Protetores Auditivos
Autor(es):
Nicanor Letti 1,
Rudolf Larg 2,
Moacyr Soffer 3,
Voldomiro J. Zanette 4,
Ana Maria H. da Silva 4,
Belo João Araújo 4,
Nero André Maffessoni 4,
Sérgio Moussalle 4
Edgar Arruda Filho 4
Introdução
A incidência da lesão auditiva em indivíduos que trabalham em ambientes ruidosos é muito alta e o desenvolvimento tecnológico atual se acompanha sempre de excessiva produção de ruído. O automóvel produz em tôrno de 90 dBs de ruído, enquanto que os mísseis dirigidos produzem em média 170 dBs e os aviões supersônicos podem até provocar o fenômeno do "boom" sônico que produz lesão coclear. Nos ambientes industriais embora o aperfeiçoamento da máquina seja máxima não se tem conseguido suprimir ou atenuar o ruído produzido. A natureza construiu a orelha humana sem dispositivos de fechamento naturais, diferente dos olhos que possuem as pálpebras e o sistema lacrimal, ou do olfato e das sensações gustativas bastante protegidas. O ouvido humano está sempre aberto, mesmo dormindo os sons são recolhidos sòmente não sendo percebidos, pelo cortex cerebral pois o processo do sono não o permite. A única maneira de proteger os ouvidas contra a excessiva produção de ruído é a de fechar artificialmente o meato acústico externo com protetores. Inúmeros protetores dos mais diversos materiais de construção e de tipo os mais sofisticados tem sido postos a venda no mercado nacional e internacional. Por outro lado, existe uma resistência muito grande dos operários em usar um abafador sonoro no conduto auditivo externo, ou junto ao pavilhão, pois dizem que ocasionam sensação ele mal-estar não permitem muitas vêzes uma comunicação adequada pela linguagem falada e outros fatôres de educação adaptativa semelhante ao que acontece com o uso de óculos protetores e vestimentas especiais. A finalidade dêste trabalho é analisar acústicainente o grau de proteção de uma série de protetores e abordar o problema do seu uso sob aspecto médico no que diz respeito aos fatôres que agem no conduto auditivo externo.
Material e Método
Estudamos o grau de abafamento sonoro dos seguintes protetores: 1.°) "Cotton down" (Fig. n.° 1) que é um abafador fabricado com fibra de vidro do 0,001 e 0,002 mm. usado pelos empregados da Emprêsa Americana Allis-Chalmers. 2.°) O "ear stopper" em forma de "insert'' da Surgical Mechanical Researeh, Inc. de Los Angeles (Fig. n.° 2 e 3) tens uma massa cilíndrica que é apresentado em vários tamanhos, e com revestimento externo de borracha mole. 3.°) O Protin "1001" fabricado por esta Indústria Nacional de forma arredondada, curto e flexível (Fig. n.º 4 e 5) onde aparece em posição no meato acústico externo de um osso temporal seccionado. 4.°) O Protin 1000, com a forma de fones abafadores a que são colocados envolvendo totalmente o pavilhão auricular como mostra a
Fig. n .º 6. 5.º) O abafador da Fig. n.°. 7, que é construído de borracha e que tem duas saliências de espessura diferentes, que quando inseridos no meato acústico externo coaptam-se ao mesmo e permanecendo ar entre estas duas partes, aumentarão o poder abafador, não é muito flexível. 6.º) O U51R (Fig. n .º 8) abafador em forma de "plug" ou "insert" utilizado pelos operários da indústria americana e recomendado pelas companhias de seguros construído com acrílico também não sendo muito flexível. 7.º) O PA-010 da Duráveis Equipamentos de Segurança Ltda., emprêsa nacional.
A verificação do poder abafador por via audiométrica é realizado de duas maneiras: com os fones do audiômetro ou em, campo livre em cabine insonora. Com o uso doe fones sómente é possível testar os tipos de abafadores que são inseridos no interior do conduto auditivo externo em forma de "plugs" ou de "inserts". Faz-se audiometria prévia por via aérea e após coloca-se os afabadores no meato e recolocando os fones faz-se nova audiometria, comparando os limiares com e sem o abafador em tôdas as freqüências audiométricas usuais. O exame em campo livre é realizado tua cabine insonora com um alto falante que emite os sons anotando-se os limiares sem e com os protetores. A colocação do protetor é muito importante, pois qualquer espaço que permaneça entre a pelo do meato e o abafador permite a passagem do som. Deve-se cuidar em coaptar adequadamente o mesmo ao conduto. Foram examinados 10 indivíduos com cada protetor que não eram portadores de doenças auditivas e que foram submetidos prèviamente a exame otoscópico.
Resultados
TABELA 1
O poder de abafamento de todos os protetores e nas diversas freqüências examinadas estão vá tabela 1.
Verificamos que o poder de abafamento de todos os protetores aumenta dos graves para os agudos em uma média de 15 a 40 dBs. A boa coaptação é fundamental para um abafamento efetivo. Não há diferença apreciável nos sons agudos acima de 2.000 ciclos entre um e outro protetor, isto permite aos operários a escolha do que melhor se adapta ao seu conduto e mesmo o de custo mais acessível. Não houve em nenhum dos casos problemas de dor ou erosões da pele durante os testes que realizamos com os abafadores.
