapassar, a embriaguez da competição, a vaidade dos recordes.

Vejamos, agora, outro problema, de certa monta, ao se considerar o urbanismo e a medicina. Como se sabe, há hoje, em todo o mundo, marcada tendência da gente do campo, sobretudo dos jovens, de se trasladar para a cidade, onde encontram mais recursos e maiores satisfações aos seus anseios. Dados estatísticos revelam que, em 1860, cêrca de 50% da população do globo vivia nas zonas rurais; já em 1930 essa proporção havia caído a 20% continua a baixar cada vez mais. Êsse fato não deixa de ter implicações médicas: o homem, quando abandona a vida campestre, bucólica, tranqüila, sadia, em contato permanente com a natureza, ao ar livre exposto ao sol, e passa a viver nas grandes concentrações humanas, em ambientes fechados, em locais mal ventilados e insalubres, escravo de horários de obrigações profissionais e sociais, sujeito a novos e posados encargos, acusa alterações a saúde física e mental, a algumas cuja gravidade é evidente.

No campo, o homem obedece muito mais aos ritmos cósmicos e biológicos. Trabalha durante o dia, recolhe-se mais cedo usa pouco a luz artificial, respeitando a noite para repousar. Levanta-se já ao nascer do sol, para se entregar à luta cotidiano, cuidar das suas plantações e animais.
Já na cidade o homem se mostra quase que indiferente aos ritmos da natureza, mal se apercebendo da alternância entre o dia o a noite, de tal forma está habituado à luz artificial, ao trabalho e aos hábitos noturnos. Tal câmbio na forma de viver não deixa de ter, também, influência prejudicial à saúde.

Por sua vez, a invenção da máquina, a que se seguiu a mecanização e a automação, introduzida na maioria das indústrias, quase tôdas localizadas nos grandes centros urbanos ou junto a êles, muito concorreu para despertar uma verdadeira frustração da faculdade criadora, que é um atributo essencial ao homem.

A fôrça propulsora utilizada mas indústrias, no passado provinha, em grande parte do trabalho muscular do homem. Foi, porém, aos poucos, sendo substituída pela fôrça motriz de várias outras fontes - lenha, carvão, vapor, óleos combustíveis, eletricidade, energia atômica. O gigantismo industrial se aliou ao urbanismo, fazendo com que o artesanato fosse progressivamente desaparecendo, para ceder lugar à produção em série, em massa. A manipulação do artesão, a habilidade do artista, bem como outras expressões emocionais necessárias ao indivíduo, que lhe dão a noção de participar diretamente na produção dos artigo, manufaturados, deixou pràticamente de existir, para transformá-lo numa simples peça de um todo mecanizado. A taylorização, a racionalização e a automação, ao lado das vantagens que trazem, obrigam o homem a se identificar cada vez mais à máquina, a, viver nas grandes aglomerações, ao lado de usinas colossais, em condições nem sempre propícias à sua saúde, a despeito dos progressos da higiene e do trabalho industrial.

Outra circunstância contribui para agravar ainda mais o problema. É a de muitos que trabalham nas cidades residirem fora do perímetro urbano sobrecarregando os meios de transporte e criando dificuldades inerentes à população flutuante. Basta, assim, lembrar que, em Paris, cêrca de 92% das 250 mil pessoas que trabalham no distrito central, vivem fora dêle. O mesmo fenômeno se observa em outras grandes cidades não escapando São Paulo a tal situação.

A cidade atual está cada vez mais premida por uma série de problemas que afetam os diversos setores da população. As melhorias fragmentárias introduzidas em determinada área, para resolver, situações que lhe são particulares, acabam. frequentemente por criar novos e insolúveis problemas em outros setores.

A impureza do ar urbano constitui também grande preocupação das autoridades sanitárias, alarmadas com as estatísticas, as quais revelam ter a mortalidade pela asma, bronquites e efisemas pulmonares aumentado em anais de 100% nos últimos dez anos. Assim é que, não obstante o declínio da tuberculose, mercê do emprego de drogas específicas, o aumento das demais afecções respiratórias estão a ponto de substituir a peste branca nas estatísticas da morbicidade.

A vida urbana e a produção industrial absorvem uma quantidade apreciável do bens de consumo, mas há um grave inconveniente quanto à eliminação, através do ar e da água, dos detritos e resíduos consumidos. Os gases o outras impurezas lançados na atmosfera vão ser absorvidos pelo homem através das vias respiratórias. As substâncias tóxicas lançada nos rios e lagos têm desastrosas conseqüências para o ciclo da vida fluvial, matando os peixes e afetando gravemente a saúde do homem. O lixo de uma grande cidade constitui outro grave problema sanitário; a melhor solução para dêle se livrar é a incineração, mas essa medida não deixa de ter os seus inconvenientes pela poluição do ar que acarreta.

