Versão Inglês

Ano:  1942  Vol. 10   Ed. 5  - Setembro - Outubro - ()

Seção: Associações Científicas

Páginas: 585 a 595

 

ASSOCIAÇÕES CIENTIFICAS - parte 1

Autor(es): -

SECÇÃO DE OTO-RINO-LARINGOLOGIA E CIRURGIA PLÁSTICA
ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA
Reunião de 17 de dezembro de 1941

Presidida pelo dr. Gabriel Porto e secretariada pelos drs. Énio D'Aló salerno e António Corrêa (ad hoc), realizou-se, rio da 17 de Dezembro de 1941, unta reunião ordinária mensal cia secção de Oto-rino Laringologia e Cirurgia Plástica da A associação Paulista de medicina.

Expediente: - Aberta a sessão pelo sr. presidente-, foi dispensada a leitura da ata da última reunião, passando-se desde logo à eleição para a diretoria da Secção durante o transcorrer do arco de 1942, chie deu cr seguinte resultado: Presidente: dr. Paulo Saes ; l.º secretário : Dr. Antônio Prudente Corrêa ; 2.º secretário Dr. Mauro Cândido de Souza dias. - fim da eleição, o Sr. Presidente declara êstes membros eleitos.

ORDEM DO DIA

CIRURGIA PLÁSTICA DAS CAVIDADES RETRO AURICULARES POST-OPERATORIAS

- Dr. J. Rebelo Neto.

O estudo do A. referiu-se às cavidades antigas, especialmente as de grande porte. Divide-as em cegas e comunicantes, conforme estão ou não em comunicação com o conduto auditivo. Passou em revista as diversas técnicas destinadas a eliminá-las, estabelecendo as regras gerais chie presidem o tratamento. Para as cavidades cegas, aconselha dois métodos: depois de eliminar, -por avivamento, o tecido cicatricial chie as forra, enche-as completamente por meio de transplante livre, autógeno de aponevrose fáscia-lata em finas tiras e tecido adiposo ou então em retalho pediculado, da vizinhança, formado de tecido fibro-adiposo. A pele é, finalmente, aproximada por cima, após descolamento marginal. para as cavidades comunicastes, deve-se constituir um teto, com epitélio cios dois lados. Prefere aqui fazer o forro com o tecido cicatricial da região circunjacente, cuidadosamente descolado e mantido pedicelado. A sutura é feita de- modo especial, com pontos transfixantes colocados à distância e que, atados depois de terminada a sutura cutânea, evitam espaços mortos e pontos perdidos. Apresenta 10 observações, em grande parte acompanhadas de fotografias e referentes aos dois tipos de cavidades estudadas.

COMENTÁRIOS:

Dr. Roberto Oliva. - Após felicitar o A. do trabalho, disse que ele não precisou bens a questão de classificação das fístulas, o que aliás é muito importante.- Assim, sendo, propoz que c dr. Rebelo Neto especifique melhor a questão da origem das fistulas que foram por ele tratadas, porque nem todas elas se curam cosi a mesma facilidade. A divisão clássica divide as fístulas em post-radical e post-antrotomia simples.

Dr'. Rebelo Neto: Respondendo ao Dr., Oliva, frisa que em seu trabalho não se referiu a fístulas, mas sim a cavidades, que foram divididas unicamente sob o ponto de vista cirúrgico em dois tipos, pois cada uni deles justifica unia orientação cirurgica absolutamente diversa.
Dr. Gabriel Porto: Como -presidente da mesa, agradeceu a comunicação do Dr. Rebelo Neto.

TUMOR DO ÂNGULO PONTO-CEREBELAR. A PROPOSITO DE UM CASO OPERADO APRESENTAÇÃO DO DOENTE. - Drs. Carlos Gama e Branco Lefévre.

