Versão Inglês

Ano:  1945  Vol. 13   Ed. 6  - Novembro - Dezembro - ()

Seção: Trabalhos Originais

Páginas: 297 a 310

 

POLIPOS DE KILLIAN

Autor(es): DR. J. DE ANDRADE MEDICIS 1

Depois que Rubem Amarante, em 1936, publicou o primeiro trabalho brasileiro sobre o "polipo coanal solitario", varios outros têm sido apresentados e sobem a 22, os publicados no Brasil (2-6-17-18-19-20-21). Todos os autores são acordes da raridade destes tumores no adulto e excepcionais abaixo de 6 anos; dos casos publicados, 17 eram, em crianças e 5 em adultos. Os nossos são 5 em crianças e 2 em adultos.

Embora raros, si computarmos os casos observados em relação ao número de doentes examinados, os casos de polipos solitarios devem ser em bem maior número e o que falta, entre nós, é o hábito de publicarmos todos os casos observados. Nós também incidimos neste mal e somente agora vamos apresentar alguns casos observados nos nossos serviços nos hospitais de Recife e na clínica civil.

Já de longa data eram conhecidos os polipos fibro-edematosos, polipos coanais, polipos fibro-mucosos ou fibro-mixomas.

Moure (1) os havia visto em crianças de 6 a 12 anos e Panas (1) em velhos (60 a.) (4).

Ainda Moure (2), em 1893, afirmava que não pareciam raros os polipos dos seios para-nasais e anotava a possibilidade de que "muitas vezes, na ablação dos polipos mucosos das fossas nasais, a inserção exata das neo-formações retirados não seja bem determinada", e que na "maioria das vezes, os polipos fazem saliencia nas fossas nasais, onde se percebem facilmente".

Zuckerkandl (5), em 1895, referia a existencia de polipos que partiam do ostio do frontal ou do maxilar e que podia persistir uma parte do pediculo após a extração, "e, em consequencia, nas inserções deste genero, havia sempre uma recidiva, após a operação"; o mesmo anotava Escat (4), em 1901.

Zuckerkandl (5) acrescentava ainda que "a extirpação radical destes polipos não é possível, a meu ver, sinão quando se põe a nú o ninho no qual está alojado o pediculo" e apresenta desenhos das planchas XIX, fig. 1 e 2; XX, fig. 1 e 2 e I XI, fig. 4, com polipos que vinham dos seios para-nasais...

A. Castex (3), em 1907, na 3.ª edição do seu livro "Maladies du larynx, du nez et des oreilles", lembra que Luschka foi o primeiro a assinalar os polipos mucosos no seio maxilar e que Heymann, em 250 craneos, encontrara 14 vezes mixomas, "mas nunca multiplos", acrescentando: "Eles podem recalcar as diversas paredes, mas fazem sobretudo irrupção do lado da fossa nasal, atravessando o orifício do seio", e "não os confundir com as fungosidades que as sinusites fazem surgir no meato medio ao redor deste orifício".

Foi, porém, Killian (2), em 1906, quem os estudou mais cuidadosamente, chegando à conclusão de que se tratava de polidos antro-coanais, originando-se dos seios para-nasais.

O interessante é que foi Ino Kubo, em 1923 (6), quem primeiro apresentou casos operados, confirmando os estudos de Killian.

Assim, a novidade está somente na observação de que estes polipos fibro-mucosos ou fibro-edematosos, se originam, sempre da cavidade dos seios para-nasais e daí a sua nova denominação de polipos antro-coanais, sinuso-coanais, ou simplesmente, polipos de Killian, em homenagem ao sistematizador dos estudos feitos.

Após estes estudos, começou a ser compreendido o motivo da recidiva destes tumores e a necessidade da abertura do seio aonde eles se inseriam para que se pudesse obter uma cura radical. A grande maioria dos casos publicados são de polipos inseridos no seio maxilar.

