Ano: 1942 Vol. 10 Ed. 5 - Setembro - Outubro - (1º)
Seção: Trabalhos Originais
Páginas: 485 a 508
SINUSITES E DEFESAS NATURAIS - parte 1
Autor(es): JOSÉ GUILHERME WHITAKER
Da Academia Nacional de Medicina
SAO PAULO
Quando iniciámos este estudo, em começo de 1938, era nossa intenção, apenas, praticar em cadaver operações endonasaes.
As oito cavidades acessorias e os sacos lacrimaes ofereciam-nos a possibilidade de praticar em cada cadaver, dez operações, segundo a técnica endonasal corrente em O. R. L Como sempre procurassemos averiguar o estado das cavidades abertas, chamou-nos desde logo a atenção a frequencia com que as encontrávamos afetadas. Isso sugeriu a verificação estatistica da frequencia das sinusites em São Paulo, e foi esta a primeira dos modificações porque sucessivamente passou nosso propósito inicial até o presente trabalho - que é uma exposição de métodos biológicos para o trataanento das sinusites crónicas.
Recente comunicação, feita e-m 17-X-1941, á seção da O. R. L. da .Associação Paulista de Medicina ,sobre o tratamento das sinusites agudas (*), trabalho no qual colaborou o Dr. J. S. de Macedo Leme, Assistente do Instituto do Butantan, teve identica origem ,mas pela diversidade do seu objetivo, foi publicado separadamente na Revista Brasileira de O. R.. L., fascículo de Novembro-Dezembro de 1941.
Os cadáveres examinados foram da seção de Anatomia Patologica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, onde se fazem as,necrópsias dos que no Municipio da Capital, não tiveram 44 causa inortis atestada. As sinusites encontradas, apesar de terem todas caráter crónico, provavelmente não teriam sido siquer suspeitadas .em vida.
A par da grande frequencia de sinusites na cidade de S. Paulo, e de sua localisação prediléta no etimoides, o que, aliás confirmava as observações de nossa prática diaria., verificámos pelas necrópsias, dados interessantes quanto a doenças a que mais frequentemente se associam. Taes molestias são, em ordem decrecente, as cardiovasculares, a tuberculose ,e a pneumonia. Sendo estas duas consideradas molestias com carateristicas de alergia, e sendo a alergia, segundo Bordet, um estado patológico envolvendo ordináriamente os capilares, torna-se grande a ocorrencia de sinusites crónicas em molestias do aparelho circulatório atingindo sobretudo o sistema dos capilares, cuja importancia fisiológica e patológica Otfried Múller pôs tão bem em evidencia.
Fátos como estes, revelados em exames de cadáveres, assim como na observação clinica, e referentes, sobretudo, a inflamações agudas da mucosa do nariz e seus anexos, requeriam melhor conhecimento das conclusões mais recentes da Imunologia, e, assim, pareceu-nos prudente escolher, dentre os mestres naquele ramo da Ciencia Médica, um de bastante autoridade e respeitabilidade para .seguir "in totui-n" os seus ensinamentos.
O claro e convincente "Traité l'Iminunité dons les Maladies In. f ecdeuses" (Masson & Cie - 1939), de Jules Bordet, dando-nos uma segura orientação sobre a imunidade, fez-nos adotar outro rnódo de ,tratar as sinusites, dando particular importancia á defêsa fagocitaria local.
Sem nenhuma pretenção de completar observações constantes dos Tratados, procurámos evitar repetições fastidiosas para o Rinólogista, não dispensando, entretanto as considerações geraes sobre Imunologia e sobre os capilares, para compreensão mais rapida de nossa exposição.
São Paulo, Abril 1942
J. G. W.
OBSERVAÇÕES E DADOS DA CLINICA DOS HOSPITAIS E DAS NECRÓPSIAS
Sendo a mucosa, que reveste as cavidades nasais acessórias, continuação diréta da mucosa nasal, difícil é que de defluxos ou resfriados fortes não resultem sinusites, ao menos uma vez na vida.
As cefaléas, que frequentemente acompanham a gripe, são devidas em 80 % dos casos, a afeções dos sinus (E. Fraenkel, citado em M. Hajek "Die Nebenhõlen der Nase"; Hajek, comunicações verbais). Exposto a ventos, sobretudo os do sul, e sujeito, alem disso, a variações repetidas de temperatura, nosso planalto de S. Paulo oferece condições propícias ao desenvolvimento das molestias das vias aereas superiores; e de fato, no exercício da especialidade O. R. L., verificamos constantemente -o predomínio das molestias do nariz, tanto na clientela particular, como na hospitalar (Hospital do Juquerí-1928 a 1930; Fundação Paulista de Assistência à Infancia - 1.927 a 1932; Companhia Paulista de Estradas de Ferro - 1928 a 1930; Força Publica do Estado de S. Paulo - 1932). A altitude, por si só, parece ser elemento ponderável nesse assunto, pois frequentemente temos verificado recidivas e agravações em pacientes que recorreram a Campos do Jordão, Poços de Caldas ou São Lourenço, regiões todas de melhor clima, mas tambem de altitude mais elevada que São Paulo. Faltam-nos dados estatísticos quanto a Santos e Rio de janeiro, mas a observação comum é de que, à beira mar, muito aproveitam os doentes de sinusite crônica.
As secas prolongadas que afligiram São Paulo nos últimos quinze anos, a multiplicação de construções e a remodelação de sua Capital, carregaram de poeira nossa atmosfera, tornando-a incomoda, e sobretudo, perigosa para as vias aéreas superiores. Aliás, ha cerca de cinco anos, quando se queimava café nos arredores de São Paulo, observámos maior número de casos de traqueites e sinusites. Igual observação fizemos em Viena, pela ação constante dos ventos frios dos Alpes, e em Manchester, que sofre variações bruscas de temperatura e cuja atmosfera é carregada com a fumaça de suas numerosas fabricas.
Outros fatores de sinusites são, pelo menos entre nós, o hábito de ensopar os cabelos, e - conserva-los úmidos para os manter penteados, ou de andar sem chapéu, expondo a cabeça ao sol, ou à garoa, ou de mergulhar em piscinas de águas contaminadas (*), ou excessivamente cloradas. Sendo a água boa condutora de calor, a imersão produz perda rápida e consideravel de calorias, sendo por isso condenáveis não só os exercícios natatórios prolongados (mais de 20 minutos para adultos), como 0 hábito de deixar secar sobre o corpo as roupas de banho, hábito não raro agravado por voltas repetidas à água. Os penteados atilais das senhoras, ondulações permanentes, ou "mise-en-plis", igualmente não favorecem a profilaxia das sinusites. Nesses casos, a ação de compressa fria, exercida pela água retida na trairia dos cabelos, é, pelo menos, tão nociva corno a dos calçados úmidos, que aliás todos temem com muita razão.