Preliminarmente, o dr. Carlos Gama fez breves considerações, sobre o modo de firmar o diagnóstico de uni tumor do ângulo ponto-cerebelar. Dados nevrálgicos, neuro -oto-rino-laringologicos, liquóricas. 'oftalniológicos e radiológicos, dispensando-se os processos neurocirúrgicos ele objetivação por serem muito expressivos os demais, particularmente os fornecidos pelos exames da especialidade dos sócios desta Secção (Oto-rino). Para demonstrar a orientação seguida no Serviço de Neurologia (Ia Faculdade de Medicina (cátedra do prof. Aderbal Tolosa), pedia permissão para o Dr. António Branco Lefévre ocupar a tribuna e descrever a sua observação cio caso clinico em apreço. O Dr. Lefreve leu minuciosa história e exames clínicos complementares, dando os elementos para o exato diagnóstico. Voltando à tribuna, o dr. Carlos Gania salientou os pontos cruciais da observação e projetou uni diapositivo (Ia pirâmide do rochedo imposição de Stetivers, que demonstrai-a o enorme alargamento do "poros acústicos" interno, produzido pelo tumor. Tratou, em seguida, da técnica empregada (método de De Martel),-salientando as vantagens em comparação com as outras e foi "pari passu" demonstrando, com desenhos coloridos, alguns tempos operatórios. justificou a conduta empregada rio caso, de fazer a extração intra-capsular do tumor, portanto sub-total, conto preceituava Cushing. Nos casos de pequenas neoplasias, ainda recentes e sem grande sofrimento do tecido nervoso, deve-se proceder, se possivel, à retirada integral e extra-capsular. Ao contrário, nos casos antigos de grandes tumores com sofrimento do tecido nervoso não se justifica senão a retirada sub-total intra-capsular, em pequenas proporções, Dois isso se faz com menor traumatismo. Foi o que se fez no caso em apreço. Com a retirada total podia haver cura integral, nus coro a retirada parcial as recidivas são inevitáveis e as curas são parciais, "sub judice", dados os distúrbios definitivos produzidos. Apresentando o paciente, os autores demonstram ao mesmo tempo: 1.", a sobrevivência à retirada dum tumor de grande tamanho (ovo de galinha) do ângulo ponto-cerebelar; 2.°, a regressão de vários sintomas; 3.", a persistência de outros. Fazem um apelo aos especialistas de oto-rino-laringologia para que, examinando meticulosamente seus casos, descubram os tumores intra-cranianos que se revelam por alterações no domínio ele suas especialidades logo no início, quando pequenos e operáveis, com possibilidades ele cura completa e radical. Para tanto, torna-se necessário que se generalize a prática das pesquizas neuro-oto-laringológicas, tão extenuantes, finas indispensáveis. Com a vulgarização da neurocirurgia pelos seus sucessos, chie se multiplicam, vamos progressivamente exigindo mais dos especialistas chie procedem exames subsidiários neurocirúrgicos. Aqui, na oto-rino, vai passar-se o mesmo que com a oftalmologia. Não se justificavam exames perimétricos e campimétricos meticulosos com variadas miras, cores e distâncias enquanto os diagnósticos daí decorrentes eram estéreis; no entanto, agora que os doentes se operam, êsses exames são exigidos cada vez mais, e mais cuidadosos, para surpreender lesões nos seus primórdios. Com a oto-rino, as pesquisas do VIII par, quer no componente coclear doer no vestibular, até ha bem pouco, não compensavam o esforço dispendido pelo especialista, porque o caso iria seguir a sua inexorável evolução e caminhando para um descalabro anatomico se revelaria mais tarde riquíssimo em sinais grosseiros ao menos sagas examinador. Agora, ao contrário, que temos interêsse em extirpar o tumor antes que ele, pelo seu crescimento, ultrapasse o limite verdadeiramente oportuno da cirurgia, os exames mais idos de que é capaz a oto-rino-laringologia se Valorizam apreciadamente. Com o encanto de fazer um diagnóstico precoce, o especialista vencerá a fadiga e a massada dêsse mesmo exame e contribuirá efetivamente para a solução de numerosos casos.

COMENTÁRIOS:

Dr. Mário Ottoni: Ouvi, com muita atenção, a brilhante exposição do presente trabalho, tanto na sua parte clínica, exposta pelo Dr. Lefévre, conto na parte cirúrgica, da qual se encarregou o Dr. Carlos Gama. liste trabalho veio, ainda uma vez trais, demonstrar a necessidade de uma relação mais íntima entre os oto-rino-laringologistas e os neurocirurgiões. Até ao início da escola do prol. Vampré, em São Paulo, o ato-neurologica era considerada conto uma coisa de somenos no que se refere aos tumores do cérebro. Mas a inteligência lúcida dêste professor veio excitar o entusiasmo dos oto-neurologistas, para que aumentassem os seus conhecimentos nesta parte magnífica da nossa especialidade e de associar melhor os dados, que podem ser obtidos, para que se possa melhorar o diagnóstico, sobretudo a localização dos tumores. Daí para cá, ficou perfeitamente demonstrado que grande número dos tumores não podem, senão deficientemente, ser diagnosticados sem o auxílio do especialista oto-neurológico, l;elo menos no que diz respeito aos tumores endocranianos.s da fossa posterior. O trabalho do dr. Gama confirma estas nossas asserções, que, aliás, já foram repetidas numerosas vezes. 'todos os pares cranianos, com raras exeções, transitam pelo território dos oto-rino-laringologistas, de modo que êstes têm grande responsabilidade no ponto de vista referido. Frisou muito bem o dr. Gania que "os tumores da fossa posterior são os que estão mais próximo.; do campo dos oto-rino-laringologistas". de fato, isto é tinia grande verdade. Mas já tive ocasião de demonstrar, em tini memorial apresentado ao Congresso Brasileiro de Oto-rino-laringologia, que não é só nas afecções da fossa posterior que o oto-rino-laringologista pode auxiliar o neurocirurgião, mas também nos tumores colocados mais alto, quando cone o nosso auxílio os tumores podem ser ;linda melhor localizados. Portanto, fica mais unta vez demonstrada a necessidade de unta cooperação mais íntima entre as duas especialidades,

Nós, em nosso serviço, trabalhamos ao lado de grandes antigos e mestre da neurologia, que muito tios têm entusiasmado nesta questão.

