Versão Inglês

Ano:  1945  Vol. 13   Ed. 1  - Janeiro - Fevereiro - (1º)

Seção: Trabalhos Originais

Páginas: 01 a 18

DAS REAÇÕES DETERMINADAS PELA SEMENTE DE CAFEEIRO NA ÁRVORE TRÁQUEO-BRÔNQUICA (*)

Autor(es): GABRIEL PORTO (**)

TRABALHO DA CLÍNICA DE OTORRINOLARINGOLOGIA DO INSTITUTO PENIDO BURNIER - CAMPINAS - ESTADO DE SÃO PAULO - BRASIL

Os corpos estranhos das vias aéreas inferiores determinam reações de intensidade variável. De fatores individuais, mas principalmente da natureza e tempo de permanência da substância aspirada depende a intensidade dessas reações orgânicas. A observação clínica já evidenciou que os corpos estranhos metálicos da árvore tráqueo-brônquica determinam, via de regra, reações circunscritas; são relativamente bem tolerados. As reações mais intensas são ocasionadas pelos corpos estranhos vegetais. Da variedade da substância vegetal aspirada depende muito a evolução do caso clínico. Bastante conhecida dos endoscopistas é a extrema gravidade da bronquite tóxica do amendoin assim como a elevada mortalidade por asfixia, ocasionada pelos feijões. As reações determinadas pela semente do cafeeiro não foram até hoje convenientemente estudadas. É esse estudo, baseado em 15 observações e em consulta à extensa bibliografia que realizamos no trabalho de hoje.

Na vasta literatura especializada repleta de corpos estranhos das vias aéreas inferiores encontram-se poucos casos de penetração da semente de cafeeiro na árvore tráqueo-brônquica.

A estatística de Albrecht (1), reunindo um total de 2022 corpos estranhos da traquéia e brônquios, publicados até o ano de 1921, regista dez casos de semente de cafeeiro. No tratado de Ch. Jackson (51) onde estão relatados 2374 casos de corpos estranhos das vias aéro-digestivas deparamos apenas com quatro observações de semente de cafeeiro. Merecem ainda registo os casos de Bloch e Soulas (7), Wiskowski (124), Vesselle (119) e o estudo de J. Piquet (81) com duas observações.

Na literatura indígena, onde tais casos deveriam ser mais freqüentes, encontramos uma observação incompleta de Schmidt Sarmento (100); referência a um caso de Renato Machado (66); três observações de Ildeu Duarte (30) e três de Donato Valle (117).

Na Clínica de Otorrinolaringologia do Instituto Penido Burnier até o ano de 1942, observamos 95 casos de corpos estranhos vegetais das vias aéreas inferiores, assim discriminados por ordem de freqüência:

Milho ................................... 28
Semente de melancia ..................... 19
Semente de cafeeiro ...................... 15
Feijão ................................... 6
Semente de laranja, lima ou tangerina .... 5
Amendoin ............................... 5
Semente de abóbora ...................... 4
Semente de fruta do conde .............. 4
Carrapicho .............................. 3
Outras variedades ........................ 6
Total .............. 95

A grande freqüência de sementes de cafeeiro em nosso serviço é explicável pela localização de nossa clínica em Campinas, onde atendemos a clientela proveniente das grandes fazendas do Estado de São Paulo. Encravados como estamos no maior centro cafeeiro do mundo, é natural que tenhamos observado número relativamente grande de semente de cafeeiro nas vias aéreas inferiores. Realmente, quinze observações constituem o maior número de casos já observados por um mesmo autor.

Uma das manifestações freqüentes nos corpos estranhos vegetais tráqueo-brônquicos é a asfixia; sob ação do calor e da umidade, muitos corpos estranhos, como os feijões, aumentam de volume ocasionando obstrução do laringe ou traquéia.

