Versão Inglês

Ano:  1941  Vol. 9   Ed. 4  - Julho - Agosto - ()

Seção: Progressos da O. R. L.

Páginas: 300 a 306

 

SIGNIFICAÇÃO E VARIAÇOES DO pH NAS SECREÇOES NASAIS

Autor(es): Francisco Hartung

Noah Fabricant - Archives of Otolaryngology - Julho e Agosto de 1941.

Resumo e comentário de Francisco Hartung.

Noah Fabricant é um nome que dispensa apresentação para os rinologistas habituados a manusear a literatura americana da especialidade. É evidente o seu prestigio nos meios científicos dos E.E.U.U. Eis a razão por que nos resolvemos a condensar três de seus artigos sobre a materia que vem no titulo, por julgarmos o assunto de muita atualidade e digna da maior divuldação cientifica. Nem foi por menos que se deixou seduzir Mario Ottoni quando se decidiu a abordar este assunto para uma de suas palestras na Santa Casa. Traduzindo os artigos de Fabricant, resumimo-los o mais possível sem sacrificar porem o essencial de suas investigações e conclusões cientificas.

Inicialmente, diz Fabricant que não obstante as investigações sobre o mecanismo do ph datarem de quase meio século, tais trabalhos científicos pouco interesse tem despertado entre os técnicos e práticos, principalmente entre os rinologistas. Só foi possível tal interesse depois que se estabeleceu uma nomenclatura compreensível sobre as variantes de concentração do íon hidrogenico. E fato conhecido em medicina geral, quanto o valor do ph esta ligado a saúde geral; particularmente o teor é de capital importancia. O seu valor não importa porem conhecer só no sangue, porque está demonstrado hoje que é de todo interesse julgar tambem da proporção do íon H no líquido cerebro espinal, na linfa, nos fluidos do corpo, inclusive o muco nasal.

E' bastante conhecido a escala adotada para julgar-se do valor do pH, exprimindo-se numericamente a concentração do ion hidrogenio. A escala varia entre 0 e 14. A média será pois 7, que corresponde à proporção do ion H em água pura, que significa um valor neutro. Resultados abaixo de 7 correspondem a um aumento de concentração do ion H, com predominancia de uma reação acida. Ao contrario, acima de 7, demonstrando concentração diminuida, traduz o resultado uma reação alcalina.

Estas noções, conhecidas e elementares recordadas entre os elementos de dissociação electroquimica da água, H e OH, são suficientes para o que vai ser exposto.

Ha diversos processos para calcular-se o valor do pH. Seria alongar demais o resumo aqui expô-los. Devemos apenas relatar que Fabricant lança mão para o estudo em foco nas secreções nasais de um electrodo de vidro com cloreto de prata aplicado na fossa nasal, em conjunção com um electrometro de Coleman. O dispositivo do aparelho e particularidades vem no original, fotografia inclusa.

Verificou Fabricant após exaustivos estudos que o pH da secreção nasal descreve uma curva com altos e baixos. Nunca fica constante por um periodo apreciavel, variando em um nariz normal aproximadamente entre 5,5 e 6,5. E' pois totalmente inutil pretender chegar a conclusões em se baseando unicamente em uma só leitura, uma vez que se obtêm resultados diferentes dentro de uma hora ou em menos tempo. Seria tambem grave erro pretender estandartisar os resultados para outros pacientes uma vez que o nivel do quimismo diz respeito somente à uma pessoa e que mesmo este é variavel sob certas condições.

De acordo com os seus experimentos, afirma o autor que o valor do pH varia com o sono, com o repouso e com a ingestão de alimentos, durante o dia ou à noite. O seu valor póde ser alterado não só devido às infecções, como tambem pelos estados emocionais. Verificou mais o autor a correlação que existe entre o pH da mucosa nasal e aquele da mucosa bucal. Conclue ele que os valores destes ultimos, nasal e bucal, progridem sob certo paralelismo, e que este paralelismo só ,é perturbado pela aplicação de uma bolsa de gelo sobre a cabeça do paciente. Assim tambem acontece como os resultados obtidos na ponta da lingua e da mucosa bucal que revelam paralelismo. Entretanto, si o doente tomar meio copo de água gelada, desaparece tal equilibrio. Tambem na pele podemos apurar modificações do pH, pela fricção, ou pela aplicação de gelo. O curso das, alterações do pH nasal é influenciado pela aplicação do calor ou do frio. Uma bolsa de gelo aplicada,,em cada lado do nariz provoca uma tendencia para alcalinidade. Quando o gelo é retirado, o pH volta para um estado mais acido. O efeito do calor é rapidamente, demonstrado ser contrário àquele do frio, podendo-se demonstrar por meio de uma tampada elétrica. Tambem se demonstra que se nebulisarmós á fossa nasal com água fria, produziremos alcalinidade, enquanto que se a água fôr quente haverá tendencia para acidez.

