Versão Inglês

Ano:  1942  Vol. 10   Ed. 1  - Janeiro - Fevereiro - ()

Seção: Trabalhos Originais

Páginas: 91 a 103

 

Ozena (Rinite Atrófica Fétida) - METABOLISMO BASICO

Autor(es): Dr. Ernesto Moreira

METABOLISMO BASICO

Determinar o Metabolismo Básico, é determinar a quantidade de calor produzido por um organismo em seu mínimo de atividade fisiológica, isto é, estando o organismo em jejum, repouso e em equilíbrio térmico com o meio ambiente. Metabolismo significa troca, que no caso é representada por seu equivalente calórico (produção de calor); e básico significa mínimo, indispensavel à vida. Dai os sinonimos do metabolismo básico, tais como sejam: despesa energética mínima, despesa de fundo ; calorimetria.

O metabolismo básico é regulado no organismo pelo aparelho termo-regulador, que entra em jogo imediatamente, todas as vezes que o metabolismo básico é alterado, por causas fisiológicas ou patológicas.

Entre as causas fisiológicas que agem sobre o metabolismo ou produção de calor, as quatro mais importantes são:

1.º) Alimentação (razão pela qual a sua determinação tem que ser feita em jejum).
2.º) Exercícios musculares (determinação em repouso).
3.º) Estando o paciente em equilíbrio térmico com o meio ambiente, e por último a emoção (pacientes muito sensiveis ou nervosos podem exigir duas ou mais sessões, até que se habituem com a aparelhagem).

Métodos.
Os métodos usados para a determinação do Metabolismo são de duas ordens:
1.º) Pela calorimetria direta.
2.º) Pela calorimetria indireta; quer dizer pelo estudo das trocas respiratórias.

Trocas respiratórias.

Do primeiro método pouco se tem que falar, porque não é usado na prática. E' determinado o metabolismo neste método por meio dos calorímetros, aparelhos complicados, somente usados nas experiências de laboratório, sem nenhuma utilidade prática.

Os métodos universalmente aceitos e usados são aqueles que se baseiam no estudo das trocas respiratórias. São os métodos indiretos.

Determinar pelo estudo das trocas respiratórias, o metabolismo básico, equivale calcular o número de calorias produzidas no indivíduo pelo oxigênio consumido e C02 desprendido. Conhecendo-se, então, o valor calórico do oxigênio, isto é, qual o número de calorias produzidas pela queima de determinada quantidade de oxigênio e C02, sabe-se ipsofato qual o número de calorias produzidas por um indivíduo em determinado espaço de tempo.

Este método indireto divide-se em 2 grupos : circuito fechado e circuito aberto.

Nos aparelhos de circuito fechado o indivíduo respira oxigênio e é calculado no fim de certo tempo de prova, qual este consumo, inferindo dai o numero de calorias produzidas. Deste tipo são a maioria dos aparelhos usados.

De manejo muito simples, fornecem resultados suficientes para atender as necessidades da clínica diária ; não apresentam contudo a precisão dos aparelhos de circuito aberto que se baseiam na análise do ar expirado pelo indivíduo ; dosagem esta que exige de quem a faz maiores conhecimentos de laboratório e técnica adequada. Só usamos estes aparelhos, por serem universalmente reconhecidos, como os mais precisos.

Resultados obtidos - cifras normais.

O metabolismo é expresso em percentagem.

São considerados normais, os resultados compreendidos entre menos 10% e mais 10%.

Aplicações na prática

A maior aplicação do metabolismo básico refere-se a função da tireóide.

Desde MAGNUS LEVY em 1895, o metabolismo básico é um exame indispensavel para se julgar a tireoide. Tem ela a importância do termômetro para a febre. Distinguiremos o Hipertireoidismo e Hipotireoidismo.

Hipertireoidismo. - O metabolismo básico acha-se aumentado em taxas que variam de 15% a 100% ou mais. (Em 98% dos casos (segundo Du Bois, MEANS BURGESS, JANNEY e HENDERS) enquanto que a maioria dos autores como VAN NOORDEN, KROGH, LEVY, ZONDEK, BOOTHBY, MARAÑON, etc.) acha que esta percentagem é de 100% ; isto é, não há hipertireoidismo sem aumento de metabolismo básico.

