Versão Inglês

Ano:  1941  Vol. 9   Ed. 2  - Março - Abril - (10º)

Seção: Análises

Páginas: 194 a 198

 

ANALISES

Autor(es): Francisco Hartung

MALCOLM JOHNSON. (Minn.) - Obstrução nasal e deficits de audição.
Archives of otolaryngology. - Volume 33 - Abril de 1941. - N.°4 Pag, 536.

Depois de passar em revista a literatura deste assunto o A. tenta estabelecer as relações que existem entre a deficiencia respiratoria nasal e a surdez. Em sua opinião, a obstrução nasal pode produzir decadencia de audição, somente quando causa alguma perturbação no orificio nasofaringiano da trompa de Eustaquio. A maior parte dos autores pensa que a obstrução anatomica do nariz não pode afetar as trompas, nem por modificar a direção da corrente de ar no nariz, nem por produzir lesões inflamatorias da trompa. Por outro lado, entretanto, a obstrução nasal causa a cronicidade das infecções do nariz, de maneira a permitir a declaração de verdadeiras sinusites, que por sua vez provocam a reação inflamatoria do nasofaringe, que atingindo a trompa, podem provocar a formação de processos adesivos no ouvido medro. A alteração inflamatoria assim, é resultado da infecção e não da obstrução nasal.

Analisando 46 casos de operação de septo, verificou que em 30 casos, ou 65%, ou não havia deficiencia de audição ou havia somente para os tons altos. Neste ultimo caso, as melhoras obtidas audiometricamente não encorajam os rinologistas no sentido de recomenda-la como uma operação urgente em relação ao ouvido.

S. J. CROWE. (Baltimore) - O nasofaringe. -
Archives of otolaryngology, - Vol. 33 - Abril 1941. - Pg. 618.

Estudando as causas de recidiva de adenoides e consequente diminuição de audição para os sons altos, (assunto ao qual o Dr. Rezende Barboza já chamou a atenção em suas palestras na Santa Casa), diz o autor.

A recidiva de adenoides nas creanças pequenas é tão comum que se deve considerar como um fato normal. Este tecido adenoide recurrente pode diminuir a função da trompa de Eustaquio, levando á uma surdez cronica progressiva. Estes nodulos de tecido hiperplastico situados em redor do orifício faringiano da trompa, podem colocar-se de tal modo que se torna impossivel remove-los cirurgicamente. Por outro lado, felizmente, este tecido limfoide é muito sensivel ao radio, de modo que se pôde empregar o radio sem produzir nenhuma irritação ou lesão da mucosa circunvisinhante. Não ha tecido cicatricial, nem secura do nariz e da garganta, nem alterações atroficas na mucosa em resultado do tratamento do nasofaringe com o radio, desde que as doses sejam exatas bem como os intervalos necessários. Esta afirmativa, diz Crowe, é baseada em observações de centenas de creanças. Muitas delas tem sido seguidas por 10 anos ou mais. Si porém o radio for usado sem tecnica, pode ser extremamente perigoso. Não deve ser usado em presença de uma nasofaringite aguda. A finalidade do tratamento é reduzir o tamanho do tecido linfoide. Ele tem pouca ou nenhuma ação contra as bacterias. Tambem não tem valor para o tratamento das supurações cronicas do ouvido medio, da otoesclerose, ou de qualquer forma de surdez do ouvido interno, (Aliás Rezende Barboza demonstrou que taes tipos de surdez dependem, de um modo especial, do ouvido medio). Ele é usado somente para reduzir o volume do tecido linfoide, diminuindo a secreção de mucosidade a restauração da ventilação normal da trompa de Eustaquio. Por esta razão a irradiação é muito mais util para as creanças de que para os adultos. Para obter-se os melhores resultados, será necessario agir antes de haver alterações no ouvido medio, secundaria á obstrução parcial da trompa, ou com danos irreparaveis do ouvido medio e interno.

WILLIAM GATEWOOD (New York.) - Sintomas de origem gastrointestinal em otorinolaringologia. - Archives of otolaryngology - Vol. 33 - Abril 1941.

(Resumido e comentado por FRANCISCO HARTUNG)

Não é raro aparecerem sintomas no campo da otorinolaringologia cuja explicação se encontra fóra dos limites da especialidade. Com frequencia verifica-se que um certo numero de dificuldades que não podemos remover afastando causas organicas imediatas, são articuladas com outros disturbios em pontos totalmente diferentes da economia. E' o caso por exemplo que se dá nas perturbações gastro-intestinaes de fundo alergico e os reflexos patologicos observados na especialidade. São fatos estes bem conhecidos e é extranha a pobreza da literatura a este respeito. Falta de mais vulgaridade sobre os progressos dos estudos sobre a alergia, talvez.

