Versão Inglês

Ano:  1942  Vol. 10   Ed. 4  - Julho - Agosto - ()

Seção: Associações Científicas

Páginas: 467 a 475

 

ASSOCIAÇÕES CIENTIFICAS

Autor(es): -

SECÇÃO DE OTO-RINO-LARINGOLOGIA DA ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA
Reunião do dia 17 de Outubro de 1941

Presidida pelo dr. Gabriel Porto e secretariada pelos drs. Eduardo Faria Cotrim e Sílvio Marone (ad-hoc), realizou-se no dia 17 de Outubro de 1941, uma reunião ordinária da Secção de Oto-rino-laringologia da Associação Paulista de Medicina.

EXPEDIENTE - No expediente, o sr. Presidente consulta a casa no sentido de ser dispensada a leitura da ata da última reunião, o que é unanimemente aprovado, considerando-se então a ata aprovada.

ORDEM DO DIA - Tratamento das estomatites ulcerosas, gangrenosas e amigdalites de Vincent, pelo ácido nicotínico - Drs. Luís Oriente e Antônio Corrêa.

Os casos de estomatites ulcerosas de que trataremos, são todos casos de estomatite de Vincent ou estomatite fuso-espirilar. Esta associação fuso-espirilar, tem uma ação predominante nêste quadro, desde que haja uma queda da resistência orgânica aliada a lesões de mucosa e de focos de infecção que podem coexistir. As suas relações com a avitaminose, começaram a ser discutidas desde que se iniciaram os estudos sôbre a pelagra, pois quasi sempre no quadro da pelagra, os AA. observaram existência de estomatite ulcerosa e neste uma associação fuso-espirilar. Além disso, com o tratamento da pelagra, a estomatite era um dos primeiros sinais a desaparecer.

Os estudos modernos consideram como uma de suas principais causas a hipovitaminose A, B (complexo) e C. Assim são descritos casos de estomatite no escorbuto com abundância de fuso-espiroquetas, e tendência a ulcerações gengivais e bucais nos

indivíduos e nos animais em dieta deficiente de vitamina C. No que se refere ao complexo vitamínico B, foi notada uma abundância de espiroquetas nos casos de pelagra clínica e experimental, e esta quantidade diminuiu, com a administração de levedo de cerveja concentrado. Em relação à vitamina A, existe o fato experimental descrito por Schmidt, de que uma dieta deficiente em vitamina A, pode estabelecer em cobaias um quadro clínico e bacteriológico semelhante à moléstia de Vincent.

Assim sendo para combater esta espiroquetose, é aconselhável um tratamento vitamínico, aliado a um combate aos focos de infecção. O quadro clínico já pode dar mais ou menos a orientação específica do tratamento. Trabalhos experimentais realizados em macacos, demonstraram que uma dieta com carência de complexo B2, produzia uma estomatite de caráter gangrenoso, e as produzidas por deficiência de vitamina C, tinham um caráter hemorrágico com tendência a se extenderem em superfície. Em relação ao complexo B2, que é o que nos interessa, há dois fatores importantes a considerar: a riboflavina e o ácido nicotínico: Em caso de deficiência da riboflavina, o quadro é o de uma estomatite angular, ao passo que em caso de deficiência de ácido nicotínico; o quadro observado é o de uma estomatite ulcerosa.

Em vista de tais observações, os AA. procuraram verificar o efeito desta medicação em casos de estomatites ulcerosas e gangrenosas, obtendo os melhores resultados. Foram observados 24. casos em crianças, 16 dos quais eram do tipo de Vincent e 8 do tipo gangrenoso: O seu aspeto era o mais variado, e a exame bacterioscópico realizado em apenas 8 dos casos, revelou a existência de bacilos fusiformes e espirilos. Os resultados obtidos foram bons, e em 21 dos casos houve cura das lesões bucais e das lesões amigdalianas. Nos outros 3 casos, os doentes, em virtude de uma desinteria bacilar não puderam continuar o tratamento, pois que foram transferidos para o Hospital de Isolamento onde faleceram; mas mesmo nestes casos foi observada uma melhora das lesões. O tratamento local foi feito com o liquido de Dakin, para oxigenação das lesões onde predominam os germes anaeróbios. A seguir foi corrigida a carência alimentar das creanças com o ácido nicotínico em doses variáveis conforme o caso. As curas foram mais ou menos rápidas dependendo do quadro clínico, levando em média de 10 a 30 dias. O primeiro sinal a desaparecer é a dor. O mecanismo de acção do ácido nicotínico, parece que é o de regularizar e' ativar o metabolismo celular: Foi usado por via bucal; a sua toxidês é muito baixa, dando apenas leves distúrbios vaso-motores, quando administrado pela via oral.

