Ano: 1938 Vol. 6 Ed. 2 - Março - Abril - (5º)
Seção: Associações Científicas
Páginas: 153 a 158
ASSOCIAÇÕES CIENTIFICAS
Autor(es): -
SECÇÃO DE OTO-RINO-LARINGOLOGIA DA ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA
Reunião de 18 de Outubro de 1937
Presidida pelo Dr. Francisco Hartung secretariada pelos Drs. Paula Assis e Ribeiro dos Santos, tendo feito parte da mesa o Dr. Pedro de Alcantara ,realizou-se no dia 18 de Outubro de 1937, uma reunião da Secção de Oto-rino-laringologia da Associação Paulista de Medicina.
Da ordem do dia constaram os seguintes trabalhos:
TRATAMENTO RADIOTERAPICO DOS TUMORES MALIGNOS DAS VIAS AEREAS E DIGESTIVAS SUPERIORES - Drs. A. Livramento Barreto e Plinio de Matos Barreto.
Os AA. em cumprimento á promessa feita tempos atraz, de trazer ao conhecimento da casa todos os casos de cancer por eles tratados, apresentam cinco de suas observações. As observações de todos os casos estavam fartamente documentadas por exames histologicos e radiograficos. As cuidadosas observações clinicas destes casos demonstraram como eram precarias as condições gerais de quasi todos os pacientes, quando eles iniciaram o tratamento. Os tumores nos casos apresentados tinham as seguintes localizações: Cancer do laringe, 3 casos. Cancer do cavum, com invasão da base do craneo e etmoide posterior, 1 caso. Cancer da base da lingua, 1 caso. Em todos os casos foram muito satisfatorios os resultados imediatos obtidos. Os AA. preferiram não discorrer sobre detalhes técnicos do tratamento, referindo apenas que o processo usado fôra segundo o metodo "protraído e fraccionado" (Cóutard). Com as presentes observações os AA. procuraram demonstrar as vantagens, e a necessidade mesmo, de uma estreita cooperação dos oto-rino-laringologistas com os radioterapeutas.
Comentarios:
Dr. Pagliucchi: A excelente comunicação dos AA. tem um merito extraordinario e vem mostrar que já estamos em S. Paulo aparelhados para a radioterapia do cancer da laringe. Deseja apenas fazer uma restricção que é a de não lhe lhe parecer muito logica a associação das ondas curtas na radioterapia, pois si tem um efeito analgesico, não deixam tambem de constituir um estimulo ao néo-plasma.
Dr. Ribeiro dos Santos: Quanto á questão da dor num caso de cancer da laringe, propoz simpatectomia periarterial, tendo desaparecido as dores e a cefaléa e a evolução do tumor retardou-se bastante. Um outro caso sem metastases, tambem praticada a simpatectomia pariarterial, tendo desaparecido o elemento dor. No mais quer felicitar os AA. por tão interessante comunicação.
Dr. F. Hartung: Felicita o A. pelo seu esforço e entusiasmo e pela orientação que vem imprimindo á radioterapia de S. Paulo.
Dr. Plinio M. Barreto: Evitamos tocar em assuntos técnicos. Aqui tão sómente relatamos os resultados clinicos; quanto aos dados técnicos que interessariam mais de perto aos colegas radioterapeutas, poderemos estudal-os conjuntamente o que seria de grande interesse para nós.
Além do trabalho acima o dr. Vicente Lara apresentou uma comunicação sobre:
PERDA DE FOLEGO, cujo resumo não foi conseguido do autor. Em seguida foi encerrada a reunião.
Reunião de 17 de Novembro de 1937
Presidida pelo dr. Francisco Hartung, secretariada pelos drs. Paula Assis e Ribeiro dos Santos, realizou-se no dia 17 de novembro de 1937, uma reunião da Secção de Oto-rino-laringologia da Associação Paulista de Medicina.
No expediente, o dr. Guedes de Melo Filho, informou á Casa que, tendo idealizado a construção de uma mesa que atende ao seu vêr, a todas as necessidades para o exame do doente, apresentava fotografias da mesma, por causa do valor pratico que pode ter e submete-la á apreciação dos colegas.
