Versão Inglês

Ano:  1970  Vol. 36   Ed. 3  - Setembro - Dezembro - ()

Seção: -

Páginas: 207 a 209

 

Bioquímica do Nariz normal e de suas moléstias

Autor(es): Francisco Bastos De Jorge,
Lamartine Paiva
Raphael da Nova

1 - Cartilagem do septo nasal*

Introdução

O nariz externo, de forma piramidal, possui dois orifícios elípticos (narinas), separados um do outro por septo ântero posterior, com as superfícies laterais unidas na linha mediana, formando o dorso do nariz.

O seu arcabouço é formado por ossos e cartilagens, os quais estão recobertos por tegumentos e forrados por membrana mucosa. A parte óssea ocupando a região superior do órgão é constituída pelos nasais e processos frontais da maxila, enquanto que a parte cartilaginosa é formada pela cartilagem do septo, por duas cartilagens laterais e duas alares e por outras peças menores.

A cartilagem do septo (cartilago septi nasi), objeto do presente trabalho, tem forma quadrilátera, é mais espêssa nas margens do que no centro, e completa a separação entre as duas cavidades nasais, na parte anterior.

Sob o ponto de vista histológico, possui condrocitos a rêde extracelular de fibras contendo um gel amorfo. Mais de 80% do seu pêso sêco corresponde a substâncias orgânicas, tais como, condroitim sulfato de sódio, colágeno, mucoproteínas, e pequena quantidade de lípides e glicogênio (Fastoe, 1961).

A cartilagem do septo nasal humano contém glicoproteinas, leve e pesada, e fração de mucopolisacáride, denominada mucoproteína da cartilagem (Banga, 1969). É de interêsse mencionar a presença de condroitim-4-sulfato, isolado da cartilagem da orelha de coelho (Peter & Bohumila, 1970). Os estudos de Pasternak (1969) sugerem que a deficiência de vitamina A pode estar relacionada com o movimento dos mucopolisacárides na cartilagem, podendo resultar em alterações estruturais.

Parece ocorrer aumento de hexomina ligada à proteína em cartilagens articulares regenerando, assim como considerável aumento de ácido urônico sob a ação de prednisolana administrada por via oral a cães (Kostenszky et al., 1970).
A cartilagem do septo nasal pode sofrer a ação destruidora de várias moléstias granulomatosas da mucosa nasal, especialmente leishmaniose.

Em virtude de não se encontrar na literatura dados acêrca da composição química da cartilagem do septo nasal do homem, o presente trabalho foi feito, com a finalidade de comparação com a patologia nasal.

Material e Métodos

As cartilagens foram retiradas de 20 indivíduos normais, 12 do sexo masculino e 8 do sexo feminino, que foram operadas de desvio de septo no Departamento de Otorrinolaringologia (10 Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Prol. Raphael da Nova). Dezenove eram da taça branca e um mulato. As idades variaram de 16 a 60 anos.

Depois do ato cirúrgico, a cartilagem foi limpa de todos os tecidos aderentes, apresentando-se então com aspecto claro e homogêneo.

Na cartilagem fresca o conteúdo de nitrogênio foi determinado pelo método Kieldahl (1880 e o de enxôfre total pelo método turbidimétrico (De Jorge et al., 1964). Na solução clorídrica das cinzas, o sódio e o potássio foram determinados por espectrofotometria de chama, o magnésio por método usando o Titan amarelo em meio alcalino (De Jorge et al., 1964), o fósforo pelo método de Fiske & Subbarow (1925), o cálcio pelo método de Loureiro & Janz (1944), o cobre pelo dietilditiocarbamato em meio amoniacal (De Jorge et al., 1962). Na solução nítrica das cinzas, o cloreto foi determinado pelo método de Schales & Schales (1941).



Tabela I - composição química da cartilagem do septo nasal (unidade por 100g de pêso fresco).


Tôdas as determinações analíticas foram feitas em triplicara. Os resultados foram submetidos ao tratamento estatístico convencional.

Resultados e Discussão

Os dados de identificação, sexo e idade de cada indivíduo, e os resultados dos conteúdos de água, sódio, potássio, fósforo, cálcio, magnésio, cobre, cloreto, nitrogênio e enxôfre, em relação a 100 g do pêso fresco, acham-se resumidos na Tabela 1.