Um dos maiores inconvenientes das urbes é representado pelo ruído intenso, que não se perturba o sossêgo dos seus habitantes como também afeta gravemente a saúde.

Na avaliação da nocividade dos ruídos sôbre a saúde do homem os autores, em sua maioria, são de opinião que: a) os mais fortes são mais prejudiciais que os mais fracos; b) os mais agudos são mais nocivos que os graves; c) os descontínuos são mais tolerados que os contínuos; d) os súbitos causam choque emocional mais intenso que os esperados; e) os ritmados são em geral melhor tolerada que os arrítmicos; f) os ruídos, quando há silencio, são melhor percebidos e calam mais profundamente ao passo que os percebidos em ambiente barulhento são mais diluídos e confundidos; g) os que se acompanham de vibração e ressonância são mais prejudiciais do que os isolados.

Cumpre, entretanto, notar-se a influência dos fatôres individuais no que tange à maior ou menor nocividade dos ruídos: idade; hábito, acuidade auditiva; formação de reflexo colidicionado, situação psicológica e significado do ruído. Assim, o estouro de uma bomba durante festejos não causa o mesmo efeito que um tiro de canhão durante um bombardeio.

Hang Reichow, notável perito em planificação urbana num trabalho publicado no "Documenta Geigy", depois de analisar os principais problemas das grandes cidades, apresentou o seguinte programa.

1. Todos os habitantes de uma cidade têm direito ao ar puro, à água limpa e à proteção contra o ruído.

2. É imprescindível isolar as vivendas no propósito de evitar as afecções visuais e auditivas causadas pela, vizinhança, ruidosa. Além. disso, as principais dependências do uma casa deveriam receber sol à tarde.

3. Dever-se-ia evitar grandes distâncias entre o lar e o local de trabalho.

4. A segurança do tráfego pode aumentar: a) separando-se os pedestres do tráfego rodado; b) reduzindo-se ao mínimo os cruzamentos nas ruas; c) dando indicações precisas sôbre a preferência ao cruzá-los; d) construíndo bifurcações de boa visibilidade.

5. Uma boa proteção contra os ruídos e contra os gases do tráfego concorre para aumentar a sua fluidez, evita as paradas constantes e as arrancadas dos veículos.

6. A fluidez da circulação pode aumentar reduzindo-se os semáforos e demais sinais, traçando-se as ruas de forma a tornar possível as mudanças de direção sem perda de velocidade.

7. Os parques infantis, a recreação dos adultos e o lazer dos velhos requerem instalações distintas, de acôrdo com as necessidades de cada grupo, ao ar livre ou em edifícios apropriados, não muito distantes das residências.

Só desta forma, finaliza aquele autor, tanto em casa, como no trabalho e durante o período do lazer, poderá o habitante da cidade desfrutar plenamente sua vida, de forma compatível com a dignidade humana e benéfica para a saúde.

Reconhecendo os perigos à vista, da evolução da nossa época e a incapacidade flagrante em que nos encontramos, para aproveitar os imensos recursos técnicos à nossa disposição, o nosso espírito mergulha cada vez mais aia frustração e na ansiedade.

Roberto Miocque propôs, para aliviar os inconvenientes do urbanismo, a criação de cidades experimentais, com o objetivo de assegurar: a) plena expansão da pessoa humana; b) a organização em complexo econômico; c) a elaboração de sistemas de referência; d) a experimentação em meio equilíbrio; e) a emprêsa como obra de interêsse coletivo.

Em síntese: como a própria civilização da qual deriva, o urbanismo se nos apresenta sob um duplo aspecto. Uns positivos, decorrentes das conquistas da ciência e da técnica aplicada, do progresso industrial, sobretudo no ramo dos artigos domésticos, que facilitam a vida, contribuindo para a limpeza, para a conservação dos gêneros alimentícios, para manter a higiene das habitações o facilitar os transportes. Outros negativos - a concorrência vital que se estabelece, as dificuldades da locomoção, a crise das habitações, as doenças e vícios que surgem em tôdas as grandes metrópoles. Além disso, há uma sobre-carga dos órgãos dos sentidos e do cérebro humano, obrigados a colhêr incessantemente no mundo exterior, a fixar e reajustar novas impressões.

As implicações do urbanismo com a medicina o a psicologia são, assim, inúmeras. Procuramos, nesta rápida súmula, abordar os principais, desenvolvendo particularmente as questões que se apresentam com maior intensidade, neste grande aglomerado urbano que é São Paulo, as quais não podem deixar de despertar o interêsse e a atenção dos seus habitantes, expostos cada vez mais aos efeitos do urbanismo exagerado e irracional de nossos tempos.




