Versão Inglês

Ano:  1943  Vol. 11   Ed. 6  - Novembro - Dezembro - ()

Seção: Trabalhos Originais

Páginas: 509 a 513

 

INCLUSÕES DE "VIDRO ELÁSTICO" NO TRATAMENTO DA OZENA (1)

Autor(es): JORGE FAIRBANKS BARBOSA (2)

Clínica de Oto-Rino-Laringologia da Santa Casa de Misericordia de São Paulo. (Serviço do Dr. Mario Ottoni de Rezende).

Meu trabalho está em início de experimentação. Se o trago, tão prematuro, à crítica dos colegas, é porque soube que idêntico tema deverá ser discutido, hoje, nesta Secção. Foi por isso que me senti desejoso de apresentar à Casa minha contribuição modesta, embora certo de que será ousadia firmar conclusões, sem que o tempo sele os resultados definitivos do que me tem sido dado observar.

Limitar-me-ei ao relato do que tenho conseguido. Uma onda do otimismo me anima, neste instante, e espero voltar, mais tarde, à presença dos colegas, queira Deus, com o mesmo entusiasmo com que me encontro agora.

Senhores, todos temos ainda viva na memória a maravilhosa comunicação de nosso companheiro de trabalho, Dr. Duarte Cardoso, à Secção de Oto-Rino-Laringologia e Cirurgia Plástica em 17 de Abril do ano passado. Lá, o ilustre colega deixou patente a superioridade do "vidro elástico", sobre os demais materiais comumente empregados nas inclusões. Na mesma ocasião, o autor nos mostrou pacientes com peças de vinilite, incluídas na face externa do braço, há vários meses, sem que se queixassem ou apresentassem sinais de intolerância. A perfeita tolerância do novo material foi-nos mostrada ainda em cortes de tecidos em que ele fora incluído. Encerrando sua nota prévia, Dr. Cardoso tira as seguintes conclusões que peço vênia para repetir, porquanto constituem as diretrizes de meu trabalho:

"A inclusão de vidro elástico ou vinilite, realizada na face antero-externa do braço em cinco pacientes foi otimamente tolerada por período de tempo de 2 a 4 meses.

O exame histo-patologico da cápsula que envolvia a inclusão de um dos pacientes, revelou tipo de reação favorável à permanência do material incluído. Isto é, cápsula de tecido fibroso.

A elasticidade do material permite seu emprego em certas regiões da face onde o arcabouço deve ser elástico como nas narinas e pavilhão auricular.

As peças podem ser preparadas no momento da operação com bisturi ou tesoura e são facilmente esterilizadas no álcool ou pela fervura.

O autor aguarda a ação do tempo para tirar conclusões definitivas quanto à tolerância do material pelo organismo".

Data de então minha vontade de experimentar o vidro elástico no tratamento da ozena.

Não pretendo discutir as diversas hipóteses sobre a atuação dos enxertos ou, inclusões nesse terreno árido de nossa especialidade. Se pretendesse tanto, teria de caminhar longamente pelos domínios das hipóteses e, retornaria cansado ao ponto de partida. Inúmeros especialistas vem realizando pesquisas e observações neste sentido. Uma infinidade de material tem sido introduzida nas fossas nasais dos doentes com o fim de restringir os seus calibres ou excitar as mucosas.

Entre nós, Renato Machado, Horácio Paulo Santos e Hugo Ribeiro de Almeida são ardorosos defensores das "inclusões", com as quais obtiveram grandes melhoras ou mesmo a cura de pacientes.

Todos os que se tem dedicado a essa ordem de cousas, apontam a possibilidade da eliminação da peça incluída, quando não a da supuração da bolsa receptora. São acidentes desagradáveis que marcam a negatividade da intervenção.

Tive ocasião de retirar uma peça de parafina rósea de White do septo de um meu cliente que, há um ano, tinha sido operado por distinto colega de São Paulo. Aliás, quando o paciente me procurou, o terço anterior da peça já estava livre na fossa nasal, causando-lhe enormes incômodos. A infecção que se verificara na sede da inclusão, acarretara grande perfuração do septo ó que veio agravar, sobremaneira, o quadro ozenoso do paciente.

São espantalhos como esse que tem impedido a prática corrente das inclusões, não obstante os enormes benefícios que elas possam trazer aos doentes.