Discussão
O canal auditivo externo (Fig. n.º 9) onde se colocam e aí permanecem durante muitas horas os protetores auditivos é um "fundo de saco" epitelial. A temperatura e a umidade relativa estão em equilíbrio. Quando a temperatura excede 37ºC e a unidade relativa de 70% a pele torna-se macerada e há predisposição a infecção, êste é o mecanismo das otites externas, principalmente no verão, quando são freqüentes os banhos de imersão.
Os protetores que estudamos ao serem usados secos não alteram nem a umidade e nem a temperatura do conduto, não sendo prejudiciais portanto sob êste ponto de vista. Por outro lado, recomenda-se o uso de protetores auditivos em mergulhadores para evitar problemas no conduto auditivo externo pela exposição excessiva a umidade. Comenta-se em processos de indenização trabalhistas que o operário não suporta o uso de protetor, pois lhe causa dor no conduto ou infecções. Queixam-se principalmente, de dores de cabeça, pressão na cabeça, aquecimento dos ouvidos, zumbidos e ressonâncias. O uso de óculos, dentaduras ou de uma prótese acústica (aparelho de audição) ou do lentes de contato, também ocasionam no início do uso, perturbações até piores que aquelas que os operários relatam. O organismo humano tem um poder de adaptação extraordinário, mas psicològicamente o indivíduo faz esfôrço e tenta, sempre mais uma vez, com próteses que lhe trazem benefício estético ou funcional. O uso de um abafador nos ouvidos é incômodo no início, como o é uma dentadura, óculos ou lentes de contato, mas a adaptação surge em poucos dias. Achamos que os protetores que investigamos não são causa de tais alterações e o que existe é uma má orientação protecionista da saúde do operário, ou o desejo dêste de receber indenização ou acréscimo de insalubridade ao seu salário previsto na lei.
O outro aspecto fundamental é a indenização do uso dos protetores auditivos. Como a portaria do Ministério do Trabalho que regulamenta e enumera as atividades insalubres determina que trabalho em ambiente ruidoso acima de 85 dBs é insalubridade média e o operário deve receber um acréscimo de 20% do salário mínimo regional, os industriais tem comprado um protetor qualquer (geralmente um dos que foram estudados neste trabalho) o os entregam sob recibos aos operários das secções da indústria cuja medição do ruído pelo decibelímetro (sound level meter) revelou índices acima de 85 dBs. Liberam-se assim das obrigações do pagamento do adicional de insalubridade perante as reclamatórias junto a Justiça específica. São raros os casos em que existe uma educação profilática sôbre a necessidade do uso de protetores e as conseqüências do trauma sonoro que lesa o sistema neuro-sensorial da orelha interna de maneira permanente. O uso de outras próteses como dentaduras artificiais e membros artificiais são aceitos pois melhoram a estética, uma vez que o hábito de uso da mesma é antes condicionado pela estética do que pela proteção à saúde, daí a resistência ao uso de vestimentas especiais, óculos protetores e abafadores auditivos. Como já afirmamos acima, no indivíduo com deficiência auditiva e que usam uma prótese acústica (aparelho de audição) adaptam ao seu conduto auditivo externo um fone de plástico que não lesa a pele do mesmo e geralmente permanece no local um dia inteiro. Já examinamos pacientes que usam próteses há mais de 10 anos e nunca apresentaram problemas de infecção ou lesões na pele do conduto. A indicação da proteção auditiva requer três estudos fundamentais: a medição do ruído do local do trabalho, o exame individual de cada operário sob o ponto de vista otológico e o tempo de exposição.
A medição é realizada com duas finalidades, determinar a intensidade do ruído (em dBs) com o decibelímetro e a faixa de freqüência que incide, utilizando-se os gráficos que acompanham o aparelho realizando a medição na marca A, B e C do mesmo. O tipo de ruído: contínuo ou intermitente é muito importante. Havia muita discussão sôbre a intensidade do trauma rio ruído intermitente, (ex: forjarias, prensas e, outras indústrias) estudos recentes de Sataloff e colegas2 demonstram que a intermitência produz tanto trauma como ruído contínuo 20 dBs mais baixo. Portanto, na intermitência ruidosa, que é fato comum em inúmeras indústrias também existe ó perigo da lesão auditiva.
