Ano: 1943 Vol. 11 Ed. 1 - Janeiro - Fevereiro - (1º)
Seção: Editorial
Páginas: 03 a 04
DEZ ANOS
Autor(es): JOÃO MARINHO
A REVISTA BRASILEIRA DE OTO-RINO-LARINGOLOGIA completou, com o volume de 1942, seu decimo ano de existencia.
Ao encetar o decimo primeiro ano de vida congratula-se, incito cordealmente, com seus colaboradores, assinantes e anunciantes, que, todos, cooperaram, e muito, para o brilho com que trilhou o caminho de sua vida tão proveitosa á oto-rino-laringologia brasileira e aos Otorinolaringologistas do Brasil. Por seu intermédio ficou conhecido tudo quanto produziram, no terreno da especialidade,e, sobretudo, se pode ter certeza da extensão que esta tomou no concerto da medicina brasileira. Alem disso Ela fez coro que nossos colegas do extrangeiro, pudessem ter noção do quanto, no Brasil, se trabalha nesse ramo da Medicina.
O esforço de congregação dos oto-rino-laringologistas brasileiros e da parte material para trazê-la até hoje, vivendo sem interrupção e sem perder a norma inicial, sob que foi traçada, não foi pequeno para os que se incumbiram de sua redação durante este longo pcriodo. A cooperação de todos os colegas, do Brasil, quer cientifica, quer material, não deixou de representar o elemento basico de sua existencia.
Sem, porem, o auxilio de todos seus amigos anunciantes, não teria sido possivel torná-la no que agora é, em tamanho e em valor cientifico.
A Redação da REVISTA BRASILEIRA DE OTO-RINO-LARINGOLOGIA sente-se orgulhosa de ter podido vencer a etapa mais árdua de sua vida, sem que um só de seus numeros deixasse de ser impresso em tempo justo, e tivesse perdido o caráter cientifico e o feitio inicial.
Agradecendo, pois, nesta data, a todos seus amigos e colaboradores, pelo amparo de suas amizades, muito espera, ainda, do esforço com que queiram contribuir para seu maior desenvolvimento.
A REDAÇÃO
DEZ ANOS
Utilidade e oportunidade representam condições indispensáveis a viabilidade dc qualquer empreendimento social. Outra, a medida ou prudência de iniciar a obra sem pretensões de leva-la dêsde logo às dc cabo. Se ó conceito dc útil e oportuno vem de condições exteriores, a prudência pressupõe órgãos individuais, intelectual e moralmente idôneos ao bons êxito da emprêsa. E aí temos os dez anos em ascensão na estima, admiração e agradecimento gerais à "REVISTA. BRASILEIRA DE OTO-RINO-LARINGOLOGIA".
Pôs-se-lhe de manifesto a oportunidade cru 1926, por ocasião da incinorável Reunião Oto-neuro-laringologica realizada em São Paulo. Faltou-lhe o nome, mas não o espírito de primeiro Congresso da Especialidade realizado ato Brasil. Tateante por prudência, ou meio traíndo as preferências dogmáticas de seu digno organizador, ainda prendia-se, por feliz inspiração, à, neurologia, fundamento à Otologia e à Laringologia, de que os acidentes cirúrgicos, por injentes de acudir que sejam, não passam de ocasiões especializadas da cirurgia geral. A Rinologia não figurava oficialmente no programa, o que não é dizcr que dela implicitamente não cogitasse e, muito menos, o proibisse. O certaimen impôs-se como de Oto-rino-laringologia.
Dele resultou duas preciosas conseqüências . Uma, imediata, os edificantes anais, testemunho do quanto foi útil e oportuno; outra, a sugestão do que veio, a ser a primeira fase da atual Revista, cujo primeiro decenário hoje comemoramos.
Concebida e nascida em São Paulo, demorou cinco anos, regional no título, e tambem, apenas como Revista de Oto-laringologia. Em 1938, tornou-se o que dêsde o começo pretendeu, agora tambem no título, extensamente brasileiro e incluindo a rinologia: "REVISTA BRASILEIRA DE OTO-RINO-LARINGOLOGIA". Não tardou que transbordasse de nós aos nossos vizinhos rioplatenses e, já por toda a América do Sul e logo dilatada a outros países através dos sumarios feitos nas principais línguas sábias.