Antes de ser conhecido o verdadeiro ponto de inserção destes polipos, a sua extração se fazia por arrancamento, seja com o ganho de Lange ou pela alsa fria. Ainda em 1919, cita Mangabeira Albernaz (6), que na Sociedade Real de Londres, Guthrie, Tilléy, Hill e Rose são concordes em preferir uma terapeutica conservadora. Hill (6) é de opinião de que "mesmo que os polipos recidivem uma vez em dez, isto não justifica a abertura do antro, mormente em crianças".

O nosso mestre Prof. João Marinho, comentando um trabalho apresentado pelo Dr. Capistrano Pereira (7), também se mostra favoravel à extração pelo gancho de Lange e julga que "esses polipos não serão todos sinal de outros na cavidade maxilar, conceito, acaso, generalizado demais, depois da lição de killian. . . " Dois casos operados pelo Prof. Marinho não recidivaram.

Citelli (10), estudando os polipos fibro-edematosos, acena a, possibilidade de polipos únicos, especialmente fazendo proeminencia no rino-faringe, que podem ter como ponto de origem as paredes do faringe nasal, nos contornos das coanas, os chamados polipos primitivos das coanas, podendo também virem do etmoide, do esfenoide ou do maxilar, formando os polipos antro -coanais ou esfeno-coanais... Deante destes estudos afirma Citelli (10) que "o polipo do rino-faringe, extirpado inteiro ou quasi, na maioria não se reproduz. Porém, os provenientes do seio maxilar, costumam recidivar". Por aí, talvez possamos explicar porque certos polipos, extraídos com o gancho de Lange, não recidivaram e outros sim.

Pugnat (11) (1920) negava a inserção coanal ou peri-coanal e afirmava que sempre eles se inserem nos seios para-nasais, mas Joausseaume (10) (1925) pensa se deve ser ecletico e adianta que "sob o ponto de vista anatomico", os de origem peri-coanais são quasi sempre fibro-edematosos e os de origem sinusal são císticas.

Nem sempre os doentes, cientes da possibilidade de um alivio pela extração pelas vias naturais, consentem na operação radical. Isto sucedeu a Caboche (8) e a outros cirurgiões. (Obs. I.)

Moulonguet (16), em 1926, afirmava que estes "polipos fibro-mucosos das coanas" se inseriam no antro maxilar, ao nivel de uma raiz dentaria, preconizando a retirada com um gancho e, em caso de recidiva, a trepanação do seio maxilar. O mesmo autor pensava que o polipo se originava de uma raiz dentaria e que uma radiografia permitiria identificar o dente responsavel, que se deveria tratar.

Pensamos tambem de acordo com Mangabeira Albernaz (6), que "é um erro tirar apenas o polipo", se hoje sabemos, por casos observados, que o polipo tem o seu ponto de inserção intrasinusal. Por que retirar parte do polipo e não procurarmos fazer uma irradicação total? Em duas das nossas observações o polipo foi extraído vezes pela alsa fria e sempre se reproduziu, só deixando de o fazer depois que curetamos o seio maxilar. Este caso nos parece bem elucidativo em favor da necessidade da retirada completa do polipo; julgamos mesmo que aqueles casos em que a reprodução do polipo não se deu, o cirurgião deve ter tido a sorte de, por forte puxão e presença de um ostio bem largo, ter conseguido a desinserção do pediculo intra-antral.

Começamos a operar estes polipos na época em que todos os autores ainda aconselhavam a extração pela alsa fria e, por experiencia propria e leitura de literatura sobre o assunto, fomos compreendendo a verdade da necessidade da abertura do seio aonde se insere o polipo; nos nossos casos sempre o maxilar.

Os polipos de Killian são formações edematosas que se originam dos seios para-nasais, mais comumente do maxilar, exteriorizando-se nas fossas nasais e surgindo pelas coanas, alcançam o oro-faringe, atingindo, por vezes, o hipo-faringe.

Segundo Caboche (8), estes tumores são únicos, unilaterais, inserindo-se por um longo pédiculo e consequentes a uma sinusite latente.