Sempre se atribuio ao clima grande importancia na origem das moléstias das vias aereas superiores, e, mais especialmente, à friagens, isto é, à ação direta do frio sobre certas partes -do corpo habitualmente protegidas, como as costas, os pés, a nuca, sobretudo depois de um córte de cabelos. -Daí a concordancia de origem, nos diferentes idiomas, das expressões que designaras aquelas molestias, sendo de notar que, no inglês, "cold" designa ao mesmo tempo frio e defluxo. Às quedas de temperatura e às correntezas de ar atribuem-se a maioria cios resfriados, como o provam experiencias, feitas em "anima nobile". O. Frese (**), que relata minuciosamente essas experiencias, refere-se também às diferenças individuais registradas e, em seus comentários, atribue às pequenas variações de temperatura maior perigo (sue às variações muito grandes ou muito bruscas. Recorda que as maiores perdas de calor dão-se pelo uso de roupas molhadas pela chuva, sobretudo quando acompanhada de vento; e cita tini curioso calculo de Pettenkoffer, pelo qual, para secar nos pés um par de meias, retendo 30 gramas de água, é precisa a Inesina quantidade de calor que para derreter 500 gramas de gelo.
Entretanto, o frio, por si, não produz infecções, provocando apenas, quando intenso, secreção límpida da mucosa nasal. F' s6 quando age demoradamente que o frio favorece a ação de gerinens existentes normalmente no nariz e garganta, provavelmente por diminuição do poder opsónico, como hayser (citado por Frese) pode se certificar-se em animais de laboratório.
Normalmente a ação local do frio sobre a pele produz forte contração dos capilares cutâneos. Essa vasoconstrição capilar, subtraindo o sangue à ação do frio, é galé impede que o corpo esfrie. Quando os capilares têm sua contratilidade impedida, como na narcose, ou na intoxicação pelo álcool, a consequencia é esfriar o corpo, e por isso é que os ébrios facilmente se regelam (Frese).
O frio, internamente (agua fria, deglutida ou em clister), tem ação contrária, dilatando os vasos cutâneos. F' de O. Müller a verificação de que os excitantes térmicos, aplicados internamente, provocam reações inversas daquelas a que dão origem quando aplicadas externamente, ou, por outra, os vasos periféricos reagem aos excitantes térmicos de modo oposto ao que o fazem os vasos das vísceras e do cerebro (O. Müller, vol. 1, pgs. 97-98).
O banho frio (*), animando a periferia do corpo, faz refluir a massa de sangue, avaliada, somente a contida nos capilares cutâneos, em litro e meio por Wolllheiur (citado por Müller, pg. 96), para os vasos dilatados dos orgãos internos vitais (cerebro,intestinos, glafldulas digestivas), que se tornam assim epidêmicos. A reação se acentua se a água fôr animada de movimentos como nas ondas, duchas, chuveiro, etc. O. Müller entusiasta da hidroterapia como tônico vascular, recomenda-a desde 1902 aconselhando, também, andar descalço em relva orvalhada, para o que apresenta argumentos convincentes.
Consideramos aconselhavel esta "cura pelo enrijecimento" (Abhãrtungskur), pois ternos verificado, constantemente, que, também em nosso meio, o uso de banhos frios, o ano toda e com qualquer tempo, dá resistencia às intempéries. A pronta contratilidade dós capilares (leve ser exercitada desde a infância, sendo curioso notar como as crianças, se comprazem no banho frio, só o receando depois que se acostumam ao quente, por excesso de carinho dos pais.
Gráfico I
A frequencia das sinusites é comprovada pela verificação de necropsia. Em 151 cadáveres do Laboratório de Anatomía Patológica e do Laboratório de Tecnica Cirurgica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, encontramos 86 apresentando sinusites ou sejam 56,954% do total (44 homens e 42 mulheres -gráfico 1). O etmóide encontráva-se afetado em 63 indivíduos, o maxilar em 58, o esfenóide em 46 e o frontal em 29. (-! gráfico 11 evidencia essa predominancia dos etmóides, o que aliás se verifica tambem na prática diária.
Não sendo justificável a mutilação da face dos cadáveres, a estatística que apresentamos é forçosamente incompleta quanto ás crianças cie pouca edade, nas quais a exiguidade das narinas impedia, na maioria dos casos, as operações endonasais.
Gráfico II
Na pratica, entretanto, as sinusites infantis são provavelmente tão frequentes quanto as de adultos. As nasofaringites, tão conhecidas dos pediatras, são, quasi sempre, consequencia de afeções das cavidades nasais acessórias do grupo posterior (sinus esfenoidal e células estimóidais, de desenvolvimento variavel e que podem estar presentes no latante), as quais drenam para trás suas secreções patológicas.
Já tratamos de uma etimoidite aguda, purulenta e com leves manifestações oculares, acompanhada de otite média, num lactante de 40 dias.
O exame da curva das idades no gráfico III oferece aspectos interessantes. Assim a atenção é logo atraída pelo "planalto" dos vinte 20 aos 49 anos indicando o aparecimento, unais frequente de sinusites.
Gráfico III
A esse grupo dos adultos, acrescentam-se o da velhice e o da infancia.
Idade adulta: 70 individuos entre 20 e 49 anos.
Sinusite 49: brancos 24; de côr; 25.
Nihil 30
Velhice: 59 individuos entre 50 e 100 anos. Sinusite 26: brancos 18; de côr 8.
Nihil 27
Infancia: 19 individuos entre 2 a 19 anos. Sinusite 11: brancos 4; de côr 7.
RESUMINDO:
De 151 cadáveres necropsiados temos:
Com sinusite: 86, sendo 46 brancos e 40 de côr.
Quanto ás doenças reveladas na necropsia dos 151 casos encontrámos:
Molestias tardio-vasculares: 55.
Sinusite 33: brancos 18; de côr 15.
Nihil 22
Tuberculose: 38
Sinusite 22: brancos 11; de côr 11.
Nihil 16
Pneumonia: 15
Sinusite 11: brancos 3; de cor 8.
Nihil 4
Pneumonia-cardio-vascular: 5
Sinusite 2: brancos 1; de côr 1.
Nihil 3
Molestias diversas: 38
Sinusite 18: brancos 12; de cor 6.
Nihil 20
Cadáveres examinados: 151.
Atacados de sinusite: 86 em 151 -56,954%.