Gatewood divide assim um certo numero de queixas por parte dos clientes, para as causas que não se encontra localmente uma causa imediata:

1 - Uma sensação persistente de corrimento, ou de corpo extranho no nasofaringe, mesmo quando afastadas ou controladas as condições sinusaes,

2 - Vertigem e sensação de ouvido cheio, ainda que pela otoscopia não encontre vestigio de otite ou catarro.

3 - Rinorréa associada a espirros, resfriados de repetição, tosse e outras manifestações de febre do feno,

4 - Secura da mucosa nasal, acompanhada de dôres de cabeça, sensação de ardôr nos olhos e pressão na raiz nasal.


5 - Paralisia dos musculos extraoculares, tambem associada á dôr de cabeça.

6 - A cefaléa baixa de Sluder, que se compõe de dôr no olho, no maxilar superior, nos dentes, extendendo-se para o zigoma, temporal, ouvido, apófise mastoide, daí irradiando-se para o occiput, pescoço, ombros, escapula, braço, antebraço, mãos e dedos.

Quando o exame especializado não consegue a verdadeira causa de taes sintomas ou por não existirem fatores clínicos diretos ou pela não existencia de possibilidades focaes, diz o A. que devemos enveredar para a patologia do trato gastro-intestinal em busca de interpretação.

E' o colon o ponto predileto para fóco da toxemia intestinal; não se pode, entretanto afirmar que os sintomas observados resultem diretamente do fóco, porque a sua origem pode estar subordinada á absorpção de toxinas por intermedio do figado. São fatos esses produtos da observação, admitidos como verdadeiros, porém ainda bastante obscuros em sua patogenia. Esta toxemia dependerá de espasticidade ou de irritabilidade do colon e seria devida a formas brandas de colites cronicas ulcerativas que frequentemente passam indiagnosticadas. A secreção gastrica pode ser normal, mas a presença de indicam na urina evidencia a existencia de toxemia intestinal, ao mesmo tempo que uma radiografia depois da ingestão de sulfato de bario demonstrará que o cecum muitas vezes está dilatado, em atonia local ou geral, daí resultando uma estase e retenção dos produtos da digestão.

O A. sintetisa, como se segue, as suas idéas sobre os fatores gastrointestinaes:

1 - Invasão bacteriana.
2 - Perturbações da motilidade dos intestinos.
3 - Perturbações da inervação dos intestinos e do equilibrio endocrinico.
4 - Alterações das secreções do intestino que provocam varias lesões da mucosa intestinal.

Uma dessas contingencias ou a combinação de varias, podem, a seu vêr, provocar reflexos patologicos obscuros no dominio da otorinolaringologia, interpretados hoje sob uma feição alergica.

Willian Lintz, investigando em 1939, sobre as causas sensibilisantes em alergia, verificou que em 500 pacientes, 472 sofriam de perturbações gastro-intestinaes. Proteínas, incompletamente digeridas tinham acesso na circulação, não só em pacientes sensibilisados, como em pessôas aparentemente normaes. Nos casos sensibilisados, diz Lintz, a entrada de proteinas provoca uma ecitação das celulas do trato gastro-intestinal, o qual reage de uma maneira anormal. A severidade dos sintomas dependerá da sensibilidade do paciente e da quantidade da substancia alergisante. Pensa ele que ha deficiencias congenitas de um fermento ou de secreção interna, que, normalmente, neutralisam os efeitos toxicos das proteínas. Assim explicar-se-ia porque uma pessôa suporta grande quantidade de proteinas, e outras, as alergicos, vem a padecer. Calcula-se que cerca de 10% da população em geral seja sujeita a fenomenos alergicos, mas é muito provavel que a maioria sofra uma vez ou outra de sintomas que passem desapercebidos. Quantas vezes se ouve uma pessôa dizer que não pode comer certos alimentos porque a tornam biliosa ou que lhe produzem dôres de cabeça; e que evitando certos alimentos, curam-se sem auxilio do medico? Eis porque, afirma Lintz, que a alergia gastro-intestinal é uma das mais comuns dentre elas. E por isso, quando um paciente se apresenta, em nossa especialidade, queixando-se de padecimentos no nariz, na garganta ou nos ouvidos para os quaes não se encontram elementos na semiologia comum, necessario se torna que se estude em detalhe a historia-somatica do proprio doente e da familia. A anamnese pessoal demonstra muitas vezes que o paciente tem sofrido de acidentes patologicos que ele atribue a certos alimentos, e que revela sintomas alergicos independentes daqueles que relata totalmente á especialidade. Dentre eles, pelo menos 70% demonstram que na familia ha precedentes alergicos. A maioria, principalmente entre os pacientes do sexo feminino, referem ter sido operados com a finalidade de corrigir lesões do trato digestivo, cirurgia esta sem o menor resultado pratico. Na opinião de Lintz, essas operações do nariz e garganta são tão frequentes sob esta erronea indicação que devem ser consideradas como um sintoma da contingencia clinica em estudo.