Lerroux (9) não concorda com esta opinião, porque não pode considerar como latente uma sinusite que se apresenta por uma massa tumoral e aconselha que se a denomine de sinusite poliposa. Rirsch e Citelli admitem a existencia de uma inflamação aguda catarral dos seios para-nasais. A grande maioria dos autores concorda em que esses polipos provêm de cavidades não purulentas, como ficou demonstrado por Uffenorde (6). Mangabeira Albernaz só observou sinusite puru lenta em dois casos em que o polipo se inseria no ostio.

Dos nossos casos observamos um no qual notamos pequena quantidade de secreção purulenta dentro do seio maxilar (Obs. VI). Neste caso, observamos a existencia de varias formações poliposas bem desenvolvidas, dentro do antro, além do pediculo daquela que se exteriorizara para a fossa nasal.

Para varios autores a mucosa antral se acha doente em certo e determinado ponto aonde se insere o polipo. Hirsch (6) notou essa inflamação na parede interna e parte do soalho; Killian (2), na parede posterior; Laurens, nas proximidades do orificio de drenagem; Stavraki (2), no recesso zigomatico; Malan (2), no recesso alveolar e Caboche (8), na parede posterior e região orbitaria. Em um dos nossos casos (Obs. II), podemos precisar que "a inserção se fazia em um recesso existente na parede orbitaria do seio, perto do angulo superior, em outro (Obs. VII) a inserção se fazia ao redor do ostio, dentro do antro.

Gustavo Reis e A. Corrêa (2) apresentam esquemas mostrando que a formação poliposa, originando-se do recesso alveolar vai crescendo, tomando toda a cavidade do maxilar e chegando, por fim, a prolabar pelo ostio para a fossa nasal, insinuando-se por ela até atingir coana e naso-faringe. No caso da nossa observação VII, podemos observar caso semelhante em que um aumento do ostio permitiu bem facilmente a saída do polipo para a fossa nasal.

Pensamos que em casos de formações císticas esse aspecto pode ser aceito, mas nem sempre assim sucede e podemos, como já observamos, ter outras formações poliposas dentro do antro verdadeiras sinusites poliposas nas quais uma das formações consegue se insinuar pelo ostio e se projetar na fossa nasal (Obs. VI).

Varias são as hipoteses que procuram explicar essa projeção do polipo para a fossa nasal. Para Killian, Grunwald e Hajek (6) isso sucede em consequencia a lavagens do antro. Embora não possa ser negada essa possibilidade, acreditamos que ela não deve ser tida como dogma, porque, comumente, a sintomatologia sinusal é sem importância e, só muito raramente, têm os clínicos utilizado a lavagem do antro.

Em nenhum dos casos fizemos qualquer lavagem, mesmo porque não havia indicação. Em um dos nossos pacientes, que tratamos desde a infância, acompanhamos sua doença desde o aparecimento de pequena formação poliposa no meato medio, seu crescimento e projeção no naso-faringe, podendo afirmar que nunca lhe foi feita nenhuma punção maxilar. (Obs. VI.)

Ino Kubo (6) acredita que o ato de assoar provoque a projeção; Mangabeira Albernaz (6), além desta causa, admite também o ato de escarrar, a gravidade, os movimentos respiratorios e o aumento do calibre dos ostios (normal e de Giraldés); G. Reis e A. Corrêa (2) crêm que "o aumento da pressão intra-cavitaria do liquido tambem desempenha papel preponderante nesse mecanismo, forçando o herniamento da membrana cística do polipo através dos orifícios naturais".

Hirsch e seu assistente Forschner (6) acreditam em um prolapso da mucosa do soalho antral. Do mesmo modo pensa Citelli (10) referindo-se a "fibromas moles dos seios - sobretudo do maxilar - que atravessam os ostios, penetrando na fossa nasal; por vezes, não se trata de fibromas, mas de um simples prolapso da mucosa da bula etmoidal ou dos seios nasais, que têm todo o aspecto clínico de um verdadeiro polipo cístico". Citelli (10) estuda o "prolapso da mucosa dos seios nasais" como doença bem individualizada.