Os seus índices atestam a quanto já vale a operosidade mental e técnica dos nossos especialistas, a que cedo veio juntar-se preciosa colaboração dos que por pouco não falam a mesma língua nossa.
Empreendimentos de tomo não sc acabam de repente. Não sc lhes dispensa o tempo, c todos teem o seu próprio. O da Revista chegou. Ainda que a prudência, inseparavel da modestia dos setes dignos diretores não a temiam por obra acabada, os setes leitores ja a julgam por excelente, que já é obra, quando anais não fôsse, a de nos guardar a atividade intelectual e prática, serra o quê logo desapareceriam da memória, ainda da conteporânea, se não houvesse acudido em tempo a benemerência dos dignos fundadores e continuidadores,por tranquilidade nossa, aí sadios, no vigor da idade, cada dia mais seguros de si e do beneficio comum, pela sabedoria repassada na experiencia própria. Qualquer dos trabalhos que aceitam foram capazes de redigir. O que não é o menos na vigilancia redacional da Revista. O bem que soutos conhecidos lá fóra a ela devemos.
Ao entendimento juntam a autoridade e o desinteresse. A sua Revista não acolhe, escolhe. Em eufemismo polido de adiamento vai preterindo trabalhos somenos (que de tudo há) e, o que é mais é de pasmar, solicitações de anunciantes, nos quais as palavras que dizem e escrevem são de ciência, mas debaixo anseia vivo o triste industrialismo da farmacopéia atual.
Devemos, outrosim, a Revista de Mario Ottoni de Rezende e Homero Cordeiro o haver encarrcirado a intelectualização da Oto-rino-laringologia. Já enfastia o seu explendor de cirurgia pura. Tão perfeita já anda nas intervenções até há pouco tidas por difíceis, agora acessíveis com desenvoltura a todo interno bem guiado, que já se torna desnecessária, senão impertinente, sua ostentação em revistas da Especialidade.
Nesse particular, ainda urna vez com oportunidade, preocupa-se a Revista com decidida preferência, da parte doutrinaria da Oto-rinolaringologia. Com o que tem estimulado trabalhos brasileiros de indiscutivel valor.
Compreende-se o seu anuncio na Ordem do dia de Associações Médicas, não especializadas, pelo beneficio de chamar a atenção do geral, assim para o muito que já pode, e com inocuidade operatório, a Oto-rino-laringologia, como, permita-se a digressão, para a habilidade particular do. operador, o que, afinal, redunda em beneficio do grande publico. Constitue até a forma mais autorizada e, sôbre isso, de todo em todo sem dispendio, a inscrição pedida pela modéstia... no último lugar das ordens do dia. Como raramente se exgotam na noite para que foram publicados em todos os diarios de milhentos exemplares circulantes, lá aparece, na semana ou semanas seguintes, a operação e o seu habilidoso artista reanunciador.
Já mais de um de todo em todo original. Como tais, ainda sem maior repercussão, retidos na latência ou invulgaridade natural de todo advento progressista, mas guardado como testemunho de prioridade, que menos vale de contentar a vaidade individual, que ao devido acatamento da nacionalidade em que surdiram. Na maioridade decenal a que chega a "REVISTA BRASILEIRA DE OTO-RINOLARINGOLOGIA", não lhe seria fora de propósito fazer conta no que contem de todo nosso. Singular que fôsse o achado, bastaria. E fio que mais de um se colheria.
No apêrto em que me emprezaram os diretores da querida Revista, vejo que só me resta tempo para terminar, não sem reverenciar a grande autoridade com que logrou congregar em si duas ou três bôa-vontade que possuímos , mas por demais cantonais, agora fundidas numa só, essa única de todos nós.
Petropolis, 5 de Abril de 1943
JOÃO MARINHO