Versão Inglês

Ano:  1938  Vol. 6   Ed. 2  - Março - Abril - ()

Seção: -

Páginas: 137 a 140

 

O ATUAL CONCEITO DE AMIGDALA DOENTE

Autor(es): DR. FABIO BELFORT (*)

O individuo que se apresenta no consultorio para exame tem alguma cousa nas amigdalas?

E' essa a pergunta que surge muitas vezes á mente do O. R. L., do pediatra, do tisiologo, do clinico internista e do polyclinico.

No entanto, o criterio para responder áquela pergunta varia deste para aquele. E varía de tal modo que, muitas vezes, aparece no consultorio do especialista de garganta um paciente para ser operado de amigdalas, enviado por colega pediatra ou polyclinico, já preparado por injecções de calcio, e no qual não é possivel confirmar a indicação operatoria nem mesmo descobrir indicação para um tratamento medicamentoso.

Esta falta de um criterio uniforme para diagnosticar um estado patologico das amigdalas é tal que já se está tentando estabelecer um. quadro bem nitido que sirva de guia aos medicos em geral. O simples aumento: de volume está longe de ser o elemento unico e mesmo principal para diagnosticar amigdala doente e ainda menos para aconselhar a sua extirpação.

Pondo de parte opiniões relativamente antigas bem como a de operadores que resolveram "crear escola" mesmo á custa do rigor imparcial da observação, vamos percorrer rapidamente alguns autores contemporaneos e progressistas:

Herbert Tilley, antigo e notavel especialista de Londres, esforçou-se por estabelecer um criterio uniforme, baseado no ponto de vista histopatologico e clinico.

Do ponto de vista clinico, que é o que mais interessa ao medico praticante, aceita Tilley:

a) Repetidos ataques de tonsilite aguda;
b) Saída de pús das criptas pela expressão do orgão;
c) Aumento de volume, variando periodicamente de intensidade e acompanhado de dôr á pressão;
d) Uma coloração vermelho-purpurea limitada ao pilar anterior, em contraste com a côr da mucosa subjante. Segundo Tilley, esse aspeto indica uma infecção estreptococica amigdaliana, frequentemente associada a complicações articulares á distancia;
e) Preponderancia anormal de leucocitos no material de expressão das criptas, que é, frequentemente, acompanhada de hiperemia geral da mucosa faringéa e do véo do paladar.

O. Kahler dá grande valor ao exame do material de expressão das criptas mas dá mais importancia aos fatos clínicos, como sejam: dores de garganta repetidas, abcessos peritonsilares, infecção de fóco amigdaliano evidente e mesmo infecções de fóco nas quaes não é possível descobrir fóco preciso.

Le Mée realisou ha alguns anos um inquerito no qual perguntava a numerosos medicos, especialistas ou não: "Em que si~ naes baseia sua opinião de que as amígdalas possam ser causa de uma infecção secundaria?" Sem querer esmiuçar os interessantes resultados desse inquerito, vamos resumir os principais itens nos quais basearam os diagnosticos de amgidala doente:

a) Ataques repetidos de amigdalite aguda ou flegmão periamigdaliano;
b) Congestão dos pilares anteriores;
c) Saída de pús da cripta, seja expontaneamente, seja pela pressão, seja pela aspiração;
d) Adenopatías cervicais;
e) Presença ou retensão de materia caseosa, embora não acompanhada de pús;
f) Amigdalas profundamente situadas, pequenas ou aderentes ;
g) Hipertrofia simples com alargamento dos orificios das criptas e eventuaes pequenas lesões ulcero congestivas nas suas bordas;
h) Exame bacteriologico, especialmente se é encontrado o estreptococo hemolitico.

Para dar ao diagnostico de amigdala doente uma base mais segura e cientifica, Ramsay e Pearce estabeleceram um novo metodo que consiste na punção do orgão, aspiração de material e semeadura em caldo. O germen é assim, identificado. Como contra-prova, podem ser feitas as reações de imunidade, usandose sôro do paciente contra o germen encontrado na cultura.

Cremos que os dados para se estabelecer com segurança o diagnostico de amigdala doente se acham melhor concatenados por Z. Wein, de Budapesth, da seguinte maneira:

a) Maior ou menor vascularisação e espessura da mucosa que recobre as amigdalas;
b) Tamanho das amigdalas;
c) Consistencia, avaliada pela palpação, verificando-se, no ato, se a ámigdala é móle ou dura, se ha infiltração palpavel, se ha alterações cicatriciais;
d) Sensibilidade á pressão;
e) Exame do material de expressão, observando-se se existe detritos nas fossas supra-tonsilares, se ha pús ou concrementos nas criptas;
f) Foliculos purulentos aparecendo na superficie das amigdalas;
g) Mobilidade ou fixação das amigdalas ás paredes da loja, pela superveniencia de aderencias peritonsilares;
h) Concomitancia de inflamação dos ganglios linfaticos do pescoço;
i) Estabelecimento de relações entre doenças á distancia e exacerbação da inflamação das amigdalas.

O emprego da palpação como metodo de exame das amigdalas vem sendo encarecido nestes ultimos anos. E' assim que Krainz e Lang acreditam que, em todos os casos de tonsilite cronica, ha sensibilidade á pressão das fossas tonsilares e endurecimento da parte posterior, o que pôde ser evidenciado pela palpação da fossa pelo exterior. Explicam esse sinal pela extensão do processo inflamatorio até aos musculos adjacentes ao orgam, com a formação de aderencias entre a capsula e os mesmos musculos.

Jannulis tambem dá grande valor a esse metodo de exame, bem como Hutter.

A palpação da loja pode ser feita pela garganta ou externamente, debaixo do angulo da mandibula.




(*) Oto-rino-laringologista da Clínica Irmãos Belfort e da Liga Paulista Contra a Tuberculose.

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