Matsui (6) opina que a exteriorização do polipo depende da amplitude anormal dos ostios e, muitas vezes, do ostio de Giraldés ou acessorio.

Mangabeira Albernaz (6) diz ter sempre notado aumento dos ostios, lembrando um caso, em adulto, em que o ostio ocupava "quasi todo o meato medio". Afirma o mesmo autor "que sem uma dilatação razoavel, ou do ostium maxillare ou do ostiolo de Giraldés, sobretudo deste, não parece possivel um polipo do antro passar à fossa nasal". Em alguns dos nossos casos (obs. II e VII) notamos também grande aumento do ostio; aumentos que comparamos ao diametro de moedas de 50 réis e 20 centavos. Na nossa observação VII, podemos bem ver que a formação cística antral, prolabava para a fossa nasal que enchia e depois pendia na faringe.

O ostiolo acessorio ou de Giraldés, é considerado raro por Sieur e Jacob (13), que só o observaram uma vez; é frequente na proporção de 8 a 10 por cento na opinião de Giraldés e de 43 por cento no conceito isolado de Schaeffer (14). Este orifício é duplo na percentagem de 3,75 dos casos observados e considerado, pelo proprio Giraldés e Davis (14), de origem patologica, não tendo sido observado em indivíduos de menos de 4 anos, segundo Menezes (14) ; outros pensam que só aos 15 anos podem ser bem identificados.

Sentimos, no estudo da questão, divergencias quanto ao aspecto dos polipos extraidos, uns de formação puramente císticas, outros com lacunas císticas; diversidade de pontos de inserção, mesmo dentro dos seios paranasais; ausencia de secreção purulenta nos seios em uns, presença em outros; ausencia de outras formações nas cavidades para-nasais em uns e varios outros pequenos polipos, enchendo o seio em outros, o que torna necessario uma revisão do assunto. Em, quasi todos os casos têm sido observado um mutismo sinusal e uma ausencia de secreção purulenta na fossa nasal.

Calicetti (15), em 1926, já sentia essa divergencia nos cases observados até então e concluia que "cada caso dos chamados polipos coanais - que frequentemente são solitarios - deverá ser bem estudado clínica e histologicamente, para estabelecer para cada caso, a qual das três diferentes doenças indicadas pertence. De tal modo se poderá evitar seja a confusão de denominações as mais diversas e não raramente inexatas, seja admitir sob a mesma denominação processos mórbidos diversos". Enquanto Calicetti (15) julga serem prolapsos da mucosa a maioria dos casos de polipos solitarios, Mangabeira Albernaz afirma que a clínica tem demonstrado o contrario. Os nossos casos também nos levam a concordar com o autor brasileiro. Identicos quanto ao tríplice carater que já Caboche alegava: únicos, unilaterais e com longo pediculo de inserção, estas formações poliposas diferem quanto à sua estrutura ao seu ponto de inserção.

Todos os autores concordam que estes polipos solitarios são raros no adulto e, ainda mais, nas crianças. Para Mangabeira Albernaz (6), "para que o polipo possa surgir na criança é essencial que o desenvolvimento do seio seja anomalo". Como Mangabeira, observamos sempre grandes antros nas crianças em que encontramos esses polipos.

O principal sintoma do polipo antro-coanal é uma obstrução nasal progressiva, em relação com o crescimento do polipo, podendo tornar-se permanente quando um grande desenvolvimento do tumor chegar a provocar a oclusão total de uma das fossas nasais; muitas vezes, o polipo atravessa a coana e desce no naso-faringe, surgindo pendente atraz da, úvula. Pela rinoscopia anterior, observa-se na fossa nasal um único tumor de côr esbranquiçada ou cinzenta-brilhante; outras vezes, o tumor pode se apresentar de côr cinzenta-avermelhada, semelhante ao aspecto dos fibromas do naso-faringe. Ao toque, podemos sentir, no caso do polipo de Killian, que o tumor é mole, movel, sem aderencias e não sangrante. Com um estilete podemos, repuxando-o na fossa nasal, observar que se movimenta o tumor que surge por detraz da úvula, evidenciando-se assim a unidade da formação. Ainda pela rinoscopia anterior, deve ser cuidadosamente observada a direção do longo pediculo de inserção, o que permitirá firmarmos o diagnostico quanto a possível inserção do tumor. Sabemos que esta é quasi sempre no maxilar, mas não podemos negar casos descritos por autores de reconhecido valor, em que o polipo se insere no corneto medio, nas proximidades do ostio maxilar, no etmoide, esfenoide ou frontal. Nem sempre o exame do pediculo poderá ser feito com facilidade, dado o desenvolvimento da formação.

