Versão Inglês

Ano:  1942  Vol. 10   Ed. 5  - Setembro - Outubro - ()

Seção: Associações Científicas

Páginas: 595 a 606

 

ASSOCIAÇÕES CIENTIFICAS - parte 2

Autor(es): -

J. J. da Nova, estavam Antônio de Paula Santos, Homero Cordeiro e Paulo Faria, e no Hospital Humberto I, Cincinato Ferreira e Homero Cordeiro iniciavam uma nova fase. Paula Assis no Hospital Militar e alguns mais em seus consultórios particulares. Das sociedades beneficentes de então, poucas tinham seu especialista e caixas de aposentadoria só em número de duas. Basta citar o fato de não existir nenhum oto-rino-laringologista com função civil pública na especialidade. Afora, pois, os serviços gratuitos, convergia toda a clínica para os consultórios particulares, em reduzido número. Hoje, 18 anos após, vemos São Paulo, grande metrópole, com cerca de 70 oto-rino-laringologista espalhados pelos vários serviços, destes devendo-se destacar, por suas magníficas instalações no grandioso Pavilhão Conde Lara, o serviço da Santa Casa, sob a direção de Mário Ottoni. Os serviços da Policlínica, Humberto I, grandemente melhorados e o da Faculdade em vésperas de receber instalações modernas, perfeitamente aparelhadas para o ensino, no Hospital das Clínicas, todos com numerosos assistentes, existindo, além dêsses, serviços em quasi todos os hospitais particulares. As sociedades beneficentes, as caixas de pensões, institutos de previdência, companhias de seguros, todos mantêm o seu especialista; cargos públicos especializados mostram a extraordinária difusão e compreensão da necessidade dêstes serviços, de maneira que embora o denominado cliente particular vá se tornando, por esses motivos, mais raro, todos trabalham e prosperam de acordo com as aptidões, dedicação, simpatia pessoal e o grande fator sorte de cada um. Ao lado, porém, de todo êsse progresso material da especialidade e dos especialistas, importa muito não descurar o seu progresso científico, para que haja uma grande elevação no exercício da medicina, na solução dêsse compromisso com o meio em que vivemos. A presença assídua às nossas reuniões torna suave e agradável êsse estudo necessário, pois recebemos de presente um determinado assunto já devidamente estudado e atualizado, ao lado da experiência pessoal que cada autor procura imprimir ao seu trabalho. Alie-se a isso que êsse intercâmbio contínuo de sentimentos de coleguismo incrementa mais os laços de amizade, tão necessários na evolução do organismo social, e veremos a vantagem da assiduidade às sessões, mesmo àqueles que atuam como ouvintes, avessos, como muitos, à prática cios debates oratórios. Animando-me à boa direção dos trabalhos, eu vejo ao meu lado dois jovens dignos: Antônio Prudente Corrêa, assistente do serviço do prof. Paula Santos, e Mauro Cândido de Souza, filho do meu saudoso mestre José Cândido de Souza, ambos cheios de entusiasmo, com trabalhos interessantes apresentados e com cujo auxílio as minhas deficiências serão supridas, para ,o bom desempenho do"meu cargo. Ao terminar, faço um apelo aos caros colegas para que apresentem, ao lado de seus trabalhos teóricos e aprofundados, de maior responsabilidade, simples comunicações práticas, verdadeiros casos clínicos, que, embora parecendo banais, encerram, muitas vezes vantagens práticas de mais imediato interesse. Contando com a boa vontade de todos, acredito seja possível atingir a meta desejada, que é o desenvolvimento científico, cada vez maior, da nossa especialidade. No momento angustioso que todas as nações da terra atravessam, diante do quadro político internacional, permita Deus nos seja possível, respeitados os nossos compromissos de honra e dignidade, aspirar ainda muitos momentos de paz e tranquilidade, tão necessários ao progresso do nosso caro Brasil".

ASSOCIAÇÕES CIENTIFICAS
ORDEM DO DIA:
MENINGITE PNEUMOCóCICA, OPERAÇÃO E SULFAMIDOTERAPIA. CURA. - Dr. Francisco Hartung.

