Versão Inglês

Ano:  1949  Vol. 17   Ed. 1  - Janeiro - Abril - ()

Seção: Trabalhos Originais

Páginas: 01 a 09

 

O EXERCÍCIO DA OTO-RINO-LARINGOLOGIA EM S. PAULO (*)

Autor(es): Prof. A. DE PAULA SANTOS

Esta história de "Conferência" em sessão solene da Secção de Oto-Rino-Laringologia da Associação Paulista de Medicina, fez de mim o mais surpreendido e o menos credenciado para vos falar sôbre tema de tal magnitude, mas, o imperativo da amizade foi razão (que nos venceu, mesmo no deliberado isolamento que nos impuzemos, sem mister de explicar os motivos, embora possam èles ser advinhados e compreendidos... Mas a ordem, emanada do companheiro querido, que conosco se iniciou no tirocínio da especialidade, num período em que nos irmanávamos nos sentimentos insopitáveis de anseios e entusiasmos, foi muito mais forte do que a intenção propositada de nos mantermos à margem de contecimentos em que não, devíamos intervir.

Esta foi a conquista de Hugo Ribeiro de Almeida, relembrando e fazendo valer aquêles quasi cinco anos de trabalhos afanosos em que me foi dado assistir e acompanhar, dia por dia, o emplumar-se do moço digno e estudioso, que se preparava para o largo vôo das altitudes sadias a que se alcandorou e em que pousa hoje, como presidente da Secção de Oto-Rino-Laringologia da Associação Paulista de Medicina de São Paulo. Bendigo a Deus tão grande prêmio, eu que nunca ambicionei benesses exageradas...

Confiou-me Hugo Ribeiro de Almeida a tarefa de vos dizer, hoje, como evoluiu e foi exercida a Oto-rino-laringologia entre nós.

A princípio fiquei perplexo e, depois, achei que vos poderia dizer algo sôbre o que vi e ouvi na longa trajetória que já percorri no nosso meio médico, de mais de trinta anos a esta parte.

Seria pretencioso se me fiasse na memória, cem por cento certa, de tudo o que vos pretendo dizer e, antecipadamente, penitencio-me das falhas e omissões que em sã consciência prevejo neste relato, simples, porém honesto, que meu espírito pouco imaginoso vos vai contar.

Juro, entretanto, que nenhuma idéia tendenciosa moveu esta pena para dizer preconcebidamente aos meus amigos e colegas aquilo que em espírito e consciência não seja a expressão da verdade, vista pelo meu prisma acanhado e simples; pecarìa por omissão, nunca por intenção...

Os primórdios da Oto-Rino-Laringologia em S. Paulo, pelo que ouvi contar, datam de Nicolau Vergueiro, no século passado, quando já praticava em medicina geral preceitos clínicos da especialidade, aprendidos na escola alemã, em que se aprimorara.

Em mil oitocentos e noventa e muitos, aportava a S. Paulo, vindo da Europa, onde frequentara as escolas de Viena, e de Berlim, o Dr. J. J. da Nova, pioneiro da especialisação, formado num ambiente em que pontificavam Politzer, Urbantschitsch e outros luminares, e dispôsto a ensaiar em nosso meio aquilo que se fazia em centros mais adiantados: - a clínica exclusiva de um departamento que compreendia nariz, ouvidos e garganta.

Trazia os conhecimentos da época, alicerçados em solidíssima base morfológica, mesmo porque não se faz medicina do futuro, mas, servido por um preparo consciencioso, de parelha com uma cultura humanística que faz honra ao cérebro humano e por uma integridade moral que dignifica a nossa espécie.

Praticou entre nós e, talvez no Brasil, pela vez primeira, a adenoidectomia e escreveu substanciosos artigos sôbre surdo-mudez, difundindo noções praticamente virgens em nosso meio.

Foi nosso mestre muitos anos mais tarde, na Policlínica de S. Paulo, em 1920, quando, já maduro de experiência e de sabedoria, viamos aquele homem provecto evoluindo, ao calor do entusiasmo dos moços que o cercavam e diante do progresso da ciência, apresentando-se-nos como o mais correto e perfeito dos especialistas, dando-nos lições edificantes de competência e de ética profissionais.

Quasi ao mesmo tempo aqui aportava Bueno de Miranda, que aliava à nossa especialidade, como se fazia naquele tempo, a oftalmologia.

