ERITROSEDIMENTAÇÃO E OZENA
Autor(es): FABIO BARRETO MATHEUS
SÃO PAULO
A eritrosedimentação é uma reação inespecifica de grande valor em clinica, pois unida aos demais caracteres de uma enfermidade, permite esclarecer muitas vezes um diagnostico, assim como acompanhar os efeitos de uma terapeutica.
Chattas diz que só podemos considerar um individuo normal, quando a eritrosedimentação está enquadrada dentro dos seus limites normais.
Costa Bertani afirma que não há quadro infeccioso, qualquer que seja a sua natureza, que possa ser estudado cientificamente sem o controle da sedimetria.
Fisher entende que nenhum enfermo deve ser considerado curado antes que a cifra leucocitaria e a velocidade de sedimentação voltem aos seus valores normaes.
Daí podermos deduzir da importancia da reação, estribada em sua sensibilidade.
Os primeiros estudos sobre a eritrosedimentação foram feitos no seculo passado por Müller, Davy e Nasse que seguiram as pesquizas de Piernaki (1894). Mais tarde Biffi (1904), Hirsfeld (1917) e Faraheus (1818) fizeram a determinação da velocidade de sedimentação em individuos normaes e doentes.
Em 1920 Ascher estudou a eritrosedimentação em suas relações com o glaucoma; e Elscuig verificou a velocidade do sangue nos vasos da retina em relação com a erotrosedimentação.
Mais tarde apareceram trabalhos de Francescheti, Hovart, etc., e as conclusões nem sempre foram concordantes.
Mais recentemente Arcioni e Querol determinaram a eritrosedimentação nos portadores de mastoidites; Bertoni e Chait pesquizaram-na em suas relações com a odontologia; Galea nas artrites temporo maxilares e Bertani nos reumaticos amigdalectomisados.
Eliseth e Montero fizeram estudos das suas relações com o tratamento dos focos septicos em Oto-Rino-Laringologia.
Mecanismo da E. S. - As hematias estão suspensas no plasma, e solicitadas pela ação da gravidade tendem a se sedimentar. Essa sedimentação se processa segundo a lei de Stoks que exprime a queda dos corpos esfericos num meio liquido:
½ x g x D - d/n x r
g = aceleração da gravidade
D = densidade da esfera
d = densidade do liquido
n = uma constante
r = raio da esfera.
Não só o fator gravidade é que intervem no fenomeno. Devemos levar em conta, tambem, fatores eletricos. O plasma sanguineo pode ser considerado como um liquido não homogeneo, contendo elementos com carga eletrica negativa e elementos com carga eletrica positiva, em equilibrio eletrostatico. As hematias são elementos com carga eletrica negativa e, como tal, sujeitas à lei de Coulomb que diz: As atrações e as repulsões que se exercem entre dois corpos eletrizados variam na razão inversa do quadrado da distancia. Assim, é esta força repulsiva que contribue para mantê-las suspensas no plasma, limitando a ação da gravidade a que estão sujeitas.
Quando tivermos variações das condições fisiologicas, ou por causas patologicas, ou ainda pela introdução (direta ou indireta) de substancias no sangue, altera-se o equilibrio eletrostatico deste, modificando-se, em consequencia, a eritrosedimentação.
Snaper e Slike, mostraram que os fatores que condicionam a velocidade de sedimentação se encontram reais no plasma que nos eritrocitos. No plasma desempenham papel importante as albuminas de micelios grandes.
Causas que variam a E. S.
1.º) Fatores que influem sobre o sangue:
a) anti coagulantes - retardam a E. S.
b) temperatura ambiente. A ótima varia de 17 a 20 graus. Aumentando, há aceleração da E. S.
c) eventual carga eletrica do tubo. Por essa razão os tubos devem ser flambados.
d) Posição do tubo. Si este estiver inclinado haverá aceleração da E. S.
2.º) Relação com os fatores que influem sobre o individuo.
a) Alimentação: acelera
b)Qualidade do sangue. Raponski achou variação entre o sangue arterial e o venoso.
c) sangue do cordão umbelical do recem nascido. A E. S. é muito acelerada devido à hiperglobulia.
d) menstruação: acelera devido à alteração da relação albumina globulina.
e) Menopausa - Em alguns casos se acelera.
f) gravidez - acelera depois do 4.º mês.
g) aleitamento: pequena aceleração.
h) Exercicio e banho quente: aceleram.
i ) Aumento da temperatura corporea: acelera.
j ) tabaco: aceleração discreta
k) Alcool: 1 cc. por quilo e "per os", retarda a E. S. devido ao estado de acidose que provoca.
l) Auto hemoterapia - Retarda
m) Anatoxina: Acelera.
n) choque anafilatico: - retarda pela diminuição da taxa globulinica.
o) Proteinoterapia, vacinas, transfusões, adrenalina e histamina: aceleram.
p) Acido ascorbico, salicilatos, digitalina, lecitina, morfina e barbituricos : retardam.