O outro parâmetro fundamental no estabelecimento de um programa de proteção é o exame individual dos operários a fim de determinar os seguintes aspectos: 1) Se já são portadores de lesão auditiva provocada por exposição a ruído intensos, 2) Se são normais, 3) durante a consulta explicar ao operário a necessidade de um protetor a fim de proteger sua audição. As contra-indicações formais são nos casos de otite crônica supurativa, de otites externas e outras afecções do conduto auditivo externo. Para contra-indicar o uso de um protetor deve ser estudado cada caso em particular. O exame, o estudo otoscópico e audiométrico são fundamentais pois permitem eliminar outros tipos de perda auditiva que podem ser portadores aquêles que trabalham em ambientes ruidosos. Outra exigência que deve ser fundamental no momento da admissão de operário para secções ruidosas é a obrigação da feitura do audiograma. O passo seguinte é estabelecer a proteção, para tanto deve-se consultar tabelas especializadas e muito bem estudadas como a apresentada por Michael3, (Tab. n.º 2). A tabela reúne três aspectos básicos da proteção auditiva. Determina o ruído nas diversas bandas de freqüência ou oitavas. Apresenta na segunda. divisão as intensidades sonoras acima das quais é necessária a proteção segundo as freqüências que incidem. Na terceira divisão da tabela vemos o poder de abafamento que cada protetor deve ter, para ser efetivo, acontecendo agora o contrário, quanto mais agudo o ruído mais poder de abafamento deve ter o protetor e quanto mais grave menos. Os protetores estudados neste trabalho se enquadram exatamente nesta tabela apresentando as qualidades ideais; quanto mais agudo é o ruído mais poder de abafamento produzem.
A portaria do Ministério do Trabalho que cita as atividades insalubres determina que o ruído acima de 85 dBs constitue ambiento de trabalho com insalubridade média. A proteção auditiva permite a retirada da insalubridade do local, e os operários recebem indiscriminadamente os protetores sem, na maioria das vêzes serem estabelecidos os três parâmetros fundamentais: estudo da intensidade e da freqüência de ruído, exame audiométrico individual e poder de abafamento do protetor, o estudo dos protetores e seu poder de abafamento permite aos órgãos competentes bases científicas para modernizar a legislação sôbre êste assunto. Inúmeros ambientes de trabalho requerem sòmente estudo anual do ruído e o exame audiométrico dos operários pois se o ruído estiver na faixa que requer proteção, segundo a tabela, sòmente será necessário o uso de protetor para os operários que venham apresentar algum sintoma. A obrigatoriedade do audiograma ao ser admitido o trabalhador para secção ruidosa é muito importante, pois permite verificar se o mesmo é normal ou se é possuidor de lesão auditiva de trabalho anterior.
Existem inúmeros testes de susceptibilidade coclear que se realizam a fim de verificar a facilidade ou não que possue o indivíduo de contrair um trauma acústico, mas que: na prática não tem sido realizada, pois tem uma grande margem de erros. O melhor é repetir a audiometria anualmente, como se faz com a abreugrafia e outros exames. Se o indivíduo é portador de trauma sonoro deve usar o abafador obrigatóriamente, e realizar audiometria com mais freqüência a fim de verificar a estabilização ou piora do quadro auditivo. O abafamento produzido pelos protetores de 20 a 30 dBs nas freqüências médias do audiograma, permite o entendimento da voz nas indivíduos que possuem audição normal ou próxima do normal. A intensidade da fala em ambientes com ruídos médios oscila em têrno de 50 a 70 dBs, o abafamento produzirá necessàriamente uma elevação dêste limiar para, 80 ou 90 que é uma voz em tom elevado.TABELA 2
Conclusão e Resumo
Os protetores ou abafadores auditivos examinados são eficientes para proteção contra a lesão auditiva produzida por exposição a ruídas intensos. A indicação do uso de um abafador requer sempre: o estudo do ruído ambiente, audiograma individual dos expostos e verificação do poder de abafamento do protetor. A indicação de uso de abafadores deve ser orientada segundo a intensidade e freqüência do ruído do ambiente de trabalho.
Summary
The auditive protectors that were examined are adequate for the hearing protection when there is exposition to intenso noise. The indication of a auditivo protector allways needs 1.º) The evaluation of the ambient noise; 2.º) Audiograms of the persons and; 3.°) verifications of the protector's power.
An exemple of noise talbe to orient the use of hearing protectors is presented in this paper.
Bibliografia
1. MAJEAU - Chargois, D. A., Berlim, Charles I. e Whitehouse, D. Gerald, Sonic Boom effects on the organ of corti-Laryncoscope 80 :620, 1970.
2. SATALLOFF, J., YASSALLO, L. MENDUSE HG. - Hearing loss from exposure to interrupted noise Arch. Environ, Health 18: 972, 1969
3. MICHAEL, P. L. - Ear Protectors. Arch. Environ Health 10 :012,1965.
4. GUIDES to the Evolution of Permanent Impairment: Ear, Nose, Throat and Related Structures, JAMA 177 :489, 1961.
5. SATALLOFF, J. - Industrial Deafness, pg. (124, MeFrow Hill 1960. New York.
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7. ANDRAS, J. hf. - Ruido y Sordera, Ed. Paz Montalvo Salamanca, 1969
8. BURNS, W. Noise and Man - J. B. Lippincott Company - Phyladelphia - USA, 1968.
1 Médico otologista - Pôrto Alegre.
2 Médico otologista e Diretor do Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Ernesto Dornelles - Pôrto Alegre.
3 Médico otologista e Assistente de Otorrinolaringologia da Fac. Católica de Medicina de Pôrto Alegre.
4 Médicos residentes do Instituto de Otologia de Pôrto Alegre.