Descreve-se um caso de meningite otogenica a pneumococos, curada pela cirurgia e sulfamidoterapia. Antes de abordar o assunto, o A. fez um resumo geral da literatura desde 1935 até os últimos meses de 1941. Verifica-se que quasi todos os AA apesar dos progressos da quimioterapia, recomendam, contra as meningites, um tratamento mixto : cirúrgico e médico. Não ha dúvida que se encontram, na literatura, alguns casos curados sómente pela sulfamida. Pensa A. que serão casos cuja verdadeira origem não resida no ouvido, porém em qualquer outra parte da economia, como nos pulmões. O doente foi operado algumas horas depois do aparecimento dos sinais meningêos. Ao mesmo tempo se administrou a sulfapiridina, sem resultado, porque os vômitos e paralisia da musculatura do faringe tornaram quasi impossível a absorção. De qualquer modo, logo depois do ato cirúrgico começaram a desaparecer os sintomas meningêos, sendo que a temperatura de 40,2°, desceu a 37°. Havia, assim, melhores, esperanças de cura, mas cinco dias depois se foi obrigado a suspender o uso do remédio, devido ao aparecimento de sinais de intoxicação. Novas doses de sulfapiridina e agora as máximas não conseguiram melhorar as condições do paciente, de maneira que, com mais urna noite, como decaíssem a olhos vistos as condições do doente, foi feita uma revisão operatória. O aspecto do osso e da fossa média era bom, coberto de granulações. Foi tudo curetado e, depois de limpo, fechou-se a ferida. Esta revisão operatória proporcionou os melhores resultados. Todos os sintomas de meningite desapareceram ainda mais depressa que na primeira vez para não mais voltar. Pelos acontecimentos que se sucederam nesta observação, é lícito concluir que por maiores e retumbantes que sejam os sucessos da quimioterapia, não se deve pensar em abandonar os antigos recursos da cirurgia. O A. acentua, com muitos outros: a cura da meningite depende de dois pontos capitais: operação precoce e intensa sulfamidoterapia.

COMENTARIOS:

Dr. Mário Ottoni de Rezende: Pudemos apreciar a forma sucinta, bem apresentada, com que o dr. Hartung expos a 1.* parte de sua comunicação, onde demonstra todos os conhecimentos necessários para o tratamento da meningite por pneumococos. A parte literária a Casa poderá lê-Ia mais tarde, com mais vagar, e verá quanto o dr. Hartung foi feliz nos resumos magníficos que fez. O dr. Hartung falou sôbre a pequena sintomatologia que o caso apresentou. Quero crêr que esta sintomatologia é a que deve ser observada, nestes casos, com mais frequência. Todos nós sabemos que as reações para o lado do ouvido e das suas cavidades anexas, provocadas por germens capsulados, são reações lentas e de pouca sintomatologia, quer as observáveis a olho desarmado, quer naquelas partes não visíveis. Estas são as reações gerais características dos germens capsulados e especialmente dos pneumococos. Por isto, a sintomatologia do doentinho do dr. Hartung é uma sintomatologia normal. Na parte terapêutica o dr. Hartung começou por sublinhar, como é de seu hábito, a erradicação dos focos. Entretanto, a erradicação deve ser obrigatória; não tem caráter pessoal. Assim, eu não estou de acordo com aquele sublinhado que o A. fez, ao lêr seu trabalho. A sulfamida dá, quasi sempre, resultados muito bons, sobretudo se conservar a taxa útil no tratamento, que anda mais ou menos 10 mgrs. % no sangue. Deve-se evitar a metahemoglobinemia sanguínea, o que se obtem pelas injeções de azul de metileno. A concentração útil de sulfamida no sangue deve ser mantida mesmo quando ha pequenos sintomas de intoxicação. Penso que a medicação deve ser continuada. A terapêutica moderna das meningites, sobretudo a pneumococos, (leve ser acompanhada da soroterapia. Este é uni elemento poderoso de auxílio à sulfamidoterapia. Além disso, o estado geral deve ser mantido bom. Nos casos de meningites, devemos usar de todos os meios de defeza, devido à gravidade da moléstia. Gostei muito da exposição clara e sucinta do dr. Hartung e das considerações filosóficas do caso. As considerações feitas são mais elucidativas que de crítica.

Dr. J. F. Matos Barreto: Eu quero, apenas, perguntar ao dr. Hartung porque, na 1.° intervenção, uma vez que a sintomatologia de um caso meningítico era tão clara, ele desprezou uma parte do osso que cobre a meninge. Ele referiu mesmo uma segunda intervenção e uma nova curetagem, removendo apenas as granulações. Porque, na 1.' intervenção, uma vez que não havia uma alteração óssea, como se pode compreender perfeitamente nestes casos de meningite, ele não procedeu à exposição larga da meninge, como foi assente pela maior autoridade no assunto, que é Neumann? Assim, não teria sido necessária uma segunda intervenção. Eu queria que o dr. Hartung nos explicasse, com mais minúcia, a sua conduta operatória no caso. Era este, apenas, o esclarecimento que eu desejava do dr. Hartung.