Noticias da Los Angeles Foundation of Otology

O "Progress Report" de 1970 desta Fundação de Otologia traz noticiário sôbre esta Instituição científica americana principalmente em relação aos projetos de pesquisas em andamento. O primeiro é o "Projeto Menière" na qual são estudados sob todos os ângulos 80 pacientes com moléstia de Menière. Através de telefone especial pode ser feita, audiometria e são anotados diàriamente a evolução da doença. Os responsáveis por êste projeto são William F. House e Jack Pulee. A implantação de eletródios cocleares afim de tentar estimular o nervo auditivo em lesão acentuada também está sendo investigado com o auxilio técnico de Jack Urban e na parte cirúrgica William House. A suplência vascular da orelha interna através de técnica radiológica de subtração e com injeção vascular está, tendo excelente resultado. Fred H. Linthicum e Jack Pulec estão revisando os traçados eletronistagmo-gráficos afim de revisarem conceitos usando todos os métodos de estimulação possíveis. Howar House e Fred H. Linthicum também estão revisando o efeito do barotrauma na estapedectomia e das viagens aéreas sôbre os doentes operados de cirurgia de ouvido, tal estudo te financiamento da Fôrça Aérea Americana.

O "Progress Report" apresenta ainda o programa de residência e seus complementares. Os trabalhos publicados, as atividades do Banco de Osso Temporal, as publicações científica as participações em cursos e a lista das pessoas que ajudam a Fundação.




Credenciação de Residência em ORL pela Federação Brasileira de Otorrinolaringologia

Em reunião de 4/9/70 a FBO aprovou a credenciação do Instituto de Otologia de Pôrto Alegre como entidade apta a treinar médicos recém-formados em ORL, em regime de residência. Tal credenciação habilita, automàticamente, ao médico que completou a residência receber o título de especialista em ORL.




Recebemos a seguinte carta

"Informo ter recebido a Revista Brasileira de Otorrinolaringologia e estou enviando cheque de Cr$ 30,00, para o pagamento de minha assinatura no corrente ano.

Acho que os magníficos trabalhos publicados na Revista Brasileira de O. R. L., refletem o alto nível de progresso científico conquistado por nossos especialistas.

Lembro-me, que há dez anos passados, era impossível proporcionar ao médica do interior a oportunidade do tomar conhecimento das novidades da especialidade sem apelar à leitura difícil de revistas estrangeiras. Atualmente, graças a Deus, os médicos brasileiros estão ganhando a independência cultural, libertando-se dos livros importados do exterior, apresentando como observo na Revista Brasileira de O. R. L. um conjunto de estudos e pesquisas do melhor gabarito científico.

Entro os ilustres redatores desejo destacar dois nomes; os professôres Paulo Mangabeira Albernaz e Otacílio C. Lopes Filho, que demonstram em secas artigos estilo didático admirável o profunda cultura científica. Com a "promessa" de pagar pontualmente minha. anui dado, espero por seu intermédio, receber com regularidade a Revista Brasileira de O. R. L.

Papiniano Carleial




Construção de eletrogustatômetros

O Instituto de Otologia oferece aos colegas o trabalho de um técnico especializado em pôrto Alegro, que fabrica eletrogustatômetros.

Aparelho portátil que alcança 6 milivolts, com intensidade de até 180 microampéres. Receptáculo para a língua em acrílico. Preço razoável, com pilhas que podem ser trocadas quando fracas. Correspondência e encomendas com os editores da revista.




Serenidade

Max Ehrmann - Poeta e teatrólogo americano (1872 - 1945)

Transite com calma entre a bulha e a pressa, e não se recuse à paz do silêncio.

Sem sacrificar os seus princípios, seja cordial com todos. Mostre sereno e calmo a sua verdade; e escute a dos outros, mesmo a dos pobres de espírito; êles também têm o que dizer.

Evite os barulhentos e os agressivos, êles constrangem o espírito. Comparando-se com os outros, evite a vaidade e a mágua; porque sempre haverá gente abaixo e acima de você. Goze as suas vitórias como os seus projetos.

Não despreze a sua carreira, por mais humilde que seja; ela será um bem nas incerteza do amanhã. Proceda com cautela nos contratos de comércio, pois o mundo está cheio de rapôsas. Mas que a cautela não o cegue para a virtude; existe idealismo também, e não falta heroísmo no mundo.

Seja fiel a si mesmo. Acima de tudo, nunca finja afeição. Jamais seja cínico em amor, pois mesmo com o risco de aridez e desencanto êle é perene como a grama.

Aceite de bom grado as ponderações da idade, não se apegue aos bens da juventude. Exercite a fortaleza de ânimo para se garantir nos desastres súbitos. Mas não se deixr transportar pela imaginação. Muitos receios nascem do cansaço e da solidão. Adote uma disciplina saudável, mas não se esgoto por ela. Você é filho do universo, como as árvore, e as estrêlas, e tem o direito de estar aqui. E quer você entenda quer não, o universo se expande como deve.