Um outro ponto, para o qual o dr. Gama chamou a atenção, e que de fato é digno de grande consideração, é a questão do diagnóstico precoce. Quanto mais cedo for evidenciado o tumor ponto-cerebelar, tanto maior será a possibilidade de um êxito cirúrgico. O mesmo se pode dizer de todos os tumores (Ia fossa posterior. Quanto mais tardio o diagnóstico, atais grave a lesão e atais difícil a cura. Assim, por exemplo, se uni tumor desta registro se desenvolver de modo respeitável, de modo a comprometer o nervo acústico em suas duas secções, é obvio que o doente ficará para sempre surdo e que o seu equilíbrio não se restabelecerá cone facilidade. Além disso, quando o tumor já atingiu um tamanho muito grande, não poderá mais ser retirado completamente. Daí a necessidade de se tornar mais cuidado quando se examina uni doente -de ouvido, e não fazer apenas tini exame ligeiro e fácil, corno é comuna. Sobretudo :t parte acústica deve ser examinada rigorosamente. Ha pouco tempo, foi demonstrada a importância enorme que tem o labirinto anterior nos exames neurológicos do ouvido, o que, aliás, frisamos no Primeiro Congresso Brasileiro de Oto-rino-laringologia. Nossos conhecimentos a respeito eram, então, muito restritos, a ponto de sermos forçados a recusar o tensa que nos fora distribuído pelo 1.° Congresso Sul-Americano, substituindo-o pelo terna sobre Blastomicoses, brilhantemente defendido por tini nosso- ilustre colega. Atualmente, em que os americanos se têm dedicado com tanto afinco ao estudo do labirinto anterior, novos conhecimentos já se infiltraram no meio científico de São Paulo e hoje já sé conhece muito anais sóbre este assunto, do que se conhecia até ha bem pouco. Os exames agora feitos são muito mais perfeitos do que eram ha dois ou três anos atrás. A parte acústica já é tratada cora muito mais gosto e com muito mais entusiasmo do que o era anteriormente. Nós sabemos. perfeitamente, que nos tumores ângulo ponto-cerebelares, a parte acústica pode dar um diagnóstico muito antes da parte vestibular, ucas para isso o doente deve ser muito bem estudado. Devemos sempre nos lembrar, que nem todos os doentes que nos procuram:, são doentes de catarro das trompas e se assim se nos afigura, é porque não realizamos, com cuidado, os exames pelos diapasões e pelo audíómetro. Em meu serviço, tenho uma quantidade enorme de diapasões, que podem ser usados facilmente para se fazer os mais delicados e completos exames da parte acústica, mas deles, só uma coleção é que trabalha, e assim mesmo, empregada com muito má vontade.- Esta situação não pode continuar; os especialistas em oto-rino-laringologia têm que ser especialistas de fato, sobretudo os moços. a quem neste momento particularmente me refiro. O ouvido é bastante interessante, mas exige de nós uma grande capacidade de trabalho; é uma parte delicada, fina, que trata das funções mais subtísdo labirinto tanto anterior como posterior. Quando fazemos um diagnóstico em tal porção, ële nos traz satisfação, porque quem o consegue fazer, demonstra que tem conhecimentos muito superiores do que aqueles que não o conseguem. Esta questão é tão importante que, nas Estados Unidos, o curso de aperfeiçoamento para médico é uni curso de 3 e 4 anos, onde nos dois primeiros o aluno não faz nada em doentes, e só nos seguintes é que o aprendizado começa de fato. E é por isto que apelo, mais uma vez, a todos os especialistas, particularmente aos (poços, para que disse quem anatomicamente as regiões do ouvido, depois, estudem profundamente a fisiologia (Ias suas partes constituintes, para, finalmente, estudar a patologia (Ias mesmas com todo o carinho. Após isto, tudo se torna muito fácil. Talvez eu tenha sido tini pouco exagerado nas atinhas palavras, mas quero, coar elas, apenas criar tini ambiente de maior entusiasmo em torno de tão importante questão.