Quero crer que, com a vinilite aquele inconveniente fica afastado. Minha experiência é pequena irias já observei o bastante para ser otimista. Tenho 10 doentes operados. Em todos fiz a inclusão subperióstica no septo nasal. Descolei a mucosa no lado desejado como no primeiro tempo da operação de Killian para a correção dos desvios do septo. Introduzo a peça e tampono a fossa.

No dia seguinte retiro o tampão e, daí por diante, o post-operatório decorre como na operação do septo.

As reações imediatas em nada diferem das que costumamos observar na operação de Killian. Os benefícios não tardam.

No início há abundante secreção mucosa que, depois, se atenua e se normaliza ou cede lugar à discreta secreção purulenta, sob a forma de cordoarias transversais.

As crostas, via de regra, desaparecem ou, se formam, são pequenas, menos consistentes e de fácil eliminação, com o simples assoar do nariz. O olfato é recuperado.

Não tive nenhum acidente a lamentar.

Em um de meus casos, a atrofia era tão marcada, que não pude evitar o dilaceramento da mucosa nas proximidades da incisão operatória. Em conseqüência,o pólo anterior da peça ficou a descoberto em pequena extensão. Acompanhei atentamente o post-operatório, certo de que o vidro seria eliminado. Tive a feliz surpresa de ver o epitélio avançar sobre ele e recobri-lo como se fôra o próprio esqueleto do septo. É o caso de um dos pacientes que trago à vossa presença.

Costumo preparar a peça com tesoura, no ato da operação. Até então, estava conservada em álcool. Dou-lhe a forma de um ovóide, com 2-3 centímetros de comprimento e 1-1,5 de largura. A espessura do material que tenho usado é de 1-1,5 milímetro.

Em um de meus casos, com acentuado desvio do septo, precisei superpor duas peças para obter a suficiente redução do calibre da fossa. A paciente aqui se encontra e, como podereis constatar, a tolerância tem sido perfeita.

Há um pormenor que me parece de importância capital no preparo da peça: devemos retirar-lhe todos os ângulos e arestas para que a eliminação seja mais difícil. Introduzimo-lo com o pólo mais fino para o interior da fossa. Assim mais fácil se torna a penetração e mais difícil a eliminação.

Antes de terminar quero frisar que todos os meus pacientes estão em observação. Em nenhum deles dei por encerrada a minha tarefa. Fiz-lhes apenas uma inclusão no septo como "test". Decorrido um ano, e provada a tolerância perfeita do material, pretendo completar a recalibragem das fossas, com outras inclusões em outros pontos.

Senhores, incluí um fragmento de vidro elástico no palato duro de um cão, sob o periósteo. Cinco semanas após sacrifiquei o animal e pedi à Dra. Maria Luiza Mercadante, ilustre assistente de Anatomia Patológica em nossa Faculdade, que procedesse ao exame histo-patologico da cápsula. Eis o relatório que, gentilmente, me forneceu:





"Nota-se, no preparado, um corte de mucosa, recoberto por um epitélio pavimentoso estratificado, rico em pigmento melânico (cão). Corion bem conformado; a certa distância do epitélio nota-se um corte retangular de substância absolutamente transparente (vidro elástico), envolvida em todo o contorno por tecido conjuntivo colágeno, muito rico em células. Não ha tecido de granulação, nem reação de células gigantes".

RESUME'

L'autour a pratiqué 10 inclusions de-verre élastique sous les septums de 10 porteurs d'ozene. La tolérance a été parfaite en tous les cas, sans le moindre signe d'elimination. Le cas le plus ancien n'a que dix mois. Le plus recent que six mois. Les résultats imediats sont três rassurants: les crôutes sont disparues si bien que la mauvaise odeur: l'odorat est retourné. L'examen histopathologique de la capsule qu'envelopait en fragment de verre inclus el y a cinq semaines, sous le perioste du palais dur d'un chien, demonstra une reaction fibreuse, ce que denotait une pare faite tolérance du matériel. L'Auteur trouve le temps três raccourci pour se faire des conclusion. En tout cas, el est optimiste d'aprés ces observations.




(1) Trabalho apresentado na Sessão de O. R. L. da Associação Paulista de Medicina em 18-10-43.
(2) Adjunto Voluntário

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