Ano: 2013 Vol. 79 Ed. 4 - Julho - Agosto - (12º)
Seção: Artigo Original
Páginas: 466 a 470
Fatores prognósticos em perda auditiva neurossensorial súbita: estudo retrospectivo usando efeitos de interação
Prognostic factors in sudden sensorineural hearing loss: a retrospective study using interaction effects
Autor(es): Chin-Saeng Cho1; Young-Jin Choi2
DOI: 10.5935/1808-8694.20130083
Palavras-chave: análise de regressão; perda auditiva súbita; vertigem.
Keywords: hearing loss, sudden; regression analysis; vertigo.
Resumo:
Osignificado prognóstico de vertigem em pacientes com perda auditiva neurossensorial súbita idiopática (PANSI) continua a ser uma questão controversa.
OBJETIVO: Este trabalho tem como objetivo verificar a diferença entre um grupo com vertigem e um grupo sem vertigem e analisar a validação da vertigem como fator prognóstico em pacientes com PANSI.
MÉTODO:Este estudo envolveu 183 pacientes com PANSI. O teste t foi utilizado para comparar o grupo A (PANSI com vertigem, n = 31) e o grupo B (PANSI sem vertigem, n = 152). Também queremos verificar os efeitos de interação entre vertigem e outros fatores prognósticos por meio de análise de regressão múltipla.
RESULTADOS: Houve uma diferença significativa entre o grupo A e o grupo B: o nível auditivo inicial do grupo A foi menor do que no grupo B, e seu início de tratamento também foi menor. Além disso, a vertigem em si não afetou a melhora da audição, mas a variável de interação entre vertigem e nível de audição inicial afetou significativamente a melhora da audição.
CONCLUSÃO: As características clínicas dos pacientes com vertigem não afetaram diretamente a melhora da audição de pacientes com PANSI; no entanto, vertigem teve uma influência sobre a PANSI por meio de sua interação com os níveis iniciais de audição.
Abstract:
The prognostic significance of vertigo in patients with idiopathic sudden sensorineural hearing loss (SSNHL) remains a matter of debate.
OBJECTIVE: This paper aims to verify the difference between a group with vertigo and a group without vertigo, and to analyze vertigo's validation as a prognostic factor in patients with SSNHL.
METHOD: This study involved 183 patients with SSNHL. A t-test was used to compare group A (SSNHL with vertigo, n = 31) and group B (SSNHL without vertigo, n = 152). Also we want to verify the interaction effects between vertigo and other prognostic factors using multiple regression analysis.
RESULTS: There was a significant difference between group A and group B: the initial hearing level of group A was lower than group B, and their treatment onset was also shorter. In addition, vertigo itself didn't affect hearing improvement, but the interaction variable between vertigo and initial hearing level did affect hearing improvement significantly.
CONCLUSION: The clinical characteristics of patients with vertigo did not directly affect hearing improvement with SSNHL; however, vertigo had an influence on SSNHL though its interaction with the initial hearing levels.
INTRODUÇÃO
A perda auditiva neurossensorial súbita (PANS) é uma perda maior que 30 dB em três frequências contíguas e que ocorre em menos de três dias1. A PANS afeta cerca de 5-20 pessoas por 100.000 habitantes, é quase sempre unilateral e está comumente associada a zumbido e plenitude aural. Vários protocolos de tratamento e agentes têm sido propostos para o seu tratamento. Corticosteroides, agentes antivirais, anticoagulantes, vasodilatadores e outros têm sido propostos como agentes terapêuticos para tratar a PANS2-4.
Um máximo de 32% a 65% dos casos de PANS podem ser recuperados espontaneamente. O prognóstico para a recuperação é dependente de um número de fatores, incluindo a idade do paciente, presença de vertigem ao início, o grau da perda, a configuração audiométrica, e tempo entre o início da perda de audição e o tratamento. Apesar de alguns estudos relataram vertigem como fator prognóstico para PANS, muitas vezes é considerado um fator de mau prognóstico, e os efeitos da vertigem em relação à PANS5-7 ainda são controversos. A razão para estes resultados inconsistentes é que a vertigem não é uma doença específica, mas sim um sintoma causado por várias etiologias. Embora tenha havido algumas tentativas de avaliar a relação entre os resultados dos testes calóricos e o prognóstico8-10, a relação entre PANS e vertigem não foi claramente determinada.