Da ordem do dia constaram os seguintes trabalhos:
SEGUNDA CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DAS MASTOIDES COMPACTAS - Dr. Ribeiro dos Santos.
Resumidamente o autor disse que dos ossos petroso e escamoso do feto sae o tecido osseo esponjoso fetal. Quando pelos motivos mencionados na 1.2 comunicação este fica sob excesso de pressão, evolue para tecidos osseo compacto a mastoide que eburnea. O tecido osseo compacto é pobre em osteoclastos. Na mastoide compacta, pela pobreza em osteoclastos, fica prejudicada a reabsorpção ossea, primeira condição mastoidea para a formação das cavidades annexas. Não havendo formação de cavidade a mucosa da caixa não tem onde se insinuar e o seu desenvolvimento não progride. No trabalho mostra a formação da caixa do timpano e cavidade anexas. Reputa ainda a theoria da pneumatizacão de Wittmaack.
Comentarios:
Dr. Francisco Hartung: O A., com o seu espirito altamente cientifico, demonstra sempre uma curiosidade insaciavel de inquirir as verdadeiras causas, merecendo pois de nós todos os nossos aplausos.
Em seguida foi encerrada a reunião.
Reunião de 17 de Dezembro de 1937
Presidida pelo dr. Francisco Hartung, secretariada pelos drs. Ernesto Moreira (ad hoc) e Rezende Barbosa (ad hoc), realizou se no dia 1 7 de dezembro de 1937, uma reunão da Secção de Oto-rimo-laringologia da Associação Paulista de Medicina.
Expediente:
Dr. Mangabeira Albernaz: Referiu que a acta da reunião de 17 de julho, publicada na Revista da Associação, não traz na integra os comentarios que proferiu, mas sómente aqueles pronunciados pelo dr. Ribeiro dos Santos, comentarios esses que embora muito justos, estavam longe de serem irrespondiveis e pediu á mesa uma explicação do ocorrido.
Dr. Francisco Hartung: Não houve por parte da mesa responsabilidade alguma e o acontecimento que deploramos, deve ter sido mais de origem taquigrafica, acidente ocasional e possivelmente ao dr. Mangabeira Albernaz não foram enviados os comentarios que pronunciou para a devida revisão, pelo fáto de residir fóra de S. Paulo.
Em seguida foi realizada a eleição da mesa que orientará os trabalhos da Secção durante o armo de 1938, cujo resultado foi o seguinte:
Para Presidente:
Dr. Mangabeira Albernaz .... 7 votos
Dr. Homero Cordeiro .......... 1 voto Para 1:° Secretario:
Dr. Camargo Penteado ......... 8 votos Para 2.o Secretario
Dr. Angelo Mazza ................ 8 votos
Ordem do dia:
ESTRABISMO E ADENOIDES - Dr. Paulo Mangabeira Albernaz.
Apresentação do caso de um menino estrábico havia mais de 5 anos, em uso de vidros correctores, em que o estrabismo era intenso, mas não estava em relação com o defeito visual (hipermetropia de mais e astigmatismo discreto). Apesar disso, o estrabismo manifestava-se imediatamente após a retirada dos oculos. Com a raspagem de adenoides e a ablação das amígdalas, o estrabismo desapareceu imediatamente e não mais se manifestou (mais de. um ano de observação). Poppi acentua esta relação entre o estrabismo e as adenoides, mas nos seus casos a cura se verificou mezes depois da intervenção. Para este A., o estrabismo funcional resulta de um obstaculo a fusão normal das imagens maculares dos dois globos. Parece que o estrabismo decorre simultaneamente de varias causas. No caso referido é indiscutível a acção do defeito visual, visto como os oculos o corrigiam. Mas é inegavel a acção das adenoides, pois, uma vez eliminadas,, o estrabismo não mais se manifestou. O A. chama a atenção para este caso por ser esta relação entre as adenoides e éstrabismo muito pouco conhecida, não só dos rino-laringologistas, como dos oculistas.