Homens - 44 em 86 - 51,163%
Mulheres. - 42 em 86 - 48,837%
Sinusite Etmoidal
direita: 11 casos em 86 - 12,791%
Esquerda: 11 casos em 86 - 12,701%
bilateral: 41 casos em 86 - 47,674%
Total de Sinusites Etrnoidais: - 63 - 73,256%
Dos 63 casos de Sinusite etmoidal observados, temos:
Sinusite etmoidal direita:11 casos em 63 - 17,460%
Esquerda: 11 casos em 63 - 17,460%
Bilateral: 41 casos em 63- 65,080%
Sinusite Maxilar
díreita : 16 casos em 86 - 18,605%
esquerda: 9 casos em 86 - 10,465%
bilateral: 33 casos em 86 - 38,372%
Total das sinusites maxilares: 58 casos em 86 - 67.442%
Dos 58 casos observados de Sinusite Maxilares, temos:
Sinusite maxilar
direita: 16 casos em 58 - 27,586%
esquerda: 9 casos em 58 - 15,517%
bilateral: 33 casos em 58 - 56,897%
Sinusite Esfenoidal
direita: 10 casos em 86 - 11,628%
Esquerda: 7 " " " - 8,139%
bilateral: 29 " " " - 33,721%
Total das sinusites esfenoidais: 46 casos em 86 - 53,488%
Dos 46 casos de Sinusite esfenoidal observados,temos:
Sinusite Esfenoidal
direita: 10 casos em 46 - 21,739%
Esquerda: 7 casos em 46 - 15,218%
Bilateral: 29 casos em 46 - 63,043%
Sinusite Frontal
direita: 9 casos em 86 - 10,465%
Esquerda: 5 " " " - 5,814%
Bilateral: 15 " " " - 17,442%
Total das sinusites frontais: 29 " " " - 33,721%
Dos 29 casos de Sinusite Frontal observados, temos:
Sinusite Frontal
direita: 9 casos em 29 - 31,035%
esquerda: 5 " " " - 17,241%
bilateral: 15 " " " - 51,724%
SINUSITES E DEFESAS NATURAIS
Cadáveres examinados : 151 casos.
Doenças reveladas na necropsia dos 151 casos.
MOL. CARDIO-VASCULARES :
com sinusites : Brancos : 18 em 151 - 11,921 %
De cor : 15 " " - 9,933 %
Total com sinusites : 33 " " - 21,854 %
Sem sinusites : 22 " " - 14,570 %
Total de cadav. c/ Mol. Cardio-vascular : 55 " " - 36,424 %
De 55 cadav. com Mol. cardio-vasculares temos então:
Com sinusites : 33 em 55 - 60,000 %
Sem sinusites : 22 " " - 40,000 %
TUBERCULOSE: com sinusite :
Brancos : 11 em 151 - 7,285 %
De cor : 11 " " - 7,285 %
Total com sinusite : 22 " " - 14,570 %
Sem sinusite : 16 " " - 10,596 %
Total de cadav. com tuberculose : 38 " " - 25,166 %
De 38 cadav. com tuberculose temos então:
Com sinusites : 22 em 38 - 57,895 %
Sem sinusites : 16 " " - 42,105 %
PNEUMUNIA : com sinusite : Brancos : 3 em 151 - 1,987 %
De cor : 8 " " - 5,298 %
Total com sinusites : 11 " " - 7,285 %
Sem sinusite : 4 " " - 2,694 %
Total de cadav. com pneumonia : 15 " " - 9,934 %
De 15 cadav. com pneumonia temos então :
Com sinusites : 11 em 15 - 73,333 %
Sem sinusites : 4 " " - 26,667 %
PNEUMONIA Cardio-vasc. : c/ sinusites : Brancos : 1 em 151 - 6,663 %
De cor : 1 " " - 0,663 %
Total com sinusites : 2 " " - 1,326 %
Sem sinusites : 3 " " - 1,986 %
Total de cadav. c/ pneumonia Cardio-vasc. : 5 " " - 3,312 %
De 5 cadav. c/ Pneumonia cardio-vasc. Temos então :
Com sinusites : 2 em 5 - 40,000 %
Sem sinusites : 3 " " - 60,000 %
MOLÉSTIA DIVERSAS : com sinusite : Brancos : 12 em 151 - 7,947 %
De cor : 6 " " - 3,974 %
Total com sinusites : 18 " " - 11,921 %
Sem sinusites : 20 " " -13,245 %
Total de cadav. c/ Moléstias diversas : 38 " " - 25,166 %
De 38 cadav. com Moléstia diversas temos então :
Com sinusites : 18 em 38 - 47,368 %
Sem sinusites : 20 " " - 52,632 %
Cadáveres examinados: 151
Necropsiados Brancos de cor atacados de sinusites : 46 em 151 - 30,464 %
Necropsiados Brancos de cor atacados de sinusites : 40 " " - 26,490 %
Total de necropsiados " " " : 86 " " - 56,954 %
De 86 necrop. Com sinusites temos: brancos: 46 " " - 56,954 %
De cor: 40 " " - 46,512 %
Cadáveres examinados: de 2 a 19 anos : 19 em 151 - 12,583%
" 20 a 49 " : 79 " " - 52,318 %
" 55 a 100 " : 53 " " - 35,099 %
De 19 cadav. de 2 a 19 anos examinados, temos:
Brancos, atacados : 4 em 19 - 21,053 %
De cor, " : 7 " " - 36,842 %
Total " : 11 " " - 57,895 %
De 11 cadav. de 2 a 19 anos atacados, temos então:
Brancos, atacados : 4 em 11 - 36,364 %
De cor, " : 11 " 7 - 63,636 %
De 79 cadav. de 20 a 49 anos examinados, temos:
Brancos, atacados : 24 em 79 - 30,380 %
De cor, " : 25 " " - 31,645 %
Total " : 49 " " - 62,025 %
De 49 cadav. de 20 a 49 anos atacados, temos então:
Brancos, atacados : 24 em 49 - 48,980 %
De cor, " 25 " " - 51,020 %
De 53 cadav. de 50 a 100 anos examinados, temos:
Brancos, atacados : 18 em 53 - 33,06 %
De cor, " : 8 " " - 15,049 %
Total " :28 " " - 49,057 %
De 26 cadav. de 50 a 100 anos atacados, temos então:
Brancos, atacados : 18 em 26 - 69,231 %
De cor, " : 8 " " - 30,769 %
DACRIOCISTITES - 20 casos em 131 - 15,207 %
Casos de sinusite encontrados por:
HARKE 138 em 395 - 34,937 %
FRANKEL 63 " 146 - 43,151 %
GADOWIGE 45 " 203 - 22,167 %
LAPALLE 78 " 169 - 46,154 %
MARTIN 15 " 31 - 48,378 %
WERTHEIN 165 " 306 - 53,922 %
MINDER 14 " 50 - 28,000 %
OPPIKOFER 94 " 200 - 47,000 %
SINUSITES E. DEFESAS NATURAIS
SCHONEMANN 31 " 83 - 37,349%
KIRKLAN 35 " 100 - 35,000%