O valor do Metabolismo pode ser de 3 ordens ;

1.º) Valor diagnóstico para casos de diagnóstico duvidoso.
2.º) Prova de tratamento para formas francas.
3.º) Valor prognóstico.

Pode-se julgar da seguinte maneira, de acordo com a opinião dos autores americanos
Casos ligeiros : 20 a 30%
Casos médios : 40 a 60%
Casos graves : 60 a 100% ou mais

Hipotireoidismo. - O metabolismo acha-se diminuido, embora as cifras obtidas não sejam tão elevadas. Em geral a diminuição não ultrapassa a -60% ; assim para a hipofunção tireoidea uma taxa de -15% já é mais positiva que uma taxa de +15% para o hipertireoidismo.

O valor do metabolismo básico tambem se refere ao diagnóstico, prognóstico e prova do tratamento.

Como meio diagnóstico nas formas monosintomáticas, o metabolismo básico é o meio mais seguro para se estabelecer o diagnóstico dos pacientes que apresentam edema sem outras causas, outras vezes, porém, trata-se de hipotensão ou sonolência.

Nos retardos de crescimento, NOBECOURT e JANET mostraram o interesse da medida do metabolismo basal que se mostra normal nos casos de hipotrofias e no infantilismo tipo LORRAIN e oferece ao contrário, uma diminuição típica no MIXEDEMA.

A opoterapia tireoidea eleva o metabolismo basal, como já notava MAGNUS-LEVY, ação esta que se inicia desde as primeiras semanas de tratamento e prossegue gradualmente. Em geral os mixedematosos toleram grandes doses de tireoidina, porem esta tolerância varia muito de indivíduo a indivíduo.

Para se atingir a dose ótima, o meio seguro é a determinação do metabolismo básico repetidamente em pequenos intervalos de tempo.

Hipófise. - O metabolismo básico aquí tem um valor relativo, como um dado subsidiário de certa importância, sobretudo na acromegalia onde a elevação é muito frequente. {As cifras encontradas são em geral de -}-10 a +300/c. No síndroma adiposo genital tambem há discreto aumento em média de +10 a +20%. No enanismo hipofisário é mais frequente a diminuição do metabolismo. As alterações do metabolismo básico nas moléstias hipofisárias são regidas pelo estado do hormônio tireotrófico desta glândula.

Perturbações ovarianas. - A importância do metabolismo básico é para este caso, de grande ajuda, pois embora exista uma correlação fixa entre esta glândula sexual feminina e a tireoide (isto é, diminuição ovárica - diminuição tireoidea e portanto metabolismo baixo) ; esta correlação muitas vezes inverte-se e só o metabolismo básico pode determina-Ia com certeza. E' importante nestas condições obedecer somente ao tratamento conjugado de ovario -tireoide, baseado nos dados obtidos pelo metabolismo básico.

Glândula suprarrenal. - De uma maneira geral os dados não são de um valor diagnóstico indiscutível ; a maioria dos autores teem encontrado para os portadores da moléstia de Addison uma diminuição de 10 a -30% ; estando provado experimentalmente que a adrenalina traz uma elevação do metabolismo basal de forma franca e passageira, ao contrário da tireoidina que age lenta e duradouramente. No hirsutismo, o metabolismo é normal ou apresenta ligeiro aumento.

Diabetes. - O valor do metabolismo basal é de natureza prognóstica. Nos casos de diabetes benigno o metabolismo é normal, apresentando-se aumentado até 40º/0 ou mais nos casos graves.

Obesidade. - O metabolismo básico serviu para destruir a teoria de BOUCHARD (retardo da nutrição), porque a sua determinação veiu demonstrar que há 3 variedades de obesidade :
1) Com o metabolismo diminuído (casos verdadeiros de myxedematosos, não obesos).
2) Com metabolismo básico normal (obesos constitucionais).
3) Com metabolismo básico aumentado com taxas de +20 a +30% em média; nestes casos o metabolismo aumentado é explicado pela super alimentação continua destes pacientes (Consumo de luxo de Liebig ou tambem chamado super-calor).

Afecções cutâneas. - Capitulo este, interessante e moderno, por ter sido posta em evidência a relação entre algumas manifestações da pele e as perturbações endócrinas.

