Versão Inglês

Ano:  1971  Vol. 37   Ed. 1  - Janeiro - Abril - ()

Seção: -

Páginas: 32 a 35

 

Hemangioendotelioma da Língua (Relato de um caso clínico)

Autor(es): José Oliveira Santiago 1,
Antônio A. Rocha 2,
Terezinho Eloi Argenta 3
Lima Cuossi 3,

Introdução

Os angiomas são tumores com proliferação de células endoteliais em tôrno de espaços vasculares3 constituindo massas sólidas onde são pouco observados vasos sanguíneos2. O hemangioendotelioma situa-se na faixa intermediária entre o hemangíoma e o hemangioendotéliosarcoma diferenciado15. Tem natureza angiomatosa e origem mesenquimática, apresenta baixo grau de malignidade16, ou tem exagerada proliferação de células endoteliais a ponto de obstruirem a luz dos vasos, formando massas celulares sólidas 4,14. A êste conjunto denomina-se hemangioendotelioma ou simplesmente endotelioma e pode ocorrer tanto na forma benigna como maligna13. Adotamos a classificação de Enzinger8 que considera a existência de dois tipos de hemangioendotelioma: Benigno e maligno.

Os benignos são formados em grande parte por um maciço de células endoteliais, caracterizado pela formação de capilares e outras estruturas vasculares em alguns pontoas. Não é fácil distinguir esta lesão do hemangioendotelioma. Para fins de diagnóstino são úteis os métodos de tintura de reticulina13. Os hemangioendoteliomas benignos ocorrem principalmente em crianças na região da cabeça e pescoço. Lighterman11 afirma que também podem aparecer em adultos. Small17 cita um hemangioendotelioma em um menino de cór branca de 3 dias de idade, não encapsulado, infiltrativo e de crescimento rápido, apesar de benigno apresentava áreas difusas de hemangiomas capilares na pele da região ocipital e frontal. Phillips13 diz-nos que hemangioendoteliomas são mais freqüentes em crianças nas regiões da cabeça e pescoço, citando 7 casos e 5 em adultos. O autor descreve um caso desta neoplasia benigna localizado na língua de um paciente de 3,5 anos de idade, contrariando a maioria dos autôres, que dizem ser as formas benignas raras em adultos. A forma maligna caracteriza-se pela formação de condutos vasculares irregulares e anastomóticos, recobertos por uma ou mais camadas de células endoteliais atfpícas, as quais apresentam aspecto imaturo.

A localização mais freqüente é a mama com metástases por via sanguínea. Ghandig menciona um caso de hemangióendotelioma maligno localizado na mandíbula de uma criança do sexo feminino com 7 anos de idade. Os hemangioendoteliomas tanto benignos como malignos podem se localizar em várias regiões ou órgãos: fígado, pâncreas, pulmões e muita raremente na cavidade oral. Quando aí se localizam os locais principais são: lábios (principalmente inferior), língua (dorso e ponta), mucosa palatina, glândulas salivares e localizações intra-ósseas no maxilar inferior14. Anderson3, localiza os hemangioendoteliomas benignos nas seguintes regiões: pele, tecido subcutâneo, tecido ósseo, baço e fígado.

Acrescentando que o fígado apresenta-se tumefacto já nas primeiras semanas de vida, atribuindo um fator congénito como responsável por esta lesão. Kaufman10 apresenta uma lesão desta natureza, localizada na parótida.

TRATAMENTO - Para o tratamento destas neoplasias pode se recorrer a intervenção cirúrgica, a irradiação, a substâncias esclerosantes, a roentgenografia, e a neve carbônica. Shafer16 cita como agentes esclerosantes o muriato e o psiliato de sódio, injetado dentro da lesão. Paul14 diz-nos que os tumores vasculares nem sempre são sustados com o emprêgo de esclerosantes. Max Welhz afirma que os tumores vasculares quando tratados pela radioterapia, tem diminuído de tamanho, inclusive a trombocitopenia desapareceu, uma vez comprovada que era causada pelo tumor. De Lapa7 apresenta um caso, que recidivou várias vezes quando tratado por eletrocoagulação, só reagindo satisfatoriamente quando submetido a intervenção cirúrgica, com margem de segurança. Carr5 cita um caso de hemangioendotelioma congénito, cérvico-facial bilateral, em criança do sexo feminino, que veio a falecer na 15.° semana de vida após tratamento radioterápico. Durante 8 semanas a intervenção cirúrgica não foi possível devido ao tamanho da lesão, e a sua localização. As intervenções cirúrgicas devem ser em bloco, com boa margem de segurança, para evitar as recidivas, que são bastante freqüentes nestes tumores principalmente em hemangioendoteliomas intraósseos.

