Versão Inglês

Ano:  1971  Vol. 37   Ed. 1  - Janeiro - Abril - ()

Seção: -

Páginas: 30 a 32

 

Forame Nasal único (Apresentação de um caso)

Autor(es): Sylvio Mello 1,
Rogerio Benevento 2,
Adalmir Morterá Dantas 3,
Luiz Rogerio Pires de Mello 4,
Luiz Fernanda Pires de Mello 4

A anomalia nasal que vamos descrever, encontrada em um nati-morto da Maternidade do Hospital Universitário Antonio Pedro, é de excepcional raridade.

Caso bastanto raro, pois apesar de tratar-se de um ser, que apresentava em seus órgãos e sistemas, profundas alterações incompatíveis com a vida, não havia, a não ser, o caso do aparelho da olfação, que apresentava alterações profundas, nenhuma outra anomalia externa órbitas, lábio, pavilhão e meato acústico externo, abóboda craniana, membros superiores e inferiores, aparelho genital externo, tudo normal.

Súmula Embriológica

O nariz está constituído de ossos originários do neocrâneo e viscerocrâneo; o primeiro divide-se em condrocrâneo e ossos planos e o segundo formará, por si só, o esqueleto da face. O condrocrâneo apresenta ossificação do tipo endocondral, isto é, ossificação que apresenta como base um modêlo cartilagíneo, contribuindo para formação do nariz, com o corpo do esfenóide e o etmóide. (Fig. 1) . Por sua vez os ossos planos apresentam uma ossificação do tipo intramembranácea e temos formando parte do nariz, o osso frontal1.

A maioria dos ossos do nariz, faz parte do viscerocrâneo, e apresenta ossificação intramembranácea, sendo os seguintes: lacrimal, vômer, nasal e palatino, sendo de notar que a concha nasal inferior constitui um osso separado que apresenta uma ossificação do tipo endocondral.

Em embriões de quatro semanas, notamos na face ventrolatéral um par de espessamentos ectodérmicos que são denominados os placóides olfatóriosa. Êstes placóides colocam-se portanto ventrolateralmente na região cefálica do estomodeo, em ambos os lados e mais tarde, aprofundam-se e vão constituir as depressões olfatórias, que formam as futuras cavidades nasais3. Estas encontram-se limitadas pelos processos nasais laterais e mediais.

As depressões afundam-se e posteriormente comunicam-se com a cavidade oral. Com o correr do tempo, com o crescimento do pálato primário e do pálato secundário a cavidade nasal separa-se da oral e o sépto nasal que está formado pelos tecidos localizados entre as duas depressões olfatória se une também ao pálato.

Paralelamente ao procesamento dos fenômenos anteriores, na parede lateral da futura cavidade nasal, desenvolvem-se as conchas nasais, sendo que a superior e a média evoluem a partir do etmóide, enquanto a concha inferior constitui como já dissemos um osso isolado.

Outras partes da cápsula nasal, quais sejam, porções do condrocrâneo que formam as paredes da cavidade nasal, permanecem no estado cartilagíneo (parte do sépto nasal é cartilagem do nariz externo).

Os processos nasais mediano e lateral entram em contacto com o processo maxilar da maxila e formam o lábio superior e os processos nasais mediais formam o sépto cartilagíneo do nariz5. A porção superior da ponte do nariz é derivada do processo nasofrontal e as asas do nariz originam-se dos processos nasais laterais. Os seios paranasais desenvolvem-se com divertículos da parede lateral da cavidade nasal e começam a aparecer por volta do quarto mês da vida intra-uterina, porém, seu maior desenvolvimento tem lugar no período pós-nasal. Quase tôda mucosa nasal é de origem ectodérmica e nela distinguimos células de sustentação e células nervosas, sendo que estas últimas constituem o período neurônio da vida olfatória.

Apresentação do Caso

Vejamos nossos achados: o nariz externo não apresentava, de forma característica, o dorso que contribui para separar, de forma nítida, suas duas faces laterais; era um verdadeiro arco, indo de um lado ao outro, como bem mostra a figura 1 cm (1).

O orifício da entrada (vestíbulo nasal único), era como sempre o é, revestido de pele; a 3 mm de profundidade, vinha a zona de transição entre a pele e a mucosa, para logo aparecer esta última (Fig. 2).

Foi aberta a cavidade nasal após uma rinoscopia anterior sob o oto-microscópio. Foi feita uma incisão longa, da bossa frontal até o que seria o ápice do lóbulo nasal. Descolada a pele, constatamos que o arcabouço era normal. A incisão foi aprofundada e caímos na cavidade nasal única, também com a coana única. Não havia, portanto nenhum osso ou cartilagem, constitutiva do sépto. No teto da cavidade em seu seguimento posterior, uma crista de 2 mms de altura, mostrava vestígio que seria a lâmina perpendicular do etmóide.

Por baixo, uma fenda estreita, nítida, que nos conduz ao rinofaringe (coara única). Para o alto das saliências bem marcadas, correspondem as conchas médias. Da cada lado dessa fenda vemos o relêvo achatado da concha inferior. A não ser o meato médio, que aparece nítido, em cada lado, nenhum outro meato existia.

Não foi localizado nenhum ostium que pudesse lembrar o desague de uma cavidade sinusal, porém uma pequena fenda que constituía o seio maxilar direito, foi localizado. O seio maxilar esquerdo não foi procurado, para não comprometer a beleza da peça.

Notamos ainda, um relêvo achatado, que corresponde a concha inferior; acima da pele, colocadas verticalmente, em situação anômala, três saliências que correspondem as conchas média e superior e à bula etmoidal.








A parede lateral esquerda do rinofaringe ao corte nos mostrava, bens nítido, Rios conduzindo à orelha média.

Idêntico aspecto existia na parede lateral direita. Tentamos o cateterismo da tuba direita o não conseguimos.

Os cortes feitos para estudo da orelha média direita, mostraram que o orifício externo da tuba, existia.

Bibliografia

1. HAM, Arthur H' - Osso. In: Histologia. 2. ed. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1963, cap. 15, pag. 243 1 - 311 . Ilustr.
2. LANGMAN, Jan - Cara. nariz y palarlar. In: Embriologia media. Mexico ; etc - Editorial lnteramericana 1- 1964 1 cap. 17, p. 307-315. Ilust.
4. PATTEN, Brodley M. - Tejidos conjuntivos y sistema esquelético. In: Embriologia humana. 4. ed. Buenos Aires | etc | El Ateneo - 1962 - cap. 10, pág. 200-302, Ilust
5. LOBO, Bruno Alipio - Cavidade bucal e narinas; as fossas nasais. In: Noções básicos de embriologia humana - 3. ed. Rio de Janeiro, Guanabara, 1960, cap. 19, p. 183-184.




1 Catedrático da Disciplina de Otorrinalaringologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense.
2 Regente da Disciplina de Anatomia, do Instituto da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense.
3 Da Disciplina de Oftalmologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense.
4 Da Disciplina de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense.

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