Homem de bôas maneiras, extremamente bem educado, simples e quasi ingênuo, aliava a tudo isso acentuado devotamento ao bem público. Foi diretor do serviço da especialidade na Santa Casa de Misericórdia e diretor da Policlínica. Frequentava assiduamente, com espírito de colaboração, a Sociedade de Medicina e Cirurgia, e foi êle quem praticou entre nós a primeira hemi-laringectomia, cabendo-lhe ainda a prioridade da descrição de um caso de leishmaniose lingual.

Ainda são dessa época Souza Castro, lutador impertérrito, que teve um fim melancólico... e Francisco Eiras, espírito brilhante; - meteóro em nossa terra - para brilhar mais tarde, na Capital do país, como astro de primeira grandeza.

Começava o segundo decênio dêste século quando apareceram em nosso meio Henrique Lindenberg e Schmidt Sarmento, ambos das já citadas e famosas escolas de Berlim e Viena, no fastígio dos arrojados empreendimentos cirúrgicos.

Era o momento das mastoidectomias e operações radicais da mastóide, das sinusectomias, das correções ortopédicas do septo nasal, pelo método elegante, racional e fisiológica de Kilian, sem as devastações da nobre mucosa pituitária...

Lindenberg assumiu a chefia da clínica oto-rino-laringológica da Santa Casa e conseguiu operar, no primeiro ano de exercício, mais de cincoenta mastóides.

Sarmento inaugurou no Brasil a amigdalectomia pelo instrumento de Ballenger-Sluder, retirando-lhe o córte da lâmina e fazendo dele uma pinça forceps de apreensão em que o dedo indicador interferiria para a extirpação extra-capsular das amigdalas.

Em 1913 fundava-se a Faculdade de Medicina e Cirurgia de S. Paulo e o espírito arguto de Arnaldo Vieira de Carvalho foi buscá-los, a ambos, para professor e assistente na Clínica Oto-rino-laringológica, recem inaugurada.

Iniciava-se, assim, sob tão bons auspícios, a fase científica da especialidade em S. Paulo. Vem do interior Mário Ottoni de Rezende, egresso da clínica e da especialisação urológica, em que se aprimorara no velho mundo. Enamorado da oto-rino, confere-lhe todos os primores da inteligência e dedicação, debruça-se nos livros, empreende viagem de especialisação, na Europa, e volta entusiasmado, para publicar um, livro precioso sôbre fisiologia do Ouvido interno, do mesmo passo a que se entregava à locubração de altos problemas clínicos que o empolgavam.

Fruto desse novo estado de coisas, os novos internos produzem a tese de Francisco Hartung sôbre o estudo clínico de Leishmaniose nasal, assunto que daí por diante foi apaixonando os estudiosos e constituiu um dos maiores padrões de glória da escola oto-rino-laringológica paulista, com trabalhos que, posteriormente, assinalaremos.

São rebentos dessa mesma escola Ernesto Moreira, que se notabilisou nos estudos ingratos, mas apaixonantes, da Rinite atrófica ozenatosa, merecendo até prêmio de honra desta douta Associação; e Paulo Saes, com suas notáveis pesquisas sôbre Otites latentes.

Tudo isto ocorria por volta de 1918 a 1920- quando ainda arribavam da Europa Homero Cordeiro, Paulo de Faria e Roberto Oliva, com novos conhecimentos e sangue novo, que injetaram no incipiente e entusiasta meio oto-rino-laringológico paulista.

Inauguravam-se nessa altura os serviços da Policlínica de S. Paulo, no novo prédio da Rua do Carmo, e o velho Dr. Nova assumia a direção da Clínica oto-rino-laringologica, de quem fomos, com desvanecimento, primeiro assistente.

Foi um período febril de trabalhos e empreendimentos. Paulo de Faria, exuberante de vida e de "virtuosidade", empolgava-nos com sua habilidade de primoroso técnico. Homero Cordeiro praticava, naquele ambiente, a primeira operação de Lautenshläger-Seiffert para o tratamento da ozena. Ensaiava-se a dissecção das amigdalas em adultos, método muito mais elegante e cirúrgico, com maior segurança de resultados.

Havia mais interesse pela especialidade, surgiam novos valores, arregimentavam-se prosélitos, formavam-se escolas.

Cincinato Leme Ferreira, competentissimo colega formado na Suíça e servido de altos cabedais científicos, passava a dirigir o excelente serviço especialisado do Hospital Humberto I.° e Puissegur inaugurava outra clínica especialidada no Hospital do Braz.