COMENTAMOS

Dr. Gabriel Porto. - Agradece ao dr.- Correa a apresentação do seu trabalho, no qual encarou um ponto de vista inteiramente novo e original, e daí talvés a falta de comentários dos seus colegas.

2) O bacteriófago nas sinusites. - Drs. J. S. de Macedo Leme e José Guilherme Whitacker.

Kolmer e Tuft, baseados na etiologia, dividem as rinites em 2 tipos: coriza infeccioso agudo e rinite bacteriana. No coriza infeccioso agudo, a presença de um virus que seria o agente etiológico da infecção, é admitida por muitos autores. No terreno préviamente preparado pelo virus se localiza o germe piogênico saprofita da cavidade nasal, provocando a secreção muco purulenta.

A rinite bacteriana seria uma infecção provocada sòmente por bactérias, e muitas vezes a consequência de uma exacerbação de uma sinusite crónica.

Evolução idêntica podemos admitir nas sinusites, dada a continuidade natural do nariz com as cavidades accessórias.

Assim sendo, a terapêutica das infecções do nariz e seus anexos deverá ser orientada de acôrdo com o germe piogênico produtor da supuração.

O exame material, retirado de 80 indivíduos, portadores de sinusites sub-agudas, revelou a presença dos seguintes germes Staphylococcus aureus, citreus e albus, Diplococcus pneumoniae, Corynebacterium xerose e pseudodiphtericum, Proteus vulgaris, Streptococcus Pyogenes, salivarius e faecalis, Escherichia coli, Neisseria catarrhalis e Pseudomonas seruginosa.

Em vista da alta porcentagem dos casos, em que encontramos o Staphylococcus, resolvemos experimentar o fago anti-estáfilo no tratamento das sinusites.

Em 220 casos de sinusite aguda de todas as cavidades, observamos 124 curas.

Em alguns casos a cura foi observada em algumas horas. Os casos de resultado parcial não foram computados.
A pouca sensibilidade da sinusite frontal a este tratamento é devida à dificuldade de se atingir essa cavidade.

Analisando as nossas observações clínicas, constatamos:

1.° - Os melhores resultados são obtidos nos casos agudos, sendo poucos os casos crónicos beneficiados.

2.° - Os sintomas clínicos, tais como a supuração e a dôr, se atenuam ou desaparecem, num período muito curto, algumas horas.

3.° - E necessário repetir a aplicação do fago, de duas a 3 vezes ao dia, para se conseguir a cura. Não sendo feita nova aplicação, os sintomas clínicos desaparecem.

COMENTÁRIOS

Dr. Francisco Hartung. - O estudo da terapêutica da sinusites pelo bacteriófago, constitue um dos capítulos mais modernos do tratamento de tal moléstia. Também tem importância nestes casos o estudo das modificações do pH da mucosa nasal, que sofre elevações e baixas o que nos faz também variar a terapêutica. Nas rinites crônicas êle se torna alcalino e nas agudas êle se torna ácido.

Dr. Roberto Oliva. - Felicita o A. do trabalho pela sua brilhante conferência. Entretanto, a introdução associado à cocaína em alta percentagem, parece que é contra producente, pois segundo os últimos estudos a respeito, um dos fatores predominantes no tratamento das vias aéreas superiores, é a conservação do aparelho ciliar, e ao que parece a cocama na dose utilizada pelos AA. iria paralizar os cílios. Isto também serviria para explicar porquê os processos crónicos não são tão beneficiados com o tratamento pelos fagos, porquê nêste caso a mucosa nasal já está alterada e os fagos perdem assim um seu grande aliado que são os cílios da mucosa nasal.