Esteja pois em paz com Deus, com o seu Deus; e sejam quais forem as suas lutas e os seus ideais, viva em paz com sua alma, mesmo no fragor das batalhas.

Malgrado as imposturas, as durezas e as decepções, o mundo ainda é belo. Tenha cuidado. Procure ser feliz;

1.º Curso de Dissecção Cirúrgica do Osso Temporal
(Individual)

A Sociedade Brasileira de Otologia patrocinará o 1.° Curso de Dissecção Cirúrgica do Osso Temporal. Será ministrado no Instituto de Otologia de Pôrto Alegre pelo Dr. Nicanor Letti. O curso será individual com duração para cada, inscrito de 4 dias em tempo integral. As dissecções orientadas serão realizadas com todo o material cirúrgico e microscópio Zeiss e terão os seguintes objetivos:

1.°) Bases anatômicas da cirurgia timpanoplástica.
a) pele do conduto: disposição, construção, inervação, vascularização, técnicas de House e Austin.
b) membrana timpâniea (ânulus, inserção, inervação, obtenção do enxêrto de fascia temporal).
c) cadeia ossicular - anatomia, disposição, construção, funcionamento, reposição, desarticulação ossicular e músculos da orelha média.
d) tuba auditiva e hipotímpano.

2.°) Bases anatômicas da mastoidectomia com conservação da paredo posterior.
a) reparos anatômicos, tipos de mastóides, nervo facial, recesso elo facial, canal semicircular lateral, anatomia dos espaços de penetração do colesteatoma, etc.

3.°) Bases anatômicas da cirurgia de otoesclerose.
a) preparação do retalho timpanomeatal, trepanação da parede póstero-superior, trabalho sôbre o estribo, platina, feitura da prótese, porção longa da bigorna e sua importância, etc.

4.°) Anatomia radiológica do osso temporal nas exposições de Chaussé III, Guillén, Stenvers, Schüler I e II, interpretação de iodocisternografias e tomografias.

5.°) Anatomia do Nervo Facial (bases anatômicas da descompressão o do enxerto do Facial, obtenção do enxêrto, etc.) . Anatomia microscópica do canal de Falópio em cortes histológicos para estudo da vascularização arterial venosa e da cápsula envolvente.

6.°) Bases anatômicas da labirintectomia, acesso ao conduto auditivo interno por via translabiríntica e transtemporal. Estudo anatômico dos elementos do meato acústico interno.

7.°) Anatomia do ângulo ponto cerebelar e do tronco cerebral relacionado com a audição o equilíbrio.

Os interessados devem se dirigir por carta ao Dr. Nicanor Letti, rua dos Andradas, 1711 - 3.° andar - Pôrto Alegre. O curso funcionará de abril até novembro do corrente ano, e a preferência do datas será guardada de acôrdo com as solicitações e segundo a chegada de correspondência. Será emitido certificado. A inscrição custará, Cr$ 500,00 que deverão ser remetidos em cheque ou passe bancário no momento da solicitação da data.




Psicologia do ruído

O órgão nervo-sensorial que os seres dispõem para perceberem os sons do meio ambiente não possui dispositivos de fechamento como os demais órgãos sensoriais da estrutura corporal humana. A orelha está sempre aberta, mesmo dormindo os sons atravessam as estruturas da orelha média o interna, só não o sendo percebidos pela córtex cerebral, que está, desligada, pelo processo alo sono.

A orelha tem limiares bastante definidos para todos os sons, existem agradáveis, desagradáveis o patológicos pois podem produzir lesão irreversível do órgão acústico.

O homem só consegue viver, habitar e trabalhar em ambientes nos quais seus ouvidos percebem sons agradáveis. A humanidade atual é uma hipersensível acústica e mais do que nunca, a partir de 1930, usa as orelhas para viver, comunicar, aprender e delinguir.

No século passado o principal meio de comunicação era a escrita, no século atual, face o progresso incrível dos meios de comunicação eletro-eletrônicos é a palavra ouvida o grande meio do união entre os homens, penetra era todos os locais, atravessa tôdas as barreiras e leva ns mensagens aos ouvidos por mais que queiram oferecer resistência. O convencimento das massas pelos políticos, as grandes movimentações idealísticas de nossa época são produto da palavra falada, que para surdos nada significaria, mas para os que ouvem é a alavanca da ação.

O homem do hoje é bombardeado a todo o momento por estimulações acústicas as mais variadas, sendo que dos estímulos que chegam ao nosso cérebro pelos órgãos dos sentidos são as vias acústicas usadas três vêzes mais que os outros sentidos reunidos. Uma figura nos é peculiar: o homem cansado, recostado, com os olhos fechados, rosto cansado mas com os ouvidos atentos, ouvindo para descansar uma música agradável, ou tremendamente irritado por ruídos desagradáveis que perturbam o seu descanso.