Dr. Gabriel Pôrto: Sôbre o tratamento das meningites, eu penso que o dr. Hartung tem razão na erradicação dos focos. Eu estimei bastante saber que o pensamento do prezado colega concorda com o modo de vêr que eu adoto ha muito tempo. Sôbre a sulfamidoterapia, o dr. Hartung acompanhou, com muito carinho, a evolução e a concentração no sangue do seu doentinho; esta é de importância capital na orientação médica. Eu, quando apresentei um caso de meningite a pneumococos nesta Secção, fiz considerações em torno de um estudo de Martin, sóbre a diferença da via de introdução da sulfamida; êste A. preconiza a introdução da sulfamida no líquido céfalo-raquidiano. A finalidade desta atitude é ganhar tempo, porque a doença precisa ser tratada precocemente. O medicamente, introduzido no sangue, alcança uma concentração útil no 2.° ou 3.° dia. A concentração necessária no liquor é alcançada mais rapidamente pelo introdução direta da sulfamida no referido liquor. Uni outro ponto que eu quero comentar é sôbre a droga usada. Se teria usado o sulfatiazol em vez da sulfapiridina. Era o que eu tinha a dizer. Felicito o dr. Hartung pelo modo feliz com que expoz o assunto tão complexo.

Dr. Paulo Saes: Como presidente desta Secção, agradeço ao dr. Hartung a feliz coincidência de ser o primeiro trabalho apresentado lia minha diretoria. O dr. Hartung tem sempre o dom de trazer trabalhos que suscitam debates interessantes. A orientação que eu sigo nestes casos é a mesma que a do dr. Hartung. A meningite otogenica já hoje suscita esperanças para o especialista. Ela deve ser diagnosticada precocemente. Identificado o germen, deve ser feita a erradicação do foco c devemos lançar mão dos meios coadjuvantes, que são a sulfamida e os que o dr. Mário Ottoni citou (ação do soro). Agradeço a contribuição do dr. Hartung.

Dr. Hartung: Quanto ao grifo sóbre a orientação, é um tanto indiscreta a pergunta do dr. Mário Ottoni. A orientação foi minha, porque havia outros contra ela. Não ha dúvida que eu estou apenas seguindo a orientação de outros autores. Sóbre os meios coadjuvantes eu só tenho a agradecer a gentileza do Dr. 3fário Ottoni, pelo modo de abordar o ass unto.

Ao dr. Barreto devo dizer que a operação de Neumann também a mim entusiasmou muito, quando eu voltei da Europa pela última vez. Eu operei 3 ou l casos e todos morreram. Depois, não fiz mais a operação de Neumann. (O A. lê parte do seu trabalho e diz que o que importa é a remoção dos focos e a cooperação da sulfamidoterapia, acrescentando que rever toda a literatura e não encontrou indicação da operação de Neumann e sulfamidoterapia). Num congresso de Toronto, eu observei a recomendação de uma revisão operatória com muito bons resultados e foi por isto que eu pratiquei esta revisão. O A. cita um caso de um americano que operou 4 vezes a mastoide e só obteve resultados bons na 4.' Disse que a ama destas coisas imponderáveis verificadas na prática, mas que ainda não tem explicação.

O dr. J. F. Matos Barreto replicou, dizendo que tem feito operações de Neumann e sulfamidoterapia com bom êxito, também em casos de meningite a pneumococos do tipo 7.

O dr. Hartung respondeu ao dr. Porto, agradecendo as suas palavras e dizendo que, quanto à injeção da sulfamida no liquor, o que interessa é a concentração da mesma no sangue e, portanto, tanto faz a injeção da droga no sangre on no liquor.

Ao dr. Saes o A. agradeceu as palavras.

Nada mais havendo a tratar, o sr. presidente encerrou a sessão.