Dr. J. G. Whitaker. - Como co-autor do trabalho, do qual se encarregou da parte clínica, responde ao dr. Oliva que o aparelho ciliar da mucosa tem função puramente mecânica, desempenhando nas defezas naturais papéis mais apagados do que o do próprio muco nasal. Aliás o pús das sinusites tem efeitos mais desastrosos, chegando a destruição dos cílios, os quais, todavia, passada a infecção, voltam a se formar. Longe de ter efeito nocivo, a cocaína, frequentemente tem acção curativa sôbre a coriza aguda. De fato os fenômenos locais de inflamação (na qual tomam parte capilares, tecidos e nervos) estão na dependência da inervação sensitiva local, cuja interrupção por anestésico ou processo degenerativo, impede o aparecimento da hiperhemia característica (Breslauer, em 1918, citado por Müller em seu Tratado sôbre capilares); as experiências foram feitas na pele humana, com injecções intra-dérmicas de novocaina, e na rã por aplicação de cocaína na língua. Na aplicação do bacteriórago a concentração da coc.-efedrina em geral é de 3%, mas em casos superagudos a concentração da primeira pode ir até os 20%.

Dr. J. S. de Macedo Leme. - Agradece as referências elogiosas ao seu trabalho. Ao dr. Hartung, adiante que o pH tem de fato grande influência sobre a acção dos fagos e das bactérias, mas em nosso caso ele não tem interesse, porquê na preparação do caldo entram soluções tampões, que mantém o pH neutro. Entretanto, mesmo dentro de variações limitadas de pH os fagos podem exercer a sua acção.

Nada mais havendo a tratar, o sr. Presidente agradece aos colegas presentes e aos AA. dos trabalhos a sua cooperação, dando por encerrada a secção.

Reunião do dia 17 de Novembro de 1941
Presidida pelo dr. Gabriel Porto e secretariada pelos drs. Eduardo Faria Cotrim e Ênio D'Aló Salerno, realizou-se no dia 17 de Novembro de 1941, uma reunião ordinária da Secção de Oto-Rino-Laringologia da Associação Paulista de Medicina.

EXPEDIENTE - Aberta a secção pelo sr. presidente, o sr. secretário passa a ler a ata da última reunião. Terminada a leitura, o dr. Francisco Hartung, pede a palavra, para sugerir que todos os debates e trabalhos apresentados à sessão sejam submetidos antes de serem inceridos em ata, à apreciação do seu autor, pois tem notado em muitas atas alterações, capazes de muitas vezes comprometer o nome do seu autor. Também o dr. Ernesto Moreira pede a palavra, para se manifestar inteiramente de acordo com o dr. Hartung a êsse respeito. O sr. Presidente, considera de muita oportunidade êstes apartes, encarregando o sr. 2.° secretário de tomar as providências que o caso exige, pedindo a todos os que façam uso da palavra durante a sessão, que forneçam um resumo do que disserem, resumo êsse que devem ser entregues ao secretário dentro de um prazo razoável.

Ainda no expediente, o dr. Rebelo Neto, comunica à casa da chegada no próximo dia 28, do prof. inglês sir Harold Gillies, que é considerado um dos maiores cirurgiões de plástica na Inglaterra. Pede ao sr. presidente que a Sessão se faça representar em todas as homenagens que lhe forem prestadas. Em resposta, o sr. presidente agradece a comunicação do dr. Rebelo Neto, e nomenou-o como o representante da sessão em todas as homenagens que forem prestadas ao ilustre visitante.

ORDEM DO DIA - RADIOTERAPIA PROFUNDA EM OTO-RINO-LARINGOLOGIA

Dr. Carlos de Campos Pagliuchi.