J. G. W. 86 " 151 - 56,954%
Encarando apenas sinusites maxilares, temos:
INSCHOKSKY 12 em 152 - 7,895%
J. G. W. 58 " 151 - 38,411 %
Cadáveres da faculdade : 151
Sinusite ETMOIDAL :
Dir : 11 em 151 - 7,285 % ; Coincide com Maxilar mesmo lado: 10 em 11 - 90,909 %
Esq : 11 em 151 - 7,285 % ; Coincide com Maxilar mesmo lado: 8 " " -72,727 %
Bil : 41 em 151 - 27,152 % ; Coincide com Maxilar mesmo lado: 18 " " - 43,902 %
Total de sinusites etmoidais : 63 em 151 - 41,722 %
Sinusites MAXILAR :
Dir: 16 em 151 - 10,596 % ; Coincide com maxilar mesmo lado: 10 em 16 - 62,500 %
Esq.: 9 " " - 5,960 % ;Coincide com maxilar mesmo lado: 8 " 9 - 88,889 %
Bil : 33 " " - 21,854 % ; Coincide com maxilar mesmo lado : 18 " 33 - 54,545 %
Total da sinusites maxilares : 58 em 151 - 38,411 %
Dentre as "moléstias diversas" contam-se o tifo, diabete, caquexia, anemia secundaria, cirrose atrofica de Laennec, poliesteatose viceral, disenteria bacilar, abcesso do pulmão, cada um com um caso apenas de sinusite: em seguida, enfisema pulmonar, ulcera do estomago, ulcera do duodeno, carcinoma, cada um cota dois casos de sinusite; enfim dois casos de doença mal definida. Nos trinta casos de sinusite em moléstias cardio-vasculares, estão incluídos 7 nos quais as cavidades nasaes acessorias foram consideradas afetadas, porque a respectiva mucosa apresentava forte hiperemia passiva, com forte derramamento de sangue ao primeiro toque cios instrumentos, a ponto de impedir a continuação das pesquisas, fato esse não observado na ocorrência de outras doenças. Os casos de sinusites múltiplas e os raros de par-sinusite foram encontrados trais frequentemente nas pneumonias e moléstias cardio-vasculares. Na pneumonia, onde a percentagem de sinusites encontradas foi muito alta temos a fazer uma ressalva de intportancia: é que todas as sinusites tinham o carater de crónicas, anteriores portanto ao aparecimento da moléstia causa mortis. A pneumonia nesses casos seria um fenomeno de Schwartzntann-Sanárelli a sensibilização do pulmão sendo promovida pelos pneumococos, encontrados frequentemente no pús de sinusites* , e o agente precipitante sendo o vírus da gripe. Em todo caso os capilares aqui tambem estão em jogo.
Dacriocistite: - Em 131 dos cadáveres, alem da verificação das sinusites, fizemos a operação de West, cios dois lados. Em 20 indivíduos foram encontrados os sacos lacrimais doentes, sendo que cinco deles nenhuma afecção nasal apresentavam. Em seis casos a dacriocistite era bilateral, sendo que em um destes casos não havia sinusite alguma. A sinusite maxilar foi a mais constante, acompanhando os casos de dacriocistite. Em face cios dados estatísticos que obtivemos em São Paulo, temos estes outros coligidos por A. Denker no volume II do "Hanbuch der HalsNasetu-Ohrenheilkunde" de Denker-Kahler: Harke em 395 necropsiados encontrou 138 com sinusite; Frankel em 146 encontrou 63; Gadowige encontrou 45 em 203 necropsiados; Lapalle 78 em 169; Martin 15 em 31; Wertheim 165 em 306; Minder 14 em 50; Oppikofer 94 em 200; Schonema.in 31 em 83; Kirklan 35 em 100; Imschoski, que só se interessou pelas moléstias dos sinus maxilares, encontrou em 152 casos apenas 12 entrites maxilares. Esses autores nao especificam as sinusites encontradas; e dentre eles Oppikofer foi o único a voltar sua atenção para as doenças causa mortis, tendo verificado 49% de sinusites nos casos de tuberculose, 55% nos de pneumonia, 65% nos de afeções cardíacas, 40% nos de peritonite e 22% nos de carcinoma.
Nas estatísticas de Denker ha uma referencia aos casos de morte violenta, que foram encontrados com menor percentagem de sinusites, seus, contudo, apresentação de algarismos. No Necrotério do Araçá foi diferente nossa experiencia: em 73 casos de morte violenta. Encontramos 43 casos de sinusite, como discriminamos abaixo:
Distribuição- das sinusites em 73 casos de morte violenta:
Etimoide 38: -
direita - 8
esquerda - 4
bilateral - 26
Maxilar 19:
direita - 4
esquerda - 7
bilateral - 8
Esfenoide 13:
direita - 5
esquerda - 2
bilateral - 6
Frontal 7:
direita - 0
esquerda - 3
bilateral - 4
Mortes violentas: 73 casos.
Sinusite 43: brancos 37:de côr 6.
Nihil 30
Suicídios: 28 casos.
Sinusite 20: brancos 19; de côr 1.
Nihil 8
Desastres: 30 casos.
Sinusite 15: brancos 10; de côr 5.
Nihil 15
Homicídio: 15 casos.
Sinusite 8: brancos 8.
Nihil 7
INFANCIA: (até 19 anos) - 7 casos.
Suicídios: 2
Sinusite 2: brancos 2 mulheres 1 (15 anos) homens 1 (18 anos)
Nihil 0
SINUSITES E DEFESAS NATURAIS
Homicídios: 0
Desastres: 5
Sinusite 5: brancos 3: homens .3
de côr 2: homens 2
Nihil 0
ADULTOS: (20 a 49 anos) - 54 casos.
Suicídios: 18
Sinusite 12: brancos 11: homens 5; mulheres 6
de cor 1: homens 1
Nihil 6
Homicídios : 14
Sinusites 8 : brancos 8 : homens 5: mulheres 3
Nihi1 0
VELHICE: (50 anos em deante) 12 casos.