O toque digital do naso-faringe poderá ser de grande auxilio, especialmente nas crianças, a fim de melhor nos cientificarmos de que se trata de um tumor mole, sem aderencia e que não sangra como os tumores duros da juventude masculina - os fibromas.

A maioria dos autores é acorde em afirmar que a sintomatologia dos polipos solitarios é, na sua fase intra-antral, de um mutismo quasi absoluto. Daí a afirmativa de Caboche (8) de que eles se manifestam em casos de sinusite latente.

Alonso e Pietra (11) discordam, afirmando que, mesmo na fase intra-antral, é possível observar dôres neuralgiformes, sensação de peso na cabeça, mal estar geral e eliminação do liquido citrino pelas narinas.

Na maioria dos nossos casos havia ausencia de sintomas no período intra-antral; contudo alguns doentes se queixaram de dôr de cabeça. (Obs. VII.) Um deles (obs. VI), doentinha excessivamente nervosa, nos procurou queixando-se de um real estar no nariz e obstrução intermitente das fossas nasais. Após exame cuidadoso, pudemos vêr pequena formação poliposa no meato medio. Confessamos não termos logo pensado em poupo de Killian. Aconselhamos a retirada do polipo, ruas nada foi permitido fazer e tivemos que contemporizar. Assim nos foi dado observar o crescimento do polipo até que, certo dia, observando mais cuidadosamente, pudemos perceber que era único, unilateral e com longo pediculo e firmamos o diagnostico de Polipo de Killian. Só quando surgiu no oro-faringe a formação poliposa foi que conseguimos convencer a doentinha. Uma radiografia simples apresentava opacidade do seio maxilar. Alguns autores aconselham a radiografia com contraste, mas nunca a julgamos necessaria. A diafanoscopia é de pouco valor quando não há supuração do antro. É conhecido que a existencia de formações císticas no antro não evita a sua transparencia normal e, por vezes, até aumenta a sua luminosidade.

Caboche (8) já observava ausencia de qualquer sintoma de sinusite, nem mesmo pús no meato medio ou diminuição de transparencia à diafanoscopia; somente discreta opacidade do seio pode ser anotada. Todos os nossos casos confirmam essa opinião que hoje está aceita por todos. "Nestes casos", já escreveu Mangabeira Albernaz, "é inutil procurar os sintomas classicos e pouco adianta fazer-se a punção diameatica".

Quanto ao tratamento não pode mais existir dúvidas. Desde que fica admitido que os polipos solitarios das fossas nasais se inserem, em grande maioria no seio maxilar, devemos abri-los para conseguirmos uma cura radical. A operação indicada é a de Caldwell-Luc, com os cuidados necessarios em casos de crianças.

Fica ao clínico o cuidado de um minucioso estudo de cada caso com acurado exame das fossas nasais, procurando reconhecer a região para onde se dirige o pediculo do polipo e com o auxilio da radiografia a fim de que possa agir, em cada doente, dentro das boas normas diagnosticas.

Nos casos que apresentamos nem sempre foi feita a abertura do seio maxilar, em alguns foram extraídos os polipos pela alsa fria. (Obs. I e IV.) Alguns recidivaram quando extraídos pela alsa fria, de outro não tivemos mais noticias. (Obs. IV.)

Na maioria dos casos que observamos, o polipo era único, mas outros se apresentaram acompanhados de outras formações menores que enchiam o seio maxilar.