SOCIEDADE DE OTO-RINO-LARINGOLOGIA DO RIO -DE JANEIRO

Ata da trigésima sétima sessão ordinária

As vinte e uma horas do dia sete de Novembro de mil novecentos e quarenta e um, em sua séde na Cruz Vermelha Brasileira, reuniu-se a Sociedade de Oto-Rino-Laringologia, sob a presidencia do Dr. Aristides Monteiro, que declara aberta a sessão, O Snr. Presidente avisa a Casa, da presença do Prof. Serre, da Universidade de Turim, ora domiciliado na Republica Argentina. Antes de introduzi-lo no recinto, a Assembléia por unanimidade resolve outorgar ao insigne professor, o título de Membro Honorário. 0 Snr. Presidente nomeia uma comissão para recebe-lo composta dos Drs. Paulo Brandão, Milton de Carvalho e David Adler. Recebido sob palmas por todos os consócios, o Snr. Presidente sauda-o em nome da Sociedade entregando-lhe o título recem-adquirido enaltecendo-lhe sua vida científica, fazendo-lhe considerações sobre grande numero de seus trabalhos e títulos, que culminaram com a posse da cátedra oficial da Universidade de Turim, em que pese a mocidade do nosso jovem recipendiario. Tanto por sabermos como são escolhidos na velha Europa os titulares, quanto mais rendemos nossas homenagens ao Professor Segre, por ter conseguido, numa idade fóra do comum, o primado da clínica universitária de Turim. Tece ainda o Snr. Presidente várias considerações em torno do entrelaçamento científico e amistoso que estas visitas oferecem, proporcionando momentos de indizível prazer espiritual. Em seguida dá a palavra ao Professor Segre que faz a sua memorável conferência sóbre o tratamento das "Otites Médias progressivas". Aplaudido entusiasticamente no final, agradece-lhe o Snr. Presidente em nome da Sociedade a esplendida lição que acabaram de ouvir e não havendo mais assunto a tratar é encerrada a sessão.

Sessão extraordinária

Convocada para uma sessão extraordinária, reuniu-se no dia ;6 de Novembro a Sociedade de Oto-rino-laringología : a razão cessa sessão foi a recepção do ilustre cirurgião inglez Sir Harold fillies.

Sir Harold Gillies é uma das personalidades mais notáveis no mundo cirurgião e a Sociedade de Oto-rino-laringologia preparou-lhe festiva recepção, elegendo-o Membro Honorário.

Sob a presidencia do Dr. Aristides Monteiro teve inicio a serão tendo o snr. Presidente em breve alocução com carinhosas palavras ressaltando o valor do ilustre hospede como cientista, entretando-lhe o pergaminho da sua condição de Membro Honorário ia Sociedade. A seguir, o Dr. David Adler teceu considerações acera dos trabalhos realizados por Sir Harold no campo da Cirurgia Plástica e as inumeras contribuições de que lhe somos crede.

Usando a palavra Sir Harold Gillies agradece todas a atenções que lhe têm sido prestadas e pronuncia uma notavel conferencia que prende a atenção do auditório por cerca de hora e meia ; Sir Harold analisa a sua enorme experiencia no terreno das rino-plastias pela utilização do retalho tubular frontal; estuda os diverso traçados de retalho e as vantagens e desvantagens que apresaram ; faz interessantes comentarios sobre as reparações e Esta Revista publicará na integra, dentro em breve a conferencia do Prof. Ségre.
ASSOCIAÇõES CIENTIFICAS

reconstrução do pavilhão e da orelha, com a utilização de cartilagem materna.

Seus comentarios acompanham durante todo o tempo a projeção de filhos e diapositivos ilustrativos, alem da projeção de copias em cores naturais que constituem uma utilíssima forma de documentação cientifica e cujo desenvolvimento devemos ao técnico fotográfico que o acompanha nesta viagem, o Snr. Hennel. Projeta tambem um film curioso sobre o valor da prótese utilizada na reparação das faces achatadas, ao lado do enxerto livre, de péle, sob a forma de "inlay".

A sua documentação é verdadeiramente impressionante e sob os maiores aplausos ao ilustre mestre inglês que é atualmente chefe cios serviços cirurgicos de emergência da Inglaterra, encerra o Snr. Presidente a sessão dirigindo-lhe em francez breves palavras, agradecendo em nome da Sociedade a sua presença entre os especialistas do Rio que acorreram pressurosos a ouvir-lhe os seus ensinamentos preciosos.

Ata da 38: Sessão Ordinária da Sociedade de Oto-rino-laringología do Rio de janeiro.