Suicídios: 8
Sinusite 6: brancos 6: homens 6
Nihil 2
Homicídios: 1
Nihil 1
Desastres: 3
Sinusite 1: branco 1; homens 1
Nihil 0
Cadáveres examinados no necrotério: 112
Mortes violentas :
Suicídios : 28 em 112 - 25,000 %
Desastres : 30 " " - 26,786 %
Homicídios : 15 " " - 13,393 %
Total de mortes : 73 " " -65,179 %
Destes 73 casos :
Brancos : 60 em 73 - 82,190 %
Pardos : 7 " " - 9,590 %
Pretos : 6 " " -8,220 %
-Mortes violentas c/sinusite:
Brancos : 37 em 60 - 61,667 %
Pardos : 4 " 7 - 57,143 %
Pretos : 2 " 6 - 33,333 %
Total de mortes violentas
c/ sinusites: 43 em 73 - 58,904 %
De 43 casos de mortes violenta c/ sinusites temos:
Brancos: 37 em 43 - 86,047 %
Pardos : 4 " " - 9,302 %
Pretos: 2 " " - 4,651 %
Suicídios:
Brancos: 26 em 73 - 35,616 %
Pardos: 2 " " - 2,740 %
Pretos : 0 " " -
Total de suicídios: 26 " 73 - 39,088 %
Sendo:
Brancos : 26 em 28 - 92,857 %
Pardos : 2 " 28 - 7,143 %
Suicídios c/ sinusite:
Brancos : 19 em 26 - 73,077 %
Pardos: 1 "
Total de suicídios c/ sinusites:
Sendo: 20 " 28 - 71,429 %
Brancos: 19 " 20 - 95 %
Pardos : 1 "
Desastres:
Brancos : 24 em 73 - 32,876 %
Pardos : 4 " 73 - 5,480 %
Pretos : 2 " 73 - 2,740 %
Total de desastre 30 " 73 - 39,736 %
Sendo :
Brancos : 24 em 30 - 80 %
Pardos : 4 " 30 - 13,333 %
Pretos : 2 " 30 - 6,667 %
Desastre c/ sinusites :
Brancos: 10 em 24 - 41,667 %
Pardos : 3 " 4 - 75 %
Pretos : 2 " 2 - 100 %
Total desastre c/ sinusites: 15 " 30 - 50 %
Sendo:
Brancos : 10 em 15 - 66,667 %
Pardos : 3 " 15 - 20 %
Pretos : 2 " 15 - 13,333 %
Homicídios :
Brancos : 10 em 73 - 13,699 %
Pardos : 1 " 73 - 1,370 %
Pretos : 4 " 73 - 5,479 %
Total de Homicídios
e/sinusite: 8 .. 15 - 53,333%
Sendo:
Brancos: 8 em 8 -100,00%
Cadáveres do Necrotério: 112.
MORTES VIOLENTAS : 73 em 112 - 65,179 %
Infancia : 7 em 73 - 9,589 %
Suicídios : 2 " 7 - 28,571 %
HOMICIDIOS : 0
Desastres : 5 " 7 - 71,429 % - sinusites : 5 " 5 - 100 % - Brancos : 3 - 60 %
De cor : 2 - 40 %
Adultos : 54 " 73 - 73,973 %
Suicídios : 18 " 54 - 33,333 % - sinusites : 12 " 18 - 66,667 % - Brancos : 11 - 91,667 %
De cor : 1 - 8,333 %
Homicídios : 14 " 54 - 25,926 % - sinusites : 8 " 14 - 57,143 % - Brancos : 8 - 100 %
Desastres : 22 " 54 - 40,721 % - sinusite : 9 " 22 - 40,909 % - Brancos : 6 - 66,667 %
De cor : 3 - 33,333 %
Velhice: 12 " 73 - 16,438 %
Suicídios : 8 " 12 - 66,666 % - sinusites : 6 " 8 - 75,000 % - Brancos : 6 - 100 %
Nihil : 2
Homicídios : 1 " 12 - 8,333 % Nihil : 1
Desastres : 3 " 12 - 25,000 % - sinusites : 1 " 3 - 33,333 % - Brancos : 1 - 100 %
Nihil : 2
Cadáveres do necrotério : 112
Morte Natural : 39 em 112 - 34,821 %
Sinusite Etmoidal :
Dir : 1 em 39 - 2,546 % ; Coincide com Maxilar mesmo lado : 1 em 1 - 100,000 %
Esq : 1 " 39 - 2,564 % ; " " " " " : 1 " 1 - 100,000 %
Bil : 13 " 39 - 33,333 % ; " " " " " : 5 " 13 - 38,462 %
Total das sinusites etmoidais : 15 em 39 - 38,461 %
Sinusites Maxilar :
Dir : 1 em 39 - 2,564 % ; Coincide com etmoide mesmo lado : 1 em 1 - 100,000 %
Esq: 2 " 39 - 5,128 % ; " " " " " : 1 " 1 - 100,000 %
Bil: 7 " 39 - 17,949 % ; " " " " " : 5 " 7 - 71,429 %
Total de sinusites Maxilares : 10 em 39 - 25,641 %
Sinusite Esfenoidal:
Dir. : 0
Esq. : 2 em 39 - 5,128%
Bil. : 7 " 39 - 17,949%
Total das sinusites esfenoidais: 9 em 39 - 23,077%
Sinusite Frontal:
Dir. : 0
Esq. : 1 em 39 - 2,564%
Bil. : 4 " 39 - 10,256%
Total de sinusites frontais: 5 em 39 - 12,820%
Morte Violenta: 73 em 112 - 65,179%
sinusite etmoidal:
Dir : 8 em 73 - 10,959 % ; Coincide com maxilar mesmo lado : 1 em 8 - 12,500%
Esq.: 4 em 73 - 5,479 % ; " " " " " : 2 " 4 - 50,000 %
Bil. : 26 " 73 - 35,616 % ; " " " " " : 5 " 26 - 19,231 %
Total das sinusites etmoidais : 38 em 73 - 52,054 %
Sinusites Maxilar:
Dir : 4 em 73 - 5,479 % ; Coincide com etmoide mesmo lado : 1 em 4 - 25,000 %
Esq : 7 " 73 - 9,589 % ; " " " " " : 2 " 7 - 28,571 %
Bil : 8 " 73 - 10,959 % ; " " " " " : 5 " 8 - 62,500 %
Total das sinusites maxilares: 19 em 73 - 26,027%
Sinusite Esfenoidal:
Dir.: 5 em 73 - 6,849%
Esq.: 2 " 73 - 2,740%
Bil.: 6 " 73 - 8,219%
Total das sinusites esfenoidais: 13 em 7.; - 17,808%,
Sinusite Frontal:
Dir. : 0
Esq.: 3 em 73 - -1,110 %
Bil.: 3 " 73 - 5,479%
'Total das sinusites frontais: 7 em 73 - 9,589%
No total de 112 cadáveres examinados, a ocorrência e coincidencia de sinusites etmoidais e maxilares são as seguintes :
Sinusite Etmoidal:
Dir : 9 em 112 - 8,036 % ; Coincide com maxilar mesmo lado : 2 em 9 - 22,222 %
Esq.: 5 " 112 - 4,464 % ; " " " " " : 3 " 4 - 60,000 %
Bil.: 39 " 112 - 34,821 % ; " " " " " :10 " 39 - 25,641 %
Total das sinusites etmoidais : 53 em 112 - 47,321 %
Sinusites Maxilar:
Dir.: 5 em 112 - 4,464 % ; Coincide com maxilar mesmo lado : 2 em 5 - 40,000 %
Esq.: 9 " 112 - 8,036 % ; " " " " " : 3 " 9 - 33,333 %
Bil.: 15 " 112 - 13,393 % ; " " " " " : 10 " 15 - 66,666 %
Total das sinusites maxilares: 29 em 112 - 25,893%
Cadáveres do Necrotério - 112.