Caso clinico

A. R., 23 anos, masculino, branco, brasileiro, de Catuibe, RS. Relata que há 3 meses notou, um crescimento na ponta da língua, que afirma ser conseqüente a mordidas constantes na mesma. (Cresceu com muita rapidez, estando nos úlimos dias dificultando a articulação das palavras. Não apresenta reações ganglionares. Ao exame vemos uma tumoração na ponta da língua, com aspecto úlcero-vegetante em forma de couve-flor, com dimensão de 3 cm/ 2 cm/ 3 cm, e com côr violácea, e à apalpação é consistante. (Figa. n.° 1 e 2.) Demais aspectos otorrinolaringológicos estavam normais. Exames laboratoriais e teleradiografia pulmonar normais. Foi realizada a ressecção cirúrgica do tumor sob anestesia geral. A incisão foi feita 2 mm além do tecido tumoral como margem de segurança. Todo o cuidado cirúrgico foi tomado em relação à ligadura de pequenos vasos. Evitou-se ao máximo o traumatismo para impedir o edema que é comum nas cirurgias de língua. Retirado o tumor, foi feita a sutura por pontos isolados com Catgut dois zeros. Uma semana após a intervenção, o tecido estava bem regenerado. O paciente permaneceu sob controle durante trinta dias. Após 90 dias foi realizado outro controle. O anátomo patológico revelou ser um angiodotelioma.




FIGS. n.º 1 e 2 - Aspecto macroscópico da tumoração que se implanta na ponta da língua no lado E. Crescimento vegetante com lobulações.



FIG. N.º 3 - Aspecto histopatológico do hemangioendotelioma com grande proliferação de células endoteliais e presença de alguns vasos sanguíneos.



Resumo

No presente trabalho os autôres propõem-se a apresentar algumas características clínicas, histopatológicas e tratamentos dos hemangioendoteliomas. Apresentam um caso, localizado no bordo antero superior esquerdo cia língua, de paciente com 23 anos de idade, do sexo masculino é de cór branca.

Summary

The authors present some clinical and histopathological characteristics, as well as the treatment of hemangioendothelioma. A report of a neoplasic lesion benigne case, located on the left antero superior border of the tongue, in white, masculine, 23 year old pacient, is discribed.

Bibliografia

1. Amorim, 31. F. - Patologia dos Tumores principios fundamentals de cancerologia. Fundo Editorial Procienx. pig. 192. 1964. S. P. Brasil.
2. Anderson, W. A. D. - Sinopsys of Pathology. 5. Pág. 267, 1960, Mosby, St. Louis, U.S.A.
3. Anderson, W. A. D. - Tratado de Patologia. 3. ed. 2:1386-1552, 1961, Editôra Intermédica, Buenos Aires.
4. Boyd, W. - Tratado de Patologia Geral y anatomia patologica. 2. pg. 302, ed. Editors Bernardes S. R. L., 1959.
5. Carr, M. W. - Congenital bilateral hemangioendotelioma. J. Oral. Surgery, 6: 341, 1948.
6. Cunha, S. - Algona aspectos da patologia bucal dos hemangiomas. Rev. Portuguêsa de Estomatologia a Cirurgia Máxilo Facial. 8: 75-79, 1967.
7. De Lagos., R. J. et alii - Juvenile hemangioendothelioma: report of case J. Oral Surgery, Anestesia and Hospital Dental Service. 18:75-347, 1969.
8. Enzinger, F. M., Latte, R., Tortoni, H, Tipos Hiatológicos de los Tecidos Blandos. Organizagilo Mundial de Safide, Genebra. Pig. 38-25, 1969.
9. Gandhi, R. K, et alii - Hemangiossarsoma (malignant hemangioendothelioma) of the mandible in a child. Oral Surg. Oral Med., Oral Path. 22:359-362, 1966.
10. Kaufman, S. L. et alii - Malignant Hemangioendothelioma in infants and children. Cancer. 14:11866, 1961,
11. Lighterman, D. D. S. - Hemangioendothelioma of the ting: report of the case. J. Oral Surgery, 10:163-165, 1952.
12. Max Well, M., Wintrobre, H. D., Ph. D. Hematologia clinics Norte-Americana. Ed. Intermérica, Buenos Aires, pg. 681, 1969.
13. Phillips, Howard et alia - Hemangioendothelioma: report of the case. J. Oral Surgery, 27:286-288, 1969.
14. Poul, C. - Hemangioendothelioma - Schsveir Muachr Zohnheilk. 78:101-139, 1969.
15. Robbins, Stanley L. - Patologia com aplicação clinics, pg. 500 2.a ed., 1965, Guanabara googan S/A. Rio de Janeiro.
16. Shafer, William G. - Patologia Bucal, pg. 109-118, 1959. Ed. Mundi, Buenos Aires.
17. Small, Invin A. et alii - Infantile hemangioendothelioma of the tong. Oral Surg., Oral Med. Oral Path. 13:320-828, 1960.




1 Médico-Chefe do Serv. de Otorrinolaringologia do Hospital Geral de Pôrto Alegre. Médica Assistente do Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Geral de P. Alegre,
2 Professôra Assistente do Departamento de Cirurgia e Ortopedia da Faculdade de Odontologia da U. F. R. G. RS.
3 Estudante colaborador.

Imprimir:

BJORL

 

 

 

 

Voltar Voltar      Topo Topo

 

GN1
All rights reserved - 1933 / 2024 © - Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico Facial