Comentários:
Dr. Hartung: Referiu que comentar cientificamente o trabalho do A. não é facil, porquanto se trata de um assunto vago e o melhor modo e nos manifestar sobre o trabalho é o de nos reportar á unanimidade obtida na eleição da mesa efectuada ha pouco e não fora as intemperies de hoje teria a eleição uma significação maior. Pensa que a correlação ventilada pelo A. dá margem á muita inovação e progresso, bastando lembrar o que se passou entre o problema focal, sinusal e á patologia oftalmologica. Anos atraz estabeleceu-se uma relação de causa e efeito entre a nevrite retrobulbar, a patologia do esfenoide e do etmoide, enthusiasmo esse que foi seguido de desanimo, surgindo a esclerose em placas. Refere estar com um caso de embolia da arteria da retina que acidentalmente melhorou com a operação de Caldwell-Luc, feita ha 4 dias e que espera submete-lo á apreciação do dr. Mangabeira.
Dr. Mangabeira: Agradeceu as palavras que lhe foram dirigidas.
QUIMIOTERAPIA DAS INFECÇOES ESTREPTOCOCICAS EM OTO-BINO-LARINGOLOGIA - Dr. Homero Cordeiro.
Trabalho publicado na Revista Oto-Laringologica de S.
Comentarios:
Dr. Gabriel Porto: O A. abordou um assunto de plena atualidade e devemos declarar que temos aplicado o Prontosil em nossa clinica de Campinas nos casos indicados e embora não tenhamos um juizo definitivo sobre o medicamento, temos entretanto uma impressão muito favoravel. Num caso de erisipela, num de oto-mastoidite aguda e por ultimo num caso de miningite que ainda está em tratamento, meningite que sobreveiu a uma mastoidectomia, sem exposição da dura-mater, e que foi tratada com o Ptontosil, estando a meningite em plena evolução para a cura, podendo pois o doente ser considerado curado. São esses os 3 casos que me deram uma impressão muito favoravel sobre o medicamento, observações que podem se sobrepor ás do dr. Homero Cordeiro.
Dr. Mangabeira Albernaz: Tenho empregado o Prontosil com relativa abundancia e minha impressão sobre o medicamento é desfavoravel; apesar disso, preciso dizer que tenho tido casos brilhantes e justificarei já o porque. O 1.° caso onde empreguei o Prontosil foi um caso pessimo, que não devia ser operado, onde foi praticado uma operação larga que redundou numa meningoencefalite, e nesse caso o Prontosil não produziu nenhum resultado. Um caso de erisipela no nariz foi curado pelo Prontosil, mas pela minha estatistica sou obrigado a concluir que a erisipela da face entre nós não tem a gravidade que tem no extrangeiro como bem disse o dr. Homero Cordeiro. Penso não seja aconselhavel usar um remedio mais caro, quando podemos nos recorrer de outros, mais baratos, indicados em determinados casos e tenho conseguido com o Propidon resultados que não consegui com o Prontosil. Um caso que acompanhei, um doente de 54 anos, que se encontrava em estado de coma, levado para o Hospital foi-lhe feito uma puncção, tendo saído um liquido purulento, com grande quantidade de germens, constataveis ao simples exame diráto e que tratado pelo Prontosil, teve alta. Nessa mesma epoca tivemos mais dois casos de meningite, de natureza estreptocócica e nos quais esse medicamento nada produziu, vindo a falecer os dois pacientes. Sobre essa questão do Prontosil, devemos chamar a atenção para o seguinte, de que ha uma mania de se receitar esse medicamento como se receita aspirina, mas esse remedio não é uma panacéa e devemos pois nos servir dele, quando nos casos indicados.