Pelada. - Exceptuando-se aquelas causadas por agentes etiológicos conhecidos, como os parasitários, a maioria das peladas se caracteriza por uma nítida modificação do metabolismo básico por suas relações com a tireoide e glândulas endócrinas ; 80% das peladas chamadas nervosas são acompanhadas de um aumento nítido do metabolismo básico. As cifras frequentemente encontradas são de +30 a +50%. Em 15% destes casos o metabolismo apresenta-se baixo (10 a -30%) e somente em 5% ele se apresentaria normal.

Vitiligo. - É outra manifestação mórbida ligada intimamente a tireoide. Na grande maioria dos casos, aumentos francos do metabolismo básico algumas vezes diminuição, raramente normal.

Tuberculose pulmonar e metabolismo básico. - Problema de árdua resolução, frequentemente apresenta elevação do metabolismo por 3 razões

1.º) Produzida pela febre (cada grau de febre produz aumento de 10%).
2.º) Por uma tireoidite tuberculosa (Causa tóxica).
3.º) Moléstia de Basedow com complicação frequente na tuberculose pulmonar.

Outra questão interessante seria estudar as relações entre a asma e o metabolismo básico: estas relações teem sido estudadas por numerosos autores, sendo em geral encontrados metabolismos elevados, e mais elevados ainda no periodo dos acessos.

Afecções renais. - Na nefrose lipóidica é típica a diminuição da taxa metabólica, atingindo, às vezes de -40% até 60%. Serve aqui o metabolismo como nas demais afecções em que ele se apresenta típico, para diagnóstico e prova de tratamento.

Leucemias. - Ainda devemos nos lembrar das leucemias, muito embóra esta entidade morbida apresente pelo quadro hematológico um nítido diagnóstico e prognóstico. O metabolismo básico apresenta-se fortemente aumentado nessas afecções em cifras que vão até +100%. Questão delicada de se resolver, o motivo de tão elevada taxa. Opinam os autores que mais estudaram a questão, ser devido à destruição globular intensa, fazendo com que quasi toda a produção de calor do paciente, seja devida à queima de proteicos, de desintegração, nada tendo, portanto a ver com a tireoide.

DETERMINAÇÃO DO METABOLISMO BÁSICO

No Departamento de Fisiologia da Faculdade de Medicina foi determinado o metabolismo básico de 126 doentes, empregando o método gráfico de BENEDICT-ROTH e calculando o total de calorias, por metro quadrado da superfície do corpo, e por hora em função do consumo do oxigênio. Utilizando o padrão AUB-DU Bois os seguintes dados foram obtidos, classificando os casos segundo os desvios metabólicos e de acordo com o sexo.





Como se vê desde logo, houve nítida predominância de desvio para mais. Enquanto em 107 casos (84,9% do total) o metabolismo mostrou-se aumentado, somente em 19 casos (15%) apareceu diminuido. Como é de praxe considerar como fisiológicas as oscilações de 10%, passaremos a raciocinar somente com os casos situados alem e aquem desses limites. O seguinte quadro mostra que continua a predominar o desvio para o lado positivo.





Em um total de 126 casos foram obtidas oscilações de 26,1 e 31,7% para os desvios positivos e 3,1 e 1,6% para os desvios negativos. Reunindo, finalmente, essas parcelas, teremos
Casos em que o metabolismo básico sofreu desvio positivo - 57,8%
Caso em que o metabolismo básico sofreu desvio negativo - 4,7%


CONCLUSÃO

Como entre os fatores que condicionam a despeza energética o endocrínico ocupa o primeiro lugar e, como foram convenientemente afastados os outros (oscilações de temperatura, atividade muscular, ação específico dinâmica) é possivel, pelos resultados obtidos, admitir, provisoriamente a sua cooperação na etiopatogenia da rinite atrófica. E como entre as glândulas endócrinas é a tireoide a que mais poderosamente atua sobre as trocas metabólicas, acreditamos que para ela devemos orientar as nossas pesquizas, com o intuito de esclarecermos os resultados obtidos.

No ambulatório da Santa Casa foram executados os exames de metabolismo básico em uma porção consideravel dos enfermos que constituem esta estatística.