A nossa experiencia, hoje, confirma que o polipo se insere no antro e a abertura deste é imprescindivel para uma cura radical.

Contudo, "en medicine, comme en amôur, ni jamais, ni toujours"... e, por isso, sentimos sempre dificuldades em afirmações peremptorias na ciencia e arte a que nos dedicamos...

OBSERVAÇÃO I

A. B. G. - 20 anos, f em., solt., pernambucana. Residente em São Lourenço (Pernambuco). Apresentou-se ao serviço de O. R. L. do Hospital Pedro II, quando eramos substituto da clínica, em 19-7-923.

Historia da doença: Conta a paciente que de uns 4 meses a esta parte, sente grande entupimento nasal e que julga se tratar de um polipo, porque há uns 6 anos atraz submeteu-se à extração de um polipo, tendo sido seu operador o Prof. Paulo Aguiar, (cirurgião geral). Segundo afirma a doente, o polipo tem aumentado rapidamente e agora o sente, como da outra vez, saindo na garganta (sic).

Exame: Pela rinoscopia esquerda, observa-se uma grande formação poliposa vindo do meato medio, insinuando-se pela coana e surgindo no faringe.

Diagnostico: Fibro-mixoma do naso-faringe.

Operação: Em 21-7-923. Com o auxilio de uma sonda de Bellocq passada pela fossa nasal e coana esquerda, foi armada a alsa fria na faringe. Insinuando-se a alsa, comi o auxilio do dedo, por detraz do polipo no naso-faringe e fazendo uma tração das pontas do arame pela fossa nasal, foi bem apreendido o polipo, permitindo sua extração por arrancamento. O polipo caiu na faringe e foi retirado.

Operador: Dr. J. de Andrade Medicis.

A doente saiu do hospital com ótimo estado, dias após. Em 21-4-926, a doente novamente nos procurou no Hospital do Centenario (obs. n.° 69), aonde chefiavamos a Clínica Oto-Rino-Laringologica e foi novamente operada pelo mesmo processo, porque a doente não permitiu a abertura do seio maxiliar, que então lhe recomendamos. Anos após, no Hospital do Centenario, conseguimos convencer a paciente e fizemos a operação de Caldwell-Luc, retirando completamente o pediculo que se inseria dentro do seio maxilar. Infelizmente, não podemos precisar a data desta última intervenção, devido termos deixado a chefia do serviço do Hospital do Centenario. Depois disto, nunca mais fomos procurados pela paciente.

OBSERVAÇÃO II

Ficha do Hospital Sto. Amaro (ORL) 1386.

F. P. B. - 30 anos, sexo masculino, pernambucano, casado, côr parda, jornaleiro. Residente na cidade de Bom Conselho.

Mal atual: Queixa-se o doente de que há 6 anos sente as fossas nasais completamente obstruidas (sic).

Exame: (26-1-937) - Pela rinoscopia anterior nota-se a fossa nasal esquerda obstruida por um tumor branco-acinzentado. Pelo toque com um estilete tem-se a sensação de consistencia firme, sem aderencias às paredes da fossa nasal.

Pela faringoscopia observa-se o véu do paladar imobilizado pelo tumor que desce do naso-faringe até abaixo da base da lingua. O doente consegue fazer o tumor surgir sôbre a lingua, notando-se que e mesmo vem até o nivel da arcada dentaria anterior e está preso a um longo pediculo.

Pedida uma radiografia em naso-mento-placa, observa-se diminuição de transparencia do seio maxilar esquerdo. Em 24-2-937, foi feita a operação de Caldwell-Luc (max esq.). Aberto o antro, observa-se que estava cheio de uma secreção serosa e com a mucosa muito espessada, especialmente na região da parede nasal e orbitaria. Prendendo-se o tumor, pela fossa nasal, com uma pinça, pode ser bem observado que o tumor que pendia no oro-faringe tinha sua inserção dentro da cavidade do antro. Após exame mais cuidadoso, pôde ser notado que a inserção se fazia em um recesso existente na parede orbitaria do seio, perto do angulo superior. Curetado o seio maxilar e retirados a inserção e todo o polipo, pôde-se vêr que este se projetara para a fossa nasal, ao nivel do meato medio, através um ostio grandemente alargado (da largura de um niquel de 50 reis).