A natureza nos oferece um admirável exemplo: junto as grandes quedas de água onde o ruído é desagradável e tem níveis traumáticos para os mamíferos, não existe vida animal. O homem ao contrário dos animais não foge do ruído, as suas conquistas sociais o industriais são acompanhadas de produção excessiva de ruído. A música moderna e o avião a jato são exemplos entre tantos outros. O foguete Saturno V, que conduziu a cápsula para órbita lunar produz ao acender seus motores 180 dBs de ruído.

Um dos paradoxos mais chocantes de nossa época, foi a visita que realizamos a uma fábrica onde se manufaturavam surdinas para automóveis, as máquinas que aí trabalham produzem ruído de nível traumático, necessitando os operários proteção para não sofrerem trauma sonoro.

A hipersensibilidade acústica é um fenômeno das massas humanas do mundo moderno, os grandes provimentos do idéias de hoje são vencidas por aquêle contendor que possui os meios de comunicação da palavra falada. A, presença dos Beattles em um auditório de jovens arranca aplausos mas quando começam a cantar e gritar a histeria coletiva se instala o progride conforme cresce o estímulo acústico que vem de tal fonte sonora.

O comportamento humano é o reflexo direto da soma de estímulos aos quais o homem está submetido. Como os estímulos sonoros são três vêzes mais intensos e numerosos que os demais, o comportamento do homem no mundo de hoje depende muito do tipo de estimulação sonora a que está submetido.

O excesso de ruído como a ausência total de percepção sonora são doenças, a primeira produz trauma auditivo e o segundo o é, representada por todos os tipos de surdezes. A solidão do vácuo e os traumáticos ruídos de uma base de foguetes ou o "boom" sônico dos aviões de 2 mach que chegam a produzir algiacusia, são os extremos da gama de estímulos que a orelha está submetida no mundo industrial da época que vivemos.

Os ambientes de pouco ruído permitem a organização o concentração espiritual, o homem raciocina com mais presteza e justeza e florescem suas boas qualidades do caráter. Ao contrário acontece em ambientes ruidosos, onde o estímulo excessivo e contínuo não permite a concentração mental, havendo desorganização do raciocínio ou esfôrço intenso para manter a atenção ajustada ao trabalho que realiza, daí o cansaço e os freqüentes acidentes nos meios industriais de ruído excessivo. O nervosismo, a inquietação, a intolerância são quadros que acompanham os operários das fábricas ruidosas.

Depois que comecei a trabalhar na caldeiraria, dizia-me um operário de meia idade, chego em casa todos os dias cansado, reclamo de tudo, bato em meus filhos pelos menores motivos, minha vida é um inferno.

Eis a história de todos os dias de milhares de homens do mundo de hoje e que define uma das causas da personalidade neurótica de nosso tempo. (Sòmente no grande Pôrto Alegre existem 15 mil metalúrgicos trabalhando em níveis de ruído de 90 a 100 dBs e de 20 a 30 mil tecelões e ajudantes que trabalham em 98 a 100 dBs, durante 8 horas por dia).

Diminuir o ruído, proteger as orelhas, ajustar nossa audição a níveis agradáveis, eis um fator de progresso e paz interna que sem dúvida alterará o aspecto psicológico da humanidade que busca em vertiginosa corrida paz, liberdade e bom estar.




O Homem a Prestações

Ruy Cirno Lima

Bem antes de pensar-se na fissão nuclear, tentou-se, e repetidamente, a fissão do homem. Ao invés do incômodo exemplar humano, pròpriamente tal - comensurado ao mundo e com um insaciável apetite de eternidade - foram-nos, séculos afora, propostas múltiplas divisões, altamente técnicas e certamente inofensivas, da natureza humana: o "homo faber'', o "honro políticos", o "homo oeconomicus" etc.

Diversamente do átomo, o homem integral é que é explosivo; não a desintegração dêle. Nada há de mais dócil que o homem dividido. Vários processos, em todos os degraus da história, foram utilizados para alcançar-se essa pacificadora divisão do homem. Processos mágicos, ao começo. A seguir, processos políticos. Enfim, processos econômicos.

Nas sociedades primitivas, distinguem-se o indivíduo o a mania individual, o poder natural e o poder sobrenatural (Gurvitch, Essais, 198), e à deficiência d"este se atribuem os insucessos o desastres, acaso supervenientes à ação do homem. Não muito diferente é o demônio familiar de Sócrates, negativo, sempre, em seus avisos e conselhos (Frayle, História, 1234).