Dr. Rezende Barboza: Cumprimentou, antes de mais nada, ao Dr. Gama e seus dignos assistentes pela brilhante exposição. Ao mesmo tempo, disse se sentir grandemente satisfeito por estar diante de um dos mais ilustres rebentos da escola do prof. Vampré, de quem, aliás, também se orgulha de ter sido um dos discípulos. Ainda mais, verdade- seja Dita, foi o prof. Vampré, essa figura saudosa e única, por todos nós sempre lembrada, o verdadeiro fundador da oto-neurologica em São Paulo. O trabalho ora em discussão veia colocar em foco essa questão tão ardorosamente defendida pelo Dr, Mário Otoni. isto é, a necessidade indiscutível (Ia simbiose oto-neurologica. Se o caso presente, apresentado pelo (Ir. Gama, não apresentou cura completa, a culpa, não cabe ao nervo-cirurgião. mas sins a gravidade do caso. E aqui se tocam as duas especialidades. O êxito cirúrgico de uma reside na precocidade de diagnóstico que se encontra em mãos de outra. É verdade que os neurologistas tem numerosos recursos para diagnosticar os tumores do acústico ou do ângulo-ponto, mas é verdade, também, que nessas condições seja necessário que outros sintomas apareçam, principalmente aqueles sintonias que indicam compressão ou irritação das estruturas nervosas regionais, tais como o bulbo e cerebelo. Quem mais probabilidades possue de fazer o diagnóstico precoce destes tumores são, sem dúvida alguma, os otologistas. Em nossas mãos está a chave do sucesso cirúrgico das neoplasias do acústico, pois como bem disse o Dr. Mário Ottoni, é na função coclear que residem as possibilidades de tini diagnóstico precoce. Se o tumor é primitivo do acústico e principalmente se èle se inicia nas filaras mais internas do nervo, o sintoma "zoada" adquire um valor capital, mas nessa fase, também, devemos confessar, seu diagnóstico diferencial é muito difícil. Quando, primitivamente, as fibras mais externas do nervo são as interessadas, então outros sintomas regionais acodem ao quadro mórbido e numa fase bem precoce. Os sintomas vestibulares são de uni valor por demais conhecido. Entretanto. sempre é interessante lembrar o valor da direção do nistagmo espontâneo na indicação da intervenção cirúrgica. Como querem os alunos do prof. Barré, o batimento do nistagmo para o lado lesado indica sempre um maior comprometimento do eixo do encéfalo, como, também, que o caso é mau, cirurgicamente falando. de uma maneira geral, devemos frizar, somos um tanto pessimistas quanto ao -valor de formulas clássicas de sintomas para as neoplasias do acústico e do ângulo-ponto. Cada caso favorece de uma maneira e raramente todos os sintomas clássicos regionais são exteriorizados. O otologista necessita de balancear tanto os sintomas expontanéos quanto os provocados pelas provas instrumentais e delas tirar o que de útil servirá ao neurologista. Muitas vezes encontramo-nos em grandes dificuldades diagnósticas para a simples diferenciação, dentro de nina grande riqueza de sintomas, entre uma lesão periférica e uma lesão central. Nesses casos, estamos certos, na simples indicação de que se trata de unta lesão central fornecemos um verdadeiro trunfo ao neurologista. Outras vezes, mais felizes, na apreciação da forma de um nistagmo espontâneo ou de sua resposta instrumental perversa ou inversa, ao lado de outros sintonias localisadores para o lado do neuro-eixo e que podem ser facilmente aquilatados por simples oto-neurologistas, conseguimos indicar, ao neurocirurgião, com certeza, o andar ou a fossa a se intervir. Para terminar, desejamos frizar que cotas estas considerações pretendemos prestar unta homenagem à brilhante capacidade do dr. Gama e protestar contra a sua bondade de nos citar em sita observação, pela nossa simples contribuição ao exame otorino-laringo-neurológico do caso apresentado.

Dr. Paulo Sais: Felicitou o Dr. Gania pelo brilhante resultado obtido cone a sua operação. Uma questão chie foi debatida bastante na sessão de hoje, isto é, a do diagnóstico precoce, é de fato muito importante, e o trabalho do dr. Gama- tem entre todas as sitas virtudes a de ser um estímulo ao diagnóstico precoce. "tive já ocasião de acompanhar, lia tempo, dois casos em que foi feito perfeitamente o diagnóstico precoce, tuas que em virtude da insuficiencia da cirurgia da época, não sofreram intervenção e tiveram, conto era de se esperar, rim êxito letal. Uni. dêstes casos era de moléstia de Recklingliausen ou neuro-fibroniatose generalizada, coar localização no ângulo ponto-cerebelar. O seu diagnóstico foi feito atais ou menos precocemente e a autópsia o comprovou.

Dr. Francisco Hartung: A primeira impressão gire prevaleceu durante a exposição do dr. Gama foi o brilho, conto era de se esperar, e depois a sinceridade. Assim sendo, só posso secundar o elogio dos colegas que me precederam. Também estou de acôrdo dite deve ser ouvido o seu apelo para que se procure fazer mais precocemente o diagnóstico de, tumores da fossa posterior, pois êste é o único meio de tornar possível a cirurgia da região. Não acredito, entretanto, que, se até agora isto não foi feito, se possa culpar os oto-rino-laringologistas ele displicência. A probabilidade de erro nestas questões é bastante grande. Devido ao desenvolvimento espontâneo e à tendência cada vez maior para a medicina se especializar em todos os sentidos, esta questão torna-se particularmente difícil, e os mais brilhantes otologistas podem deixar passar em "branca nuvem" um tumor cerebelar ou da fossa média. Até certo ponto, tem razão o (Ir. Mário Ottoni em suas asserções, mas elas são exageradas, porque em intátos casos nos grandes serviços, em que o médico é obrigado a fazer unta série enorme de exames otológicos em tempo relativamente curto, é quasi impossivel que se entre em minúcias de exame e assim muitos casos podem passar desapercebidos. Êste exame, assim minucioso, pode e deve ser feito sempre quando um outro elemento nos chamar a atenção e exigir que exploremos a região com mais minúcias.