Uma idéia que acorrera à Fabricant e que acorrerá a todos sobre o assunto será de que os medicamentos usados como vasoconstritores devessem atuar de uma maneira uniforme sobre as alterações do pH. Muito ao contrário o Autor com grande surpreza chegou aos resultados que se seguem, no tocante ao pH de cada medicamento.

Preparações contendo Efedrina PH
Metafedrina aquosa ............. 9,5
Metafedrina isotonicà ............ 9,5
Isohalante ..................... 6,0
Gluco-fedrina ................. 5,4 a 5,8
Efedrina hidroclorica
Efedrina hidroclorica a 1% em solução fisiologica de cloreto de sodio . 5,9
Epinefrina hidroclorica
Adrenalina inhalante a 1 por 1000. . 2,3 a 2,5
Epinefrina sintetica ............. 3,7
Propadrina hidroclorica
a) Propadrina hidroclorica 1 % ...... 4,8 a 5,0
Neosinefrina hidroclorica
a) Neosinefrina hidroclorica a 0,25% . . 3,5 a 4,2
b) Neosinefrina hidroclorica a 1 % ... 4,1 a 4,2
Anfetamina
a) Solução de benzedrina (aplicado no
nariz) ...................... 8,0

Por aí se verifica que o pH dos medicamentos vasoconstritores varia entre 2,3 (acido) e 9,5 (alcalino). E daí âe conclue imediatamente que o PH da mucosidade nasal dependerá: daquele do medicamento empregado. Assim, drogas que possuem uma, concentração ionica altamente alcalina (tais como a metafedrida aquosa, a metafedrina isotonica e a solução de benzedrina), produzirão notavel tendencia para alcalinidade. As drogas que possuem um PH proximo do normal, entre 5,5 e 6,5 (tais como a efedrina hidroclorica, a glucofedrina e isohalante), não provocam flutuações no pH nasal. Finalmente, drogas cujo pH é mais baixo de 5, acarretam acidez no meio nasal. Neste grupo cabem a neosinefrina hidroclorica, a epinefrina sintetica a 1 por 1.000, e com menor significado a propadrina hidroclorica a 1 %.

Hilding observou que o pH sobe ligeiramente e se torna mais alcalino durante -os primeiros quatro dias da rinite- aguda. Na opinião de Mittermaier, em casos de inflamação aguda, o PH tende definitivamente para o lado acido. Segundo os estudos pessoais de Fabricant, os resultados coincidem mais com aqueles de Hilding, isto é, que nos surtos de rinites ou rinosinusites agudas, as secreções são mais alcalinas de que no normal. Este fato tem a maior significação clinica, porque, uma vez que o meio é alcalino é desejavel que se use um medicamento acido para contrariá-lo. Inversamente os medicamentos de pH alcalino contribuirão para prolongar a molestia, dificultando a sua cura. E' esta a conclusão pratica do autor. Nada de alcalinisar o nariz, como muita gente pensa, mas sim acidificá-lo.

Resultados analogos foram verificados em casos de alergia nasal. Demonstram eles que durante o agravamento dos fenomenos alergicos, o pH da secreção se torna alcalino. Logo que o doente melhora o nivel acido-alcalino tende para ò normal. (Nota do tradutor: é muito significativa esta parte, acusando uma alcalinidade em casos de alergia. Digo isto porque tais resultados coincidem com aqueles obtidos por Jarvis e Iran Frank, os quais acusam uma alta no pH no sangue dos individuos alergicos, demonstrando alcalose sanguinea durante as crises de rinite espasmodica e de febre do feno. Para melhor compreensão, procurar Alergia Nasal, Francisco Hartung, Rev. O.R.L., de S. Paulo, 1933). Assim tambem, deveremos tal como nas rinites simples, procurar administrar medicamentos que baixem a alcalinidade nasal, aproximando-a do nivel acido normal.