O A. em primeiro logar chama a atenção para a pequena divulgação das aplicações da radioterapia nas moléstias do ouvido do nariz e da garganta. A seguir tece algumas considerações em torno da avaliação cios dados estatísticos, fazendo notar particularmente a necessidade de se computar grande número de casos, pelo que não apresenta a sua contribuição pessoal. Fás depois um rapidíssimo aceno às condições atuais da radioterapia, mostrando a inocuidade e precisão da moderna técnica radiológica, graças a um certo número de novos elementos dentre os quais o estabelecimento de uma unidade internacional de quantidade, o rontgen; mostra como em outros paizes a prática da radioterapia é controlada pelas autoridades sanitárias, o que representa então mais uma medida de segurança. Em seguida estuda ligeiramente a ação dos ráios X sôbre os tecidos vivos, declarando acreditar apenas na ação destruidora direta; os outros efeitos podem ser provocados por elementos de desintegração celular; fás notar a variação da radiosensibilidade à custa de vários fatores dentre os quais a "diluição da dose no tempo", de grande importância nos combates aos tumores malignos. Afim de dar uma idéia mais concreta do valor da unidade internacional de medida, cita as doses capazes de lesar diferentes órgãos ou tecidos: pele, ovário, sistema nervoso, etc.; considera a rádio-dermite e a radio-epitelite, inevitáveis no tratamento do cancer do laringe, porém dá a essas lesões uma importância quasi nula, dada a gravidade da moléstia e ao valor da dose necessária ao seu tratamento. Divide as indicações gerais da radio-terapia em dois grandes grupos, conforme o efeito desejado: destruidor e indireto. Em oto-rino-laringologia, classifica as enfermidades sucetíveis de tratamento pelos ráios X em 3 grupos; as hipertrofias, as infecções e as neoplasias. Chama a atenção para a precocidade do emprego da radioterapia nessa especialidade, o que talvês tenha contribuído para trazer um certo descrédito no emprego deste recurso. Demonstra o enorme valor dos raios X na hipertrofia do tecido adenóide, apresentando porém restrições e algumas contra-indicações na questão das amigdalas; frita bem a necessidade aí de uma perfeita seleção dos casos. Cita os trabalhos de Crowe e mostra as vantagens do emprego das radiações, afim de prevenir o aparecimento daquele tipo de surdês tão bem estudado por êsse autor; é de opinião que os maus resultados obtidos com a radioterapia nas amigdalites agudas, decorrem apenas do emprego de uma técnica intempestiva e inadequada. Inclue também os processos inflamatórios favoravelmente influenciados pelos ráios X, as otites as mastoidites e as sinusites; mantém, contudo uma certa reserva quando os referidos processos se apresentam em uma forma aguda. Preconisa o emprego da radioterapia na tuberculose do Laringe, nas formas produtivas, e quando as lesões pulmonares tendem à latência ; assinala também a influência favorável no escleroma e nos portadores de bacilos da difteria. Dentre os tumores benignos cita a opinião de vários AA. sôbre a radiosensibilidade do fibroma naso-feringeano e os resultados obtidos. Quanto às neoplasias malignas, o A. se detem apenas ao cancer do laringe, fazendo considerações sôbre a questão terapêutica e resaltando a imperiosa necessidade de uma estreita colaboração entre o radioterapêuta e o otorinolaringologista, devendo o doente ser diariamente observado por êsse, afim de orientar eficazmente o tratamento, prevenindo os acidentes.

COMENTÁRIOS

Dr. Francisco Hartung. - Agradeceu antes de tudo a ótima lição dada pelo dr. Pagliuchi, e o elogia pela sinceridade com que apresentou o seu trabalho. Na primeira parte de sua conferência, que se refere à terapêutica, o dr. Pagliuchi se revelou como de fato o é, uma grande autoridade no assunto, entretanto na segunda parte da conferência, que tem um caráter eminentemente especialisado, há alguns pontos de divergência, o que também acontece na literatura. Um ponto culminante e de interesse geral, naturalmente à parte da questão, é o problema amigdaliano, onde há grande disparidade de idéias. A condição especial, para que a radioterapia dê resultados néstes casos, é de que as amígdalas, ou mesmo os órgãos linfóides de uma maneira geral, não tenha sido submetidos a nenhum processo infeccioso anterior. Isto acontecendo, naturalmente adviria daí uma fibrose, que dificultaria a acção dos ráios X. Entretanto, há aqui um círculo vicioso, pois a radioterapia é um fator que destróe os tecidos novos e portanto os tecidos fibrosos de néo-formação. A respeito da irradiação das amígdalas, temos alguma experiência principalmente em casos de tuberculose, quando não é aconselhável uma operação. Os resultados que temos tido, podem ser considerados como bom. O mesmo temos feito em casos de hemofilia, quando a intervenção cirúrgica deve ser afastada. Quanto à otite crônica, a estatística citada pelo A. de que um A. italiano tinha obtido 44 curas em 48 casos, achamos que estes resultados são por demais otimistas. Em relação à sinusite os meios medicamentosos que hoje dispomos, dispensam completamente a radio-terapia. Quanto à sinusite, os AA. que têm mais experiências do assunto, parece que são os americanos, e entre êles a impressão é de descrença com tendência a abandonar completamente êste processo de tratamento. Para terminar o nosso comentario, desejamos cumprimentar mais uma vês o dr. Pagliuchi, pelo seu brilhante trabalho, frizando ainda que as nossa palavras não constituem uma crítica ao seu trabalho, mas sim um conmentario, a êle.