Análise. - "Aristoteles, filão inesgotavel de quasi todos os .conhecimentos científicos modernos, já entrevia a noção do mecanismo das glândulas de secreção interna. Com CLAUDE BERNARD, a fisiologia experimental havia de dominar as ciências biológicas no século XIX. Preparava-se então a técnica que levaria BROWN SEQUARD, a dar corpo àquela teoria. E', hoje domínio pacífico da fisiologia, esse em que se reconhece o poder de certas glândulas animais de secretarem substâncias químicas específicas que agem sobre determinados orgãos, regulando suas funções, e seu desenvolvimento. Resurgem à nova luz as concepções dos humores". As mais nobres funções da economia humana, em sua base fisiológica, são reguladas por glândulas cujo produto de secreção se representa em proporções outrora imperceptiveis aos processos de investigação. A ação de tais elementos artificialmente provocada, reintegra os orgãos na normalidade, por processos curativos, cirúrgicos ou medicamentosos, restaura a função alterada ou desperta-a quando adormecida. A opinião critica tumultuosa, precipitada, claudicante pela deficiência de análise e observação tem variado sempre ao definir este ou aquele estado hígido de determinado orgão, entre os arroubos de exaltação optimista e os libelos de um pessimismo fulminante. Para certos autores o aumento do metabolismo básico, prevê para a glândula tireoide os liames coordenadores entre a .ozena e esta glândula. Outros admitem uma conclusão em sentido contrário, isto é, a diminuição do equilíbrio metabólico. O professor MOURA CAMPOS, em suas conclusões refere "como entre os fatores que condicionam a despesa energética, o endocrínico ocupa o primeiro lugar, e, como foram convenientemente afastados os outros (oscilações de temperatura, atividade muscular, ação especificodinâmica) é possivel, pelos resultados obtidos, admitir provisoriamente a sua cooperação na patogenia da rinite atrófica fétida. E, como entre as glândulas endócrinas é a tireoide a que mais poderosamente atua sobre as trocas metabólicas, acreditamos que para ela devemos orientar as nossas pesquisas, com o intuito de esclarecermos os resultados obtidos". Esta, a opinião do fisiologista segundo sua verificação. O especialista em endocrinologia diz-nos : "manda-nos a verdade dizer-vos, que no acervo de nosso tirocínio clínico, surpreende-nos no grande número de endocrinopatas, por nós já examinados, não havermos encontrado jamais um caso de ozena. Por outro lado, os portadores".

desta moléstia que temos examinado já acidentalmente em consultas, já no exame preoperatório, não verificamos elementos clínicos suficientes para nos convencer das ligações originarias da ozena com a endocrinologia. Em súmula, os progressos da ciência moderna não alteram a visão dos grandes pesquisadores. Palmilhamos ainda terreno movediço no capitulo da endocrinologia. Em abono desta asserção, o campo da evidenciação prática nos mostra as vantagens da cirurgia praticada em pacientes cujo metabolismo básico era desconhecido. Estão neste cômputo os enfermos operados desde 1923 até 1938. O êxito cirúrgico perfeitamente equivalente aos que se submeteram aos exames endocrinológicos e respectivo tratamento. Esta tese apoia-se ainda em base cientifica insustentavel.


OZENA E AVITAMINOSE

RANDOIN e SIMONET definiram as vitaminas como sendo princípios que o organismo não pode elaborar por si mesmo e que em doses infinitisimais são indispensaveis ao desenvolvimento, manutenção e funcionamento normal do organismo e cuja falta. determina perturbações e lesões características.

Classificação das vitaminas. - O desconhecimento da composição química da maioria das vitaminas torna impossivel adotar-se um critério químico para sua classificação, o que seria mais cientifico e racional. No entanto, de acordo com a Segunda Conferência Internacional para estudo e classificação das vitaminas, reunida em Londres, 1934, adotou-se as primeiras letras do alfabeto para designar as diferentes vitaminas até então conhecidas. Em resumo, a classificação predominante hoje em dia é a seguinte :.

Vitamina A - antixeroftálmica

vitamina B1 - fator antineurótico (termolabil)

Complexo B -

Vitamina B2 - (fator antipelagroso, antidermatitico (termoestável)).

Vitamina C - antiescorbútica.

Vitamina D - antiraquítica.

Vitamina E -da fecundação.