Dr. Rezende Barbosa: Referiu o trabalho de um A. inglês, onde ele publica 45 casos de erisipela na face, curados pelo Prontosil. Referiu tambem estar observando um cano de erisipela dá clinica do dr. Mario Ottoni de Rezende, em tratamento pelo Prontosil e onde a temperatura permanece em 39° ha dias. O assunto que muito bem foi ventilado pelo A., foi, trazido em boa hora e como bem disse o dr. Mangabeira Albernaz, o Prontosil está se tornando uma panacéa quando entretanto tem suas aplicações precisas, comprovadas experimentalmente. Deseja ainda lembrar que 2 ultimos trabalhos recem-aparecidos, vem estudando um corante azoico, muito mais toxico, pretenso substituto do Prontosil atual.
Dr. Roberto Oliva: O Prontosil não tem indicações tão restrictas como se está discutindo. Tenho informações de cura de outras afecções que não estreptocócicas, sendo que ha pouco tempo o dr. Arí Siqueira trouxe a uma das reuniões da Associação, na Secção de Urologia, um trabalho estatistico sobre a terapeutica da blenorragía por meio da sulfanilamida, quer dizer pelo Prontosil ou similares. Pelo dr. Lucas Assumpção me foram referidas curas de meningite cerebro-espinhal e penso pois que devemos dilatar o campo da aplicação do Prontosil e não trilhar por um caminho estreito, para assim podermos então elaborar uma estatistica da aplicação do Prontosil. Quanto ao custo esse tende a diminuir e o mesmo se passou com o 914 que inicialmente era caro e hoje é de custo acessivel a quasi todos. Quanto á erisipela da face, ela é tão benigna entre nós como no extrangeiro e compulsando livros, como o dr. Trousseau, veremos escrito que é uma molestia ciclica que com ou sem tratamento se cura.
Dr. Homero Cordeiro: Referiu que na Alemanha a erisipela do cordão umbilical entre os lactentes é tida como muito grave.
Dr. Gabriel Porto: Deseja referir a existencia do soro de Vincent que está sendo fabricado pelo Laboratorio Raul Leite, o qual não tem sido. usado entre nós e seria interessante experimental-o.
Dr. Rubens de Brito: Sou admirador do Prontosil e tenho casos que reputo de interessantes: um de otite média aguda, onde a indicação operatoria era inadiavel e empregando-se esse sal o resultado foi que a febre cedeu. Atualmente uma otite colesteatomatosa operada e medicada pelo Rubiazol está em vias de cura. Por esses casos e por tudo que acabamos de ouvir, sou inclinado a crer na eficiencia desses preparados.
Dr. Hartung: De minha parte vou me apoiar num comentario do dr. Mangabeira Albernaz, onde ele chamou a atenção para o desvirtuamento do Prontosil e quando num relatorio apresentado por mim na Sociedade de Medicina, sobre a minha estadia na Europa tambem insisti no uso e abuso dos remedios que embora uteis, podem sair no desmerecimento pelo proprio abuso de indicação. Quanto ao Prontosil considero-o de indicação ótima na erisipela e conheço uns 4 a 5 casos de resultados beneficos e um outro caso de cura radical.
Dr. Homero Cordeiro: Sobre o sôro de Vincent referido pelo Dr. Gabriel Porto, quero apenas assinalar que o original francés é carissimo e dificilmente é encontrado em nosso meio. Dando um balanço no que disse ha pouco o Dr. Mangabeira Albernaz, não posso compreender porque a sua impressão sobre o Prontosil é desfavoravel, pois ele até citou um caso, que teve ocasião de acompanhar, de meningite estreptocócica curado unicamente com o emprego desse novo remédio! Como ele bem frisou (e que tambem estou de pleno acôrdo), esse novo agente terapeutico não é uma panacéa e deve ser empregado nos casos indicados, para não cair logo no descredito. Pretendia reunir um numero bem maior de casos, para depois traze-los a esta Secção. Mas a pedido do nosso Presidente, resolvi apresentar as minhas primeiras observações sobre o emprego do Prontosil na nossa especialidade, visando prestar-lhe uma modesta homenagem, na ultima sessão do seu brilhante mandato.
Nada mais havendo a tratar, foi encerrada reunião.