Dr. Gabriel Porto: - Na sua bens cuidada comunicação, o dr. Carlos Gama assinalou a importância capital do diagnóstico precoce dos tumores do acústico e a grande responsabilidade que recae sôbre o otologista em da intervenção cirúrgica. Como querem os alunos do prof. Barré, o batimento do nistagmo para o lado lesado indica sempre um maior comprometimento do eixo do encéfalo, como, também, que o caso é mau, cirurgicamente falando. de uma maneira geral, devemos frizar, somos um tanto pessimistas quanto ao -valor de formulas clássicas de sintomas para as neoplasias do acústico e do ângulo-ponto. Cada caso favorece de uma maneira e raramente todos os sintomas clássicos regionais são exteriorizados. O otologista necessita de balancear tanto os sintomas expontanéos quanto os provocados pelas provas instrumentais e delas tirar o que de útil servirá ao neurologista. Muitas vezes encontramo-nos em grandes dificuldades diagnósticas para a simples diferenciação, dentro de nina grande riqueza de sintomas, entre uma lesão periférica e uma lesão central. Nesses casos, estamos certos, na simples indicação de que se trata de unta lesão central fornecemos um verdadeiro trunfo ao neurologista. Outras vezes, mais felizes, na apreciação da forma de um nistagmo espontâneo ou de sua resposta instrumental perversa ou inversa, ao lado de outros sintonias localisadores para o lado do neuro-eixo e que podem ser facilmente aquilatados por simples oto-neurologistas, conseguimos indicar, ao neurocirurgião, com certeza, o andar ou a fossa a se intervir. Para terminar, desejamos frizar que cotas estas considerações pretendemos prestar unta homenagem à brilhante capacidade do dr. Gama e protestar contra a sua bondade de nos citar em sita observação, pela nossa simples contribuição ao exame otorino-laringo-neurológico do caso apresentado.

Dr. Paulo Sais: Felicitou o Dr. Gania pelo brilhante resultado obtido cone a sua operação. Uma questão chie foi debatida bastante na sessão de hoje, isto é, a do diagnóstico precoce, é de fato muito importante, e o trabalho do dr. Gama- tem entre todas as sitas virtudes a de ser um estímulo ao diagnóstico precoce. "tive já ocasião de acompanhar, lia tempo, dois casos em que foi feito perfeitamente o diagnóstico precoce, tuas que em virtude da insuficiencia da cirurgia da época, não sofreram intervenção e tiveram, conto era de se esperar, rim êxito letal. Uni. dêstes casos era de moléstia de Recklingliausen ou neuro-fibroniatose generalizada, coar localização no ângulo ponto-cerebelar. O seu diagnóstico foi feito atais ou menos precocemente e a autópsia o comprovou.

Dr. Francisco Hartung: A primeira impressão gire prevaleceu durante a exposição do dr. Gama foi o brilho, conto era de se esperar, e depois a sinceridade. Assim sendo, só posso secundar o elogio dos colegas que me precederam. Também estou de acôrdo dite deve ser ouvido o seu apelo para que se procure fazer mais precocemente o diagnóstico de, tumores da fossa posterior, pois êste é o único meio de tornar possível a cirurgia da região. Não acredito, entretanto, que, se até agora isto não foi feito, se possa culpar os oto-rino-laringologistas ele displicência. A probabilidade de erro nestas questões é bastante grande. Devido ao desenvolvimento espontâneo e à tendência cada vez maior para a medicina se especializar em todos os sentidos, esta questão torna-se particularmente difícil, e os mais brilhantes otologistas podem deixar passar em "branca nuvem" um tumor cerebelar ou da fossa média. Até certo ponto, tem razão o (Ir. Mário Ottoni em suas asserções, mas elas são exageradas, porque em intátos casos nos grandes serviços, em que o médico é obrigado a fazer unta série enorme de exames otológicos em tempo relativamente curto, é quasi impossivel que se entre em minúcias de exame e assim muitos casos podem passar desapercebidos. Êste exame, assim minucioso, pode e deve ser feito sempre quando um outro elemento nos chamar a atenção e exigir que exploremos a região com mais minúcias.

Dr. Gabriel Porto: - Na sua bens cuidada comunicação, o dr. Carlos Gama assinalou a importância capital do diagnóstico precoce dos tumores do acústico e a grande responsabilidade que recae sôbre o otologista em tais casos. A ordem cronológica em que se manifestam os sintonias teto, de acôrdo com os trabalhos de Cushing, importância primordial. Entretanto, para se firmar o diagnóstico de tumor do ângulo ponto-cerebelar não basta o resultado do exame otológico. Í necessário, como foi realizado na observação do Dr. Gama, exame neurológico completo. Ha alguns anos tivemos oportunidade de apresentar a esta Casa unta observação ilustrativa em que o síndrome de tumor do ângulo ponto-cerebelar se manifestou por cotejo sintomático riquíssimo. O exame do liquor revelou entretanto a existencia de um processo de meningite luetica. () tratamento específico curtiu o paciente. A meningite figura entre as causas de erro atais frequente no diagnóstico dos neoplasias do-ângulo-ponto-cerebelar. A Secção de oto-rino-laringologia e Cirurgia Plástica manifesta ao dr. Carlos Gama, mais uma vez, sua gratidão pela magnífica colaboração trazida aos nossos trabalhos nas duas belas comunicações, em que foram focalizados palpitantes assuntos relacionados com a neuro-otologia.