Em nossas observações de semente de cafeeiro, registamos caras manifestações de asfixia. No momento da aspiração do corpo estranho registamos algumas vezes, manifestações de asfixia, passageiras e seguidas de período de acalmia, interrompido sómente por acessos de tosse. De forma pouco favorável para determinar obstrução do conduto traqueal, de volume relativamente pequeno, possuindo ainda a propriedade de não se dilatar sob ação do calor e umidade, a semente de nosso cafeeiro dificilmente ocasionará asfixia. Uma série de pesquisas experimentais foram por nós realizadas, a fim de aquilatarmo-nos da capacidade de dilatação desta variedade de corpos estranhos. Para esse fim colocamos em uma placa de Petri transformada em câmara umida, algumas sementes de cafeeiro com cutícula, outras desprovidas de cutícula juntamente com feijões e milhos. Guardamos a placa de Petri em uma estufa e procedemos com o auxílio de um paquimetro a uma série de mensurações durante' três dias, feitas em intervalos de tempo variáveis. Verificamos então que os feijões poucas horas depois de submetidos a ação do calor e umidade aumentaram seu volume de mais de um terço, ao passo que a semente de cafeeiro com cutícula, praticamente, não apresentou modificações de volume, mesmo depois de permanecer vários dias na estufa.

O milho e a semente de cafeeiro desprovida de cutícula apresentaram também apreciável aumento de volume. Em nossos casos clínicos, as sementes de cafeeiro extraídas apresentavam-se revestidas de cutícula; explicam-se, assim, as discretas perturbações respiratórias exibidas pelos doentes, tornando em muitos casos a sintomatologia bastante pobre e dificultando o diagnóstico.

A atelectasia e o enfisema pulmonar em suas formas maciças não foram registados nos casos hoje estudados. Constituem reações ocasionadas pela obstrução parcial ou total de um dos brônquios. A semente de cafeeiro pela sua forma não se presta, para determinar obliteração brônquica; com suas duas faces, uma convexa e outra plana dificilmente agirá como rolha obliterante. As reações conseqüentes ao ferimento da mucosa tráqueo-brônquica, como enfisema sub-cutâneo e mediastínico não foram por nós observados. Aliás tais manifestações ocorrendo raramente nos corpos estranhos vegetais dificilmente poderão ser produzidas pela semente de cafeeiro, de forma e dimensões pouco traumatizantes.

Um processo generalizado de laringo-tráqueo-bronquite é reação constante, observada nos corpos estranhos vegetais. Poucas horas depois de sua penetração na árvore tráqueo-brônquica manifesta-se um processo inflamatório difuso de toda mucosa. A patogenia desta reação é ainda obscura; traumatismo, infecção transportada pelo intruso ou manifestação alérgica são as hipóteses até agora formuladas.

O processo de tráqueo-bronquite das sementes de cafeeiro mostrou-se discreto, e se caracterizou pela congestão pouco acentuada da mucosa e escassa exudação. Em nenhum dos casos o acúmulo de secreção foi grande, a ponto de ocasionar dispnéia que exigisse traqueotomia.

Também em nenhuma de nossas observações verificamos: caso grave de edema da sub-glote, apesar da tenra idade de alguns de nossos doentes e da permanência, as vezes longa, do corpo estranho nas vias aéreas. Atribuimos êste resultado favorável a uma certa estabilidade da semente do cafeeiro nas vias aéreas. Ao contrário da maioria dos corpos estranhos vegetais, que sob a ação dos movimentos respiratórios sofrem brusco deslocamento, traumatizando a mucosa laringo-traqueal, a semente de cafeeiro adere muitas vezes ao conduto traqueal permitindo certa tranquilidade respiratória. A traqueoscopia, permitiu-nos surpreender algumas vezes, a semente de cafeeiro, imovel e aderente à parede traqueal.

As outras reações como pneumonia, bronco-pneumonia, pleuris, abcesso de laringe e do pulmão, bronquiectasias e gangrena pulmonar não foram também observadas em nossos 15 casos; aliás não são freqüentes mesmo entre outros casos de corpos estranhos vegetais.

Contribue também para a evolução favorável de tais casos, o problema técnico da extração. A semente de cafeeiro com suas duas faces, uma convexa e outra plana é apreendida com toda segurança pela pinça fenestrada. Não se mostra escorregadia, como acontece com outras variedades de sementes, que exigem para sua extração, pinças em garras, ocasionadoras às vezes de fragmentação do corpo estranho. Ainda mais a cutícula que reveste a semente de cafeeiro, protege-a contra a fragmentação que não ocorreu em nenhuma de nossas observações.

Uma devassa sôbre o evolver dos casos descritos na literatura permitiu-nos averiguar que nem sempre se observou evolução favorável semelhante aos nossos casos, certamente devido a intervenção de fatores outros que procuraremos determinar.