Operador: Dr. J. de Andrade Medicis. - Auxs.: Drs. Sergio Morel e Alderito Fonte.

OBSERVAÇÃO III

Ficha 5.779 do Hospital Infantil Manuel da Silva Almeida (ORL).

J. M. C. - 10 anos, feminino, parda, pernambucana. Residente em Gravatá (Pernambuco). Internada em 26-7-940.

Mal atual: Queixa-se de entupimento nasal esquerdo e de um caroço na garganta, que dificulta a deglutição.

Exame: N. E. Pela rinoscopia anterior nota-se a presença de um tumor movel, de consistencia mole, parecendo vir do meato mediu. Na faringe observa-se a presença de um grande tumor, recalcando o véu do paladar para a frente e se projetando para o hipo-faringe. Ao toque digital do naso-faringe, sente-se que não existe aderencias e que o polipo é o mesmo que se vê pela rinoscopia anterior.

Radiografia em N. M. P. feita em 30-7-940, apresenta opacificação do seio maxilar esquerdo. Os demais seios, claros. Em 14-8-940 foi feita a operação de Caldwell-Luc e retirado o polipo que se inseria no interior do antro.

Operador: Dr. J. de Andrade Medicis.

OBSERVAÇÃO IV

Ficha 6.473. O. R. L. - Hospital Infantil Manuel da Silva Almeida.

C. J. O. - 12 anos, masculino, branca, pernambucano. Residente em Vicencia (Pernambuco). Internado em 21-7-941.

Mal atual: Queixa-se de obstrução nasal (sic).

Exame: Pela rinoscopia anterior, observa-se polipo vindo do meato medio. Ao exame da faringe, nota-se que o polipo desce do naso-faringe e que é o mesmo visto pela rinoscopia.

Em 20-10-941 foi feita a retirada do polipo por arrancamento, após a sua, apreensão, feita com o auxilio da sonda de Bellocq, por alsa fria.

Operador: Dr. J. de Andrade Medicis.

OBSERVAÇÃO V

Ficha do Hospital Sto. Amaro (ORL) n.° 3.491.

J. A. S. - 12 anos, masculino, pernambucano. Residente em Timbauba.

Mal atual: Queixa-se de um tumor na garganta e obstrução nasal.

Exame: Rinoscopia: presença de um polipo na fossa nasal esquerda. Garganta: presença de um tumor de tamanho aproximado de um ovo de galinha, descendo atraz do palato mole, de côr vermelho-escuro. Pelo toque no naso-faringe, tem-se a sensação de um tumor de consistencia elastica sem aderencias com as paredes.

Radiografia: opacidade do max. esqu. Operação: 10-12-941. Foi feita a, operação de Caldwell-Luc e retirado o polipo que se inseria dentro do antro. Cura.

Operador: Dr. J. de Andrade Medicis.

OBSERVAÇÃO VI

M. D. - 13 anos, pernambucana. Internada na Casa de Saúde Infantil Maria Lucinda.

Historia da doença: A paciente, filha de um amigo, foi por nós examinada durante algum tempo. A principio queixava-se de não respirar bem pela narina esquerda, mas não permitia um exame cuidadoso, dado o seu receio de sentir qualquer dôr. Finalmente, firmamos o diagnóstico de polipo de Killian e dissemos à família que só deveriamos tirar a formação poliposa abrindo o seio maxilar, aonde devia se achar inserido. Viajando com seus pais ao Rio, lá quiseram retirar o polipo, alegando grande facilidade de sua extração.

Lembrando-se de minha afirmativa da necessidade da abertura do seio maxilar, resolveram os pais me procurar de volta a esta cidade. Finalmente, resolvemos operar, e isto foi feito no dia 22-3-944, na Casa de Saúde Infantil Maria Lucinda.