Aos 9 dias do mês de Dezembro de 1941, em sua séde, na Cruz Vermelha Brasileira, ás vinte e uma horas, sob a presidencia do Dr. Aristides Monteiro, tendo ao seu lado o primeiro ; segundo Secretario declara-se aberta a Sessão. Em proposta assinada pelos sócios Dr. Humberto Lauria, F. Benfica, são pr,postos para sócios da Sociedade os srs. Drs. Orlando de Arruda Barbato, Haroldo Vianna Rodrigues, Luiz Guimarães; o sir. presidente encaminha as propostas. Pede a palavra o Dr. Milton de Carvalho, que em precisas e sinceras palavras expõe á rsa a situação financeira da Sociedade. Em sua exposição declara que a Sociedade com 50$000 por ano, que cada sócio contribuem, Não pode viver; propõe que se eleva para 100$000 a contribuição anual, Dr. Adler - propõe que o pagamento seja feito em duas vezes. Dr. Muller dos Reis - propõe que cada sócio contribua com uma quantia determinada, alem da estabelecida por lei. Dr. Jauro Penna recorda o artigo dos Estatutos que regula a matéria, estas modificações poderão ser feitas no fim de 3 anos, quando poderá a Sociedade resolver muita coisa em definitivo e panda que se aplique o artigo 13. Dr. Pinto Fernandes - pene que devemos esperar e convocar uma assembléia geral para resolver a questão. Dr. Aristides Monteiro - estou como presidente transitório e estes assuntos deveriam ser resolvidos na gesão do presidente efetivo, contudo a Casa, soberana em suas excisões decidirá em ultima instancia. Dr. Mauro Penna - propõe que seja posta em votação a- proposta do Dr. Milton de Carvalho. Feita a votação foi a proposta do Dr. Milton de Carvalho aprovada. Não havendo mais quem desejasse falar ao expediente - Dr. Aristides Monteiro - passa á ordeira do dia, tendo passado a presidencia ao Dr. Seabra Junior, para comunicar os seus casos clinicos.

O Dr. Mauro Pénna em seguida faz sua comunicação sobre um caso de Estenose do esofago e Abcesso do Cerebelo.

"ESTENOSES DO ESOFAGO" - Dr. Mauro Pénna
O A. apresenta a documentação de quatro casos de estenóse cicatricial do esofago, por ingestão de soda caustica, sendo curado ha 8 mêses, dois em tratamento e outro em que foi obrigado a interromper o tratamento, por tratar-se de doente psicopata, tendo sido forçado a transferi-lo para o Hospital dos Alienados. (Fichas 1.132, 1.479, 1.442 e 1.214, do Serviço de oto-rino-laringologia anexo á clinica do Professor Armes Dias - Hospital Estácio de Sá). Todos chegaram ao hospital já com a estenóse consolidada. Emprega a tecnica sugerida por Chevalier Jackson, e que teve ocasião de usar pela primeira vez em 1931, com notavel exito - Dilatações por velas semi-rigidas, sob controle da esofagoscopia. Faz considerações sobre a necessidade de ser assentada pelos especialistas da cidade a conduta mais util, nos casos de queimaduras do esofago pela soda e outros cáusticos, no socorro de urgência, pois nota que todos os casos ficaram sujeitos á propria evolução, sem qualquer interferência médica especializada, no sentido de evitar a estenóse. Considera que a especialidade tem se mostrado ineficaz, entre nós, por comodismo e indiferença dos técnicos. Rememora a afirmativa de Ch. Jackson de que todo esofago permeável, por mais reduzida que seja a luz da estenóse, pode ser curado, no ponto de vista funcional. No entanto os casos que lhe chegaram passaram, alem do natural socorro de urgência (H. P. Socorro e outros), por alguns serviços especialisados, sem despertar a piedade dos colegas. Por sua parte, não pretenda mais que focalizar o problema, apresentando a paciente curada, que em 3 mêses de tratamento conseguiu restabelecer sua alimentação normal, chegando a lucrar mais de 10 quilos e vivendo atualmente normalmente. (DOENTE PRESENTE).

"SOBRE UM CASO DE ABCESSO DO CEREBELO" (COM APRESENTAÇÃO DO DOENTE CURADO HA 15 MESES). - Dr. Mauro Pénna.

