Versão Inglês

Ano:  1949  Vol. 17   Ed. 3  - Maio - Agosto - ()

Seção: -

Páginas: 89 a 93

 

OBSTRUÇÃO NASAL E SINUSITES

Autor(es): DR. OROZIMBO CORRÊA NETTO

A atenção do clinico não pode desviar-se nunca dos maléficos efeitos causados ao organismo por uma obstrução nasal que prejudique a função da respiração, fazendo o ar penetrar nos pulmões por via bucal. Nos casos de rinite atrofica em que existe unia fossa nasal alargada temos os mesmos inconvenientes de uma respiração por via bucal. Um nariz obstruido é sempre um nariz infectado e que não realiza as ações reflexas normais. O tratamento tem que consistir no restabelecimento da permeabilidade nasal, isto é, desobstruindo-o, desinfetando-o e reduzindo os seus reflexo a um estado normal. A respiração pela boca constitui um verdadeiro traumatismo para os pulmões. As funções respiratória, olfativa e fonatória do nariz são por demais conhecidas. O homem utiliza-se da respiração bucal nos grandes esforços respiratórios, e quando a nasal se acha perturbada. O mecanismo respiratório obrigatório obriga o organismo a um sincronismo de movimentos, e uma excitação insuficiente da pituitaria com a sua enervação trigemio-simpatica, determina uma alteração desse sincronismo e é nisto que consiste a função reflexa do nariz que comanda toda a via respiratória. Póde haver insuficiência respiratória funcional sem que seja produzida por um obstaculo, seta haver obstrução nasal. Esta só tem importância pelo seu caráter crônico, quanto á sua duração, porque a aguda só tem interesse quando se trata do lactente.

O nariz do recemnascido respira pela parte superior das fossas nasais, e a inflamação da sun mucosa produz rapidamente uma obstrução e, como nesta idade a via bucal não entra em jogo, o Latente apresenta crises de dispnéa complicadas pelas secreções naso faringeas que cáem na árvore brônquíca, tudo agravado pela grande dificuldade que a criança tem em se alimentar, originando esta situação as rinites, a oclusão das coanas e o abcesso retrofaringeo.