Da magia, passa-se à política, a Aristóteles, parece evidente que o homem, por natureza, há de dividir-se, pelo critério de liberdade. alguns homens naturalmente são livreis, e outros, escravos, e, para êstes, a escravidão é justa e conveniente" (Política, 1,5, 1255a). O poder é, para o homem livre concomitância do nascimento (Política 1,4, 1254b). Da política transconde-se à economia. São reputados indignos e desprezíveis os ofícios mecânicos "sordida are", como lhes chamava Cícero, (De Officiis, 3,42).

De divisão em divisão, suplanta-se o homem, sempre, em sua integridade, pela prevalência de um aspecto, apenas, de sua personalidade ou de sua atividade.

Em nossa época, as divisões do homem tornaram-se técnico-científicas. As especialidades, pelas quais se pluraliza e mutila a figura do homem, são-nos urgidas como pré-determinações da técnica e da ciência. Aqui, a divisão é quase um postulado, suposto que a ciência, segundo Corte, há de ocupar-se meramente com as conexões entre os fatos, 11 leur liaison seule" (Cours, 2,19), e não há negar o fato da especialização, dado do antropologia, que significa, entretanto, em têrmos biológicos "a perda da plenitude das possibilidades, que se encerram em um órgão não especializado" (Arnold Gehlen, Der Mensch, 87).

Tôda a educação de nossos tempos desenvolve-se ao rumo dessa limitação de possibilidades, no plano do espírito. A especialização constringe, com uniforme intensidade, o nosso ensino primário, o secundário e o superior. O que excede aos lindes da especialidade, desborda para a incolor planície dos assim chamados conhecimentos gerais - modalidade de saber em quadrinhos, hoje, alçada até o vestíbulo das próprias Universidades. Nestas, a especialização lhes informa a estrutura e o funcionamento, e de tal sorte que pode prever-se a substituição próxima, em forma definitiva, da cultura, pela habilidade, e do ensino, pelo aprendizado. Das duas funções que Bergsou sinala à inteligência, "la missance indéfinie de décomposer selon n'importe quelle lei" e a "do recomposer en n'importe quel système" (L'Évolution, 170), a segunda entra a ser cada vez mais profundamente desconhecida em nossos dias.

Cada vez menor, é o interêsse do homem pelo seu destino, cada vez maior, a sua sujeição a tarefas sociais, alheias a tudo que tem, êle, de originalidade individual o de criação inovadora. Religião, filosofia e poesia são, bojo, resíduos inúteis de uma concepção do homem, perdida entre os clarões e as brumas de uma alvorada esquecida.

Vive, o homem, hoje, agressiva o obstinadamente, como jamais antes vivera, um humanismo às avessas. Cuida-se, mais que nunca, de diminuir o homem, parcelá-lo, reduzí-lo a prestações cômodas, fàcilmente suportáveis a tôda a gente. Não obstante, clama-se que isso há de fazer-se benefício do homem, por submissão impessoal à ciência e à técnica.

Recordam, as circunstâncias, de algum modo, a apóstrofe inolvidável de E. M. Forster, em seu conto famoso (The Machine stops), nada britânica pelo que encerra de admirável veemência: "O homem, flor de tôda a carne, a mais nobre de tôdas as criaturas visíveis, o homem que. uma vez, reproduzirá a Deus em sua imagem e tivera, a sua fôrça, refletida nas constelações, o homem, belo em sua nudez, morria estrangulado pelas vestes que tecera. Século após século, trabalhara, e ali estava a recompensa. Certo, a veste parecera, a princípio, divina, tocada pelas côres da cultura e cosida pelo fio da abnegação. E divina havia sido, enquanto o homem, a seu arbítrio podia despi-la, o viver pela essência, que é a sua alma, e a essência, igualmente divina, que é o seu corpo. Por um momento, viram, êles (a seu redor) as nações dos mortos, e, antes de se lhes reunirem, rasgos do céu intacto, " scraps of the untainted sky ".

Esse, realmente, há de ser, um dia, o trágico e fúnebre elogio do nosso humanismo às avessas, de nosso pobre homem a prestações, disperso no tempo como um punhado de poeira no ar.




Autismo Infantil

R, Kaelger e E. Colbert - JAMA 171 : 1045, 1959

Êstes autores realizaram uma excelente revisão do autismo infantil, situação psiquiátrica na qual esta envolvida a comunicação verbal da criança e que, seguidamente são vistos casos em consultórios de especialistas em otorrinolaringologia. O diagnóstico é feito pela observação do 6 áreas: 1) Aparência. 2) Fala. 3) Motilidade e postura. 4) Jogos. 5) Psicometria. 6) História clínica. O estudo foi realizado em 34 crianças. As crianças apresentam: 1) Perda da socialização. 2) Tipo de brinquedos não usuais. 3) Perturbação neurofisiológica.