Morte natural - 39
Morte natural com sinusite - 16
Temos então: 16 em 39 - 41,026 %
Morte violenta - 73
Morte violenta com sinusite - 43
Temos então: 43 em 73 - 58.904%
Em 112 cadáveres do necrotério, encontramos com sinusite: 16 de morte natural, e 43 de morte violenta, perfazendo um total de 59 casos de sinusite: logo 59 casos em 112, com a porcentagem de 52,679%.
No hospital de Isolamento "Emilio Ribas-, que frequentamos regularmente do Natal de 1940 a Abril de 1941, observámos o seguinte:
Em 135 casos de diftéria, todos com cultura positiva. diagnosticamos sinusite em 16 apenas: todos se restabeleceram com o uso do soro específico, exclusivamente, sem qualquer medicação local.
Em 121 casos de febre tifóide, encontrámos apenas 9 com sinusite. Em 14 (lesses 121 doentes encontrámos o Locus Kisselbachi com suas veias dilatadas, sendo que a epistaxis, em alguns casos se manifestara pouco antes do exame e, em outros, poucos dias ou poucas horas depois. C) Locus Kisselbaclti, assim com estase venosa. foi observado em apenas (lua, outras moléstias: pneumonia (2 casos) e paludismo (um caso).
Em 11 casos de escarlatina, tão temida na Europa pelas suas complicações de nariz e ouvidos, apenas duas apresentavam rinite.
Eu, 4 casos de paralisia infantil, verificamos um com rinite e outro com nas,-faringite.
Em 44 caos de disenteria bacilar apenas um apresentava rinite simples. Tres casos de tuberculose e dois de meningite tuberculosa, nada de anormal apresentavam no nariz. Em 7 casos de pneumonia apenas um tinha rinite, dois apresentavam nas,-faringite e dois o Locus Kisselbachi varicosado. Uni caso de septicemia nada apresentava no nariz.
Difteria 16 em 135 - 11,852 %
Febre tifóide 9 " 121 - 7,438 %
Escarlatina 2 " 11 - 18,182 %
Paralisia infantil 2 " 4 - 50 %
Desenteria 1 " 4 - 25 %
MEIOS NATURAIS DE DEFÊSA
O organismo defende-se contra a invasão de germens, pela imunidade natural e pela imunidade adquirida; a primeira resultando da defesa celular ou fagocitóse, a segunda, da defesa humoral. Fagocitose e defesa humoral, portanto longe de serem antagonicas, conto por muito tempo se admitiu, completam-se e associam-se para o mesmo fim. Entretanto a fagocitóse é a função defensiva mais eficaz do organismo, afirmando Lordet chie a defesa organica é função da capacidade fagocitária, não havendo exemplo de cura que se possa efetuar sem intervenção dos fagócitos. E disso uma prova indireta o fato de serem essencialmente de caráter ante-tagocitário as propriedades ou. adaptações microbiana. que permitem aos micróbios sua propagação pelo organismo.
Como os anticorpos dissolvidos nos humores, os fagócitos são espalhados pelas diversas regiões do corpo, de modo que a imunidade, que deles essencialmente depende, estende-se a todo o organismo. Entretanto ha pontos da economia mais bem defendidos que outros; e o fato de certas portas de entrada serem propícias à invasão microbiana, demonstra que ha desigualdade de resistencia nas diversas regiões. Se conseguirmos, portanto, determinar, em dada região, o afluxo de fatores de defesa, essa região deverá demonstrar maior resistencia que a normal.
A injeção de caldo simples no peritônio, por exemplo, teta por efeito elevar consideravelmente e rapidamente o teor em leucócitos ativos do exsudato peritoneal, verificando-se algumas horas finais tarde, que o peritônio, assim preparado, tolera facilmente uma dóse de micróbios, que seria mortal para um animal novo.
O caldo simples, egualmente, injetado sob a pele, preserva contra os efeitos da injeção de germens no mesmo lugar. A vacina cutânea não teta efeito em região em que se fizer previamente uma injeção que favoreça o aparecimento dos leucócitos. Os tecidos de granulação devem sua resistencia à riqueza em clesmatócitos, que são macrófagos. Na verdade trata-se, nesses casos, de localisação dos fatores gerais de imunidade ou, por outra, de sua mobilisação para um ponto determinado, e não de uma imunidade local verdadeira. 1?' claro que o aumento local de resistencia resultante de tais causas não é durável e nem é específico: o afluxo leottcocitário protege contra micróbios diversos e é passageiro (Bordet pg. 161).
As cavidades paranasais que, embora internas, estão forradas por uma mucosa que é o prolongamento da mucosa nasal, dispondo de intensa vascularização, comportam-se de maneira análoga à cavidade peritoneal injetada com caldo. Realmente, verificamos que o caldo simples introduzido nos sinus provoca fluxo nasal, em trenós tempos ainda do que o peritônios. Ora, o organismo, quando se defende, nada inventa, e, escravo de tendências hereditárias, não improvisa meios de defesa, pondo, apenas, em exercício aptidões pré-existentes e modificando-as quando necessário (I3ordet pg. 3). Pode-se, portanto, dizer que a reação provocada na mucosa dos sinos pela introdução de caldo é análoga à que se observa no peritônio.
Foi Stoher, (citado por Bordet), quem chamou a atenção para a continua migração dos leucócitos pelo interior das mucosas até atingirem o epitélio, englobando no percurso os micróbios que conseguiram transpor a barreira epitelial. Assim existe proteção incessante contra a invasão microbiana. Não fosse a vigi]anciã dos fagócitos, que a cada instante afastam o perigo, e as infecções se produziriam, por assim dizer, constantemente.