FRANK propôs reunir sob o nome de vitasterois ou vitasterinas: fatores liposoluveis que não contem azoto, reservando o termo de vitaminas propriamente ditas para os que contem azoto e que se decompõem pela ação dos ácidos. Assim teremos

Vitasterois ou vistasterinas - A e E.

Vitaminas propriamente ditas - B, C e D.

Em 1931, ADOLF GLASSCHEIB publicou, no Monatschrift Ohrenheilkunde, uma série de artigos nos quais aprofundou, analisou e discutiu tudo quanto se tinha realizado, até aquela época, sobre estudos referentes à etiologia, patogenia e terapêutica da rinite atrófica fétida.

Das teorias que procuram explicar a moléstia : a infecciosa, a trofoneurótica a endocrinicosimpática, a constitucional ou nativista, a dos cornetos, etc., defende a da avitaminose.

E' de importância o conhecimento da histologia da ozena para compreensão da idéia do autor.

Na ozena encontra-se uma metaplasia do epitélio que pode chegar à corneificação do mesmo, infiltrado celular gorduroso degenerado, que será substituido posteriormente por tecido conjuntivo faciculado; degeneração gordurosa das células glandulares; hialinização e destruição das fibras conjuntivas, tanto nos tecidos, como nas paredes vasculares, sobretudo das veias e capilares e em menor grau nas artérias ; osteite rarefaciante que conduz à atrofia óssea.

Não nos referiremos a teorias outras que a da avitaminose, de que trata este capitulo.

Em que fatos é ela baseada?

No de provir a ozena já desde a primeira infância, e mesmo ainda na fase fetal da vida, da falta das vitaminas A e D nos alimentos recebidos. Esta falta produz a atrofia da mucosa nasal, faringea, assim como a atrofia ou seja hipoplasia das glândulas de secreção interna ou externa. Esta hipofunção só se tornará manifesta na época em que as glândulas endócrinas aumentem sua ação, isto é, no periodo prepúbere. A alcalose consequente, causando a diminuição de resistência dos tecidos, auxilia a pululação de grande variedade de micróbios que vivem na fossa nasal. A metaplasia epitelial característica da avitaminose A e D juntamente com a esfoliação do epitélio córneo produz a formação de crostas e mau cheiro. A alcalose justifica ainda o aparecimento da moléstia nas famílias, recaindo sobretudo nas pessoas do sexo feminino que são portadoras de um sistema de secreção interna mais labil que os homens. A sua existência mais frequente nas populações pobres, é devida a deficiência de vitaminas nos alimentos.

Que é vitamina e que é avitaminose? A vitamina tambem denominada nutramina, completina, é um fator acessório da alimentação. E' uma substância que completa a eficiência de um regimen equilibrado. A única analogia que ela possue com os hormônios é o caracter microscópico de suas doses ativas. Separam-se, no entretanto, por completo, devido a seu modo de agir, suas qualidades e seus efeitos. Há quem tenha denominado as vitaminas, de hormônios externos.

Ao otorrinolaringologista interessam as vitaminas A, D, B e C. Aquí só daremos ao de leve a ação sobre as vias aéreas superiores das vitaminas A e D, pois parecem ser elas, ou sua deficiência no organismo, que ocasiona a ozena ; senão vejamos.

Vitamina A. - A deficiência da vitamina A, produz a metaplasia do epitélio da mucosa nasal, transformando-o de cilíndrico em escamoso estratificado, de tipo queratinizante. Com esta transformação, sobrevirá, mais cedo ou mais tarde, a infecção. Esta metaplasia é idêntica a que se processa em outras regiões do organismo : vias aéreas, olhos, glândulas salivares e aparelho genito-urinário ; por consequência poder-se-a dizer que a vitamina A constitue uma necessidade biológica para certos epitélios. A metaplasia e a hiperplasia do epitélio são as unicas reações específicas do tecido. A deficiência da vitamina A, dará em resultado a inflamação. A avitaminose A nos animais e no homem é caracterisada pela xeroftalmia, sendo, no entanto, observadas conjuntamente outras modificações para o lado do território da otorrinolaringologia, consequentes da deficiência desta vitamina ; assim, as sinusites supuradas, as otites supuradas e os abcessos das glândulas salivares. Os corrimentos nasais, as dores de garganta, a anosmia e perturbações auditivas, são os sintomas mais comuns. À disfagia seguem-se os abcessos das glândulas salivares que aumentam a deficiência nutritiva. A anosmia é causada por uma metaplasia do epitélio olfativo. A afonia pela secura da faringe, da boca e da laringe.