Nas crianças de mais idade, as afeções que produzem a obstrução nasal são as seguintes: a adenoidite aguda e crônica, a adenoamigdalite crônica hipertrófica, o fibroma do naso faringe, os desvios do septo nasal e os corpos extranhos. São estas as mais comuns. A idéia de que sómente as grandes amígdalas são as prejudiciais é falsa, porque o poder infetante da amígdala não está ligado ao seu volume. A forma hipertrófica é apenas uma variante da amigdalite crônica e é trais do tipo familiar, que pode evoluir tanto para a forma atrófica como para a hipertrófica. Tratando-se de adolescentes e adultos, a obstrução nasal póde ser permanente, ou intermitente. Intermitentes são a rinite espasmodica e o coriza agudo. As permanentes são causadas pelos desvios do septo os polipos nasais, as rinites hipertrôficas difusa e localizada, a insuficiência nasal funcional e os tumores. Quanto aos polipos, é mister saber que a alergia é a sua causa determinante quando coincidem com asma ou rinites espasmodicas e tambem a polipose nasal pode ser sintomatica de uma sinusite como simples reação da mucosa sinusal a um alergeneo ou a um agente infecioso. O polipo solitário das choanas é tini elemento diagnóstico da sinusite matilar serosa com edema da mucosa. Na insuficiência nasal funcional o doente necessita de uma reeducação respiratória, e no caso de impotência funcional em indivíduos de fossas nasais normais mas que respiram de boca aberta, cuja desordem da função respiratória tem o ponto de partida nas fossas nasais ou centros nervosos, trata-se de doença do sistema nervoso. As consequências de todas as obstruções nasais são de ordem mecanica, infecciosa e reflexa. Na criança elas são sempre mais graves. As de ordem mecanica afetam o esqueleto toraxico e o facial, entrando em jogo grupos. musculares de função respiratória secundária. As de ordem infecciosa provêm de que a má respiração nasal transforma o nariz e as fossas nasais num fóco permanente de infecção que se associa á obstrução, com as suas repercuções. As de ordem reflexa são a cefaléa, a asma, as rinites espasmodicas explicadas pela inervação trigemio simpatica de que são séde as fossas nasais, Um estimulo periferico pode ocasionar um reflexo nasal constituindo uma obstrução nasal repentina pela ereção do tecido cavernoso dos cornetos. Quais são as lesões dos vários orgãos, consecutivas ás obstruções nasais? As obstruções nasais ocasionam as rinobronquites, que podem ser decendentes, produzidas pelas secreções infectadas. As obstruções também produzem as bronquites em consequência da alteração da fisiologia normal das fossas nasais, chegando um ar aos pulmões, impróprio á respiração pulmonar. Elas predispõem ao desenvolvimento da tuberculose. Estando o ouvido médio em comunicação direta com o cavum pela trompa de Eustaquio, provida de um epitélio vibratil através do qual se produz o equilíbrio aéreo entre o ouvido médio e o ar atmosferico, a obstrução nasal perturba o arejamento da caixa do tímpano propagando as infecções ao ouvido médio, cujo epitélio normal o proteje das infecções da rinofaringe. É por esse motivo que se diz que o tímpano é o espelho do cavum. As insuficiências respiratórias nasais condicionam a formação de catarros tubarios capazes de produzirem uma surdez progressiva. As otites têm no cavum a sua origem com os zumbidos que as acompanham. Quanto ás afecções oculares, corno blefarites, conjuntivites e keratites pódem estar dependentes d uma obstrução nasal, assim corno as doenças das vias lacrimais. A ligação entre filetes simpaticos nasais e oculares dá lugar às desordens vasomatoras oculares de causa nasal. As duas funções do nariz do olfato e gosto são alteradas pela sua correlação toda vez que um obstaculo nasal perturbe a corrente aérea que passa pela porção posterior das fossas nasais. A formação isto é, a emissão da voz normal é alterada na obstrução nasal e, entre as perturbações nervosas, temos as cefaléias, perda de memoria, um estado neuropatico constitucional explicado pelas relações entre a circulação nervosa e a linfatica do cavum e a do cerebro. As alterações respiratórias da obstrução nasal produzem a insuficiência do diafragma, tornando-se também alterado o papel (leste musculo da digestão. A obstrução nasal provoca uma diminuição do número de hematias no sangue circulante, e as palpitaçóes, taquicardia e hipotensão arterial podem ser consequencias da obstrução nasal. Manifestações reflexas com ponto de partida nasal e desordens sensitivas são comuns onde existir o defeito da obstrução nasal. Entre as desordens respiratórias da obstrução nasal eu citarei a tosse nasal que é uma tosse espasmodica, havendo uma zona endonasal, como uma espinha irritativa, que desencadeia a tosse, e tini ponto doloroso lia emergência do nervo laringeo superior. O tratamento tem uma ação, sobre o simpatico, suprimindo uma lesão nasal irritativa do sistema neurovegetativo e modificando a sua excitabilidade pelas fibras trigémio simpaticas. Para esclarecer as relações entre a obstrução nasal e a coexistencia de sinusites, queremos salientar que os conhecimentos atuais sobre as sinusites estão profundamente modificados. Antigamente dizia-se que onde não há pús não pode haver sinusite crônica. o que hoje sabe-se que não é exato. Hoje está provado que a maior parte das sinusites crônicas não se cura com cirurgia porque uma bôa porcentagem é de causa alergica ou de outras para as quais é indicado um tratamento conservador. Hoje sabe-se que há sinusites sem exsudato e que entre as exsudativas pode não haver pus e que a polipose nasal é quasi sempre um intoma de sinusite.Os seios paranasais apresentam frequentemente sindromes alérgico isolados ou em relação com outras manifestações clínicas de alergia noutros pontos do organismo ou em ligação com o hipotireocismo. Certos casos de sinusite apresentam sintonias de uma obstrução nasal do tipo basculante, perorando quando o doente se deita e, em geral, a quasi sempre obstrução nasal nas sinusite; por massas de secreção e por polipos, bilateral. O clinico geral não pode fazer senão um diagnóstico de probabilidade da existencia de uma sinusopatia para enviar o caso a um especialista. Quanto ao tratamento pertence todo ao especialista. A defesa dos seios perinasais reside no epitélio ciliado da mucosa que os reveste e na ação bacteriostática e bacteriolítica da película líquida, o muco, que a recobre, não sendo conveniente tratamentos nocivos ao epitélio. A água termosulfurosa de Poços de Caldas, ao surgir da nascente, empregada em lavagens nasais ou sómente os seus gazes e vapores, é indicada para cura da obstrução, reforçando assim o papel de proteção do epitélio, diminuindo os fenomenos clínicos, de alergopatia sinusal.

