Versão Inglês

Ano:  1953  Vol. 21   Ed. 2  - Março - Abril - ()

Seção: Nota Prévia

Páginas: 56 a 57

 

OTO-TOXIDEZ DA ESTREPTOMICINA

Autor(es): DR. OROZIMBO CORRÊA NETTO - POÇOS DE CALDAS

Numerosos artigos de profissionais medicos, que têm tratado da questão palpitante da ação toxica para o ouvido, proveniente da injeção do antibiótico estreptomicina, revelam lamentavel confusão sobre esse assunto.

Nenhum autor chega a conclusões aceitaveis. A literatura medica americana da especialidade, nos seus mais recentes trabalhos é completamente confusa, ora atribuindo a ação tóxica da estreptomicina a impurezas do produto, sem explicar porque numerosos pacientes fazem uso da estreptomicina em dóses elevadas sem constatar o mais leve sintoma de intoxicação, ora chamando a atenção para a alta especificidade de vários antibióticos para a estrutura coclear ou vestibular, o que é difícil explicar. Muitos especialistas acreditam que a lesão seja periférica, mas não duvidam que possa haver lesão central.

Experiências em animais parecem mostrar que quanto mais pura fôr a droga tanto menos lesões cocleares são observadas, o que faz explicar ação tóxica da estreptomicina para o ouvido pelas impurezas. A estreptomicina entra no sistema nervoso central em pequena quantidade.

Na pratica medica corrente, tratando-se de uma droga, hoje associada à penicilina e largamente empregada, os numerosos casos de surdês, e tão graves que ela provoca, têm despertado a atenção dos praticos.

Ao meu serviço, que dirijo nas Termas secção do gabinete de oto-rino, tem aparecido ultimamente casos graves de surdês ocorridos após o uso de injeções de estreptomicina. Todos os meus casos vieram ter ao meu serviço, depois que outros colegas especialistas tudo fizeram sem resultado e declararam inuteis qualquer terapeutica para a surdês do ouvido interno.

Não tive até agora caso algum a tratar, que me tivesse procurado de inicio e que eu pudesse verificar o progresso do mal. Todos acusavam surdês de percepção, quase total, que surgiu logo após o emprego das injeções de estreptomicina.

Os audiogramas mostravam grande baixa da audição, sobretudo do lado dos sons agudos, tanto por via aérea como principalmente por via ossea. Alguns ouviam os sons e não compreendiam a palavra. Ouviam muito mal à pequena distancia e sentiam zumbidos. O fim desta minha NOTA PRÉVIA não é o de descrever a gravidade do mal com os dados das provas auditivas que realisei nem de mostrar os resultados do meu tratamento, o que farei mais tarde quando puder obter maior numero de observações e assim tirar as minhas conclusões, que pretendo publicar.

O que deu lugar a esta minha publicação foi o fato de me parecer que descobri um sinal que contraindica o emprego do medicamento - a estreptomicina, ou melhor explicando, descobri quais são os casos em que o emprego da droga não produz os efeitos tóxicos e nos quais ela pode ser dada.

justamente o que é inexplicável é o fato de tantos usarem a droga em doses altas e nada apresentarem de toxidez, ao passo que outros com uma só injeção apresentam uma surdês total. Explicar isto tem sido o pesadêlo dos especialistas e eu creio ter achado o enigma pelo estudo dos casos que tratei. Estou convencido que a estreptomicina só produz a surdês nos individuos alérgicos, que apresentam os sintomas da rinite traumatica (alérgica), havendo secreção e eosinofilia.

Não quero dizer que seja nos casos de resfriado. Toda a vez que a estreptomicina fôr dada num doente de rinite e suas complicações, indivíduo este que apresenta eosinofilia num exame de laboratório, o paciente corre o risco de uma surdês subita e grave.

O doente, antes de aplicar a injeção da estreptomicina, deve tratar-se de rinite, catarro da trampa de Eustaquio e do ouvido médio, se não quizer correr o risco.

Se isto confirmar-se, ficará resolvido um dos mais difíceis problemas da pratica medica, que somente oto-rinolaringologistas podiam resolver.

Aos meus colegas da especialidade compete a confirmação desta minha nota previa afim de ficar esclarecido este assunto. Confirmando-se a minha descoberta, seguir-se-á a explicação de que se trata de alergia em individuo predisposto, fenômeno alérgico de extraordinária gravidade em pessôa que já está sob a ação de substancias alérgicas, causadoras da chamada hoje rinite traumática.

Um dos meus doentes declarou-me que antes de lhe ter sido feita a injeção da estreptomicina que ocasionou a sua surdês sofria de rinite com períodos de obstrução nasal e que o exame de laboratorio acusou eosinofilia.

Outro informou que o seu medico assistente que lhe tratava de um forte resfriado com dôr de ouvido, ao praticar-lhe uma injeção de estreptomicina resultou a sua completa surdês. Eu estou de acordo com aqueles que pensam que a surdês causada pela estreptomicina é de origem periférica e não central. Esta confusão é porque a surdês é mixta, atinge os sons graves e os agudos, é de condução e de percepção. Esta é a razão pela qual meus doentes melhoram, porque se trata de uma melhora só da surdês de condução com o cateterismo por meio do aparelho Souviron, insuflando através da trompa os gazes sulfurosos nascentes das fontes termais.

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