Friza que o caso presente já é do conhecimento da maioria dos presentes, por ter sido por si apresentado em sessão da Soe. de Estudos do Serviço do Prof. Annes Dias, no Hospital Estácio de Sá, ha tini ano, por ocasião da sessão especial realizada em Homenagem ao Prof. J. Marinho, por motivo dos festejos pela passagem de seu Jubileu Professoral. Não tem nada a acrescentar, senão repetir a exposição, trazendo á presença dos colegas o paciente, antes de liberta-lo em definitivo, pois ha 15 mêses está sujeito á observação, achando-se atualmente em perfeito estado de saúde, trabalhando como marmorista que é. Tratava-se de portador de otite media cronica bilateral (Ficha 400 do Serviço de Oto-Rino-Laringologia, anexo ao Serviço de Clinica Medica do Prof. AMES DIAS, Hospital Estácio de Sá), em que foi feita radical pelo -conduto no L. E. em XI-39, com fistulisação labirintica que beneficiou o paciente em 60% de sua audição, procedendo-se á radical pelo conduto L. D. em 6 de Abril de 40, tendo então tido cicatrização retardada, mas completa. Em Junho seguinte, teve dôres retro-auriculares, que cederam sem qualquer outro sinal. No entanto, em 4 de Outubro, adoeceu, com febre, calafrio, abatimento, tendo atribuido a sintomatologia a gripe. Examinado a 9, foi radiografado, e feito o diagnostico de complicação endocraniana, sem se tornar possivel precisar o diagnostico. Entretanto já no dia seguinte um quadro cerebelar típico se mostrava, tendo sido então operado - REVISÃO DA RADICAL, via EXTERNA, com exposição do seio, meninge cerebelar e lobo temporo-esfenoidal no lado direito. Encontrou o A. uma placa de paquimeningite na região cerebelar anterior, tendo a punção atingido um abcesso, que drenou a 12 cc. de pús espesso, esverdeado. Empregou então a técnica que viera a conhecer por intermedio da comunicação do Dr. Juan Manuel Tato ao 1.' Congresso Brasileira de Oto-Rino-Laringologia, em 1938, injetando na cavidade do abcesso oleo iodado em mistura com ADEXILAN (oleo vitaminado A e D.). A sequência foi ótima, tendo obtido varias chapas para situar o abcesso. Dezoito dias depois, ao esvaziar em definitivo o abcesso sobreveio tini quadro de edema encefalico, tendo procurado então reencher o abcesso, o que no entanto não foi exequivel, tendo injetado só uma pequena quantidade de oleo iodado, que não anais procurou retirar, desde que cederam os sintomas, com medicação adequada. Nunca mais o paciente apresentou qualquer alteração. Salientou o fáto de ter este paciente obtido tal exito graças á atividade de colaboração entre os especialistas do continente, levando uns e outros o que tem tido de exito, ao conhecimento dos seus colegas. Atribue portanto grande parte do exito obtido ao Dr. J. M. Tato, que lhe proporcionou meio para vencer tão bem um processo de tal gravidade. Teve a honra de mostrar este caso ao Dr. Tato, em sua passagem pelo Rio ha um ano, e não encobre a emoção que suas bondosas palavras de estimulo lhe despertaram.

COMENTÁRIOS

O DR. ARISTIDES MONTEIRO comenta a comunicação do Dr. Mauro Pena sobre estenose do esofago. Está de inteiro acordo com o seu colega, acha que os doentes de estenose do esofago por ingestão de substancias corrosivas, devem merecer dos especialistas um tratamento mais enérgico e mais humano, não se os deixando entregues á sua sorte. Dentro dos primeiros mêses do acidente, na sua grande maioria todos os casos se beneficiam pelo tratamento. Recorda-se duma mocinha de treze anos, vinda de Juiz de Fóra, que dois mêses antes, por engano, ingerira soda cáustica. Pesava na ocasião cerca de quarenta Kgs. Com o tratamento instituído, dilatação progressiva, em tres mêses conseguiu um resultado surpreendente, engordou quasi dez Kgs. e poude retomar os estudos então interrompidos. Frisa a necessidade de se fazer as dilatações sob controle da esofagoscopia. Acompanhou o Dr. Paulo Brandão desde 1922 no Hospital S. Francisco de Assis a fazer a eletrolisa circular do esofago, então em moda naquela ocasião, mas de resultado pouco satisfatorios, apesar do grande numero de doentes tratados.