Para reforçar o papel de proteção do epitélio sinusal temos que verificar qual deve ser o regime alimentar do doente, se há hipovitaminose e medicar o estado geral Alguns autores acredítam que os raios X constituem uma forma eficaz de tratamento sobretudo nas crianças. Não devemos esperar nos casos crônicos de sinusite a cura com penicilina, sulfas e estreptomicina. A melhor medicação ainda é a desensibilisante especifica e a desobstrutiva, embora difícil de realisar. Entre as aplicações capazes de melhorar e curar a obstrução nasal, temos feito as lavagens com a água termosulfurosa nacente, em Poços de Caldas, por meio da ducha nasal anterior e da ducha retronasal posterior, de grande eficácia. Devemos ter sempre em vista que os gazes de nossas águas termais sulfurosas ao surgirem da nacente, como empregamos em nossos doentes, são radioativos, com um grau de radioatividade muito maior do que o existente na água, que é de origem profunda. A maior prova de que é a radioatividade o fator principal da cura, está no grande exito que vai tendo ultimamente o tratamento local da infecção do tecido linfoide do cavum e das rinites alergicas bacterianas pelo radium e pelo radon, em irradiações da nasofaringe, como os especialistas estão usando por meio de aplicadores locais nos Estados Unidos da America do Norte e em outros países adeantados. Há, entretanto, uma grande diferença. O tratamento pelo radium e pelo radon por meio dos aplicadores locais, além de caro, é sómente reservado a especialistas e para casos selecionados, porque a curieterapia não é isenta de acidentes lamentáveis, pois, é variavel a sensibilidade dos tecidos, ao passo que as curas radioativas pelas águas sulfurosas são inocuas, nunca sujeitas a acidentes, e preferíveis em uma grande maioria de casos, principalmente nos dultaos. Tanto nos casos de otite média catarral devemos sempre pensar na possibilidade de coexistência de um processo de sinusite, quanto já tem sido observado o mesmo fato com relação a otite média purulenta crônica, principalmente dos maxilares, em que só a cura da sinusite traz a cura da otite com restabelecimento da audição. Nos Arquivos de Otorrinolaringologia, n.° de Agosto de 1947 um artigo resumido pelo especialista de S. Paulo, Dr. Silvio Marone, o autor diz que o mau odôr da otite não é propriamente pús do ouvido e sim pús da sinusite crônica, sendo a trompa e ouvido médio vias de drenagem do pús da sinusite. Quando pela cirurgia sinusal se estanca a drenagem pelo ouvido, automaticamente este cessa de purgar e dar mau cheiro. Daí o perigo de haver obstrução nasal proveniente da drenagem pelo ouvido, com suas consequências, necessitando a cura cirurgica da sinusite para a mastoide voltar ao estado normal mostrado pela radiografia. O tratamento local do ouvido só dá resultado após a cura da sinusite, quando a otite média é acompanhada de sinusite maxilar, frontal ou etmoidal. E só assim nesses casos será restabelecida a audição.

Foi essa a razão de se recomendar sempre o exame do seio maxilar peto transiluntinador toda a vez que se pratica o tratamento de uma otite, quer seja flegntonosa crônica ou purulenta, afim de que seja sempre praticada concomitantemente, quando houver um. processo de sinusite, a cura desta para conseguir-se a volta rápida da audição do paciente.

A sinusite maxilar pode originar-se de infecção das celular etmoidais, cujo sistema de celular se comunica diretamente com o seio maxilar, e por sua vez as celulas etmoidais podem ter sido infectadas por afecções dos aparelhos lacrimais, donde é necessário em primeiro lugar nesse caso tratar da dacríoadenite para rapidamente obter-se a cura da sinusite e etinoidite. Para a cura das sinusites, empregando as águas termosulfurosas, como as de Poços de Caldas pelos aparelhos aérosól, e pelos novos aparelhos utilizam a pressão positiva e negativa, teremos introduzido metodos modernos de grande eficacia. A estância francesa de Luchon acaba de instalar os aparelhos aérosó1 (1 coletivo e 20 individuais- nas suas modernas salas de aérosolisação para o tratamento da asma, catarro bronquico, bronquetasias e sinusites. Para a sinusite maxilar, pelo orificio natural, por meio da canula de Pierce pode-se introduzir tanto os gazes como fazer as irrigações com a água sulfurosa. Estamos empenhando os nossos esforços para que as nossas termas instalem sem demora as suas salas de aérosolisação.

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