Procurava-se resolver os nossos problemas. À míngua de substrato mais científico - que só o tempo é capaz de dar e estratificar, os assuntos a resolver eram de ordem clínica e terapêutica e esses nossos problemas ocupavam o primeiro plano.

As condições fito-geográficas de S. Paulo, com seu avanço para o hinterland em busca de espaço para ampliar, ainda mais, seu oceano verde - o cafezal - criavam o problema da leishmaniose, em função da devastação das matas. Era o nosso problema: um exército de mutilados, com horripilantes lesões que deformavam a configuração da face, à custa principalmente de mutilações no apêndice nasal, gerando condições de inferioridade para os bravos e humildes compatrícios que desbravam nossos ínvios sertões.

Já Gaspar Viana havia descoberto a terapêutica das lesões cutâneas da úlcera de Baurú, mas, as das mucosas, resistiam ao tártaro emético e à própria cura ignea ou da exposição ao sol.

Foi então que Mário Ottoni, por analogia, se lembrou do ácido lático, que curava o granuloma lupico. Pois se a lesão leishmaniótica das mucosas era granulomatosa, uma curetagem e a consequente aplicação de ácido lático a 80% havia de dar resultado; e deu! Mas, infelizmente havia recidivas. Um dia, Aguiar Pupo tratava de uma creança de meses; devia ser por volta de 1925... Ela apresentava vasta e profunda ulceração leishmaniótica na maçã do rosto e lesões da mesma espécie nos orifícios narinários, propagadas ao interior das fossas nasais; fez o tratamento com tártaro emético e pediu-nos que praticassemos o método de Ottoni para as lesões mucosas.

Devolvemos-lhe a doentinha alegando que se fizessemos curetagem e cauterização láctica em orifícios naturalmente tão angustiados correríamos o risco de provocar sinéquias que agravariam uma situação já de si tão lastimável. Foi quando, com argúcia e sabedoria, Pupo, também por analogia, se lembrou de utilisar, em desespero de causa, um novo preparado, no caso em apreço. Havia êle recebido, como amostra, uma nova especialidade de Poulenc, o Eparseno preconisado para o tratamento da sífilis e apresentado em doses para adultos e para infantes. Era um arsenical. Raciocinou que o espirocheta de Schaudin e o corpúsculo leishmaniótico, ambos eram protozoários e passiveis de sofrer o mesmo efeito medicamentoso.

Faz algumas aplicações na paciente e obteve a cicatrização da lesão cutânea e, nos, com grande pasmo, observamos os efeitos maravilhosos da droga nas lesões mucosas.

O resto eu não contarei por meúdo, porque tôdos os que me ouvem já sabem o que sucedeu. Foi objeto de comunicação á 1.ª Semana Oto-rino-laringológica da Sociedade de Medicina e Cirurgia de S. Paulo e constituiu assunto da tése de Horácio de Paula Santos, com cêrca de trinta observações documentadas, todas provando a eficiência da nova medicação, que não era anais do que o 598 de Erlich, estabilisado em glicose por Pomaret e lançada, como dissemos, no comércio, pela Casa Poulenc.

Sem nos atêrmos, neste capítulo, à cronologia, permitimo-nos prosseguir no assunto, sempre para realçar o quanto fez a escola paulista neste particular. Mattos Barretto, nosso digno assistente, depois de 1930 publicou o mais completo estudo clínico das lesões mucosas da leishmaniose; trabalho consciencioso e perfeito que ainda hoje serve de paradigma aos estudiosos do assunto. E êle mesmo utilisou o método da fulguração no tratamento de lesões mais rebeldes a outros agentes terapêuticos. Pupo trouxe mais tarde outra contribuição, com o uso proveitoso dos arsenitos. Lindenberg (Adolfo) à custa de novos antimoniais, obteve êxitos retumbantes no terreno terapêutico das lesões cutâneas, como se verifica na notável tése de Alcantara Madeira, assim como nas próprias lesões mucosas.

Mangabeira Albernaz trouxe-nos a bela contribuição dos polipos na leishmaniose.

Ainda Mario Ottoni revelou-nos a fórma crostósa da rinite leishmaniótica e até os cólegas do interior colaboraram, descobrindo o modo de poder-se empregar o eparseno endovenosamente.

