Versão Inglês

Ano:  1941  Vol. 9   Ed. 2  - Março - Abril - ()

Seção: Associações Científicas

Páginas: 173 a 193

 

ASSOCIAÇÕES CIENTIFICAS

Autor(es): -

SECÇÃO DE OTO-RINO-LARINGOLOGIA DA ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA
Reunião de 17 de Outubro de 1940

Presidida pelo Dr. Prudente de Aquino e secretariada pelos Dr. Homero Cordeiro (na ausencia justificada do Presidente e do l.° Secretario), realizou-se no dia 17 de Outubro de 1940 mais uma reunião mensal da Secção de Oto-rino-laringologia da Associação Paulista de Medicina.

Expediente:

Aberta a sessão, foi lida pelo Sr. Secretario a áta da ultima reunião, que foi aprovada por unanimidade.

Pediu a palavra o Dr. Francisco Hartung, que comunicou à Casa a proxima chegada a S. Paulo do Dr. Juan Manuel Tato, ilustre oto-rino-laringologista argentino, tendo sido combinado que a Secção de Oto-rino-laringologia irá recebê-lo oficialmente, em reunião extraordinaria, a realizar-se em 29 de Outubro proximo. Alem disso, comunicou tambem que haverá uma sessão operatoria, provavelmente no ambulatorio da Santa Casa, na qual o mestre argentino fará uma demonstração de sua tecnica propria, sobre a "Operação radical pelo conduto".

A seguir o Dr. Mario Ottoni de Rezende propoz à Secção, ,que a mesma se faça representar nos funerais do Dr. Arthur da Nova, irmão do Presidente, Dr. Raphael da Nova, sendo designados os Drs. Roberto Oliva e Mario Ottoni de Rezende.

O Presidente congratula-se com a Casa pela presença no recinto do Dr. Gabriel Porto, ilustre consocio de Campinas, felicitando-o pelo brilhante concurso para Livre-Docente da Catedra de Oto-rino-laringologia, que acaba de prestar na Faculdade de Medicina da Universidade do Brasil, do Rio de Janeiro.

O homenageado, em breves palavras, agradece a manifestação da Casa, na pessoa do seu Presidente.

Por ultimo, por proposta do Dr. Mario Ottoni de Rezende, foi escolhido o Dr. Raphael da Nova, para representar a Secção na proxima reunião da Semana de Higiene, Molestias Tropicais e Infecciosas.

Ordem do dia:

TRATAMENTO CIRURGICO DA OZENA - Dr. Ernesto Moreira - (Com apresentação de doentes).

O A. primeiramente apresentou varios doentes tratados cirurgicamente de ozena ou rinite atrofica fétida, mostrando muitos deles operados ha varios anos e que estão perfeitamente curados.

A seguir fez o historico do tratamento cirurgico da ozena, desde a epoca em que foi introduzido entre nós, em 1922, pelos Drs. Mario Ottoni de Rezende e Homero Cordeiro, segundo a tecnica de Lautenschläger-Seiffert, até as modificações que ultimamente introduziu com o fim de melhorá-la. Essas modificações consitem nas resecções horizontal superior, posterior e horizontal inferior (um U virado para traz e não para cima, como no processo cirurgico original), que favorecem uma melhor mobilização da parte posterior da parede nasal do seio maxilar, a parte mais importante na recalibração da fossa nasal, por ser geralmente nesse ponto mais acentuada a atrofia dos cornetos inferiores. Outra modificação introduzida foi a fixação das paredes mobilisadas por meio de dois pontos em V, com o vertice anterior, com catgut n.° 3 cromado. Tambem não provoca mais a sinequia dos cornetos inferiores com o septo nasal.

Diz o A. que com essas modificações, tem obtido resultados melhores que os conseguidos anteriormente com a primitiva tecnica de Lautenschläger-Seiffert.

Depois de mostrar quadros estatisticos, relativamente ao sexo, idade, raça etc. afirma o A. ser impossivel fazer um resumo do seu longo e minucioso trabalho sobre os varios aspetos que abordou a rinite atrofica fétida e, melhor será aguardar a publicação do mesmo, pois desse modo poderá ser feita uma apreciação de conjunto, que julga muito mais interessante.

Tendo se encarregado da parte radiólogica o Dr. Carmo Mazzilli, pede ao mesmo para mostrar os caracteres radiologicos diferenciais observados nos casos de rinite atrofica fétida ozenosa
e a rinite atrofica simples. O Dr. Mazzilli passa então, no ecran, varias radiografias e chama a atenção que na rinite atrofica fétida, ha sempre uma alteração profunda dos ossos da parede nasal do seio maxilar, dos ossos dos cornetos e mesmo no do septo nasal. Ha portanto uma grande condensação ossea, com grande amplitude da fossa nasal. Geralmente ha aplasia ou hipoplasia dos seios frontais. Na rinite atrofica simples observa-se apenas sinais radiologicos de processos inflamatório, sem as alterações osseas acima assinaladas.

De novo com a palavra o Dr. Moreira, diz não pretender discutir a etiologia da rinite atrofica fétida e que o Dr. Mesquita Sampaio relatará a sua opinião sobre a relação que por ventura poderá existir entre essa afecção e as glandulas de secreção interna.

Dr. Mesquita Sampaio: Considera o trabalho do Dr. Ernesto Moreira de grande valor. Faz em seguida varias considerações sobre varios pontos do mesmo, terminando por não vêr estreita relação entre as lesões da rinite atrofica fétida e um factor geral, endocrinologico, justamente pelo fáto dos pacientes se beneficiarem, curando-se, apenas com um tratamento local, como o preconisado pelo A, e com os melhores resultados.

Dr. Francisco Hartung: Felicita o A., que pelos brilhantes resultados que acaba de apresentar, que vê assim largamente compensado o seu esforço e dedicação no tratamento cirurgico da ozena.

Dr. Silvio Marone: Acha que nas estatísticas apresentadas pelo A. constam apenas doentes de serviços hospitalares e não os das clinicas particulares, que são em grande numero. Isso não deixa de constituir uma falha.

Dr. Antonio Vicente de Azevedo:. Considera o trabalho do A. de grande oportunidade e pode bem aquilatar da probidade cientifica com que foi elaborado, pois seguiu com grande interesse no ambulatorio da Santa Casa, grande numero dos doentes operados pelo Dr. Moreira. Declara que embora se tenha formado oto-rino-laringologista pela escola de Viena, que repugna o tratamento cirurgico da ozena, mudou de opinião deante dos resultados por ele obtidos.