A insuficiência da vitamina A, nas criancinhas, não somente abaixa a resistência às infecções nesta época, mas esta tendência continua até os 10 ou 12 anos de idade, mesmo que a dieta subsequente seja corrigida. Assim a propensão aos resfriados, às sinusites e às otites continua a existir.

Muitos observadores estão convencidos que a insuficiência da vitamina A é um elemento que não deve permanecer ignorado nos resfriados comuns, e nas sinusites da infância. Outros existem que a consideram de grande importância etio16gica na rinite atrófica, na faringite atrófica e na rinite vaso motora dos velhos.

Uma diminuição das defesas locais, num organismo de boa resistência geral, as infecções seriam causadas pela avitaminose A. O valor, por conseguinte, da vitamina A na prevenção das infecções, consiste num aumento da capacidade da resistência local à invasão bacteriana.

E' o leite, de vacas criadas nos campos, que maior teor de vitaminas A possue.

A ação indireta da vitamina A, como excitante dos hormônios de varias glândulas endócrinas, parece possuir real valor na engrenagem da intercorrelação glandular, favorecendo ou fazendo desaparecer pela sua ausência, as funções regulares destes hormônios. Assim no pâncreas a padutina, descoberta por FREY e KRAUT, é um de seus hormônios, com ação especial, sobre a dilatação dos capilares sanguíneos, e cuja ausência na circulação terá como consequência a contração vascular e a esclerose consequente que se poderá processar na mucosa nasal. Nem todas as glândulas de secreção interna serão perturbadas em suas funções, mas, entre elas, se destacam, em particular, três grupos : o hipofisário, sobretudo a hipersecreção do lobo posterior, por sua elevada propriedade de retenção de agua e contração dos vasos sanguíneos ; o tireoideo, por sua hipofunção que aumenta tambem a retenção de agua (hipofunção do simpático), os ovarianos secundários, que pela falta de colesterina e diminuição dos traços de oxigênio podem explicar o mecanismo da ozena.

A ozena é mais encontradiça nas classes pobres do que nas abastadas, devido a carência de vitaminas A e D contidas na manteiga, ovos e leite, alimentos estes pouco acessiveis àquela classe. Outras vezes a repulsa ou a substituição destes alimentos por gorduras, que não contem vitaminas A e D pode tambem ser a causa.

Então porque é a ozena observada em famílias desde a infância? A carência das vitaminas A e D foi observada, mesmo no féto, por JOHN MACKENZIE, quando a mãe era hipoalimentada de manteiga, ovos, leite, etc., e super alimentada de vegetais que não continham suficiente vitamina A. Tambem crianças, nascidas em meios sociais elevados, em que as mães, por questão de elegância abstinham-se de alimentos vitamínicos, transmitiam a seus filhinhos a carência de vitaminas A e D.

Muitos autores consideram a vitamina A como antiinfecciosa. Assim existem na cavidade nasal, bactérias que aí vivem como saprofitas, mas que em um dado momento, ou por sua quantidade, ou qualidade podem se tornar patógenas. Para que isto aconteça é preciso que. o terreno seja preparado. A doutrina conhecida de HERMANNSDORFER, de que a reação alcalina dos tecidos ocasiona nas feridas forte aumento de bacilos acompanhada de fetidez da secreção, não seria dificil de ser transportada às reações nasais características do quadro da ozena.