Dr. Plínio de Mattos Barreto. - Nós que julgamos conhecer melhor o dr. Pagliuchi, nos achamos no dever de procurar explicar o que poderia parecer uma falta de modéstia e que não passa de uma perda e falta de exatidão de alguns temos empregados. O nosso amigo, quando não pôde usar as expressões matemáticas e a sua inseparavel régua de cálculos, costuma fazer destes enganos. Estou cérto de que quando ele disse que conhecíamos a fundo a questão do cancer da laringe, apenas queria dizer que estudavamos mais ésta questão e esqueceu-se de dizer que o fazemos em sua companhia. Quanto ao que disse a respeito do tratamento das amigdalites, julgamos que este processo realmente deve ter maiores "chances" nos casos de amigdalites hipertroficas. Quando o processo é crónico e o tecido linfóide foi em parte substituido por tecido fibroso, duvidamos que as pequenas doses empregadas possam melhorar a situação. Julgamos que convem frizar como questão da maior importância a necessidade de uma estreita colaboração entre os radioterapeutas e os diferentes especialistas. Isto é particularmente indispensavel no tratamento. dos tumores malignos, quando- a escolha dó tipo de irradiação depende da classificação histológica do tumor, da séde, das condições locais e condições gerais do paciente. Além disto a determinação das doses diarias e da dose total só poderá ser feita pelos exames repetidos e muito frequentes, que o especialista deve fazer em companhia do radioterapeuta. Com ele deve o especialista decidir sobre a necesidade de uma maior ou menor protração da dose; aumento ou diminuição do campo de irradiação; emprego dos meios físicos auxiliares para proteção da pele, tecidos sãos etc. Não deixará passar esta ocasião para cumprimentar o dr. Pagliuchi pela sua interessante palestra e agradecer, ainda outra vês, a colaboração eficiente que nunca tem deixado de nos prestar.

Dr. Matias Roxo Nobre. - Em todos os casos da terapêutica, as possibilidades de bons resultados, são sempre discutidas, mesmo nas indicações mais comuns. Chega-se as vezes a não saber, por,exemplo, se devemos ou não operar os apêndices, se devemos ou não operar as amígdalas, e, mesmo no terreno dos processos inflamatórios agudos, como em furúnculos, etc., nem sempre as opiniões são muito paralelas quanto à conduta cirúrgica. Penso que o dr. Pagliuchi, restringiu demais o valor de sua colaboração possoal na apresentação do seu trabalho, não levando em consideração a sua própria experiência por acha-la demasiado pequena. Na verdade uma casuística, por volta de 50 casos de uma observação pessoal, pode servir de base para conclusões de interesse. A respeito da indicação da radioterapia nas inflamações agudas, o nosso ponto de vista é diferente do apresentado pelo A. Achamos que nas otites agudas, por exemplo, a irradiação trás resultados benéficos do mesmo modo que nos furúnculos da face. Nas amigdalites, os casos crônicos com hipertrofia do tecido linfóide dão ótimos resultados com a irradiação, nas formas de anginas recidivantes antigas em que a esclerose se acentua gradativamente, ás indicações vão se restringindo.

Dr. José Matos Barreto. - Os estudos a respeito de tão importante questão não estão sistematizados entre nós. Em todos os trabalhos a respeito se nota um grande otimismo dos radioterapêutas, ao lado de um grande pessimismo dos otorrinolaringologistas, mas nunca uma colaboração entre os dois. Uma outra questão bastante importante, é a da afinidade do tecido glandular pelas radiações, e tivemos mesmo um caso, em que o doente além de não ter resultado com o tratamento, teve uma complicação manifestada por uma faringite dita atrófica, em virtude das irradiações. Nos casos agudos e sub-agudos, que dão forma linfogênica acentuadíssima, podemos muitas vezes confundir a reação glandular com um neoplasma. Em um dos nossos casos tratava-se de uma faringite sub-aguda recidivante em que foi aplicado os ráios X. O doente passou então a se queixar de uma dor de ouvidos para a qual nenhuma explicação objetiva pode ser dada. Trata-se ao que parece de uma complicação provocada pelas irradiações.