Relativamente ao diagnostico de ozena genuina, aponta um trabalho que lêra ha tempo, em que o A. insistiu na importancia do argumento radiologico, para distinguir atrofias secundarias, seja à sinusite, seja à lues etc. Tal autor, insiste que os sinais radiologicos da ozena são: aumento de amplitude das fossas nasais, espessamento da parede ossea nasal dos seios maxilares, aplasia ou hipoplasia dos seios frontais etc. Ressalta pois o valor das constatações do Dr. Carmo Mazzilli, que se encarregou da parte radiologica, em colaboração com o Dr. Moreira. Ainda no tocante ao diagnostico, acha por demais grosseira a classificação adotada pelo A., em dois tipos caracteristicos: rinite atrofica simples e rinite atrofica fétida ou ozena genuina. Acha que existe uma gama de atrofias, desde as mais ligeiras até as mais graves, como a ozena genuina propriamente dita. Pensa que o estudo das formas ligeiras e iniciais poderá esclarecer o assunto, sobretudo se levar em conta outras condições organicas gerais e constitucionais. Aplaude mais uma vez o A., felicitando-o.

Dr. Homero Cordeiro: O Dr. Ernesto Moreira, ao fazer a filiação historica do tratamento cirurgico da ozena em S. Paulo, citou o nome do Dr. Marno Ottoni de Rezende e o seu. Vê-se portanto na obrigação de pedir a palavra para fazer algumas considerações sobre esse metodo cirurgico, que vem praticando desde 1922.

Está de pleno acordo com tudo que expôz o Dr. Ernesto Moreira, e como ele, conserva até hoje o mesmo entusiasmo dos primeiros tempos, quanto aos resultados obtidos com essa intervenção cirurgica.

A operação de Lautenschläger-Seiffert, em ultima analise, não é mais que uma cirurgia plastica, pois o seu fim é conseguir uma recalibração das fossas nasais, transformando a sua amplitude exagerada, provocada pela atrofia dos cornetos, na que mais se aproxime da normal. Feita essa recalibração com precisão de tecnica, as crostas desaparecem e com elas o odor nauseabundo caracteristico, e na maioria dos casos os pacientes obtem uma cura clinica.

Naturalmente os casos precisam ser selecionados e só devem ser operados os que na realidade tenham probabilidade de aproveitar a operação. Nessa seleção, deve-se levar em conta, em primeiro lugar o grau de atrofia dos cornetos inferiores, que classifica de de 1.°, 2.º e 3.° graus. Do 1.° grau, quando ha uma atrofia discreta ou inicial; do 2.° grau, quando ela predomina na parte posterior dos cornetos; e do 3.° grau, quando a atrofia é total e do corneto somente persiste uma aresta linear. Nas atrofias de 1.° e 2.° grau, a intervenção dá sempre resultados satisfatorios. Na do 3.° grau, a operação é formalmente contra-indicada, pois, por maior que seja a mobilização da parede nasal do seio maxilar, não se consegue estreitar as fossas nasais que é o fim principal do metodo cirurgico.

Outro fator que deve ser levado em conta para o exito operatorio, é o comprimento antero-posterior do seio maxilar. Uma radiografia de perfil sempre deverá ser feita previamente. Nos seios de pequena amplitude, isto é, nos que a sua parede nasal não atinge a parte posterior das fossas nasais, a intervenção tambem não deve ser proposta, porque em tais casos, a mobilisação da parte posterior das fossas nasais não é conseguida, o que acarretará maus resultados post-operatorios.

Em tése pode-se dizer que, todos os tratamentos que fazem desaparecer o mau cheiro e permitem ao paciente voltar ao seu convivio social, devem ser considerados como bons. Mas o que se observa é que esses resultados são bons enquanto o paciente leva a serio a sua higiene nasal ou permanece sob os cuidados do seu especialista. Quando abandona o tratamento por desleixo ou quando se cansa, devido a sua longa duração, o seu mal reaparece como antes. Nesse ponto é que o tratamento cirurgico leva grande vantagem. Terminados os cuidados post-operatorios, os pacientes não necessitam mais de curativos locais e a cura clinica persiste sempre: as crostas e o mau cheiro desaparecem e na maioria dos casos, o olfato de novo se restabelece.

Essa sua afirmativa é baseada em perto de uma centena de casos operados, tanto na sua clinica hospitalar, como na particular. Muitos dos seus doentes foram operados ha mais de 15 anos e desse total, 80% conservam a sua cura clinica.

Pensa ter razão quando afirmou que ainda mantem o entusiasmo que sempre teve pelo tratamento cirurgico da ozena e, de todos os tratamentos preconisados até hoje, considera-o ainda como o melhor.

Felicita o Dr. Moreira pelo seu trabalho e fica satisfeito por ver que os resultados por ele obtidos são identicos aos seus.

Dr. Rezende Barbosa: Como uma homenagem ao completo trabalho do A. e como uma ordem, pois ha tempo prometera ao Dr. Moreira estudar a questão do tratamento medico da ozena, no que havia de mais moderno, eis a razão de suas palavras. Fez um estudo estatistico, coraparativo com os elementos da clinica de oto-rino-laringologia do Hospital Municipal, chegando a conclusões mais ou menos identicos às do A.

Quanto á parte de tratamento, considerou que muito poucos doentes se submeteram á terapeutica mais eficiente, alem das medidas higienicas comuns, bem como um controle rigoroso à distancia.

Quanto ao tratamento cirurgico, utilisou-se sómente em duas vezes, um Lautenschläger, executado ha pouco mais de um ano e, portanto, sem observação suficiente, e inclusão de marfim em outro paciente: 3 fragmentos de marfim, dois no septo e um no soalho. Apesar da eliminação espontanea três meses após, de dois fragmentos, o resultado objetivo e subjetivo continua bom.

Quanto ao tratamento medico, afóra as medidas higienicas nasais, empregou a vacina de Wright, a insulina em pequenas doses, a auto-hemoterapia, a fisostigmina e as substancias estrogenicas localmente, obtendo bons resultados.

Quanto a fisostigmina, ela impede, segundo teorias modernas, a destruição de uma substancia de ação identica à colina produzida na amigdala e que regula a vaso-dilatação das mucosas das vias aereas superiores; a aplicação dessa fisostigmina associada ao sulfato de potassio, conseguiu diminuir o mau cheiro, mas nenhum resultado objetivo foi obtido.