Verificou-se que o liquido peritoneal possue uma substancía com os caraterísticos da inucina, a qual promove a aglomeração e, em seguida, a reunião, em grupos, das substancias introduzidas na cavidade, facilitando a tarefa dos leucócitos para varrer e desembaraçar essa cavidade. Ha outros liquidos no organismo que tambem contêm Mucina e gozam por isso da mesma propriedade aglomerante. Entre estes liquidos, está o muco nasal, que humedece mucosas expostas a frequentes contaminações.
Dada a uniformidade dos processos de defesa do organismo, o conhecimento dos fenomenos peritoneais pode explicar as reações de excitação na mucosa dos sinas.
Vejamos. Desde a primeira hora que se segue à injeção do caldo simples, o exsudato peritoneal torna-se rico em leucócitos poli nucleares, e o numero destes cresce continuamente durante varias horas, até aparecerem outras células, que, pelo seu tamanho, foram denominadas por Metchnikoff de "macrófagos", por oposição aos poli nucleares, denominados "macrófagos". Os macrófagos são originários do sangue e dele emigram; os macrófagos provêm de uma néo-formação, que se inicia somente depois que aparece a inflamação. O papel dos macrófagos é o final. Limpam o terreno e restabelecem a ordem, não só fagocitando alguma partícula estranha, que ainda esteja em liberdade, como, sobretudo, englobando detritos de toda espécie, células -avariadas, notadamente polinucleares destroçados na luta. São ativíssimos. comedores de células, o que não lhes impede de englobar também os micróbios. Si muitas vezes parecem a esse respeito inferiores aos microfagos, é porque o afluxo destes é mais pronto, de modo que a captura dós germens está feita, quando aparecem os macrófagos. Mas, si por qualquer motivo a fagocitóse é retardada até à chegada em massa dos macrófagos, estes não só se mostram capazes de entrar em luta coai os micróbios, como podem fazê-lo, até melhor, como demonstrou 13ordet, estudando a fagocitóse tardia do estreptococo no peritônio. Os macrófagos, mais lentamente mobilizáveis, são os que, no decorrer das infecções crônicas, intervêm preponderantemente na luta contra o germens, e são -os que melhor resistem à leucocidina. Alguns dias após a injeção do caldo simples, cessa o' processo inflamatório.
Entretanto, se a causa irritante persiste, se, por exemplo, em lugar do caldo simples, facilmente absorvível, introduzem-se na cavidade peritoneal partículas indigestas, corpos extranhos, as coisas passam-se de modo diferente: os macrófagos manifestam então a curiosa propriedade de se reunirem, fundindo seus protoplasmas, de modo a constituírem o que se chama "célula gigante mononuclear", ou, então, superpõem-se em calhadas em redor do corpo extranho, formando envoltórios. O tecido conjuntivo, excitado, pode hiperplasiar-se, dando origem a membranas ou cápsulas fibrosas.
Parece que todas as substâncias capazes de atrair os leucócitos a uma determinada região são tambem capazes de determinar a neo-formação dessas células. Essa correlação é das mais felizes, pois a superatividade dos orgãos hematopoiético serve para corrigir a derivação das células para um determinado ponto, sem o que sobreviria empobrecimento do sangue. A concentração das células protetoras, em uni ponto, permite compreender porque uni foco infeccioso circunscrito pode ser extinto antes do organismo ter adquirido unia imunidade sólida. Por exemplo, uni furúnculo pode sarar graças ao fluxo leucocitaria, ao mesuro tempo que outro furúnculo nasce em outro lugar. Uma placa de erisipela se alastra, ao mesmo tempo que o centro cura-se. Fatos como esses aparecem frequentemente nas infecções crônicas.
Já observámos o afluxo lecocitário, provocado pelo iodureto de potassio instilado nos sinas paranasais, determinando uma reação geral coai intensos calafrios e elevação de temperatura, durando até 48 horas. Como foram esses os casos de maior sucesso terapêutico, não temos dúvida em confirmar o que verificou J. Bordet, isto é, que a concentração de leucócitos em um local pode determinar hiperleucocitose geral e consequente levantamento do nível da resistencia geral.
O poder de aumentar o número de leucócitos não é privativo do caldo simples, sendo numerosas as substâncias que produzem efeito análogo: produtos bacterianos, nucleinato de sódio, proteínas vegetais, iodureto de potassio, sais de cobre e prata, essência de terebentina. A injeção de peptona, mesmo em doses fracas, determina uma leucocitose, que dura de uni a dois meses; essa substância determina uma onda de cariocinese em diversos orgãos : baço, ganglios, placas de Peyer. Repetindo-se a injeção, o efeito diminue, estabelecendo-se uni habito persistente. A prata coloidal injetada, aumenta os leucócitos, sobretudo os polinucleares, durante uma semana.
Substâncias há que podem influir sobre a fagocitoses, unias favorecendo-a, outras dificultando-a. O álcool, em pequenas quantidades, excita a fagocitóse, porque, dissolvendo-se nas substancias graxas do protoplasma leucocitaria, abaixa-lhe a tensão superficial, o que facilita os movimentos amebóides e portanto o englobamento ; em doses altas, porem, o efeito é contrario. Pequenas quantidades de íon calcio excitam a fagocitose. O iodureto de potassio possue a propriedade, notavel e ainda sem explicação (*), de excitar a fagocitóse sobretudo dos macrófagos. Cantacuséne verificou que. injetando diariamente uma cobaia com essa substância, na dose de 0,10 grm., obtem-se absorpção rapida (em cinco ou seis dias) de 0,10 gralha de bacilos tuberculosos mortos injetados sob a pele. , Não ha duvida que a eficiência do iodureto no tratamento (Ias gorras sifilíticas, dos tumores atinomicósicos, etc., está em relação com a influencia que esse medicamento exerce sobre o processo fagocitário. Alem disso o iodo excita o tecido linfóide dos ganglios e do baço c provoca a hipermononucleose (J. Bordet pgs. 224 a 242).
Os produtos microbianos têm influencia á distancia sobre os leucócitos, podendo atraí-los ou repeli-los (quimiotaxismo positivo e negativo). A saliva, sempre rica em micróbios, atrái os leucócitos, concorrendo, assim, para que a defesa da cavidade bucal tenha a Constancia e eficiência que 111e reconhecemos.