Dr. Carlos Gama: Ao acabar de ouvir tão gentis palavras dos amigos e colegas, sinto-me em tal estado de comoção, que- dificilmente me será possível responder-lhes conto desejava. Entretanto, posso vislumbrar, através de suas palavras, mil intento magnífico, que é o de homenagear, na pessoa de um dos seus discípulos, a memória do ilustre professor- Vampré, demonstrando assim a imortalidade da obra que ele criou. Assim sendo, fica desvendado o motivo oculto de atinha comunicação e peço permissão aos colegas para use pôr â vontade ao responder aos seus comentários. O dr. Mário Ottoni mostrou já a necessidade de uni eficiente diagnóstico precoce. De fato, à medida que ô progresso da neurocirurgia vai surgindo. também aumenta a necessidade de um maior esmero, por parte dos srs. especialistas nos exames. Por exemplo, os tumores da fossa anterior, especialmente os da hipófise, exigem dos especialistas de olhos uma minucia enorme em exames bastante difíceis, pois o neurocirurgião pede um exame de campo visual, de perimetria, das cores. da intensidade da luz e uma série enorme de exaustivos exames. Mas são estes exames exaustivos que permitem ao neurologista uma localização segura e o cálculo da localização do tumor. Do mesmo modo, os oto-rino-laringologistas são os indicados para dar ao Retiro-cirurgião as minúcias do diagnóstico de que ele tens necessidade para poder operar o - tumor. Estão neste caso. principalmente, os tumores da fossa posterior. Como exemplo de perturbações da fossa anterior, cito os casos das perturbações das goteiras olfativas, nos meningeomas da lâmina crivada. Também o diagnóstico dos tumores do ângulo ponto-cerebelar se baseia quasi que só nos conhecimentos dos oto-rino-laringologistas. Ao Dr. Paulo Sais. que acaba de ser eleito presidente desta Secção, ao mesuro tempo que eu por unta feliz coincidência também fui eleito presidente da Secção de Neuro-psiquiatria, faço tini apelo para unia maior ligação entre os neurologistas e os oto-nino-lariugologistas. Ao (Ir. Francisco Hartung agradeço o aparte sempre cordial de amigo e por isso mesmo suspeito, no qual salientou a questão da técnica cirúrgica, ao mesmo tempo que justificou o fato de, em certas circunstâncias, passar desapercebido ao otologista certas lesões encefálicas, quando o sofrimento ainda é pequeno. Apelamos, entretanto, aos otologistas que tomem atenção para os casos em que lia suspeita neurológica, pois nenhum especialista pode deixar passar uni sintoma evidenciado de um tumor. Ao dr. Gabriel Porto respondo que, no caso presente, foi prevista também a hipótese de sífilis, como aliás sempre fazemos. Neste caso, entretanto, todos os exames foram negativos. Agradeço, no mais, as suas palavras por demais gentis, e na sua pessoa saúdo os especialistas de Campistas e de todo o Estado de São Paulo. Ao dr. José Eugênio Rezende Barboza, que nos dá o prazer de colaborar na clínica neurológica ela Faculdade de Medicina da Universidade, fazendo a parte de neuro-oto-ripo-laringologista, iniciou o seu aparte, declarando honrar-se como rebento que liga a escola do prof. Vampré à do dr. Mário Ottoni de Rezende. Com a demonstração que acaba de fazer do seu profundo conhecimento nesta parte especializada dentro da oto-rino-laringologia, vem reforçar meu parecer de que os Otologistas estudiosos terão prazer em fazer acurados exames neurológicos, desde que sejam diretamente interessados nos diagnósticos e em suas confirmações cirúrgicas ou anatomicas.

Nada mais havendo a tratar, o sr. presidente encerrou a sessão.

Reunião de 17 de janeiro de 1942

Presidida, inicialmente, pelo dr. Gabriel Porto e secretariada pelos drs. Enio D'Aló Salerno e Merende Barbosa (ad hoc), realizou-se, no dia 17 de janeiro de 1942, tinha reunião ordinária da Secção de Oto-rino-laringologia da Associação Paulista de Medicina.

Expediente: - Aberta a sessão pelo sr. presidente, foi dispensada a leitura da ata de reunião anterior. A seguir, o sr. presidente deu a palavra ao Dr. F. Hartung.

Dr. Francisco Hartung: Sr. presidente. é de todo o nosso empenho que, antes de iniciarmos os trabalhos da sessão científica desta noite, em unanimidade nos manifestássemos, protestando toda a nossa solidariedade ao prezado colega dr. Homero Cordeiro, em face do lamentável incidente de que foi vítima na chefia clínica do conhecido ambulatório da especialidade. ao qual lia quasi dois decênios vitima hipotecando toda a sua competência, capacidade de trabalho e entusiasmo pela medicina. É bem verdade que não tios compete julgar das razões nas quais se baseou -a direção do hospital, quando se resolveu à sua atitude. Haverá motivos de ordem puramente administrativa, que. naturalmente, saí a ela caberá sopesar e decidir a respeito. Além do mais, com estas palavras não é nossa intuito, tomar posições, uma vez que não é este o lugar para a defeza da classe. Todavia, são elas muito oportunas e necessárias, porque o dr. Homero Cordeiro, pela estima e simpatia que sempre desfrutou em nosso vicio, graças aos seus predicados morais e qualidades afetivas, tem todo o. direito, em tais emergências, de exigir de nós um tal depoimento.