Nos 4 casos de Ch. Jackson (51), três eram de sementes de cafeeiro torradas e uma só não torrada. Justamente nesta última registou-se violenta tráqueo-bronquite difusa, com copioso acúmulo de pus, atribuida pelo A. à prolongada broncoscopia feita sob anestesia geral antes da admissão ao serviço.

Nos casos de J. Piquet (81) verificou-se provavelmente fragmentação do corpo estranho e um deles só se curou após apresentar reações pleuro-pulmonares extraordinariamente graves. A fragmentação também ocorreu em um caso de Schmidt Sarmento (100) e em outro de Ch. Jackson (51) que terminou pela morte, causada por processo de broncopneumonia, um mês após a extração. Piquet (81) baseado nas suas duas únicas observações classifica a semente de cafeeiro na categoria de corpos estranhos orgânicos friáveis. Embora não se encontre no trabalho de Piquet (81) informações precisas sôbre o estado das sementes aspiradas, julgamos que deveriam se tratar de sementes torradas, semelhantes às da observação de Ch. Jackson (81) e Schmidt Sarmento (100), pois a semente de cafeeiro com cutícula dificilmente se fragmentará. Depois de torrada compreende-se que ela se fragmente facilmente, tornando-se então, nestas condições razoável sua classificação entre os corpos estranhos orgânicos friáveis.

Um dos casos de Ildeu Duarte (30) curou-se após apresentar dispneía post-operatória, que exigiu traqueotomia e Renato Machado (66) descreve um caso de óbito sem mais outras informações.

Os dois casos de Bloch e Soulas (7), o de Wiskowski (124), o de Vesselle (119) os três de Donato Valle (117) e dois de Ildeu Duarte (30) evoluiram favoràvelmente.

Loza (64) sem experiência própria equipara a semente de cafeeiro ao amendoim atribuindo-lhe a propriedade de sofrer fermentação rápida pela produção de ácidos graxos.

Em comentário oral, feito a êste trabalho na sessão do dia 17 de julho de 1944, na secção de oto-rino-laringologia da Associação Paulista de Medicina, Plínio Matos Barreto (4A) baseado em 15 observações pessoais, chegou a conclusões muito semelhantes às nossas, opinando que a semente de cafeeiro, sob qualquer condição, torrado, maduro ou sêco provoca discretas reações da mucosa brônquica.

Nosso estudo leva-nos a conclusão que a semente de cafeeiro com cutícula, habitualmente encontrada em nossas fazendas de café, constitue variedade benigna de corpo estranho vegetal das vias aéreas inferiores. As sementes de cafeeiro, desprovidas de cutícula ou torradas poderão entretanto pelo seu aumento de volume, fragmentação ou decomposição ocasionar reações mais graves, conforme sugerem alguns casos publicados na literatura.

OBSERVAÇÕES

I

Semente de cafeeiro na traquéia. - Traqueoscopia per-oral. Extração. Cura.

A. C. - 5 anos, branco, brasileiro e residente em Antas. Data 12-5-1928 - Estado geral bom. Semente de cafeeiro, há 24 horas movendo-se na traquéia. Tosse, acesso de asfixia e ruído em choque respiratório audível à distância. Radiografia nada revela. Laringoscopia direta com o aparelho de Hasslinger e apreensão com pinças de Brünnings, de volumosa semente de cafeeiro. Sequência operatória normal.

II

Semente de cafeeiro na traquéia. - Traqueoscopia per-oral. Extração. Cura.

B. F. - 3 anos, brasileiro e residente em Tieté. Ficha n .O 14.534 - Data 27 de junho de 1930.

Estado geral satisfatório. Semente de cafeeiro, há 12 horas na traquéia, produzindo na ocasião em que foi aspirado, acesso de asfixia que, por duas vezes, se repetiu durante a noite. Uma hora antes da intervenção, injeção de ¼ de millig. de atropina. Exposição do laringe com a espátula. de Ch. Jackson e introdução através da glote de um tubo de Kahler de 7 mm., realizando-se a apreensão de corpo estranho com a pinça fenestrada de Kahler. Tempo operatório: 3 minutos. Sequências normais. Após a intervenção persistiu ainda discreta pieira que, em dois dias desapareceu de todo, permitindo que o doente tivesse alta em ótimas condições.

III

Semente de cafeeiro na traquéia. - Traqueoscopia per-oral. Extração. Cura.