Fez tambem em seis pacientes tratamento por nebulizações locais com substancias estrogenicas, obtendo resultados mais que animadores, tanto subjetiva como objetivamente. Entretanto o problema financeiro e as conclusões estabelecidas por AA. norte-americanos, de que não se observa pelo emprego dessas substancias, nenhuma modificação para melhora na mucosa nasal, fizeram-no abandonar esse tratamento.

E' entusiasta da cirurgia, praticando-a na Santa Casa sob a direção do Dr. Ernesto Moreira.

Dr. Rebelo Neto: Apresentou uma estatistica sobre inclusões de marfim, com o fim de estreitar as fossas nasais, com observações proprias, dizendo que o pequeno numero das mesmas não permite generalisar quaisquer conclusões. Entretanto, anota os fatos seguintes: a) a irritação causada pelo descolamento e permanencia do corpo estranho produz sempre, melhora imediata do quadro clinico, mesmo quando a eliminação vai se processar; b) são fatores patentes de eliminação: 1) delgadez da mucosa; 2) inclusão muito volumosa; 3) intolerancia pelo corpo estranho; c) em 47 operações executadas em 31 doentes (excluindo um caso de parafina) nunca observou a menor complicação, o que levou a concluir pela sua benignidade.

Intervenção rapida e singela, exigindo apenas a anestesia por embibição, destinada a melhorar aos casos de atrofias anteriores, a inclusão merece figurar no arsenal cirurgico do rinologista, o que poderá, selecionando os seus casos, preferi-la em dado momento ás inumeras tecnicas de uso corrente.

O sr. Presidente, encerrando os trabalhos, agradeceu a presença dos Drs. Mesquita Sampaio e Carmo Mazzilli.


Reunião extraordinária de 29 de Outubro de 1940.

Presidida pelo Dr. Raphael da Nova e secretariada pelos Drs. J. J. Cansação e Prudente de Aquino, realisou-se no dia 29 de Outubro de 1940, uma reunião extraordinaria da Secção de Oto-rino-laringologia, da Associação Paulista de Medicina, afim de receber oficialmente o Dr. Juan Manuel Tato, ilustre oto-rino-laringologista argentino.

O Sr. Presidente dirige palavras de saudação ao Dr. Juan Manuel Tato, em nome dos oto-rino-laringologistas paulistas e finalisa convidando-o a tomar parte na Mesa.

Em seguida é dada a palavra ao Dr. Tato, que agradeceu as homenagens recebidas e antes de iniciar a sua conferencia, fez passar um film sobre a "Cirurgia plastica do nariz em sela", tecnica pessoal do Prof. Manuel Gonzales Loza, de Rosario, da Republica Argentina, executada pelo autor, tendo o Dr. Tato apresentado esquemas e explicações durante a projeção do referido film.

A seguir, iniciou a sua anunciada conferencia sobre uma nova tecnica por si idealisada para via de acesso aos fócos de petrite apical anterior, com a conservação do ouvido medio. Mostrou as modificações que introduziu nas tecnicas de Lempert e Ramadier, usando exclusivamente a parte baixa e anterior do ouvido medio, com previa desinserção da membrana timpanica. Usa a via trans-auricular de Lempert e, insinuando-se pelo osso timpanal, consegue expor o joelho da carotida, seguindo depois os demais tempos operatorios das operações referidas, que são classicas. Pela abertura ampla da boca, o campo de ataque se torna bem largo. Declarou o conferencista, - após brilhante apanhado historico sobre todas as tecnicas usadas de acesso ao apice do rochedo e exposição de diapositivos que esclareceram a sua exposição, que seus estudos sobre esta nova tecnica não passaram ainda do terreno da medicina operatoria e espera que, por sua simplicidade e seu objetivo de poupar a audição, mereça atenção dos colegas que tenham casos em que se torne necessaria a drenagem do apice do rochedo e ficaria satisfeito em ser cientificado dos resultados que obtivessem.

O Sr. Presidente felicita o Dr. Juan Manoel Tato pela sua brilhante e interessante conferencia e, antes de encerrar a sessão, convida todos os presentes para a demonstração que o ilustre colega argentino vae gentilmente fazer no ambulatorio da Santa Casa, sobre a "Operação radical pelo conduto".

Reunião de 18 de Novembro de 1940

Presidida pelo Dr. Raphael da Nova e secretariada pelos Drs. J. J. Cansação e Prudente de Aquino, realizou-se no dia 18 de Novembro, de 1940, mais uma reunião mensal da Secção de Oto-rino-laringologia da Associação Paulista de Medicina.

Expediente:

Aberta a sessão, foi lida pelo 2.° secretario a áta da ultima reunião, que foi aprovada por unanimidade.

O Sr. Presidente agradeceu à Casa as manifestações de solidariedade a ele apresentadas, por ocasião do seu luto recente. Em seguida lembrava aos presentes, a realização na proxima reunião de Dezembro, da eleição da nova Diretoria que regerá os destinos da Secção durante o proximo ano de 1941, motivo pelo qual pedia o comparecimento do maior numero possivel de associados.

Ainda no expediente pediu a palavra o Dr. Francisco Hartung dizendo que seria oportuno oficiar a Sociedade Oto-rinolaringologia de Buenos Aires, agradecendo a visita do Dr. Juan Manuel Tato e comunicando a realização da sua conferencia. A proposta foi aprovada pela Casa.

Foi tambem aprovada a proposta do Dr. Gabriel Porto, indicando o Dr. Homero Cordeiro para representar oficialmente a Secção nas festas jubilares do Prof. Marinho, que em Dezembro proximo terão lugar no Rio de janeiro, por ocasião do seu 25.° aniversario de professorado.

Ordem do dia:

LESÕES DO ESPAÇO PARA-FARINGEO
Dr. Friedrich Müller (S. Paulo).

Resumo: O A. relatou dois casos de sua clinica, em que, operando as amigdalas, abriu o espaço para-faringeu.

Fez considerações a respeito do acidente que julga ser pouco freqüente e que parece ser de relativa inoquidade, não acontecendo o mesmo quando ha desenvolvimento de um flegmão.

A seguir resumiu as observações dos casos semelhantes conhecidos e apresentou os seus dois casos, sendo que num deles, o primeiro, achou conveniente fazer uma contra-abertura externa, 12 horas após, justamente para evitar a formação de um flegmão, ao passo que no segundo fez um tamponamento por via interna.