Idade e sexo não parece influírem na composição química da cartilagem do septo nasal. As concentrações de água variaram de 72,93 a 82,17 g/100 g, valôres semelhantes aos referidos por Eastoe (1961) para a cartilagem do septo de bezerros.

Os conteúdos de sódio variaram de 6,98 a 11,40 mEq/100 g, os potássio de 0,81 a 1,42 mEq/100 g e os de magnésio de 1,16 a 2,11 mEq/100 g, resultados mais baixos do que os encontrados em dois jovens, compilados por Eastoe (1961), no entretanto os de cálcio e sulfato são muito semelhantes.

Embora as espécies animais sejam diferentes, é interessante a grande semelhança de dois elementos químicos fundamentais à estrutura das cartilagens e dos ossos.

Summary

BIOCHEMICAL STUDIES ON NORMAL AND DISEASED NOSE. 1 - NASAL SEPTUM CARTILAGE by Francisco Bastos de Jorge, Lamartine Paiva and Raphael da Nova.

The chemical composition of the nasal septum cartilage, as determined in 20 normal subjects, who where operated on for nasal septum deviation. The age of then ranged from 16 to 60 years old, and 12 were males and 8 were females. After surgery the cartilage was cleaned from all adherent tissues. The summary of the results is the followyng: 77.18 ± 2.27 g/100 g of water, 9,18 ± 1.39 mEp/100 g of sodium, 1.12 ± 0.19 mEq/100 g of potassium, 23.2 ± 3.3 mg/100 g of phosphurus, 114.8 ± 17.8 mg/100 g of calcium, 1.62 ± 0.35 mEq/100 g of magnesium, 417.3 - 44.6 ug/100 g of copper, 10.36 ± 0.78 mEq/100 g of chloride, 2.45 ± 0.34 g/100 g of nitrogen and 406.2 -L 26.7 mg/100 g of sulfur.

Referências

1. Banga, I. - Structure of protein-polysaccha rides and their role in the function of connecttive tissue fibers. Acts Physiol. 35:355363, 1969.
2. De Jorge, B. B., Canelas, H. H. & Costa-Silva, A. - Contribuição ao estudo do metabolismo do cobre. 1 - Metodologia da determinação do cobre em materiais biológicos. Rev. Paul. Med., 61:350-355, 1962.
3. De Jorge, F. B., Silva, A. G. & Ulhôa Cintra, A. B. - Determinação quantitativa de enxofre nos materiais biológicos. Rev. Bras. Med. 21:491-494, 1964.
4. De Jorge, F. B., Silva, A. G. & Ulhôa Cintra, A. B. - Determinação quantitativa de magnésio nos materiais biológicos. Rev. Paul. Med. 84:224-236, 1964.
6. Eastoe, J. E. - The chemical composition of cartilage. In "Biochemists' Handbook", edited by C. Long; E. & F. N. Spon Ltd., London.
6. Fiske; C. H. & Subbarow, Y. - The colorimetric determination of phosphorus. J. Biol. Chem. 66:375-400, 1925.
7. Kjeldahl, J. - Neue Methods zur Bestimmung des Stickstoffs in organischen Körpern. Z. anal. Chem. 22:366, 1883.
8 . Sostens. . ky, B. S., Olah, E. H. & Nandi, B. - Effect of prednisolone on the hexosamine and uronic acid content of regenerating articular cartilage. Acta. Biol. (Budapest) 21: 55-62 1970.
9. Loureiro, J. A. & Janz, G. J. - Iodometric and colorimetric methods for the estimation of calcium in serum based on the use of an improved permanganate solution. Biochem. J. 38:16-19, 1944.
10. Pasternak, C. A. - Metabolic- aspects of vitamin A deficiency in rats and cultured tumor cells. Bibl. "Nutr. Diets" N.º - 13 159-161, 1969.
11. Peter, B. J. & Bohumila, R.-C. - Metabolic heterogeneity ®f rabbit ear cartilage chondroitin sulfate. Biochem. J. 116: 329-336, 1970.
12. Schales, O. & Schales, S. - A simple and accurate method for the determination of chloride in biological fluids. J. Biol. Chem. 140:879-884, 1941.




* Trabalho realizado no Departamento de Oftalmologia e Otorrinolaringologia (Serviço do Prof. Raphael da Nova). - Hospital das Clínicas - Fac. de Medicina da U. S. P.

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