Em um artigo posterior àquele resumido agora, Fabricant, depois de recapitular o que havia dito até então, informa que em estudos realisados na Universidade de Illinois, o Professor Willians Petersen, confirmou os resultados das suas experimentações, propondo que a terapeutica das rinites agudas tenham por base o restabelecimento de um pH ligeiramente acido na secreção nasal.

De acordo com os resultados obtidos, ficou provado que o repouso e o sono prolongado dão em resultado uma acidificação no pH nasal. A acidificação citada não é entretanto um fenomeno isolado como demonstraram Grossmann e Brickmann, porque o mesmo se observa tambem no pH da saliva.

Sintetisando pois estes resultados, Fabricant pretende estabelecer tres condições para a terapeutica das rinites e rinosinusites agudas:

1) Cuidadosa seleção e administração de um vasoconstritor nasal adequado.
2) Proporcionar repouso e sono suficientes.
3) Em casos de sinusites agudas administração de calor externo.

Esquematicamente
Vasoconstrictor adequado
Calor externo -- pH NASAL ACIDO -- Repouso suficiente
Sono suficiente

Cada uma destas medidas terapeuticas tem uma finalidade unica: acidificação do pH. Será a falta de observancia destas medidas que se conjugam que leva alguem a um cepticismo terapeutico afirmando que para tais casos o melhor será não usar medicamento algum na cavidade nasal, quando na realidade o desconhecimento da intimidade do fenomeno biologico é o verdadeiro responsavel por tais insucessos.

E' de notar que entre os antisepticos geralmente usados para as fossas nasais, Fabricant verificou que com ecepção de um preparado de prata, eles são todos alcalinos. Por outro lado, Lierle e Moore, em investigações sobre o assunto verificaram que as concentrações fracas de proteinato de prata, de 5, 10 ou 20 %, produzem inicialmente uma aceleração da atividade ciliar que é seguida por um retardamento. Pensam eles que este efeito pode ser mais devido ao dissolvente de que ao proprio medicamento. Proetz não observou efeito algum sobre os cilios pela aplicação fraca de uma tal solução a 10 %, mas notou uma interferencia no corrimento nasal, que deve ser interpretada como resultante do precipitado do medicamento. Finalmente Walsh e Cannon, sobre o problema da medicação intranasal, concluiram que embora os sais de prata não tenham interferencia nos movimentos dos cilios da cavidade, em compensação é duvidoso o seu valor como antiseptico.

Fabricant cita depois as suas pesquizas pessoais e seus resultados. Empregou ele alguns dos preparados de prata mais em voga nos Estados Unidos, chegando às seguintes conclusões:





Nota-se que 6 dos 7 sais de prata aqui estudados pertencem ao grupo dos alcalinos, com ecepção do argental. De acordo pois com o que já foi dito é de concluir-se que as preparações prata, em geral, ou aumentam ou perpetuam a alcalinidade da mucosidade nasal, prolongando em consequencia o decurso das rinites e rinosinusites, porque as bacterias encontram um campo mais fertil para se desenvolverem. Fabricant verificou que o numero de bacterias que resistem quando retiradas da mucosa nasal em seu ponto alto e baixo de flutuação do pH diferem notavelmente, conforme o instante em que são semeadas. O numero daquelas que crecem é muito maior quando retiradas no momento menos acido de que do mais acido. Este resultado coincide com o melhor desenvolvimento nas rinites agudas, nas quais ha um meio alcalino.

Deve-se pois concluir que durante as rinites agudas e rinosinusites o emprego dos sais de prata cujo pH ocila entre 5,5 e 6,5 é o mais desejavel. Uma preparação ideal de prata assim como um vasoconstritor adequado devem, não só restaurar e manter a atividade ciliar, mas tambem ser ligeiramente acidos, apresentando um valor do pH que ocile entre 5,5 e 6,5.

Terminando estes estudos até o momento, Fabricant apresenta o resultado de experimentação em mais 4 medicamentos muito em uso nos Estados Unidos:

pH

Metafena 1:2.500 a 1.500 ......... 10,0 a 11,0
Mertiolato 1:1.000 a 1:5.000 .... 9,6 a 10,0
Mercuriocromo 0,25% a 2% .... 8,8 a 9,8
Mercresina diluiria 1:5 ..............5,5 a 5, 7

Segundo estes resultados cabem aqui as mesmas objeções apresentadas em relação aos sais de prata. Por isso, diz Fabricant, são medicamentos indesejaveis para as sinusites e rinosinusites agudas. Ele prosegue os seus estudos sobre a materia e promete com brevidade novos resultados.

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