3.º) Variações no estado patológico. Nas doenças a eritrosedimentação nos indica em geral: (Bertani)
a) absorção patologica por intoxicação (citolise toxica)
b) absorção patologica por infecção (citolise microbiana)
c) hemopatias - Neste caso as propriedades fisicoquimicas do sangue é que estão alteradas.
Técnica: - Existem varios metodos para a determinação e que assim podemos dividir
1.º) Macrometodos 1 a 10 cc. de sangue:
a) westergreen
a) leitura em tempo fixo
b) Linsenmeyer
b) leitura do tempo em 1 resultado fixo
c) Stamnreich- Sulkovitsch
c) mixto
A vantagem dos aparelhos de tempo fixo é indubitavel (westergreen) pois não necessitam de vigilancia constante.
2.º) Micrometodos: Algumas gotas de sangue são suficientes. Empregado para pessoas com veias pequenas, obesos e crianças, principalmente latentes.
a) Müller
Pantschenkaff
Ran
Balachovsky
Langer Smith
a) processo para ler a eritrosedimentação em milímetros
b) Linsenmeyer
Kanfmon
Henkel
b) processo para ler a eritrosedimentação em minutos
O metodo mais usado é o de Westergreen (macrometodo de Tempo fixo).
Usa-se uma parte de citrato de sodio (anticoagulante) para quatro partes de sangue.
A solução de citrato deve ser isotonica e fresca, isto é a 3,8%. Toma-se 0,4 desta solução numa seringa de precisão e completa-se com sangue até 2 cc. depois leva-se a um tubo de ensaio onde é agitado. Aspira-se então com a pipeta de Westergreen e leva-se à estante propria. Marca-se o tempo e faz-se a leitura na 1.ª e 2.ª horas, que são as que realmente têm importancia. Para se reduzir ao minimo as causas de erro, usa-se o índice de Katz que, por assim dizer, nivela os resultados. Determina-se o índice de Katz da seguinte forma:
K = a + b/2
2
a = leitura da 1.ª hora
b = leitura da 2.ª hora
como valores normais para o indice de Katz podemos considerar:
Recem nascido..................... 1 a 1,5 mm
Até o 2.º ano........................ 2 a 5 mm
Depois da puberdade............ 7 mm
Adulto homem..................... 5 a 7 mm
Adulto mulher.....................7 a 11 mm
Acima de 60 anos................14 a 15 mm
Do exposto, conclue-se que para a bôa marcha da investigação devemos:considerar a idade do paciente
- o sexo
- a temperatura
- as condições fisiológicas
- usar as pipetas secas e limpas solução de citrato isotônica e fresca
- tirar o sangue com o paciente em jejum e em repouso
- evitaro uso de medicamentos
Seguindo esta orientação é que procuramos tirar o sangue dos pacientes em jejum, em estado de repouso, antes de ser feita a membrana pré anestésica. Não nos valemos das pacientes gravidas ou em periodo menstrual, pois, como sabemos nesta fase a eritrosedimentação está acelerada.
Para avaliação dos resultados usamos a tabela de Nano que considera o indice de Kats:
COMENTARIOS
Nosso intuito, ao fazermos a verificação da etirosedimentação na ozena, foi menos com fim diagnostico, via de regra facil nestes casos, que o controlar as variações da mesma, após o tratamento cirúrgico da doença.
Fizemos a verificação em 44 pacientes (26 mulheres e 18 homens) todos em idades compreendida entre 15 e 26 anos. Todos estes pacientes foram por nós operados e os resultados operatorios foram os seguintes:
a) Operação de Lautenschläger-Moreira - 30 casos
Resultados:
ótimos - 5
bons - 8
máus - 8
desconhecidos - 9
b) operação de Eyries - (inclusão de bastões de substancia acrílica pela fossa piriforme) - 11 casos
Resultados:
ótimos - 2
bons - 5
máus - 4
c) Inclusões septaes com laminas de Vinilite - 3 casos
Resultados:
ótimos - 0
bons - 1
máus - 2
As determinações feitas antes da operação mostraram:
V. S. normal em........................ 10 casos
V. S. acelerada em.................... 16 casos
V. S. muito acelerada em........ 11 casos
V. S. retardada em....................7 casos
Como vemos a maioria, 27 casos, mostra uma aceleração da velocidade de sedimentação. Dificil será avaliar se essa aceleração corre por conta da doença em si, ou se é devida à infecção secundaria das fossas nasaes.