Meia hora antes da anestesia local, foi feita uma injeção de Scophedal, que permitiu uma intervenção calma e completa: abertura do seio maxilar esquerdo, que foi encontrado com mucosa em degeneração poliposa e secreção muco-purulenta. O polipo que surgia no naso-faringe tinha sua inserção na parte inferior do seio maxilar. Curetado o maxilar, desprendimento de grande polipo e retirada de toda a mucosa poliposa do seio maxilar.

A doente curou rapidamente e ainda hoje se sente muito bem.

OBSERVAÇÃO VII

Ficha 8.174 (ORL). - Hospital Infantil Manuel da Silva Almeida

D. J. S. - 11 anos, masc., branco, pernambucano. Residente em: Recife.

Mal atual: Conta o paciente que desde alguns anos vem sentindo o nariz obstruido e com uma "carne" que desce pela garganta. Queixa-se somente da dificuldade em respirar e "roncar" muito à noite, dôr de cabeça e constantes resfriados.

Exame: Pela rinoscopia anterior nota-se a presença de um grande polipo, fechando completamente a luz da fossa nasal direita. Após adrenalização, tem-se a impressão de que o polipo se origina do meato medio. Ao exame do faringe, nota-se por detraz do véu do paladar uma formação poliposa, mole, de côr rosea. Observa-se que é a mesma formação da fossa nasal que pende na faringe. Foi feita radiografia que mostrou opacidade do seio maxilar direito.

Foi feita a operação em 18-8-945. Operação de Caldwell-Luc.

Retirada a parede externa, observamos uma grande cavidade repleta de mucosa edemaciada e secreção serosa. Ao nível do ostio, presença de tecido mais espessado, notando-se que aí se inseria o poupo solitario da fossa nasal. Curetado o antro e retirado o polipo, podemos observar que o ostio estava grandemente ampliado, num tamanho comparavel a uma moeda de 20 centavos. Após a retirada do polipo, podemos notar a fossa nasal direita muito ampla, devido naturalmente ao grande desenvolvimento do tumor. Anestesia local pela Scurocaina a 1%.

Operador: Dr. J. de Andrade Medicis. - Aux.: Dr. Alderito Fonte.

BIBLIOGRAFIA

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13- Sieur et Jacob - Recherches anatomiques, cliniques, et opératoires sur les fosses nasales et leur sinus - 1901 - pag. 456.
14- Menezes - Anatomia medico-cirurgica do antro maxilar - 1920 pag. 45.
15- Calicetti, P. - Sul cosidetti Polipo delle coane - II Valsalva - Vol. II - 1926 - pag. 145.
16- Moulonguet, A. - Les grand syndromes oto-rhino-laryngologiques - 1926 - pag. 58.
17- Amarante, Rubem - Polipo coanal solitario - Rev. O. R. L. do São Paulo - Vol. IV - 1936 - Pag. 1209.
18- Cordeiro, Homero e Souza Dias, M. C. - Sobre três casos de polipo de Killian em crianças - Rev. :Brasileira de O. R. L. - Vol. VIII - 1940 - pag. 5.
19- Terra, Mario - Polipo antro-coanal na criança - Rev. Brasileira de O. R., L. - Vol. VIII - 1940 - pag. 159.
20- Veloso Viana, E. - Polipo antro-coanal de Killian em criança de 13 anos - Rev. Brasileira de O. R. L. - Vol. X - 1942 - pag. 273.
21- Volfzon, Jacob - Grande polipo de Killian em criança de 13 anos - Rev. Brasileira. de O. R. L. - Vol. X - 1942 - pag. 329.
22- Terracol, J. - Les maladies des fosses nasales - 1936 - pag 152.




1 Docente livre de O. R. L. na Faculdade de Medicina do Recife. Chefe dos Serviços de O. R. L. dos Hospitais Infantil e Sto. Amaro. Ex-Chefe do Serviço de O. R. L. do Hospital do Centenario.

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