Micróbios patogênicos são justamente aqueles que exercem sobre os leucócitos influencia quimiotáxica repulsiva, ou, então, que contra eles se armam, cercando-os de um invólucro ou cápsula. Essa cápsula, que parece ser formada a custa de substancias que o proprio organismo fornece, não possue, pelo que se acredita, as propriedades de contáto requeridas para que póssa haver aderência ao protoplasma celular, o qual desse modo se vê impossibilitado de atrair o micróbio ao interior do fagócito. Outro meio de defesa dos micróbios é a produção de substancias capazes de prejudicar ou destruir os leucócitos: os estreptococos e os pneumococos são capazes de fabricar- essas leucocidina.
Às vezes os estreptococos adquirem notavel resistencia, persistindo em estado de vida latente no interior dos próprios fagócitos e conseguindo, depois de um período mais ou menos longo, retomar forças e desencadear uma reinfecção Esse exemplo de microbismo latente, realisado experimentalmente por 13ordet em 1837, oferece analogia muito instrutiva com os que na patologia humana. dão lugar a recaídas, observadas com frequencia sobretudo na cresipéla, molestia devida ao estreptococo. Os fagócitos quando expostos a influencias nocivas, como um traumatismo, põem em liberdade os micróbios. l?' comum ouvir que solavancos, rodar em veículos, ao descer degraus, movimentos bruscos de ginástica, exposição da cabeça aos raios solares, provocam. quasi imediatamente, o reaparecimento de sintomas de sinusites-, que se julgavam curadas, sobretudo dôres de cabeça e obstrução nasal.
A variedade das propriedades fisiológicas dos -micróbios e dos recursos de que se servem no conflito cota os- leucócitos, tem por consequências, a variedade chie se nota no curso das infecções. - Parece estar beira averiguado que, segundo a qualidade dos germens, não são sempre as mesmas células as mais solicitadas Frequentemente o apelo ás células móveis é intenso, irias muitas teses a excitação é dirigida sobretudo aos elementos fixos. observando-se então preponderantemente a participação evolutiva de tecido conjuntivo. Por isso é que, segundo a natureza das células especialmente impressionadas, as manifestações, chie se desenvolvem no teatro do conflito, devem revestir-se de caractéres nitidamente diferentes.
Nas inflamações crónicas do etmóide e do esfenoide, a participação do tecido conjuntivo, na luta contra os germens, verifica-se com frequencia, como o atestam as hiperplasias naquelas regiões.
Todas as causas suscetíveis de dificultar a fagocitóse diminuem "ipso facto" a resistencia. Por exemplo, as partículas inertes, quando englobadas pelos fagócitos, desviam-nos da luta contra o agente virulento e agem enfraquecendo a defesa. :1 introdução de areia esterelizadas torna os espóros perigosos: com. essa proteção contra os fagócitos, os espóros germinam e segregam produtos nocivos ás células. O cão, normalmente refratário ao carbúnculo, póde contrair essa molestia si se lhe injetam previamente, em quantidades suficientes, pós inertes muito finos. Na prática temos visto estes fátos corroborados pela frequencia de aparecimento de afeções catarraes no nariz e traquéa, rebeldes ao tratamento enquanto se permanece em atmosfera seca e poeirenta.
Já vimos que a ação do frio favorece diversas infecções: faz, por exemplo, coai que a galinha se torne sensivel ao carbúnculo. Para BORDET, que admite, tambem, as perturbações vaso-motoras a que já fizemos alusão, a ação principal do frio é a depressão da atividade fagocitária.
A inanição, que favorece as infecções, caraterisam-se por uma diminuição do numero de leucócitos. Segundo tudo faz indicar, quando o estado geral é mau, por exemplo, em seguida a privações, ou a molestias, diminue a energia do sistema fagocitário : e disso temos tambem confirmação na pratica diaria, em pessôas em "regime.", tão em voga, de emagrecimento, e que contribuem com grande contingente de anginas e rinites recidivantes.
Os HUMORES desempenham, em geral, um papel apagado na destruição dos micróbios, porque seu poder bactericida direto faz-se sentir, apenas, em número restrito de casos, mas facilita a tarefa dos leucócitos e, para isso, não é necessario que inflijam grande dano aos micróbios, pois suas qualidades excitofágicas são para tal suficientes. WRIGHT e DOMAS, em 1903, designaram com o nome de "oltsoninas" as substancias do sôro que ativam a fagocitóse - e mostraram que o poder opsonico existe, não sómente nos imuniseruns, como, embóra em menor escala, támbem nos sôros normais.
Diversas experiencias provam que o sôro age, não sobre o leucócito. para fazer dele um fagócito mais potente, mas sobre o micróbio, para torna-lo urna presa mais facil. Os complexos que os micróbios formam com seus anticorpos representam para os leucócitos captura garantida. O sôro da mesma espécie constitue meio ideal para o leucócito; geralmente as opsoninas produzem efeito mais pronunciado quando os leucócitos e o sôro provém da mesma espécie. Os micróbios tocados pelo soro opsonico são impressionados de modo inteiramente passivo. As opsoninas preparam para a fagocitóse, indiferentemente, tanto micróbios vivos como mortos. Sabe-se que as opsoninas determinam, nos elementos por elas impressionado.,;. uma modificação físico-químico tal, que eles passam a aderir mais facilmente ao protoplasma fagocitário. As opsoninas não são indispensaveis, atas são úteis, sobretudo quando se tratam de micróbios virulentos: ou, em outros termos, o fato de certos micróbios, para serem absorvidos (fagocitados) exigirem a intervenção opsonico, constitue para eles um titulo de virulencia.
WIDAL e SICARD verificaram que a formação de anticorpos, na febre tifóide, dá-se com maior intensidade quando os animais são mantidos em temperatura bastante elevada. LLIETCHNIKOFF, por sua vês, verificou que, no jacaré, unia injeção de antígeno só fornece anticorpos quando o animal é mantido numa estufa.
Resultados análogos foram observados em outros vertebrados de sangue frio, chegando-se á conclusão de que esses animais, si deixarem de habitar países quentes, não poderão se utilisar da faculdade, que possuem no seu meio natural, de elaborar anticorpos. Como sabemos que a natureza sempre lanha mão dos mesmos procéssos de defesa, amoldando-os apenas ás circunstancias, podemos concluir, por analogia, que o efeito benéfico do banho de luz, pelo caixote de BRÜNINGS, nas rinites e sinusites agúdas e os bons resultados que tambem se conseguem com o tradicional "suadouro" para os resfriados em geral, dévem-se á influencia térmica sobre a elaboração dos anticorpos, elaboração que se inicia e se conserva mais intensa nas proximidades do fóco da infecção. Alem disso sabe-sé que o poder bactericida (por ação da lizozima) das lágrimas e do muco, nasal se exerce melhor a 37°, temperatura facilmente atingida, dentro do caixote de banho de luz, pela mucosa nasal em contáto direto com o meio exterior.