Comentarios:

Dr. Mario Ottoni de Rezende: Achou que no primeiro caso apresentado pelo A., a temperatura de 38,4 apresentada pelo paciente, não justificava a realização de uma contra-abertura externa. Pensa que devia esperar pelo menos 24 horas, para ver se de fato teria se processado a infecção ou não, pois esperar só 12 horas para fazer a abertura de um espaço relativamente perigoso, não é perfeitamente justificado. Manifestou-se de acordo com o A. relativamente ao seu procedimento quanto ao 2.° caso.

Dr. Rubens de Brito: Citou um caso de sua clinica, em que, após a amigdalectomia, no segundo dia do post-operatorio, notou o aparecimento de uma tumefação no pescoço, com dores localisadas e temperatura de 39.° e cuja sintomatologia regrediu com tratamento local, sem outra intervenção cirurgica.

Dr. Francisco Hartung: Referindo-se ao primeiro caso apresentado, tambem não está de acordo com a abertura externa realizada.

Dr. Raphael da Nova: Acha que a lesão do espaço para-faringeo tem uma gravidade relativa, pois é frequente, em creanças, o traumatismo dessa região por corpos estranhos, sem se observar consequencias maiores. Ao contrario dá-se nas lesões do esofago, onde muitas vezes lesões insignificantes acarretam complicações as mais serias. Pensa que no caso de lesão do espaço para-faringeo, o verdadeiro seria fazer um alargamento da brecha para facilitar a drenagem, sem necessidade de uma contra-abertura externa.

Dr. Friedrich Müller: Agradeceu os comentarios, que achou justificados. Mas por sua vez quer justificar a abertura por ele realizada no primeiro caso. Pela quantidade de puz que havia na amigdala antes de operá-la, pensou na possibilidade desse puz ter entrado no espaço lesado, pelo fato da brusca elevação da temperatura algumas horas após a intervenção. Assim pensando achou prudente proceder a intervenção referida.

CONSIDERAÇÕES SOBRE UM CASO CURADO DE ACTINOMICOSE CERVICO-FACIAL - Dr. Homero Cordeiro (1)

Resumo: O A., baseando-se em recente estatistica organizada pelo Dr. Floriano de Almeida, demonstra a raridade da actinomicóse cervico-facial no Brasil. Até o presente conhece-se apenas 14 casos ou seja 10 °/o do total, ao passo que a actinomicóse dos membros inferiores abrange 64% dos casos observados. A explicação está no fato dos habitantes das zonas rurais andarem, na sua maioria, descalços e portanto expostos a ferimentos acidentais, por onde podem penetrar os fungos actinomicoticos existentes no solo, no ar e na superficie dos vegetais.

Quando a actinomicose cervico-facial, geralmente é observada em individuos que tem o mau habito de mascar folhas e hastes vegetais. A lesão inicial é insignificante e muitas vezes passa desapercebida. Quasi sempre a lesão começa por uma periostite alveolo-dentaria e caracterisa-se por uma tumefação pronunciada e intensa do periosteo e do tecido conjuntivo que o rodeia, e acompanhada de forte trismus, quando se localisa no maxilar inferior. Prosseguindo sua marcha, o processo infeccioso vae invadindo lentamente as camadas musculares e cutaneas, que tomam consistencia lenhosa, e por fim exteriorisa-se na pele da face, onde aparecem nodulos circunscritos, de cor arroxeada, cujo centro torna-se móle, com flutuação, cuja perfuração dá saida à secreção purulenta, escassa e sanguinolenta, contendo no seu interior grãos ou corpusculos de côr geralmente branca-amarelada, que são patognomonicos dessa afecção micosica.

Quanto ao prognostico, é tanto mais favoravel, quanto mais cedo fôr feito o diagnostico micologico.

Quanto ao tratamento, a orientação moderna associa a iodoterapia (altas doses, 6 a 8 grs. diarias per os, de iodeto de potassio e localmente instilação da sol. lugol-hiposulfito de sodio a 20%, em partes iguais), com a vacinoterapia (instilação local cada 2 a 3 dias com filtratos obtidos de culturas de actinomices em meio liquido de Sauton e desintoxicados pela adição de formol) e com a roentgenterapia (1.200 R. por campo em 4 sessões de 300 R.)

Finalmente apresenta o A. a observação do seu caso, um doutorando de medicina (hoje medico e presente na Casa), que com tratamento acima assinalado, ficou completamente curado no espaço de dois meses e meio, e assim permanece até agora, tendo decorrido dois anos sem o menor sinal de recidiva.

Terminando o seu trabalho afirma o A.: "Hoje em dia, com a orientação moderna do tratamento, baseada na associação da iodo-vacino-roentgenterapia, a actinomicóse cervico-facial não apresenta mais a gravidade de outrora e, podemos afirmar que, com um diagnostico precoce, conseguiremos uma cura rapida, evitando assim o perigo de contaminações a distancia".

Comentarios:

Dr. Milton Castanho de Andrade: Pediu a palavra para agradecer de coração a intervenção do A. no seu caso, que foi de uma dedicação sem par. Tambem torna extensivo os seus agradecimentos aos demais colegas que contribuiram com ele para a solução satisfatoria do seu mal, como os Drs. Floriano de Almeida, Roxo Nobre e muitos outros.

Dr. Silvio Marone: Teceu elogios em torno do trabalho do A, citando depois um caso identico que observou e no qual foram tentados todos os tratamentos, iodo, cirurgia, vacina especifica e raios X, que ficou a cargo do Dr. Roxo Nobre. O seu caso acha-se hoje completamente curado, o que atribue em grande parte a ação combinada dos Raios X, iodo e cirurgia.

Voltando a comentar o caso do Dr. Homero Cordeiro, sente-se na obrigação de pedir que sejam inseridas em ata desta sessão, as palavras textuais que o Prof. Aguiar Pupo teve em relação a atuação do Dr. Cordeiro nesse caso: "O Dr. Homero Cordeiro escreveu na Historia da Medicina Brasileira, a mais bela pagina de dedicação, despreendimento, bravura e sacerdocio medico".

Quer tornar extensivo os seus agradecimentos aos colegas Drs. Eulogio Martinez, Roxo Nobre e Floriano de Almeida, que consigo cooperaram na cura do seu caso.

Dr. Mario Ottoni de Rezende: Considerou de grande valor a estatistica apresentada pelo A. e ressaltou a grande utilidade da sua observação, que veio trazer novo rumo à terapeutica da actinomicóse cervico-facial, com resultado absolutamente positivo.