MÉTODO
Este estudo utilizou os prontuários médicos de 183 pacientes com PANS. Todos os pacientes apresentaram perda auditiva neurossensorial idiopática unilateral que se desenvolveu dentro de três dias, sem outras afecções conhecidas, incluindo a doença de Ménière, doença autoimune, ototoxicidade, ou neoplasia.
Os pacientes tiveram uma perda auditiva mínima de 30 dB em três frequências consecutivas. Os pacientes receberam tratamento com corticosteroides (injeção de prednisolona 60 mg/kg, durante seis dias, que em seguida foi reduzida gradativamente ao longo de quatro dias) iniciado concomitantemente com dextrano de baixo peso molecular, e avaliados três meses após o tratamento. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da instituição sob autorização número: EU12-31.
A classificação da perda auditiva foi a seguinte: leve (26~40 dB), moderada (41~55 dB), moderadamente grave (56~70 dB), grave (71~90 dB) e profunda (mais de 91dB). Utilizamos a classificação de Siegel11 para avaliar a melhora da audição de pacientes na última consulta, com um ganho médio em quatro frequências audiométricas da fala, notadamente: 500 Hz; 1.000 Hz; 2.000 Hz e 4.000 Hz.
A Tabela 1 exibe as características dos pacientes e detalhes clínicos. Dos 183 pacientes (108 do sexo feminino e 75 homens), com idade média de 45,11 (± 15,79) anos, 152 não tinham vertigem. O grau de perda de audição estava relativamente uniformemente distribuído: discreto (15,8%), moderado (18,0%), moderadamente grave (17,5%), grave (23,0%) e profundo (25,7%). O início do tratamento foi distribuído da seguinte forma: no prazo de três dias (161 pacientes), e mais do que três dias (22 pacientes).
RESULTADOS
As análises estatísticas foram realizadas com o PASW Statistics ver. 18,0. O teste t foi realizado para identificar diferenças estatisticamente significativas entre o grupo A (PANS com vertigem, n = 31) e o grupo B (PANS sem vertigem, n = 152). A análise de regressão múltipla foi utilizada para encontrar fatores prognósticos associados à melhora da audição e analisar os efeitos de interação da vertigem.
Os resultados do teste t revelaram não haver diferença significativa com relação à PANS entre os dois grupos, no entanto, uma diferença significativa de 0,05 foi encontrada no nível de audição inicial e ao início do tratamento, como mostrado na Tabela 2 e na Figura 1.
Figura 1. Diferença entre com vertigem e sem vertigem.
Além disso, a análise de regressão múltipla foi utilizada para identificar fatores preditores de melhora da audição em pacientes com PANS. O início do tratamento, o nível inicial de audição e a vertigem foram usados como variáveis independentes, enquanto melhoria auditiva baseada na classificação de Siegel foi utilizada como variáveis dependentes. Nos resultados da análise de regressão na Tabela 3, a vertigem não foi significativa como fator prognóstico de melhora da audição. Tanto o início do tratamento quanto o nível inicial da audição foram significativos a 0,01. Além disso, o modelo de regressão foi fixado em 0,01 (F = 7,973) e esses fatores explicaram 24,2% da variância na PANS.
Foram analisados os efeitos de interação entre vertigem e da audição inicial (ou início do tratamento). Depois de incluir as variáveis de interação (Vertigem x TO, Vertigem x ITL), investigamos as seguintes equações usando análise de regressão múltipla:
Tal como mostrado nos resultados da Tabela 4, o efeito da interação entre vertigem e início do tratamento foi nulo. Mas o efeito da interação entre vertigem e nível inicial de audição foi válido em 0,01. A validação foi verificada como se segue: β foi identificado como sendo significativo a 0,01, e o R2 do modelo 2 (0,250) foi maior do que o R2 do modelo 1 (0,213).
DISCUSSÃO
Esta investigação incidiu sobre os fatores prognósticos associados à PANS. Nível inicial da audição, início do tratamento e vertigem foram investigados como fatores prognósticos. Foram analisados também os efeitos de interação da vertigem, que não foram verificadas de forma clara, como um fator de prognóstico de pesquisas anteriores.