Como coroamento dêste grande capítulo, a obra colossal e quasi inédita do Prof. Pessôa, monumento iconográfico e científico de pesquisas exaustivas e notáveis, de toda o ponto de vista, sôbre problema que nos toca tão de perto e cada vez mais relevante!

E para completar tantos êxitos a "cuti-reação" de João Montenegro, hoje clássica e de enorme utilidade para o diagnóstico da infestação leishmaniótica, quando a clínica topa com casos duvidosos e difíceis.

Em 1926, sob a presidência de Mario Ottoni na Sociedade de Medicina e Cirurgia, instalava-se a l.a Semana Paulista de nossa especialidade. Foi um sucesso retumbante, com a adesão de colegas de outros meios adiantados, que conosco vieram colaborar, trazendo-nos seus estímulos e sua sabedoria.

Nessa altura, a figura de João Marinho, fulgente de sabedoria e inteligência, dominou soberana, com aquêle brilho que todos nós admiramos e reverenciamos em tão singular personalidade.

Dez anos depois tivemos a repetição do mesma certame, com o mesmo patrocínio, e outro sucesso coroou o êxito de tão nobre empreendimento, sendo que, desta vez, recebemos a adesão e colaboração de Raul David de Sanson, outro especialista que honra e dignifica nossa profissão e que, hoje, merecidamente, pontifica na cátedra da Faculdade Nacional de Medicina, enobrecendo o ensino médico brasileiro.

Estas duas famosas Semanas, para orgulho nosso, foram incontestavelmente, o germe de onde brotou, cresceu, floriu e frutificou o l.° Congresso Brasileiro de Oto-rino-laringologia, realizado no Rio de janeiro, sob os auspícios do Prof. Marinho, e que marcou época nos fastos da Oto-rino-laringologia brasileira e sul americana.

Mas, até bem pouco tempo o exercício de nossa especialidade praticava-se em pobres ambulatórios, sem conforto, destituídos das mais elementares condições exigíveis para o exercício lícito e perfeito de atos clínicos e cirúrgicos, correntes e rotineiros.

Não vós quero relembrar a séde dos serviços de Lindenberg, na Santa Casa, num porão, nem a do nosso, noutro porão, do Instituto Arnaldo Vieira de Carvalho, mesmo porque não cabe nenhuma recriminação aos que nos faziam o favor de receber como hóspedes...

Mas não tínhamos enfermarias, nem mesmo quando Mario Ottoni recebeu, da munificiência de um benemérito e humanitário, a dádiva de seu magnífico serviço, em que hoje funciona.

Tudo isso entravava a evolução de nossa prática e impedia que fizessemos tudo o que almejávamos.

Nem assim deixamos de produzir e procurar acompanhar os progressos da especialidade.

No 1.° Congresso Sul-Americano, realizado em Buenos Aires pudemos apresentar o trabalho do relator Raphael da Nova, sôbre Blastomicose, que, sem favor, abria nova trilha para a terapêutica de tão insidiosa entidade mórbida. Estribado nas observações de Domingos de Oliveira Ribeiro e, documentado com copiosa e idônea observação de casos clínicos, pleno de conceitos eruditos, como só poderia fazer quem dominava o problema, acreditamos que foi essa uma contribuição que muito elevou a escola paulista no conceito estrangeiro.

No serviço da Santa Casa, Rebelo Neto, ingressou, como especialisado em plástica, o que só pudemos imitar mais tarde, quando nos instalamos no Hospital das Clínicas.

Foi ainda há treze anos que tivemos oportunidade de proporcionar à Faculdade de Medicina da Universidade de S. Paulo a primasia de possuirmos o primeiro assistente especialisado exclusivamente em endoscopia peroral, não aquela de sómente extrair corpos extranhos das vias aéreas e do esôfago, mas a moderna endoscopia transformada em elemento de propedêutica e terapêutica, irmanada com a clínica médica, principalmente no capítulo ela clínica das afecções pulmonares e gástricas.

Foi o princípio de verdadeira especialisação dentro da especialidade e a creação de um capítulo novo na história da medicina brasileira.

O que Plínio de Mattos Barreto aprendeu com Chevalier Jackson e trouxe para S. Paulo e soube transmitir aos que com ele aprenderam, como Arruda Botelho e Jorge Barretto Prado,
e a médicos estrangeiros que para aqui se transportam e a médicos brasileiros de outros Estados e do interior do nosso, o que se faz hoje em S. Paulo, nesse domínio, - permitam-me Senhores! é motivo de justo orgulho para a Faculdade de Medicina da Universidade de S. Paulo e naturalmente reflete-se com vivo brilho sôbre a própria classe médica paulista. E até para a humildade de quem vos fala, faz evocar um momento de clarividência, antevendo o que poderia acontecer, e infla-lhe a alma de entusiasmo e justificada satisfação.