O DR. PAULO BRANDAO comentando o trabalho do Dr. Mauro Pena sobre abcesso cerebelar tem a acrescentar tambem um caso que observou. Criança com otite media purulenta cronica, que ele acompanhou até se tornar homem, quando adoece gravemente. Na vespera de se internar no hospital, jogou foot-ball, dando varias cabeçadas na bola. A' noite sente-se mal, temperatura elevada, calafrios, suores, dores violentas no ouvido. No dia que vai ao seu serviço clinico, secreção sanguinolenta pelo conduto. Dores de cabeça. Fica em observação. Dois dias após queda da parede postero superior do conduto, foi operado. Colesteatoma grande ocupando a cavidade mastoidéa. Suposição abcesso encefalico. Exposição dura cerebral e cerebelosa. Incisão, punções em varias direções sem resultado apreciavel. Como havia suspeita forte do abcesso cerebelar pela adiadococinesia frusta que o doente apresentava, foi deixado um dreno de crina, em forma de Omega, nas duas regiões cerebral e cerebelosa. Todos os dias retirada a reposição dos drenos. Nada. No 3.° dia saí uma onda de pús da loja cerebelosa e curativos diários, ás vezes dois, durante um mez e meio, findo este prazo o doente teve alta curado. O doente sofrera um emagrecimento de 36 K. quando foi à balança no fim de mez. Durante a permanencia no hospital tinha uma fome devoradora. Como sinal unico de localisação cerebelar adiadococinesia frusta, emagrecimento, sendo negativo todos os outros sinais.

SULFANILAMIDA E ANGINA PNEUMOCOCICA -
Humberto Lauria

Entre os agentes terapeuticos modernos está a sulfanilamida, que está sendo o ponto de partida para diversas observações na quimioterapia antibacteriana.

Coube, em 1935, a Gerhard Domagk, tira-Ia do dominio exclusivo da industria de anilinas, para, através de experiencia concretas em ratos inoculados pelo estreptococus hemolíticos, positivar sua ação anti-estreptocoçica. Sua confiança, no novo agente terapeutico era tão grande que êle não teve duvidas em aplicar em uma pessôa de sua familia portadora de uma infecção septicemica.

ASSOCIAÇõES CIENTIFICAS

Inicialmente empregada nas estreptocócicas com ótimos resultados foi tombem aplicada nas cocais em geral (gonococos e pneumococus) com resultados incertos mas animadores. Posteriormente com o fito de se conseguir um derivado da sulfanilamida que tivesse uma ação mais sensível sobre os pneumococus e gonococos, foi feita a substituição de um átomo de hidrogenio do grupo sulfamidico pelo nucleo piridico, resultou dai a sulfamidopiridina ou sulfapiridina, sintetizada em 1938, em Dagenhan, Inglaterra, por Ervins e Philips. A ação deste novo agente terapeutico sobre os pneumococus e gonococos, é muito superior á sulfanilamida. A sulfapiridina nas infecções por pneumococus do tipo 1-VII-VIII - dá ótimos resultados enquanto que sua ação para os tipos 11-III e V é menor.

Depois dos trabalhos experimentais do Dr. Aristides Monteiro, sobre anginas e bismuto (1934 e 1935) fazemos sistematicamente no Hosp. S. Francisco de Assis a bacterioscopia e bacteriologia de todas as anginas que aparecem. Daí começarmos a ver-mos anginas típicas de estafilo e pneumococus puras.

Nas observações que vamos apresentar, de angina pneumocócica colhidas entre diversas no ambulatorio do Hospital S. Francisco de Assis, não foi determinado o tipo de pneumococus
e no entanto a ação do medicamento se fez sentir logo nas primeiras 24 horas após a sua administração. Na observação numero dois, empregamos logo no primeiro dia, uma dose relativamente elevada (2,0 gramas) sem que notássemos a menor intolerância pelo medicamento, tratando-se de unia criança de três anos, apenas.

OBSERVAÇÃO N°

Identificação - C. P., 23 anos de idade, solteiro, brasileiro, estudante de medicina, residente nesta Capital.

Histórico - Em G de Outubro do corrente ano, procurou-nos no ambulatório de oto-rino do Hospital S. Francisco de Assis, por estar com "angina aguda" desde a vespera. Apesar de ter feito gargarejos e aplicação de injeções de bismuto, não sentira melhora pelo contrario o. processo inflamatorio da garganta havia aumentado nestas ultimas horas.

Oro-faringoscopia - Mucosas da orofaringe hiperemiadas. Presença de enduto esbranquiçado em ambas amigdalas, sendo que a direita se estendia até o pilar anterior.