J. S. 4 anos, branco, brasileiro e residente em Limeira. Ficha n.° 19.773. Data: 8 de junho de 1933.

O paciente apresenta-se ao nosso hospital às 21 horas e seus pais nos informam que às 7 horas a criança aspirou uma semente de cafeeiro, tendo imediatamente forte crise de asfixia, que se repetiu várias vezes com menor intensidade e acompanhada de tosse. Criança robusta em boas condições. Tosse pouco frequente, observando-se às vezes ruído de válvula ao nível do laringe. Ausculta revela respiração normal em ambos os pulmões. Em posição de Boyce, sem anestesia, pratica-se no mesmo dia traqueoscopia supraglótica com o tubo de Kahler 7 mm X 16 cts. e realiza-se apreensão e retirada do corpo estranho. Sequências boas. No dia seguinte, o paciente teve alta, regressando a Limeira.

IV

Semente de cafeeiro na traquéia. - Traqueoscopia per-oral. Extração. Cura.

L. A. A. - 6 anos, branco, brasileiro e residente em Brotas - Ficha n.° 19.798. Data: 14 de julho de 1933.

Ontem às 10 horas da manhã, foi a paciente acometida de sério embaraço respiratório consequente à aspiração de uma semente de cafeeiro. O exame clínico nada revela: ambos os pulmões respiram tranqüilamente; ausência de tosse. Com o tubo de Kahler 10 mm. levanta-se a epiglote e se observa na traquéia, corpo estranho móvel, logo apreendido e facilmente extraído. Tempo operatório: 1 minuto. Alta no dia seguinte em ótimas condições.

V

Semente de cafeeiro na traquéia. - Traqueoscopia per-oral. Extração. Cura.

A. D. - 3 anos, branco, brasileiro e residente em Olímpia. Ficha n.° 25.161. Data 10 :de abril de 1936.

Há dois dias aspirou semente de cafeeiro que lhe determinou durante duas horas tosse muita frequente. A família fez várias tentativas de extração, introduzindo o dedo na faringe e conseguiu assim que o paciente vomitasse um fragmento de casca. Persistiu, porém, leve rouquidão e frequentes acessos de tosse. Sono tranquilo e deglutição sem dificuldade. Exame clínico: ambos os pulmões respiram bem. Ruído de choque na traquéia. 11 de abril de 1935 - Em posição de Boyce, sem anestesia, taqueoscopia per-oral, tubo de Kahler 7 mm. x 16 cts., revela corpo estranho na traquéia, fácil e rapidamente retirado. Sequências boas. 13 de abril de 1936 - Alta curado.

VI

Semente de cafeeiro na traquéia. - Traqueoscopia per-oral. Extração. Cura.

L. B. - 3 anos, branca, brasileira e residente em Jaú - Ficha n .º 25.240 - Data 25 de abril de 1936.

Há cinco dias, aspirou semente de cafeeiro ou laranja, tendo na ocasião do acidente violenta crise de asfixia. Criança impertinente, apresentando tosse frequente. Exame clínico: discreta tiragem abdominal; ruído de choque durante a respiração ao nível do laringe. Traqueoscopia per-oral com tubo de Kahler 7 mm. x 16 cts. permite apreensão com pinça fenestrada e retirada fácil de corpo estranho da traquéia. Boas sequências, em 27 de abril deixou o hospital em boas condições.
VII

Semente de cafeeiro na traquéia. - Traqueoscopia per-oral. Extração. Cura.

M. M. - 4 anos, branca, brasileira e residente em São João da Boa Vista. Ficha n.° 27.639 - Data 8 de junho de 1937.

Há quatro dias aspirou uma semente de cafeeiro; o acidente foi seguido de crise de asfixia. De então para cá vem tendo tosse e crises de asfixia. Exame clínico (Monteiro Sales): à escuta, pulmão esquerdo normal. Pulmão direito; apagamento intenso da murmúrio respiratório. particularmente na metade superior, escutando-se as regiões inter-escápulo vertebral, e anterior do hemitorax direito. Conclusão: corpo estranho do brônquio direito. Radiografia: pulmões normais. Em posição de Boyce, sem anestesia, com tubo de Kahler 7 mm. x 20 cts., localiza-se no terço inferior da traquéia, semente de cafeeiro, apreendida e retirada facilmente juntamente com o tubo. Boas sequências. Alta, curado em 9 de junho, de 1937.