Mas, a despeito das deficiências, a Oto-rino-laringologia procurava acompanhar os passos dos mais adiantados e a habilidade clínica e cirúrgica dos praticantes foi sempre notável.

Antes da fase dos antibióticos, que subverteu e amainou aquêle arroubo de cirurgia que antes nos empolgava e arrebatava, víamos Horácio de Paula Santos ingressar na Sociedade de Medicina com uma contribuição à cura de meningite otogênica em paciente submetido à operação de Neumann.

Neste passo, cabe-nos assinalar tambem a primazia de Whitaker e Hartung quando comunicaram a sociedade sábia de S. Paulo seu caso de labirintectomia, certamente o primeiro do nosso meio.

Depois das sulfas e da penicilina, todos nós soubemos aplicá-las proficientemente, assinalando o declínio das complicações otogênicas, que tanta faina cirúrgica nos impunha e tamanhos aborrecimentos nos causavam. Observámos a facilidade com que podíamos curar as sinusites agudas e até crônicas e instituímos ou aprendemos técnicas novas de aplicação "in-loco".

Com os progressos científicos da clínica e fisiologia da audição encontrámos dedicados que se entregaram ao seu estudo e vimos, valores como Rezende Barbosa, meditando e aprofundando-se nos conhecimentos novos, difíceis e empolgantes que dimanavam de recentes aquisições clínicas e científicas. Foi a era da audiometria com aparelhos modernos e mais precisos, foi o progresso de novas técnicas para a resolução do tremendo problema da oto-esclerose, foi o momento das viagens para observar, nos grandes centros, o que faziam os mestres no propósito de resolver o magno assunto...

E Rezende Barbosa, Piza Neto, Hugo Ribeiro de Almeida mergulharam no problema ainda quasi experimental da prática cirúrgica da nova janela, para substituir aquela que a anquilose estapediana obstruía e que ninguem sabia curar, a despeito de todos os dados e conhecimentos que a anatomia patológica e outros estudos dos países centrais da Europa, há quasi cincoenta anos. nos haviam ensinado de modo cabal e quasi absoluto.

É, nesta fase, como em todas as outras, a luta do médico prático, na ância de resolver os árduos problemas clínicos, no desespero de atingir o mais perfeito - essa maravilha de luta que tanto enobrece nossa profissão - ciência e arte - esta querendo superar aquela mesmo da fórma do empirismo, quando nos falecem dados positivos para a equação de todos os problemas que dizem respeito à saúde e à doença.

Procurei desincumbir-me da tarefa imposta. Sei que fui imperfeito, canhestro e sem elegância. Descontem-me os ouvintes, pelo que havia de honesto da intenção.

Muito de propósito não vos falei no Hospital das Clínicas; não me competia.

Mas que ele abriu uma vastíssima porta para o aperfeiçoamento da especialidade, isso é um fato que não merece contestado.

Agora, lá, fazemos o que nunca poderíamos fazer antes.

Aquilo que Vasconcelos e Plinio de Mattos Barretto ensaiaram fóra, sôbre laringectomias, é coisa corrente no Hospital das Clínicas.

O grande problema do cancer na especialidade, com as ressecções maxilo-faciais e os, mais complicados atos cirúrgicos, tambem isso é de rotina na nossa Clínica. São nove assistentes da Faculdade e do Hospital que trabalham com amor e com ardor, com fé e com honestidade, para que o progresso continúe e para que o nosso meio não desmereça no conceito de nossos compatrícios e dos extranhos que nos consideram.

Como nós, fazem todos os prezados colegas desta terra. Quando já se vai aproximando o termo de minha carreira profissional, depois de haver lançado um olhar para o passado, reverenciando-o, como acabais de ouvir, é-me grato externar-vos minha fé e minha crença inabaláveis, da evolução e progresso da medicina paulista, para maior glória da ciência médica brasileira.




(*) Conferencia pronunciada na seção de ORL da Associação Paulista de Medicina em 17-1-49.

Imprimir:

BJORL

 

 

 

 

Voltar Voltar      Topo Topo

 

GN1
All rights reserved - 1933 / 2024 © - Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico Facial