Colhido material para exame de Laboratorio, este nos revelou a presença de numerosos pneumococus. (Dr. Lacorte).

DIAGNÓSTICO-ANGINA PNEUMOCOCICA

Tratamento - Receitamos sulfapiridina (Dagenan) na dose de 8 comprimidos diários, cada 2 comprimidos de 4 em 4 horas.
ente o paciente que nos informou sentir-se bastante melhor. Ao exame, notamos o desaparecimento do enduto das amigdalas, onde se via alguns pontos brancos na abertura das criptas. Reduzimos para 4 comprimidos a sulfapiridina (2,0 gm.).

Em 8/10/941 - Alta curado.

Esta observação á concludente para o fato do bismuto não ter dado resultado em 24 horas. Este fato serve-nos hoje de diagnostico diferencial bacteriológico da angina, pois que não curou em 24 ou 48 horas depois de injetado o bismuto, segundo a experiencia do Dr. Aristides Monteiro, e hoje a de todos nós ou é difteria _ou angina de estafilo ou pneumococus. Mais de uma vez temos visto que a observação daquele ilustre colega está certa. Si fizermos o esfregaço destas anginas que são catalogadas de bismuticas e "não curarem", veremos que se tratam de outros germes que não o estreptococus unico germe sobre o qual o bismuto atúa.

OBSERVAÇÃO N.° 2

J. S., com 3 anos de idade, feminino, morador à Rua Carmo Netto n.° 203 nesta Capital. Matriculada em 12/11/941 no ambulatorio sob o n.° 31.836.

Histórico - Veio ao ambulatorio trazida por sua progênitora, que nos informou, estar a criança febril desde a vespera e recusar alimentos por sentir dores na garganta.

Oro-faringoscopia - Mucosas do orofaringe vermelhas, havendo enduto esbranquiçados de aspecto fibrinoso em ambas as amigdalas, que se mostravam bastante aumentadas de volume e edemaciadas.

O Laboratório nos revelou a presença de diplococos Gram positivos com a morfologia de pneumococus. (Dr. Lacorte).

Diagnostico - Angina pneumocócica.

Esquema do Tratamento - Em 12/11/941 - Sulfapiridina (Sulfamidil) 4 comprimidos (0,50) dividido em 8 doses nas 24 horas.

Em 13/11/941 - Desaparecimento da febre, estado geral melhorado assim como o enduto da garganta havia se reduzido somente a uns pontos espalhados pelas criptas. Foi receitado mais 2 comprimidos (Sulfamidil) repartidos em 4 doses nas 24 horas.

Em 14/11/941 - Veio novamente ao ambulatorio, onde a examinamos e notamos o desaparecimento do enduto das amigdalas e outros sintomas.

Esta observação foi dada como tipo de uma das muitas que registramos, c .não as enunciamos todas para não alongarmos nossa comunicação. Se não fizéssemos a colheita de material da garganta, como sistematicamente fazemos no S. Francisco de Assis, esta angina teria sido rotulada de angina banal cola os germes habituais causadores delas. O exame sistematico `porem mostrou ser uma angina monogermica-(pneumococus) que se beneficiou do especifico empregado. Sem o exame bacteriológico e bacterioscopico ter-se-ia injetado o bismuto e ela correria á conta do insucesso do medicamento, semelhante a muitas que correm mundo. Só se pode inferir do sucesso ou não de um medicamento numa angina sabendo-se anteriormente qual o seu agente bacteriológico, sem o que não se poderá em definitivo fazer julgamento algum.

COMENTÁRIOS

O DR. ARISTIDES AIONTEIRO - Comenta a observação do Dr. Lauria para acentuar o que foi referido, que o exame de laboratorio sistematico das anginas faz-nos muita surpresas no diagnostico e traz beneficios para os doentes, que têm um medicamento apropriado para cada germe causador da afecção. já passou, dignos das velharias de outrora, o tempo do diagnostico a olho nu e das "tisanas e colutorio". E' preciso que acompanhemos, com os conhecimentos de laboratorio nas anginas, aos beneficios da terapêutica medicamentosa dos ultimos tempos. Se a angina é monogermica ela é debelada em dois três dias no Maximo com os preparados que conhecemos; se ela é plurigermica ela tambem não deixará de sofrer daqueles beneficios se bem que tenham uma evolução mais demorada. As sulfamida em geral, o bismuto, as vacinas são excelentes auxiliares que o internista e o especialista contam no seu arsenal terapêutico.

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