Dr. Roxo Nobre: Fez longas e variadas considerações em torno da parte referente à roentgenterapia dos casos citados, entrando em questões de ordem tecnica e terminando com felicitações ao magnifico trabalho do A.

Dr. Homero Cordeiro (encerrando a discussão) : Respondendo aos comentarios dos colegas, agradece as gentilezas dos mesmos e muito particularmente ao Dr. Roxo Nobre, que apresentou uma contribuição preciosa na parte que se refere à sua especialidade.
Nada mais havendo a tratar, foi encerrada a reunião.

SOCIEDADE DE OTO-RINO-LARINGOLOGIA DO RIO DE JANEIRO
29a. Sessão ordinária - 6 Dezembro 1940

Presidida pelo Dr. Mauro Pena e secretariada pelos Drs. Walter Muller dos Reis e Homero Carriço. Compareceram: Profs. João Marinho, Paula Santos, Hildeu Duarte, Drs. Mario Ottoni de Rezende, Francisco Hartung, Homero Cordeiro, Procopio Teixeira, Paulo Brandão, Aristides Monteiro, José Vitor Rosa, Sylvio Mello, Werneck Passos, Verissimo de Mello, Carlos Rohr, Carlos Bruno, Bemfica de Menezes, Archimedes Peçanha, Humberto Lauria, Roberto Marinho, Aloysio Novis, Soares Brandão, Estevam de Rezende, Sebastião Mesquita de Azevedo, Raul Castro Cunha, Milton de Carvalho, Fernando Linhares, Horacio Milliet, Carlos Rohr Filho, Pinto Fernandes, Ermiro de Lima, Getulio Silva, Georges da Silva, Carlos Moraes, Bernardo Grabois, Capistrano Pereira, Brito Cunha, Gabriel Porto.

O Sr. Presidente declara que a Sociedade sente-se satisfeita em participar das homenagens que estão sendo prestadas ao Prof. Marinho pelo seu jubileu professoral e pela presença de varios de seus socios honorários.

E' aprovada a ata da sessão anterior.

Dr. Procopio Teixeira saúda Sociedade de Medicina e Cirurgia de Juiz de Fóra dos serviços de O. R. L. da Policlinica e da Sta. Casa de Misericordia da mesma cidade. No expediente foram lidas as diversas cartas e telegramas recebidos em adesão às homenagens ao Prof. Marinho.

Ordem do dia:

1) CASO DE CONSULTORIO - Dr. Mauro Penna.

Refere-se a dois casos de perfuração timpanica, sendo um por traumatismo, com dupla rutura, cuja cicatrisação procedeu-se rapidamente, sem deixar qualquer perturbação da audição. Julga que as ruturas timpanicas por traumatismo não infetadas, são de facil cicatrisação. O segundo caso de perfuração de tímpano curada, com re-infecção da caixa por banho de o tratamento classico, houve rapida regressão do processo e a perfuração cicatrisou completamente após toques nos bordos com nitrato de prata, iodo e acido crômico.

2) "DISPNÉA LARINGÊA OBSTRUTIVA NA INFANCIA (2) -Dr. Gonzalez Loza - (Rosario, Republica Argentina) - lido pelo Dr. Armando Pinto Fernandes.

O autor tece considerações em torno da dispnéa laringotraqueal, citando o sinal da tiragem como patognomonico de obstrução laringo-traqueal: E' adepto da endoscopia per-oral nesses casos.

Nos casos de dispnéa por difteria laringéa, acha a traqueotomia uma intervenção grave na creança e mortal nos lactantes, preferindo a retirada das falsas membranas por endoscopia peroral, obtendo sempre bons resultados. Nos casos de edema subglotico, contra-indica a tubagem, a traqueotomia, empregando o oxigenio permanente, por meio de sonda introduzida por uma das fossas nasais até o faringe, enquanto dure o edema.

3) "A RADIOGRAFIA CONTRASTADA NA SINUSITE FRONTAL" - Drs. Nicolas Caubarrére e Pedro Regules (Montevideu) - lido pelo Dr. José Victor Rosa.

Os autores, para facilidade na interpretação das imagens radiograficas na sinusite frontal, empregam o lipiodol, observando pela radioscopia a sua penetração na cavidade do seio e sua saída para as fossas nasais revelando irregularidades patologicas nas paredes do seio. Os diapositivos projetados em seguida esclarecem seu ponto de vista.

Comentários:

Prof. João Marinho - Salienta as vantagens da radiografia na patologia do seio frontal e agora mais esta; friza a tranquilidade com que hoje os especialistas agem no assunto. Péde ao Dr. Victor Rosa transmitir aos autores a emoção que lhe causou a delicadeza por terem enviado a comunicação em sua homenagem.

4) "A INDICAÇÃO OPERATORIA DAS AMIGDALAS NAS NEFRITES" -
Dr. Francisco Hartung.

Apresenta dois casos de glomerulo-nefrites curados após amigdaletornia. Termina pedindo a opinião dos colégas sobre a indicação operatoria das amigdalas nos casos de glomerulo-nefrite difusa com edema e hipertensão.

Comentários:

Dr. Mario Ottoni de Rezende - Acha que o Dr. Hartung teve em mira consultar a Casa como resolver um caso de glomerulo-nefrite, sobretudo na idade juvenil. Devemos operar imediatamente o fóco ou repousar o doente até ocasião oportuna? Crê, baseado no que tem feito e visto, que as amigdalas, caso doentes, devem ser retiradas imediatamente. Seu modo de pensar é individual.

Dr. Paulo Brandão: A principio repugnou operar em crise aguda, mas a experiencia lhe mostrou o contrário e foram os pediatras que o encorajaram a operar os casos.

Prof. Paula Santos: Acha que a questão interessante é encarar-se a correlação entre a clinica e a especialidade e até que ponto as amigdalas interferem nas nefrites. E favoravel à intervenção imediata.

Prof. João Marinho: E de opinião que o pré-operatorio, nesses casos, é antes nocivo do que favoravel ao doente.

Dr. Garcia Junior: Como clinico, acha até certo ponto indicada a operação nos casos de glomerulo-nefrite difusa de fundo toxico, mas nos casos de glomerulo-nefrite com hemo-cultura positiva, principalmente se ha lesão cardiaca, a intervenção não deve ser realisada.

Dr. Francisco Hartung: Agradece a atenção que dispensaram à sua nefrite embolica, não crê na septicemia nos outros quadros de nefrite. Acha que a intervenção deve ser imediata, pois, com a demora, a infecção do rim, de local, torna-se difusa. Tem uma monografia com 8 casos de cura.