VIII

Semente de cafeeiro na traquéia. - Traqueoscopia per-oral. Extração. Cura.

J. L. S. - 6 anos, branco brasileiro e residente em Espírito Santo do Pinhal. Ficha n.° 27.830 - Data 7 de julho de 1937.

Há cinco dias aspirou uma semente de cafeeiro, que, às vezes, não o incomoda e outras vezes fica como está agora com o corpo estranho batendo na garganta (sic). Dispneia intensa e cianose discreta. Ruido de choque do corpo estranho contra as cordas vocais. Traqueoscopia per-oral com o tubo de Kahler 7 mm. x 16 cts. encontra corpo estranho que na respiração bate na extremidade do tubo de exame e desaparece. Retira-se êste traqueoscópio e introduz-se tubo broncoscópio 7 mm. x 20 cts. e no terço inferior da traquéia encontra-se o corpo estranho. A apreensão apresentou dificuldades por se tratar de um grão de café inteiro, portanto roliço. Registrou-se abundante secreção purulenta na traquéia. 8 de julho de 1937 - Passou regularmente a noite, tossindo um pouco. Ligeira pieira. Temperatura 39°,6' à noite. Terapêutica: Inhalações com benjoin-eucaliptus e pulmoserum.

10 de julho de 1937 - Melhorou bem, voz boa, desapareceu pieira. Alta, curado.

IX

Semente de cafeeiro na traquéia. - Traqueoscopia per-oral. Extração. Cura.

A. B. - 4 anos, branca, brasileira e residente Piracicaba. Ficha 27.767 - Data 29 de julho de 1937.

Há quatro dias aspirou semente de cafeeiro; o acidente foi seguido de asfixia passageira. Depois disso pequenos acessos de tosse e pieira. Exame clínico: acessos de tosse espaçados durante os quais se pode ouvir ruído em válvula na traqueía; nos períodos de calma não há movimentação do corpo estranho. Roncos e sibilos disseminados na área pulmonar direita.

Em posição de Boyce, sem anestesia com o tubo de 7 mm. x 16 cts., localiza-se corpo estranho no terço inferior da traquéia onde é facilmente apreendido e ràpidamente retirado em bloco com a pinça e broncoscópio. Boas sequências. Alta curado, em 30 de julho de 1937.

X

Semente de cafeeiro na traquéia. - Traqueoscopia per-oral. Extração. Cura.

N. B. - 3 anos, branco, brasileiro, masculino e residente em Serra Negra. Ficha 28.200 - Data: 11 de setembro de 1937.

Há nove horas aspirou semente de cafeeiro apresentando nessa ocasião, acesso de asfixia, seguida de tosse espaçada. Criança inquieta, tossindo pouco e exibindo ruído de choque durante a expiração. A ausculta pulmonar revela respiração normal de ambos os lados. Traqueoscopia per-oral tubo 7 mm. x 16 cts. localiza corpo estranho, apreendido durante a respiração e fàcilmente extraído. Boas sequências. Alta curado no dia 12 de setembro de 1937.

XI

Semente de cafeeiro na traquéia. - Traqueoscopia per-oral. Extração. Cura.

P. G. - 4 anos - branco, brasileiro, masc. - residente Anápolis -Ficha n .º 29.841 - Data 21-5-938.

Há 12 dias aspirou semente de cafeeiro e nessa ocasião manifestou-se dispnéia e cianose, seguida de tosse rebelde. Foi tratada por um médico como crupe e bronco-pneumonia. Exame clínico (Monteiro Sales) - Criança bem constituída apresentando frequentes crises de tosse sêca, acompanhadas de tiragem acentuada. Ruido em válvula expiratória ao nível do laringe durante os acessos de tosse. O mesmo ruido é audível, na fase inspiratória ao nível do 3.° intercosto da direita na face anterior e no espaço inter-escápulo-vertebral da direita na face posterior do torax. Não há sinais de lesões de bronco-pneumonia. Provável corpo estranho livre transitando do brônquio principal direito ao laringe. Traqueoscopia percral tubo 7 mm. x 16 cts. permite apreensão e retirada fácil do corpo estranho da traquéia. Boas sequências.

XII

Semente de cafeeiro na traquéia. - Traqueoscopia per-oral. Extração. Cura.