Dr. Gabriel Porto. - Acabamos de ouvir do dr. Pagliuchi, uma síntese bem organisada sobre a radioterapia profunda em otorrinolaringologia. A primeira parte do trabalho encerra conceitos de ordem geral, reveladores não só da sólida base científica da radioterapia profunda, como do seu futuro promissor. A segunda parte mais especialisada, apresenta interesse imediato para os otorrinolaringologistas, pois estuda a ação da radioterapia sobre as diversas moléstias que temos o dever de tratar. No que se refere aos processos inflamatórios, especialmente nos do faringe, o autor emitiu conceitos judiciosos que se acordam com a clínica e com a anatomia patológica, salientando a acção favorável da radioterapia nas hipertrofias simples e o seu insucesso nos processos de inflamação crônica com formação de fibrose. Quanto aos fibromas da rinofaringe, surpreende-nos o otimismo do dr. Pagliuchi; consideramos sempre tais tumores pouco sensíveis aos raios X. Também ao ontrário do que afirmou o orador, classificamos os verdadeiros fibromas da rino-faringe, de moléstia grave, pelas espoliações sanguíneas que determinam e pela elevada mortalidade operatória. Será pois com satisfação que os rinologistas enviarão tais doentes aos radioterapêutas. Com referência ao câncer do laringe julgamos que o valor do exame histopatológico para decidir da radiosensibilidade é praticamente nulo, embora reconheçamos que os tumores não diferenciados sejam os mais radiosensíveis. As circunstâncias clínicas nos obrigam nos casos suspeitos de câncer do laringe, a enviar ao laboratório fragmentos mínimos do tumor o que impossibilita ao histopatologista julgar com segurança do gráu de diferênciação celular. Ainda mais, nos carcinomas do laringe, encontram-se muitas vezes ao lado de zonas nitidamente diferenciadas outras indiferenciadas. Caso típico desta disposição neoplástica está publicada em nossa tese sobre "Cirurgia do câncer intrínseco do laringe".

Estranhei não ouvir no trabalho do dr. Pagliuchi referência ao tratamento radio-terápico da papilomatose do laringe e pediria ao distinto colega o obséquio de me informar sobre a possibilidade de aplicação de tal recurso em creanças de tenra idade. O trabalho do dr. Pagliuchi, completo como está, não deveria também deixar de assinalar a acção benéfica da radioterapia em certas hemopatias que se manifestam por certa sintomatologia do domínio da clínica oto-rino-laringológica. Com estas considerações desejamos agradecer ao distinto colega a excelente contribuição que trouxe à nossa secção e documentar a atenção e o interesse com que ouvimos tão abalizada palavra.
Dr. Carlos de Campos Pagliuchi. - Agradece a todos os comentários em torno do seu trabalho, que considera apenas destinado a intensificar a colaboração entre os radioterapeutas e os otorrinolaringologistas frizando ser o mesmo baseado somente na experiência em centros extrangeiros. Considera de suma importância a questão de se estabeleci bem se a radioterapia fracassou devido à existência já desse tecido fibroso. Quasi sempre o cirurgião acusa a fibrose provocada pelos raios X de lhe prejudicar as manobras operatórias, principalmente os descolamentos, em fazer notar o seu efeito útil, hemostático. Cita um caso observado com o prof. Bernardes de Oliveira, que praticou uma prostatectomia em um paciente irradiado anteriormente, e apezar de ser uma zona sobremodo vascularizada, a perda sanguínea foi insignificante. Chama a atenção para o insucesso decorrente de tratamentos intempestivos e inadequados, donde a necessidade de se deixar a prática da radioterapia reservada tão somente a médicos especialisados. Em relação à pergunta do dr. Gabriel Porto acha que a radioterapia pode ser utilisada na papilomatose do laringe, porém em doses suficientemente elevadas, sendo discutido ainda o gráu de influência que as radiações podem ter sóbre as cartilagens do laringe, em indivíduos jovens; a sua ação nociva, é bem demonstrada em relação às cartilagens de conjugação, determinando parada no crecimento ósseo. Quanto à questão do emprego de radioterapia ou da cirurgia no carcinoma do laringe, também é de opinião que a clínica é que dá as melhores indicações.

DILATADORES ELÁSTICOS PARA TRATAMENTO DAS ESTENOSES DO LARINGE E DO ESOFAGO.

Dr. Plínio de Matos Barreto.

COMENTÁRIOS:

DR. GABRIEL PORTO. - O dilatador apresentado pelo Dr. Plínio Matos Barreto é engenhoso e do ponto de vista teórico preenche todas as condições de êxito; estamos certos de que a experiência confirmará nossas esperanças. Seria interessante determinar o tempo que os pacientes suportam tais dilatadores.

DR. PLÍNIO DE MATOS BARRETO. - Agradece os comentários feitos em torno do seu trabalho.
Nada mais havendo a tratar, o sr. Presidente convida todos os membros da secção para a proxima reunião quando será eleita a nova diretoria para a gestão de 1942, e encerra a secção.

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