5) "SOBRE O EMPREGO DA CARTILAGEM DE CADAVER EM CIRURGIA PLASTICA" - Dr. David Adler - Lido pelo Dr. Aristides Monteiro.

O autor tece comentários sobre os materiais mais empregados em plastica nasal. Resalta o do adeto da cartilagem refrigerada, obtida em cadaveres. Acha que a questão dos tipos sanguineos ou sexo entre o doador e o receptor, não inflúe no exito da plastica, isto porque a cartilagem é tecido desprovido de circulação própria. Possue 6 casos operados por esse processo, todos bem sucedidos, o primeiro datando de um ano e meio.

6) "EM TORNO DE UM CASO DE PETRITE OPERADO PELA TÉCNICA DE STREIT-EAGLETON" - Dr. Mauro Pena.

Ao iniciar sua comunicação, o autor apresentou a fotografia e ligeiros dados de ficha de um caso de petrite com sindrome de Gradenigo, em que, agindo sob influencia de tendencia anticirurgica que se esboçára nestes casos, procedeu sómente à mastoidectomia e, mais tarde, como não houvesse resultado favorável, submeteu o paciente à apicectomia de Lempert, já que
não dispuzéra de elementos radiologicos nitidos para a localisação do processo. Encontrou já então um grande abcesso do lobo temporo-esfenoidal e baldados foram todos os seus esforços tendo o doente falecido. Contrariando esta tendencia conservadora, está o caso que motivou sua comunicação, em que a intervenção sobre o rochedo foi executada logo que ficou apurada a existencia de lesão. O doente tivéra uma otite media aguda supurada, com participação intensa da mastoide que evoluiu como de habito, tendo sido empregada terapeutica classica e mais a sulfamidoterapia. Aliás, estava já o paciente sob a ação deste último recurso por um processo blenorragico havia algum tempo. O exame radiografico procedido no 9.° dia de molestia mostrou não haver alterações necroticas nas celulas mastoideas. No 18.° dia de molestia, já não havia supuração no ouvido, nem febre nem dores. Só surdez e raros batimentos. No decurso do periodo de observação para alta, quasi um mês após o inicio do processo, teve tonturas e zumbidos, com discreta dor na região temporo-parietal. A radiografia para rochedo revelou uma zona de osteolise para dentro do canal semi-circular superior, sobre a porção superior do rochedo. Submeteu então o paciente a uma intervenção de Streit-Eagleton que permitiu a drenagem, de pequeno abcesso sub-dural e verificação da presença de erosão da face antero-superior que dava comunicação a uma grande zona necrotica em quasi toda a ponta do rochedo. A sequencia foi muito favoravel e tem ocasião de trazer o doente a exame dos colégas. Expõe radiografias abundantes de todas as fáses do caso.

Comentários:

Dr. Francisco Hartung: Num trabalho que leu em que tomaram parte grandes especialistas do Canadá e Estados Unidos, verificou que esses também sofrem as mesmas exitações que nós. Teve um caso parecido, fez radical, encontrando o facial exposto em certos pontos, trinta e seis horas depois a temperatura subiu a trinta e nove e 40 graus; abre a incisão feita e encontra fóco de paqui-meningite, retirando cerca de 100 grs. de pús.

Dr. Mario Ottoni de Rezende: A sulfanilamida goza, ao que parece, de certas propriedades mascarantes das molestias, sobretudo as do aparelho auditivo, cicatrisando a caixa e permitindo a evolução da infecção para a mastoide e rochedo. Não é o primeiro caso em que se observa a ação intempestiva e nociva da sulfanilamida. Haja visto o caso do estreptococo mucoso, que resiste ao medicamento no seu tipo pneumocócico e continua a agir.

Prof. Ildeu Duarte: Tambem tem impressão que o uso da sulfanilamida nas otites agudas tem a desvantagem de modificar de tal maneira o quadro clinico que os otologistas da era antecessora à sulfanilamida se encontram embaraçados em diagnosticar o caso. A molestia se dissimula e desenvolve-se complicação endocraneana que se apresenta pobre em sintomas. Já ha bastante tempo que vem tendo esta impressão, mas ainda não tinha tido a coragem de se manifestar, mas, como ouviu a palavra autorisada do Dr. Mario Ottoni, julgou que devia comparecer com a sua opinião.

Prof. Paula Santos: Diz estar verdadeiramente surprezo com o que acaba de ouvir. Antes do emprego da sulfanilamida não se observavam os mesmos casos relatados pelos colégas? Não opera mais tantos casos de mastoidites depois, do uso da sulfanilamida.

Dr. Garcia Junior: Deve-se ter cuidado com as dóses por se tratar de medicação quimioterapica.

Prof. Paula Santos: Usa dóses altas.

Dr. Mario Ottoni: Pede a palavra novamente, que, como hospede, é concedida. De um País onde é empregada a dóse maior 0,6 é que vêm esses casos mascarados, na America do Norte. Reafirma que a sulfanilamida em otites agudas não deixa de ter seus inconvenientes.

Dr.Paulo Brandão: Tem casos de cura após sulfanilamida. Acha que um dos característicos, do estreptococo mucoso é deixar a caixa e estender-se à mastoide.

Dr. Gabriel Porto: Acha que é importante a questão do germem e especie de sulfanilamida. Está demonstrado que as meningites pneumococicas são influenciadas pela sulfopiridina e não pela sulfanilamida. Talvez os casos de insucesso se devam à falha na escolha da especie do medicamento para cada especie de germen.

Dr. Mario Ottoni: Sua intenção foi chamar a atenção dos colegas para a ação às vezes nocivas da sulfanilamida, mas, após as considerações do Dr. Gabriel Porto, acha que o exame bacterioscopico da secreção antes de dar o remedio é indispensavel.

Prof. Paula Santos: Tem um caso recente de trombo-Flebite do seio cavernoso curado com o Sulfotiazol.