Nós, os membros da Secção de Oto-rino-laringologia, possuímos- credenciais científicas para afirmar que o seu afastamento da chefia da clínica demonstra, preliminarmente, grave erro de visão no julgar o verdadeiro valor de, um profissional e, depois, postergados -esses direitos que lhe confere a sua reconhecida cultura, traduz êsse ato uma injustiça clamorosa, porque afeta tini cavalheiro cujos gestos e atitudes sempre enobreceram a nossa classe e constituíram motivos de lídimo orgulho rara os seus companheiros de especialidade. Eis porque propomos tais palavras, de protesto, a inserir-se na ata desta noite. Se, em verdade, a desconsideração, fruto muito a sabor da época em que vivemos, à todos nos atinge, devemos repeli-la com vigor, porque foi endereçada a um dos colegas que mais merece do nosso apóio, solidariedade e conforto moral.

Dr. Mário Ottoni de Rezende: Disse que o Hospital em questão é o hospital Humberto 1: o Dr. Homero Cordeiro lá servia ha 19 anos e vicio e agora foi substituido por um dos seus assistentes. Propoz que uma cópia desta ata, com o nosso protesto, seja enviada ao Sindicato Médico, para éste tomar conhecimento do referido protesto contra este ato dê pouca elegância da mesa administrativa do Hospital Humberto 1. Sugeriu que seja remetido um ofício de protesto à diretoria do Hospital Humberto I.

Dr. Homero Cordeiro: Agradeceu as palavras do dr. Hartung e do dr. Mário Ottoni contra êste gesto do Hospital Humberto 1, que atingiu, além dêle, cerca de 15 médicos, dizendo: "Apenas quero mencionar que o nosso protesto foi enviado e dêle foi dado conhecimento ao Sindicato Médico. Eu também estou certo que outras medidas serão tomadas e esperamos que seja a última vez que uma arbitrariedade de leigos interfira nas questões de médicos e hospitais, como aconteceu agora no Hospital Humberto I. Mais uma vez agradeço a todos as palavras que acabo de ouvir".

O sr. presidente disse que ficavam aprovadas as propostas apresentadas. A seguir, pronunciou as seguintes palavras: "Meus caros colegas. A Secção de Oto-rino-laringologia e Cirurgia Plástica, encerrando hoje o seu 10.° ano de profícuo e contínuo labor, inicia um novo período de atividades. E' o momento de prestarmos contas da honrosa incumbência a nós conferida pela vossa generosidade. Sentimo-nos felizes pelo que acabamos de realizar, embora não nos caiba mérito algum nesse feito. O êxito obtido deve-ino-lo exclusivamente ao apóio incondicional de um grupo numeroso de colegas ao dinamismo do nosso 1.° secretário - Faria Cotrim -, infatigável na organização da ordem do dia e à valiosa cooperação de Enio d'Aló Salerno. Realizamos, o ano transato, 11 sessões ordinárias, onde foram apresentadas mais de 20 comunicações. Destas, devemos destacar a conferência do erudito prof. J. :Marinho, proferida na sessão de julho, em que o eminente mestre estudou, de maneira original, o conceito de alergia do ponto de vista histórico e filosófico. Preciosa colaboração também nos foi trazida por ilustres representantes de outros departamentos da medicina. Não é nos assuntos de oto-rino-laringologia pura, quasi todos êles já amplamente ventilados e divulgados em nossas sessões, que o profissional encontra suas maiores dificuldades, mas sim justamente nos problemas interdependentes com outros ramos da medicina, que exigem, para serem bem compreendidos, conhecimentos fora de nosso âmbito de ação. E' por éste motivo que julgamos particularmente preciosa a colaboração trazida às nossas sessões pelo anátomo-patologista Monteiro Sales, abordando o estudo dos linfo-epiteliomas da faringe; pelo radiologista Carmo Mazilli, estudando a radiografia em oto-rino-laringologia; pelo neurocirurgião Carlos Gama, que, por duas vezes ocupou a tribuna discorrendo sôbre "O ponto de vista do neurocirurgião no tratamento dos abcessos encefálicos" e apresentando um caso de tumor do ângulo ponto-cerebelar, operado e curado; pelo rádio-terapeuta Campos Pagliucchi, focalizando a ação da radioterapia em oto-rino-laringologia e, finalmente, pelo bacteriologista José Sizenando Leme, em colaboração com o dr. J. Guilherme Whitaker, respigando a ação dos bacteriófagos no tratamento das sinusites agudas. Das comunicações feitas pelos nossos colegas, devemos assinalar os trabalhos de Rezende Barbosa sôbre Prescrição dos aparelhos auxiliares do surdo e Concussão coclear rara; de Guedes de Melo Filho sôbre Abcessos da retrofaringe; de Sílvio Marone sôbre Diagnóstico da difteria pelo método de Manzullo; de Ângelo Mazza sôbre Test para desmascaramento da surdez simulada total; de Francisco Hartung, A propósito da amigdalectomia em tuberculose e Curiosidade clínica; de Rubens V. de Brito sôbre, Zona auricular. Síndrome de Sicard; de Ernesto Moreira sôbre Demonstração da técnica de cirurgia de Ozena; de Mangabeira-Albernaz sôbre Osteomielite difusa do cranio e Hemo-angio-endotelioma da faringe, feito com a colaboração de Rui de Toledo; de Antônio Corrêa e Luiz Oriente sôbre Tratamento das estomatites ulcerosas, gangrenosas e amigdalite de Vincent pelo ácido nicotínico; de Plínio Matos Barros sôbre Dilatadores elásticos para o tratamento das estenoses da laringe e esôfago, e de Rebelo Neto sôbre Cirurgia plástica das cavidades post-operatorias retro-auriculares.