É evidente que as molestias organicas do intestino devem aprofundademente estudadas e julgadas antes de precipitadamente se lhe pretender atribuir possiveis reflexos alergicos para o nosso campo de medicina, mas de qualquer forma a vulgarisação destas idéas emitidas são uteis e necessarias.

Temos apurado que para taes casos, os tests dermatologicos em voga são menos eficientes que as dietas de prova. Tambem tem-se verificado que o sistema nervoso autonomo desempenha um papel muito importante na genese da alergia gastro-intestinal. Isto explica o fato de que uma mesma pessôa pode hoje tolerar um certo alimento muito bem, enquanto que amanhã este mesmo alimento deflagará a reação alergica, isto porque ha fatores que superecitam a ação do vago em um dia para depois bloquea-lo. A experiencia demonstra ainda que certos alimentos excluidos da lista dietetica podem ás vezes produzir a reação, enquanto que outros, inclusos na dieta podem alguma vez ser prejudiciais pela carência de vitaminas.

Considera o A. estas investigações dieteticas como revestidas da mais alta importancia, afirmando que muitos pacientes têm sido submetidos a medicações e a operações erroneas, porque a verdadeira causa de seus padecimentos depende ainda de capitulos obscuros de patologia, dizendo respeito á alergia. Acentua que não é sua intenção diminuir a importancia e as conquistas da cirurgia especialisada, mas que está convencido que uma certa classe de doentes entregues a um competente gastroenterologista poderá fugir a indicações cirurgicas mal orientadas e desproveitosas. Não é dificil na pratica, perceber-se qual é esta classe de doentes. Em geral, individuos que fazem pouco exercicio; queixam-se de pouca energia fisica e impacientam-se por qualquer restrição alimentar que se lhe proponha. Neles, é frequente a constipação e referem-se a incomodes intestinaes que atribuem a acessos de gazes. E' de notar que muitas vezes afirmam a regularidade dos intestinos; não se deve dar muito credito á esta informação, recorrendo-se aos tests de alergia, si necessarios.

Uma dificuldade que se apresenta ao medico, por vezes é a incredulidade do doente á tal interpretação dos fatos, é natural, por enquanto tal atitude, deante da vastidão do campo por explorar. Desaparecerá quando tivermos uma orientação melhor definida. Outra dificuldade é de ordem economica porque as radiografias do intestino são em geral dispendiosas. Podemos porém contorna-la, estudando em detalhe, as variantes de alimentação do doente, e por meio de uma dieta de prova, afastar os elementos alergisantes.

ADENDO AO RESUMO - Este artigo foi traduzido e reduzido porque nos pareceu sobremaneira interessante. Em qualquer sector da medicina que nos coloquemos, podemos perceber nitidamente o acentuado relevo fornecido pelo acumulo de novos conhecimentos sobre os fenomenos alergicos e que exige que todo especialista esteja sempre em dia com os seus conhecimentos de ordem geral. Já de ha muito, temos nos interessado por esses capitules de patologia, Em 1935 apresentamos á Secção de Otorinolaringologia da Associação Paulista o resultado de um certo numero de observações relacionadas com o assunto. Tratavam-se de pacientes, em geral jovens submetidas a dietas pobres em hidratos de carbono, e que ,vinham a sofrer de verdadeiras crises de rinites espasmodicas ou vasomotoras, tão somente por apresentarem perturbações metabolicas de sua alimentação. Nesta ocasião referimo-nos aos perigos das indicações cirurgicas em taes casos, com resultados nulos, as quaes além de não beneficiar os operados tendem a desmoralisar uma especialidade á qual a cirurgia presta mais brilhante dos concursos, porque como sabemos a Otorinolaringologia é um departamento de medicina eminentemente cirurgico.

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