A intensidade da velocidade de sedimentação não guarda relação com o gráo da atrofia osteo mucosa.
Após a intervenção fizemos uma segunda verificação, e notamos um aumento da V. S. na maioria dos casos (33 casos). A V. S. permaneceu inalterada em 4 casos e retardou-se em 7.
O tipo da operação não influiu absolutamente nos resultados. Assim, em casos de operações pequenas, como a inclusão de vinilite no septo, em que a perda sanguinea é minima, tivemos uma exagerada aceleração da eritrosedimentação; enquanto que em certos casos de operação de Lautenschlänger, em que a perda sanguinea é muito maior, tivemos uma aceleração moderada.
O fato de termos uma aceleração da V. S. após a intervenção pode-se explicar, não, só pela perda sanguinea durante a operação, como tambem e esta nos parece a razão principal: o trauma operatorio coloca em circulação toxinas e germens que atuando de forma violenta sobre o organismo determinará um aumento da eritrosedimentação.
Por essa razão é que quando praticamos uma intervenção com o fim de eliminar um foco de infecção, devemos intervir somente quando a V. S. esteja normalisada. Si operarmos com a V. S. acelerada, isto é, quando o processo se encontre em plena evolução,o que vale dizer em pleno período de alergisação,o trauma determinando uma
aceleração da velocidade de sedimentação pode trazer complicações de natureza grave.
Do 15.º dia em diante a velocidade de sedimentação começa a sofrer um retrocesso para finalmente, atingir um indice proximo àquele verificado antes do ato cirurgico.
Raramente a V. S. se normalisa e, sómente em dois dos nossos casos, atingiu as cifras normaes. Em um caso a V. S. retardou-se (indice de Katz = 3,5 mm). 0 fato da V. S. não se normalisar equivale dizer que o paciente não obteve cura, pois, como diz Chattas, só se pode considerar o individuo normal, em gozo de plena saude, si tiver o indice de Katz dentro dos limites da normalidade.
Não encontramos, por outro lado, relação alguma entre o resultado pratico da operação e a V. S. Tivemos bons resultados cirurgicos tanto em pacientes em que a V. S. se acelerou como em outros em que a V. S. se retardou após a operação.
Concluindo podemos dizer que:
1.º) - Em geral encontramos o indice de Katz aumentado nos portadores de Rinite atrofica ozenosa.
2.º) - Após a operação há uma aceleração da eritrosedimentação.
3.º) - Do 15.º dia em deante a V. S. começa a sofrer um retrocesso.
4.º) - Finalmente, a eritrosedimentação decresce até atingir a cifra encontrada antes da operação. Raramente ela se normalisa.
5.º) - Não há relação entre o grau da atrofia e a velocidade de sedimentação.
6.º) - O tipo da operação não influe absolutamente no resultado.
RESUMO
O autor estuda o valor da eritrosedimentação em 44 ozenosos por ele operados. (30 operações de Lautenschläger-Moreira, 11 operações de Eyries e 3 inclusões septaes de vinilite). Faz tambem um estudo do mecanismo e da técnica da eritrosedimentação.
Na maioria dos casos a V. S. estava acelerada (27 casos). Em 10 era normal e em 7 retardada.
Após a intervenção houve um aumento da V. S. em 33 casos, permanecendo inalterada em 4 e tendo se retardado em 7.
Do 15.º dia em diante a V. S. começa a sofrer um retrocesso para finalmente atingir as cifras em que estava antes da operação. Raramente (2 casos) se normalisou.
Não encontrou relação entre o gráu de atrofia e a V. S. O tipo de operação não influiu no resultado.
SUMMARY
The author studied the value of the eritrosedimentation in 44 cases of ozena through his operations (30 operations of Lautenschläger, 11 operations of Eyries and 3 inclusions in the septum).
He also made a study of the mechanics and technic of the sedimentation.
In the majority of cases the E. S. was acelerated (27 cases). In 10 it was, normal and in 7 retarded.
After the operation there was an augmentation of E. S. in 33 cases, it remained unchanged in 4 cases and was retarded in 7. On approximately the fifteentli day after operation the E. S. starts to recess and finally reaches the rate which it was before the operation. Rarely (2 cases) does it ever reach normalacy.
No relation ship was found between the degree of atrophy and E. S. The type of operation did not influente the results.
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