Perda da socialização. - a) Brinca sòzinho. - b) Não aprende o treino da toilete. - c) Urina na cama e não consegue se habituar. Mostram mínima reação ou inexcitabilidade as provas calóricas.

Sintomas. - a) Diminuição da socialização: 1) A criança, esquizofrênica brinca sòzinha. 2) Não tem interêsse no que se passa ao seu redor. 3) Torna-se um problema muito maior quando nasce uru nôvo irmão. 4) O treinamento da toilete é difícil com estas crianças. 5) Não existe controlo noturno da micção. - b) Comportamento no brinquedo (ocupação). 1) Há uma grande dificuldade em mudar o interêsse da criança para um jôgo uma vez que ela iniciou um determinado. 2) A criança esquizofrênica tem grande interêsse nos brinquedos que rodam. - e) Perturbações neurofisiológicas. 1) Apresentam problema de sono. 2) Tem interêsse em objetos que rodeiam. 3) Geralmente tem a tendência de caminhar na ponta dos pés. 4) Mínima ou ausência de reação as provas vestibulares.




Teste de Schirmer
(Variação do seu registro)

Vinicius C. Barbosa e Silva Guimarães*

Com a finalidade de facilitar a interpretação o principalmente obter documentação fotográfica do testo do lacrimejamento proposto por Schirmer, os autores sugerem usar um nôvo tipo de fita de papel de filtro reativo. A secreção lacrimal em contato com o papel, muda o ph fazendo-o tomar côr esverdeada face a alcalinidade da lágrima. Caso não exista lacrimejamento o papel mantém sua coloração alaranjada. Apresenta assim o método vantagem no sentido da documentação fotográfica e a facilidade se verificar a quantidade durante 1 minuto, face a escala em centímetros anotada no papel. A quantidade por minuto em pessoas normais é de impregnação de 2 cm (Pulec). Os autores ainda apresentam uma tabela ande são anotados os resultados.

* Médicos otologistas - Av. Afonso Pena, 2.910 - Belo horizonte - Brasil.




AMRIGS cria órgão para aprimorar o exercício da profissão médica

Em sessão solene, realizada 5.ª - feira última, reuniu-se a Diretoria da Associação Méilica do Rio Grande do Sul para assinar o Ato de criação do Conselho de Examinadores e empossar os 12 conselheiros, que deverão coordenar o exame anual para médicos recém egressos das escolas médicas do Estado do Rio Grande do Sul.

Na mesma ocasião, os conselheiros assinaram o regimento e outras disposições necessárias à execução dos objetivos para o qual foram designados. O exame AMRIGS é iniciativa pioneira no Brasil, visando à elevação dos padrões de assistência médica e à melhor qualificação de médicos para o exercício profissional.

O ato da AMRIGS que cria o Conselho de Examinadores é o seguinte:
- "Dentro do suas atribuições o especialmente autorizada pela Assembléia de Delegados e Conselho Deliberativo, a Diretoria da AMRIGS,

Considerando que um dos objetivos principais e permanentes da classe médica, através do sua Associação, é a elevação dos padrões de atendimento das necessidades médicas da população dêste Estado;

Considerando a necessidade de que os paciente e a população em geral sejam imediatamente beneficiados pelos novos conhecimentos, advindos do progresso contínuo da medicina e ciências afins;

Considerando, finalmente, a natural variação no nível dos conhecimentos o experiências adquiridos pelo médico durante seu curso de graduação,
RESOLVE

1) Que fica criada um organismo, denominado Conselho de Examinadores, com o propósito de estudar, formular e executar uma política que promova os objetivos mencionados e especificamente:

a - procure assegurar que os egressos das diversas escolas médicas demonstrem um mínima de condições para um Exercício Profissional de boa qualidade;
b - avalie os resultados da execução da política da AMRIGS, neste campo,

2) Que ao Conselho de Examinadores caberá estabelecer as bases, modalidades o instrumentos adequados à implantação e execução da política da AMRIGS nos limites aqui determinados.

3) Que o Conselho de Examinadores elaborará um regulamento onde estabelecerá as características de sua constituição, funcionamento e instrumentos de ação, bem como outras disposições que considerar essenciais às tarefas que aqui lhe são atribuídas.

4) Que ao presente ato, bem como ao regulamento a ser elaborado pelo Conselho do Examinadores deverá ser dada a mais ampla divulgação, tanto no meio leigo e, principalmente, junto às entidades governamentais, empregadoras de médicos em número avultado e a quem deverá interessar, sobremaneira, o programa que aqui é proposto, uma vez que êle fornecerá subsídios significativos sôbre a qualificação dos médicos para o exercício profissional.
Pôrto Alegre. 10 de dezembro de 1970.

