Versão Inglês

Ano:  1937  Vol. 5   Ed. 1  - Janeiro - Fevereiro - ()

Seção: Notas Clínicas

Páginas: 44 a 48

 

TERAPEUTICA DA PERICONDRITE LARINGEA IDIOPATICA, BASEADA EM EXAMES CLINICOS E ANÁTOMO-PATOLÓGICO.

Autor(es): OTTO MEYER (Viena) (*)

Não é minha intenção tratar de toda a patologia e terapêutica da pericondrite da laringe. Desejo referir-me, somente, á alguns pontos que me parecem de valor, baseados em minha observação clinica e em exames anátomo-patológico.

1 - Anatomia normal

1) A ossificação das cartilagens do laringe, no adulto, é um fato fisiológico.
2) Esta ossificação não se processa como para os ossos longos, partindo de um ponto e, não compreende toda a espessura do osso, mas:
a) a camada óssea forma um manto em torno de um núcleo de cartilagem.
b) o interior da cartilagem é ossificado e envolvido por um manto de cartilagem.
c) a lamina da cricoide ossifica-se antes do anel.

2 - Anatomia patológica

A chamada pericondrite laríngea idiopatica tem origem metastatica (Gripe) e localizasse não só no pericôndrio, mas, também, na medula óssea da esponjosa. Trata-se, pois, não só de uma pericondrite, como também de uma osteomielite.

a) A cartilagem possue grande capacidade de defesa contra a inflamação. Ela só pôde, por não possuir vasos sanguíneos, ser atacada pela superfície. Se o pericôndrio estiver destacado só em um lugar, não significa isto lesão irreparável, somente quando a cartilagem estiver envolvida pelo pus, será, definitivamente, destruída.
b) Na parte ossificada a inflamação propaga-se, rapidamente, devido a riqueza de vasos sanguíneos, e talvez, mais na medula que no periósteo (osteomielite). Muito embora a medula inflame-se, grandemente, e se funda, em parte, pela ação do pus, a cortical pôde permanecer viva e fortemente aderente com o periósteo. Aqui acontece justamente o contrario do que se passa com a cartilagem.


3 - Processo de cura

1) Na cartilagem:

pelo esvaziamento operatório ou espontâneo, do pus subpericondral, a inflamação pode curar-se.
b) nunca se dá a néoformação de cartilagem no lugar do defeito nas pessoas adultas ou, se der, o será em pequena proporção dos casos.


2) No osso

a) para curar-se será necessária a abertura do abscesso subperiostal e da medula óssea, do contrario produzir-se-á necrose e formação de fistula.

b) a perda de cartilagem e do osso poderá ser substituiria por néoformação de osso. A néoformação caminha, em parte, do periósteo e em parte da parede do abscesso. Ela se produz em conseqüência da irritação inflamatória e é também inflamatória e de natureza não regenerativa.


4 - Terapêutica

Fundamentos gerais.

1) O tratamento é idêntico ao das periostites e osteomielite dos outros ossos.
a) nos estados agudos: abertura do abscesso subperiostal e da medula óssea.
após o decurso do período agudo: assegurar o escoamento do pus, esperar até que à parte necrosada do osso se haja seqüestrado a fim de poder extraí-la.

2) Não praticar ressecção de cartilagem ou osso com capacidade vital.

3) Em proveito das relações biológicas, deve-se aproveitar a néoformação óssea causada pela inflamação, com o fim de substituir a parte perdida. Por isto deve-se ter cuidado, quando da coletagem dos tecidos de granulação, de conservar o osso néoformado.

Tratamento em cada caso.

Este deverá ser orientado de acordo com a gravidade e localização da moléstia.

a) Cartilagem tireóide. Nas crianças e também nos adultos, a formação do abscesso se processa, geralmente, em sua superfície externa. Ele só se revela pelo aumento da dor.
Flutuação não é palpável, devido a profundidade de sua situação e a musculatura que o reveste. A abertura deve ser feita o mais cedo possível e na linha mediana' do contrario o pus invadirá o mediastino, pois que o abscesso, devido às espessas aponeuroses e musculatura que o recobre, não terá tendência a exteriorizar-se. A esponjosa está também doente. A incisão mediana facilitará a penetração na medula, para o que é aconselhável afastar a musculatura com um especulo nasal de Killian. No caso de asfixia, a traqueotomia deverá ser praticada precocemente.

b) Cartilagem aritnoide. Mesmo quando da fixação e do edema da aritnoide de um só lado, acompanhados de ligeira falta de ar, a traqueotomia deverá ser praticada. A asfixia vem de repente, devido à passagem da infiltração á outra aritnoide e fixação da mesma. Em regra geral a ruptura espontânea se processa. Se passados 8 dias, a desinfiltração não se produz, deverá ser praticada a laringofissura, a fim de se procurar o próprio foco inflamatório.

c) Cartilagem cricoide. Esta moléstia é a mais perigosa, pois conduz, rapidamente, a fixação de ambas aritnoide e produz grande falta de ar. Nos casos em que a cirurgia não chega a tempo, produz-se a necrose e a eliminação de parte do osso e da cartilagem, que causará uma completa queda da laringe (desmoronamento da laringe). Os abscessos situam-se não somente sob o pericôndrio e abaixo do periósteo, como também na medula óssea, onde devem ser procurados. Como a lamina cricoide ossifica-se em primeiro lugar, os abscessos colocam-se nela mesma e, talvez, de ambos os lados da linha mediana, abaixo da superfície articular crico-aritnoidéa. Esta zona deverá ser aberta quando da laringofissura.
A laringofissura tem apresentado magníficos resultados nas moléstias da cricoide. De sete casos operados pela laringofissura, todos se curaram destes, 6 tiveram alta sem cânula e 1 morreu 5 semanas após a cura local e após a retirada da cânula.

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