Dr. Mauro Penna: Diz da satisfação que teve ao ver que sua comunicação foi causa de varias outras paralelas, encarando o problema de tanta atualidade como seja a sulfamidoterapia. De tal forma os casos se repetem que, em tratado recente de radiologia da cabeça de Pancosst e Pendergrass, o grande radiologista americano Law, ao tratar das imagens de rarefação ossea nas mastoidites, chama atenção especificamente: é indispensavel indagar do paciente se está em uso de sulfanilamida, pois, neste caso, impõe-se o exame periodico e frequente para verificar se estes pequenos focos necroticos não evoluirão, frizando o quanto a sulfanilamidoterapia tem alterado a fisionomia classica nestes processos, exigindo dos especialistas uma readatação clinica. Sua impressão pessoal é que, tanto a sulfanilamidoterapia como no emprego do Propidon, a ação se dá sobre o sistema reticulo-endotelial e assim, tanto pode excita-lo como bloquea-lo. Renova os agradecimentos aos mestres e colegas que se manifestaram dando aos consocios os parabéns por terem tido ocasião de ouvir tão numerosas e conceituadas opiniões sobre tema de tal atualidade.

7) "HIPEREMIA REFLEXA DO TIMPANO, SINAL PRECÓCE DE MENINGITE" -
Dr. Aristides Monteiro.

O autor descreve dois casos em que teve ocasião de verificar a miningite reflexa como sinal precoce de miningite. Tratava-se de duas crianças em que, como suspeita de quadro meningeo, verificou os timpanos roseos descritos por João Marinho, no Primeiro Congresso Brasileiro de O. R. L. Num dos doentes o sinal apresentava-se em ambos os ouvidos e no outro sómente em um. Dias após a punção raquiana dava liquido turvo com cultura pura de pneumococo. Os doentes faleceram. O autor acha certa analogia entre o sinal descrito por Malan no n.° 6 do "Il Valsalva", de 1939, sobre "Sinal otologico precoce de meningite tuberculosa", com o achado brasileiro, se bem que distintos em suas caracteristicas principais.

Comentários:

Dr. Mario Ottoni de Rezende: Chama a atenção para casos de otites localizadas à Schrapnell, produzidas por infeção à distancia do seio esfenoidal, talvez pela propria meninge.

Dr. Francisco Hartung: Teve um caso de sinal do Prof. Marinho com ligeira hiperemia da membrana em senhora com meningite pneumococica.

Prof. João Marinho: Procurou atribuir o sinal à proximidade dos nervos petreos que se põem em contato com a meninge quando chegam à ponta do rochedo; a irritação da meninge encontraria assim caminho para colorir o timpano.

Dr. Aristides Monteiro: Agradece as palavras dos comentadores.

A seguir, é eleito, por aclamação, pura socio honorario da Sociedade, o Dr. Carlos Orégia.

O Sr. Presidente agradece o apoio e a presença de todos.

O Prof. Marinho dirige agradecimentos geraes, dizendo que o homenageado desaparecia diante dos beneficios que trouxe a colaboração geral.

A sessão é encerrada às vinte e três horas e meia.


30a. sessão ordinária - 4 de Abril de 1941

Presidida pelo Dr. Mauro Pena e secretariada pelos Drs. Walter Muller dos Reis e Homero Carriço. Compareceram: Drs. Alvaro Tourinho, João Campos Gatti, J. J. Ferreira de Souza, Milton de Carvalho, Sylvio Mello, Pedro Bloch, Sebastião Mesquita de Azevedo, Georges da Silva, Aristides Monteiro, Brito Cunha, Getulio Silva.

E' aprovada a ata da sessão anterior.

No expediente, são lidas propostas para socio efetivo Dr. Diney Soares Ether, socio correspondente Dr. Manuel Nascimento Fernandes Tavora (de Fortaleza) e socios correspondentes estrangeiros Profs. Crispin Insaurralde (Assuncion - Paraguay), Juan Bairrolhet (Santiago - Chile) e Pedro Berruecos (Mexico). A Diretoria pensa designar uma comissão para a organisação de sessões conjuntas com S. Paulo e outros Estados, conforme o interesse manifestado em carta pelo Dr. Gabriel Porto, Presidente da seção de O.R.L. da Associação Paulista de Medicina.

O Sr. Presidente designa uma comissão para tratar da vinda do Prof. Canuyt e sua visita a S. Paulo, composta do Prof. João Marinho, Dr. Alvaro Tourinho, Dr. Aristides Monteiro e Dr. Duarte Moreira. Por motivos particulares o Dr. Alvaro Tourinho pede dispensa da comissão e é designado para substitui-lo o Prof. Ermiro de Lima.

Antes de encerrar o expediente, o Sr. Presidente lembra que, por ocasião das homenagens ao Prof. Marinho, não foi redigida a ata da sessão na Academia de Medicina e é preciso ficar registrado que a sessão foi em conjunto com a Sociedade de O.R.L. do Rio de Janeiro, que compareceu com numerosos socios e seu humilde Presidente que saudou o homenageado.

O Dr. Alvaro Tourinho diz extranhar que na Revista Brasileira de O.R.L. ainda não conste qualquer declaração como sendo orgão oficial de nossa Sociedade.

E' eleito para socio efetivo o Dr. Claudio Bardy.

Fazendo cumprir o Art. 13.° dos Estatutos, o Sr. Presidente faz reverter para a classe de socio correspondente os Drs. Alvaro Costa, Antonio Leão Velloso, Augusto Linhares, Carlos da Costa Pereira, José Kós, Julio Vieira, José Dunham, Octavio Amaral, Paulo Miranda, Waldemir Salem e Walter Benevides, que não comparecem às sessões ha mais de dois anos consecutivos sem qualquer justificativa.

Ordem do dia:

1) CASO DE CONSULTORIO -
Dr. Alvaro Tourinho.

O autor refere-se a um caso de tumôr da traquea que passou despercebido aos clínicos durante um ano e tanto, sendo tratado o doente como asmático. Procedeu à traqueotomia, que permitiu a melhor respiração do paciente, permitindo-lhe o decubito dorsal impossivel até então. Em seguida, por larga incisão, ligou o pediculo e retirou o tumor; fez depois eletrocoagulação do pediculo.

2) CASO DE CONSULTORIO -
Dr. Homero Carriço.

O autor apresentou um caso de sinusite maxilar sem sinais clínicos, sómente diagnosticado pela radiografia e que veio justificar os escarros sanguíneos apresentados ha dias pelo doente, pois os demais exames para o lado do aparelho pulmonar tinham sido negativos. Procedeu ao tratamento clinico pelo metodo de Proetz, usando a solução de efedrina a 1 % e, desaparecendo o sangue do escarro logo aos primeiros curativos. A cura do processo sinusal foi confirmada radiologicamente. Apresenta as radiografias antes e após a cura.

3) DIFTERIA OU ANGINA DE VINCENT? -
Dr. Aristides Monteiro.