Dr. Manoel Antônio Albuquerque - Presidente; Dr. João E. Oliveira Irion - 1.º Vice-pres.; Dr. Luiz Alberto A. Fagundes - 2.º Vice-pres.; Dr. João Kilpp - 3.º Vice-pres.; Dr. Aloysio Cechella Achutti - 4° Vice-pres.; Dr. João Antônio N. T. Becker - Secret. Geral; Dr. J. J. Menezes Martins - Secretário Rel. Interc.; Dr. João Jorge O. Bianchini - 1.º Secretário; Dr. Isaac Levin - 2.º Secretário; Dr. João Francisco X. Müssnich - 1.º Tesoureiro; Dr. Cláudio Augusto Marroni - 2.° Tesoureiro; Dr. Carlos C. do Albuquerque - Secret. Divulgação.

REGULAMEATOS E OUTRAS DISPOSICÕES DO CONSELHO DE EXMINADORES

1) O Conselho dos Examinadores, de acôrdo com o Ato da AMRIGS que o criou, tem como atribuição essencial o aprimoramento do exercício profissional, especialmente no que se relaciona com o início da carreira do médico.
2) Com o propósito de assegurar a máxima proteção no paciente e à população em geral, contra as doenças e contra o crescente número de fatôres iatrogênicos, será necessário avaliar, em cada médico egresso de uma Faculdade de Medicina, o seguinte:

a - a posse e a capacidade de utilização adequada de um mínimo de conhecimentos, técnicas e habilidades, considerados indispensáveis a um exercício profissional de boa qualidade e à prática da medicina integral que permita atender os problemas anais freqüentes, físicos, psicológicos e sociais dos pacientes de acôrdo com a realidade do País;

b - a capacidade e disposição de continuar estudando, aprendendo e procurando continuamente manter-se atualizado de acôrdo com uma metodologia científica aceita.

3) O instrumento a ser utilizado para a realização dos objetivos propostos nos itens acima constará de um exame, daqui por diante denominado Exame AMRIGS. O exame constará de três partes:
a - uma parte escrita, versando sôbre ciência, arte e ética médicas, na qual se dará ênfase aos princípios gerais da medicina, ao conhecimento adequado das moléstias mais comuns em nosso meio, o das doenças curáveis, aos aspectos mais relevantes de saúde pública, especialmente no que se refere à profilaxia e ao tratamento de pessoas em grande número, à orientação terapêutica adequada, particularmente no uso apropriado de drogas o no conhecimento de seu potencial iatrogênico, e outros aspectos que o Conselho dos Examinadores vier a definir e que serão divulgados em tempo hábil;
b - análise do curriculum vitae;
c - entrevista com o candidato.

4) O Conselho dos Examinadores será. formado de 12 membros representativos de diversos setores da atividade inédica. O mandato máximo do Conselho será de dois períodos. Será de 6 anos o mandato máximo do primeiro Conselho. O Conselho submeterá a lista dos novos membros à Diretoria da AMRIGS para a escolha final.

5) O Conselho será instalado pelo Presidente da AMRIGS e terá um presidente, um vice-presidente e um secretário, eleitos pelo prazo de um ano, podendo ser reeleitos conforme decisão do Conselho e referendo da Diretoria da AMRIGS. Ao presidente caberá a convocação para as reuniões e a responsabilidade pelo cumprimento das decisões do Conselho.

6) O Conselho terá reuniões ordinárias mensais, sendo de um têrço o quorum mínimo. Haverá uma reunião anual, em dezembro, para eleições da diretoria e escolha da lista de novas membros. As reuniões anuais deverão ter um quorum; mínimo de dois têrços.

7) As atividades do Conselho serão financiadas pela AMRIGS. Os membros do Conselho não receberão qualquer remuneração. O Conselho poderá receber, através da AMRIGS, donativos e rendas de investimentos.

8) O Conselho poderá delegar a uma instituição pública ou privada, mediante contrato, a realização das provas para a consecução de seus objetivos.

9) Ao Conselho caberá esclarecer as Escolas Médicas e os estudantes de medicina sôbro os seus objetivos, estabelecer normas para a inscrição dos candidatos o divulgá-las com antecedência.

Pôrto Alegre, 10 de dezembro de 1970.

l. Dr. Carlos Grossman; 2. Dr. César Costa; 3. Dr. Ellis Busnello; 4. Dr. Fernando Machado Moreira; 5. Dr. José Martins Job; 6. Dr. Loreno Brentano; 7. Dr. Luiz Alberto Fagundes; S. Dr. Nelson Pôrto; 9. Dr. Newtou Neves da Silva; 10. Dr. Roberto Pinto Ribeiro; 11. Dr. Sílvio Drebes; 12. Dr. Tasso Majó de Oliveira.

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