Os debates em torno de todas comunicações foram sempre amplos, sinceros e cordiais. A "incidia medicorum" não encontrou guarida neste recinto. Só temos a lastimar a ausência, nas sessões, de alguns especialistas ilustres, que, pela sua projeção social e pelos cargos que ocupam, deveriam contribuir para o maior brilho de nossas reuniões. Entregando a direção dos trabalhos de nossa Secção ao distinto e simpático amigo Paulo Saes, profissional de elevados méritos, galardoado, ainda lia pouco, em pleito unânime, com a merecida consagração de seus colegas da especialidade, fazemos votos para que a Secção de Oto-rino-laringologia e Cirurgia Plástica da Associação Paulista de Medicina prossiga sua trajetória de progresso, contribuindo, assim, para elevar, cada vez mais, a cultura médica em nosso meio. Convido os drs. Paulo Saes, António Prudente Correa e Mauro Candido de Souza a assumirem a direção da mesa".

A sessão continuou, assumindo a presidência o dr. Paulo Saes, sendo secretariado pelos drs. António Prudente Corrêa e Candido de Souza. O dr. Paulo Saes, ao assumir a presidência da sessão, pronunciou as seguintes palavras: "Meus senhores: sejam as minhas primeiras palavras de agradecimento pela elevada distinção e honra que me concedestes de dirigir os trabalhos desta Secção no vigente ano. Entendendo não me competir esta homenagem, pois outros, com mais credenciais e relevantes serviços prestados, faziam jus ao prêmio de sua dedicação, eu reconheço claramente, nesse gesto, uni reflexo de bondade e complacência de amigos e, por isso, cedi ao imperativo de vossa ordem, para não tornar-me pouco Cortez. A trajetória brilhante imprimida pelos anteriores presidentes desta Secção, vultos de relevo e figuras de escol, torna-me difícil a tarefa honrosa de manter bem alto as tradições dêste cargo. Basta relembrar, um a um, os nomes de valor indiscutível no meio oto-rino-laringologico paulista: Mário Ottoni, Schmidt Sarmento, Homero Cordeiro, Roberto Oliva, Paula Santos, Francisco Hartung, Mangabeira Albernaz, Ernesto Moreira, Rafael da Nova e Gabriel Porto, para bem se aquilatar da responsabilidade imensa que repousa sôbre meus ombros em conservar o alto prestígio, o merecido conceito que goza a Secção de Oto-rino-laringologia, pela sua reconhecida operosidade e pela elevada sensatez de suas discussões cientificas. Para não desmerecer de vossa confiança, envidarei os meus melhores esforços e o mais firme propósito em bem desempenhar as funções dêste elevado posto. Investigando, porém, mais profundamente as razões de vossa magnanimidade, eu percebo, ao longe, uma homenagem a uni dos últimos representantes da escola de Henrique Lindenberg, nome que sempre reverendo com comoção e respeito. De fato, terminando o meu curso, em 1923, após 4 anos de internato em seu serviço na Santa Casa, iniciei, em 1924, as minhas atividades corno especialista, continuando a trabalhar sob a sua sábia direção naquelas duas modestas salas do porão do hospital, forja notável de serviço, de onde brotaram teses de destacado valor e onde se praticaram, no maior desconforto e máxima demonstração de boa vontade, interessantes e ousadas intervenções cirúrgicos. Foi nesse cadinho de estudo que Mário Ottoni então recém-chegado da Europa, pôde demonstrar o seu grande aproveitamento científico e transmití-lo generosa e gostosamente aos seus colegas de serviço. Foi aí que Ernesto Moreira iniciou os seus trabalhos cirúrgicos sôbre a ozena, os quais, prosseguidos beneditinamente, haviam de culminar em uni estudo complexo e de vários aspectos sôbre esta afecção. Dai surgiu, mais tarde, a ótima tese sôbre a surdo-mudez no Brasil, da autoria de Arnaldo Bacelar e uma série de outros trabalhos de valor, que seria fastidioso enumerar. Perdoen-me, os presados colegas, esta digressão sôbre o panorama oto-rino-laringologico em inícios de 1924. 0 número de especialistas, em São Paulo, era, precisamente, de 15. Clínicas gratuitas em número reduzido. Santa Casa coro Lindemberg, Sarmento, Ottoni, Moreira, Hartung, Oliva, Passy iniciando promissoriamente e mais êste que vos fala. Na Policlínica, sob a proveta direção de

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