PROF. ALFONSO BOVERO
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Desapareceu, em Abril ultimo, dentre os vivos, um dos masculos cooperadores para o prolongamento da vida. Alfonso Bovero, o caracter e a honra personificados, acaba de morrer em sua Patria e rodeado dos seus caros. Quiz o destino proporcionar lhe a felicidade suprema de dirigir seu ultimo olhar de bondade para o magnifico céu de Italia, sua Patria idolatrada, e seus ultimos carinhos á sua Esposa amantissima e queridas filhinhas.
Seu pensamento amigo, atravessando os mares, veiu pousar sobre a obra monumental, que aqui deixou, de sua Escola Anatomica e, de lá, nos ultimos instantes que lhe restava de vida, relembrou os seus diletos discipulos e caros amigos de S. Paulo. Revivendo, em momentos, sua laboriosissima vida, teve certeza de poder morrer feliz, pelo que de grande e de bom deixava feito na terra, e pela certeza da amizade sincera de seus inúmeraveis amigos de Italia e de S. Paulo.
Tanto isto é verdade que já, tempos antes, havia dito as seguintes palavras proféticas:
"Na minha mente, os meus livros, que são a minha unica riqueza material, os meus alunos, os meus colaboradores imediatos, que considero como uma parte da minha familia, se enquadram para mim, eufóricamente, num oasis de paz fecunda, onde realmente goso da vida, bem dizendo-a como que numa prece."
E continuando:
"Mesmo que devesse cessar amanhã, pelas inevitaveis leis da vida e da morte, a minha ação diréta no Instituto sob meus cuidados, tenho a certeza tranquila de deixar uma filiação espiritual digna, mesmo melhor, pela capacidade intelectual, pelo fervor de honesto trabalho, pela consciencia do dever de cada um de seus componentes para com a vossa Patria, á qual sinto que ao menos em parte, pertenço tambem eu, para com uma colectividade cuja comparticipação punjante actual e futura no progresso humano é uma das mais firmes certezas de todos nós."
Com este hino amigo e sincero á seus discipulos e á Patria que o adotou, quiz o destino encerasse a vida preciosa que viveu na terra.
Amigo leal, bom e afectuoso mestre no estricto valor da palavra, da disciplina a que dedicou toda sua proveitosa vida, Bovero deixou, entre os medicos Paulistas e, ainda mais, entre seus amigos, uma recordação de saudade indefinivel que fixa sua bondosa personalidade, para sempre, em nossas retinas e em nossos corações.
A REVISTA OTO-LARINGOLOGICA DE S. PAULO, de quem era amigo e conselheiro, associou-se pelos seus diretores, a todas as homenagens póstumas que foram prestadas á este grande mestre e amigo, e aqui firma, mais uma vez, o pesar imenso que lhe causou sua perda.
S. Paulo, 9 de Maio de 1937.