Descreve um caso de difteria de garganta que lhe pareceu digno de registro. Senhora de 70 anos, já acamada ha 8 dias com gripe e dor de garganta. Notava-se, na amigdala esquerda, tomando parte do pilar anterior, ulceração crateriforme, recoberta de inducto cinza-claro. Disfagia intensa. Reação ganglionar. Edema circunvisinho das partes moles. O aspecto não era típico de difteria, mas o exame de laboratório forneceu o resultado de difteria na propria lamina, exame direto. Fez sôro na dóse de 30.000 unidades, três dias após mais 20.000 unidades. O clinico tomou conta do estado geral. Resalta 3 pontos interessantes na observação: 1) aspecto pouco característico da lesão; 2) idade da paciente; 3) o transmissor, um néto, portador de germen, com corisa nasal sem placas.

Comentários:

Dr. Walter Muller dos Reis - Teve caso semelhante. Senhora sexagenaria que apresentou angina com discreta sintomatologia. Suspeitou angina de Vincent, mas o exame de laboratório relevou tratar-se de difteria. Instituida a soroterapia, a doente se restabeleceu, restando paralisia velo-palatina que cedeu após proteinoterapia. A doente faleceu 4 meses depois, por complicação cardiaca.

Dr. Alvaro Tourinho - Rememora caso por ele observado ha muitos anos. Refere-se à tuberculose miliar aguda do faringe. Doente que apresentava ulceração na parede posterior do faringe, em que a primeira vista, pareceu tratar-se de difteria ou Plaut Vincent. Colheu material para exame de laboratório feito pelo Dr. Amadeu Filho que encontrou grande quantidade de bacilos de Koch. Na ocasião não conhecia a tuberculose miliar aguda do faringe e dentro de semanas a doente falecia.

Dr. Aristides Monteiro - Agradece aos Comentários dos Drs. Alvaro Tourinho e Muller dos Reis. O que mais lhe impressionou foi o tempo de molestia e a impregnação toxinica. Relembra casos em que foi testemunha de acidentes mortais pela impregnação toxinica. Ao Dr. Tourinho diz que, realmente, no momento não se lembrou do diagnostico diferencial com a tuberculose miliar aguda do faringe e concorda com o Dr. Tourinho em juntar ao diagnostico diferencial a doença de Isambert.

4) SOBRE UMA INDICAÇÃO OPERATÓRIA NA OTITE MEDIA CRÔNICA -
Dr. Mauro Pena.

Apresenta um caso em rapaz de 15 anos de idade, com otite media cronica supurada desde infancia, em que o exame radiologico procedido revelou tratar-se de mastoidite crônica com hiperpneumatisação do rochedo (lado bom) ; notavam-se 2 zonas de rarefação esparsas pela apofise mastoide e pela propria piramide petrea no lado doente. Relembrando um caso que já apresentou sucintamente no 1.° Congresso Sul-Americano de O. R. L. em Buenos Aires, em que a operação radical deflagrou um surto meningitico híper-agudo fatal e considerando a importancia atribuida pelos mais recentes estudos sobre as vias de infeção meningéa dos grupos celulares peri-labirinticos e apexianos, pergunta à Sociedade se deve submeter o paciente à operação radical. Só põe a indicação operatória em discussão após o tratamento medico ter falhado, o que se deu no caso presente e quando é evidente, como no caso, que a supuração não é só timpanica ou rino-timpanica, mas ossea (mastoidite cronica). Da exaustiva exploração radiologica do caso, foi testemunha a serie de chapas que o autor apresentou, em todas as projeções utilisadas habitualmente no estudo do rochedo.

Comentários:

Dr. Alvaro Tourinho - O Dr. Mauro pergunta se todos os casos de otite cronica devem ser operados. Acha que se deve fazer uma resalva. O autor não fez referencia à otite mucosa, que recrudece com o resfriamento, verdadeiro "nariz suplementar" no dizer de Lermoyez. Ha ausencia de osteite, contra-indicando a intervenção nestes casos. Não conhece o caso do Dr. Mauro, mas acha que deve estar presente a ocurrencia de otorréa mucosa.

Dr. Walter Muller dos Reis - Acha o caso do Dr. Mauro idealmente documentado quanto às radiografias, motivo pelo qual o felicita.

Dr. Sylvio Mello - Pergunta ao autor se fez pesquiza microscopica da secreção, obtendo resposta negativa.

Dr. Aristides Monteiro - O caso teve documentação radiografica ideal, devido ao espirito de pesquiza do autor aliado ao do Dr. Claudio Bardy. Em Buenos Aires teve ocasião de ouvir o Dr. Mauro declarar publica e lealmente o seu insucesso no caso de miningite por Pfeifer e agora, como naquela ocasião, pergunta se o Dr. Mauro fez o exame do púz da otite que poderia ser muito bem por bacilo de Pfeifer. Dá sua opinião pessoal, sobre a pergunta do Dr. Mauro: acompanharia o doente, levando o inquerito clinico ao mais alto grau e então, se o perigo persistisse, operava descansadamente, pois pode surgir subitamente meningite fulminante ou outra complicação grave.

Dr. Alvaro Tourinho - Acha judiciosa a opinião do Dr. Aristides e a subscreve, no que é seguido pelo Dr. J. f. Ferreira de Souza.

Dr. Mauro Penna - Agradece as opiniões emitidas. Que seja o iniciador dos casos de consulta à Casa. Diz que a resalva do Dr. Tourinho cabe no caso. O seu paciente apresenta osteite peri-antral com secreção purulenta e máu cheiro; trata-se de uma mastoidite cronica e não de osteite da caixa. A otite mucosa deve estar sempre em mente, mas no seu caso já procedeu à analise de todos esses fatores. Entre nós, muitas otites não se curam porque os otologistas não olham o cavum. A observação do Dr. Tourinho muito o alegrou. A opinião geral é que o doente deve ser operado, pois pôde surgir complicação. Ha entretanto quem acredite que essas complicações levam tempo a aparecer. No caso de insucesso que teve, pôde assegurar que a otite causou a meningite. Não pesquizou o germen, porque a ele importa mais a relação homem germen do que mesmo a especie do germen. Agradece aos colegas a atenção dispensada.

A sessão é encerrada precisamente às vinte e quatro horas.




(1) Trabalho publicado na integra na Revista Brasileira de O.R.L. Vol. VIII. N.º 6. Novembro-Dezembro de 1940.
(2) Este trabalho será publicado na integra. no próximo número desta Revista.

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