Em primeiro lugar, seguindo os resultados da comparação entre o grupo A (PANS com vertigem, n = 31) e o grupo B (PANS sem vertigem, n = 152), o nível inicial da audição e início do tratamento foram significativamente diferentes entre os dois grupos no nível de 0,05, mas a PANS não foi significativa. Este resultado corrobora os estudos de Ahn et al.12 em comprovar uma diferença significativa entre os dois grupos.
Em segundo lugar, a partir dos resultados da análise de regressão múltipla, o nível inicial da audição e o início do tratamento foram significativos para a melhoria da audição enquanto a vertigem não foi significativa. Em pesquisas anteriores, o nível inicial da audição afetou de forma negativa a PANS13, ou o nível inicial da audição não afetou s PANS, exceto em pacientes com perda profunda14. Siegel11 mostrou que não houve relação significativa entre o nível inicial da audição e PANS. Nossos achados podem ser acrescentados às pesquisas de Kwon et al.14 e Byl13.
Siegel11 mostrou que não houve relação significativa entre o início do tratamento e PANS, enquanto outros pesquisadores relataram que o início do tratamento teve influência sobre a PANS14,15. Nossa pesquisa corrobora os achados de que o início do tratamento teve significativo impacto sobre a PANS (p < 0,01). Especialmente, houve controvérsia sobre se a vertigem foi um fator prognóstico para a taxa de recuperação da audição. Sheehy15 relatou que a taxa de recuperação de um paciente com vertigem foi menor do que a taxa de recuperação de um paciente no grupo de pacientes sem vertigem. A vertigem diminuiu a taxa de melhora da audição nos pacientes com perda auditiva profunda16. Além disso, Simmons17 elaborou a hipótese de que vertigem com PANS pode ser o resultado de uma ruptura de membrana perto do vestíbulo. Khetarpal18 estudou pacientes com PANS e vertigem e sugeriu que a vertigem pode ser causada por alterações bioquímicas no ouvido interno. Kiris et al.19 relataram que não houve diferença estatisticamente significativa entre o grupo com vertigem e o grupo sem vertigem. Os resultados de nossa pesquisa também corroboraram aqueles de Kiris et al.19.
Finalmente, realizamos um estudo para verificar os efeitos da interação entre vertigem e outras variáveis independentes (nível inicial de audição, início do tratamento). Os resultados do trabalho mostraram que a vertigem não afetou diretamente a PANS, mas encontramos efeitos de interação entre vertigem e nível inicial de audição. Este resultado corrobora o de outros estudos15,16, e mostrou claramente que a vertigem afetou a melhora da audição por meio da interação com o nível de audição inicial.
Esta pesquisa tem valor em verificar se o início do tratamento e o nível inicial da audição têm algum impacto sobre a melhora da audição. Contribuição mais importante é descobrir os efeitos da interação da vertigem e nível inicial da audição para prever melhora da audição em pacientes com PANS. Ou seja, ela corrobora estudos anteriores17,18 que mostraram que a vertigem foi um fator significativo para a PANS por meio de estudos de caso ou métodos de comparação. Mas, esta pesquisa generalizou o efeito da vertigem na melhora da audição em pacientes com PANS de forma estatisticamente significativa usando o método de efeitos de interação. Estes resultados deverão ser confirmados por meio de estudos futuros.
CONCLUSÃO
Esta pesquisa analisou os fatores prognósticos associados à melhora da audição em pacientes com PANS. Usamos o teste t para comparar o grupo A (PANS com vertigem, n = 31) e o grupo B (PANS sem vertigem, n = 152) com dados de 183 pacientes, e usamos análise de regressão múltipla. Os resultados mostraram que a vertigem não teve impacto direto sobre a PANS. No entanto, há evidências consideráveis de efeitos de interação entre o nível de audição inicial e vertigem.
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1. Professor do Departamento de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Faculdade de Medicina da Universidade Eulji.
2. Professor Associado do Departamento de Gestão de Saúde da Universidade Eulji.
Departamento de Gestão de Saúde, Faculdade de Saúde - Universidade Eulji.
Endereço para correspondência:
Young-Jin Choi
212, Yangji-Dong, Sujeong-Gu
Seongnam-Si, Gyeonggi-do, Coreia do Sul. 461-713
E-mail : yuzin@eulji.ac.kr
Este artigo foi submetido no SGP (Sistema de Gestão de Publicações) do BJORL em 27 de outubro de 2012. cod. 10542.
Artigo aceito em 9 de abril de 2013.