A inclinação do Ph do sangue para o lado alcalino favorecerá o desenvolvimento de bactérias no organismo. A falta de vitamina A no organismo, segundo GLASSCHRIB, favoreceria esta circunstância, produzindo edema dos cornetos, transudatos nas cavidades anexas, secreção muco-purulenta e bacilose. GLASSCHEIB denomina este estado de "alcalose da mucosa nasal". Assim, mais tarde, quando se manifestar a atrofia dos tecidos, este estado hipertr6fico retrocederá e a avitaminose aparecerá em primeira plana. Segundo este autor a ação dessas bactérias é secundária, pois que elas vivem nas cavidades nasais como saprofitas. Segundo CODY existem no homem dois tipos de deficiência de vitamina A : o direto e o latente. 0 primeiro é visto nos pacientes portadores de xeroftalmia, descargas catarrais e afonia, que recebem insuficientemente, durante semanas, a vitamina A. E' geralmente a fome a causadora destes males, e, em alguns casos, a deficiência de manteiga na alimentação. Em ratos com avitaminose A, desenvolve-se no epitélio nasal, reações inflamatórias acompanhadas de metaplasia e que precedem as manifestações oculares. Estas para o lado dos olhos restabelecem-se logo, porem as da mucosa nasal progridem. 0 tipo latente é encontrado, quando os sintomas nasais de avitaminose existem sem outra indicação. Esta condição apresenta os mesmos sintomas que os causados por uma infecção. As crianças são mais sujeitas às deficiências, e, os americanos do norte pensam que a falta da vitamina A, não deverá ser esquecida, por ocasião dos defluxos e das sinusites. Autores existem, que a consideram como fator etiológico de importância na rinite atrófica, na faringite atrófica e na rinite vaso motora dos velhos. E' geralmente aceita a idéia de que, embora, permanecendo intacta a resistência do organismo às infecções, pela deficiência da vitamina A, existe uma diminuição da defeza local. Seu valor consiste, pois, na sua capacidade de aumento de resistência local à invasão bacteriana. A vitamina, D, entre outros característicos, controla os constituintes minerais do osso. 0 raquitismo será a consequência de sua deficiência. Como um resultado tardio da avitaminose A é sabido, pela experimentação em ratos, que a mucosa nasal exige muito maior tempo para se restabelecer dela do que a mucosa ocular. E' possivel o desaparecimento da metaplasia, mas, o epitélio não se normalizará. A consequência deste fato, é que a deficiência da vitamina A, na infância e logo ao nascer, afetará a mucosa nasal por muitos anos. A anosmia, o catarro purulento e espesso, aderente a uma mucosa atrófica, a atrofia dos cornetos e um desenvolvimento inferior ao normal serão os sintomas. E' um síndroma característico de uma rinite atrófica sem cheiro, na criança.

Diz CODY : "que o estado de avitaminose, como um fator etiológico da rinite atrófica, deve ser mantido sub judice, por enquanto".

Existem numerosos fatores falando sobre a existência desta deficiência, como causa favoravel da rinite atrófica e que não podem ser ignorados, mas, eles não são bastante conclusivos pelas provas que apresentam.

Assim : anosmia ; catarro nasal muco purulento crônico ; crostas na faringe ; mucosa atrófica com epitélio escamoso extratificado ; fibroblastos ; células redondas ; leucocitos ; espessamento das paredes vasculares no sub epitélio e cornetos atróficos, foram encontrados em ratos convalescentes de avitaminose.



Fig. 1 - Cultura de material colhido antes e depois de lavar a cavidade com solução fisiológica.



Fig. 2 - Encapsulados evidenciados pelo método da tinta da China. X 1.800.



Estes fatos são idênticos aos da rinite atrófica. A observação comparada entre os pacientes examinados na clínica hospitalar e na particular, sugere, tambem, a idéia da inexistência de uma dieta adequada. De outro lado, se a avitaminose é a causa da moléstia, a idade do aparecimento desta deveria ser na primeira infância e não na meninice ou na idade adulta, como se dá comumente. Tudo indica que a deficiência observada na criança não continua na puberdade. O cheiro da ozena nunca foi observado no rato. Entretanto, se tivermos em conta a asserção que muitas pessoas são grandemente susceptiveis à carência vitamínica, a avitaminose como causa da rinite atrófica tem sua razão de ser. Quais as conclusões a que podemos chegar, quanto ao efeito da vitamina A, sobre as vias aéreas superiores ?

1.º) A nutrição da mucosa nasal, da mucosa traqueial e auditiva é mantida pela vitamina A
2.º) A metaplasia e as perturbações inflamatórias desta região podem ser curadas ou melhoradas, por uma dieta normal de vitamina A ;
3.º) A vitamina A parece aumentar a resistência às infecções das vias aéreas superiores, das crianças;
4.º) A vitamina A melhora a nutrição da mucosa das vias aéreas superiores nas infecções agudas e crônicas ;
5.º) como a avitaminose A pode ser o fator etiológico da rinite atrófica, novos estudos devem ser feitos a este respeito.

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