J. P. 18 meses - branco, brasileiro e residente em Monte Aprazível - Ficha n.° 31.969 - Data - 30 de março de 1939.

Há 18 dias aspirou semente de cafeeiro e nessa ocasião apresentou dispnéia, seguida de tosse que se tornou mais frequênte há três dias aparecendo agora febre. Exame clínico: (Monteiro Sales): Criança abatida, temperatura 37,5 pulso 160. Sub-maciez discreta no ápice direto. Roncos e síbilos disseminados. Ruido de choque ao nível do laringe durante curto acesso de tosse.

Conclusão: corpo estranho movel das vias aéreas inferiores.

Traqueoscopia per-oral - tubo 16 cts. x 7 mm. permite localizar corpo estranho na traquéia facilmente apreendido e extraido. Sequências ótimas, alta em boas condições dois dias após a operação.

XIII

Semente de cafeeiro na traquéia. - Traqueoscopia per-oral. Extração. Cura.

J. A. S. - 5 anos, branco, brasileiro e residente em Araguarí. Ficha n.° 32.148 - Data: 27 de abril de 1939.

Há 5 dias aspirou semente cafeeiro e nessa ocasião teve acesso de sufocação seguida de tosse e febre (38°). Exame clínico (Monteiro Sales) ; Criança bem constituida apirética, defendendo-se bem da tosse. Roncos e sibilos disseminados em ambos pulmões. Ruido de choque expiratório ao nível do laringe. Conclusão: corpo estranho movel das vias aéreas inferiores. Traqueoscopia per-oral tubo 7 mm. x 16 cts. permite apreensão e retirada fácil do corpo estranho. Sequências muito boas.

XIV

Semente de cafeeiro no brônquio direito. - Broncoscopia per-oral. Extração. Cura.

A. M. - 5 anos, branco, brasileiro e residente em Piranji. Ficha 29.711 - Data: 2 de maio de 1938.

Há 28 dias aspirou semente de cafeeiro que lhe determinou forte acesso de asfixia, quase que morre (sic.). Desde essa ocasião vem se manifestando tosse seca, sem febre. Permanece bom apetite e o bom humor. Exame clínico (Monteiro Sales). Respiração rude no ápice direito. Roncos e sibilos escassos, disseminados em ambas as áreas pulmonares. Ruido de choque expiratório ao nível do laringe. Conclusão: corpo estranho movel das vias aéreas inferiores. Broncoscopia per-oral tubo 7mm X 20 cts. localiza corpo estranho no brônquio direito, apreendido pela pinça fenestrada e retirado sem maiores dificuldades. Boas sequências, dois dias depois alta, curado.

XV

Semente de cafeeiro no brônquio direito. Broncoscopia per-oral. Extração. Cura.

J. C. - 3 anos, branco, brasileiro e residente em Ibitiura. Ficha 40.208 - Data 16 de julho de 1942.

Ontem aspirou semente de cafeeiro e nessa ocasião teve violento acesso de asfixia, perdendo os sentidos. Criança bem disposta, ouvindo-se de quando em vez, ruido de choque do corpo estranho contra o laringe.

Broncoscopia per-oral, tubo de 16 cts. x 7 mm. localiza corpo estranho na entrada do brônquio direito, apreendido com a pinça fenestrada de Kahler e logo retirado em conjunto com o tubo. Boas sequências operatórias.

SUMMARY

REACTIONS CAUSED BY COFFEE BERRY ON THE TRACHEO-BRONCHIAL TREE.

Ch. Jackson showed that peanut kernels are the most fatal of foreign bodies because they will set up violent reaction, well known as peanut bronchitis. Beans, also caused serious reactions and they are responsible by a great mortality; the swelling of the bean may asphyxiate the patient.

The reactions caused by coffee berry were not yet, conveniently studied. The Author presents 15 observations of coffee berries on the air passages, all occurring in children. Rewiewing the litterature few cases were found and the Author deduces that coffee berries did not cause serious reactions; they are the mildest of vegetable foreign bodies. All 15 repported cases had an uneventfull evolution, recovery without complications. Experiments by the Author demonstrate that coffee berries did not show any apreciable increase in size after remainning four days in a damp chamber.

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(*) Trabalho apresentado ao II Congresso Sul-Americano de Otorrinolaringologia, realizado em Montevidéo (2 a 12 de novembro de 1944).
(**) Docente-livre da Faculdade Nacional de -Medicina. Sócio titular da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo. Membro laureado da academia Nacional de Medicina.

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