Versão Inglês

Ano:  2013  Vol. 79   Ed. 3  - Maio - Junho - ()

Seção: Editorial

Páginas: 263 a 265

PDFPDF PT   PDFPDF EN
 

Prontos para outros 80

Ready for 80 more years

Autor(es): Henrique Olavo de Olival Costa

DOI: 10.5935/1808-8694.20130048

"Age is an issue of mind over matter. If you don't mind, it doesn't matter." - Mark Twain

Quando penso no que significam os 80 anos do agora Brazilian Journal, não me sai da cabeça o que Francis Bacon diz quanto ao ato de envelhecer: "Idade parece ser melhor para quatro coisas: madeira velha para queimar; vinho envelhecido para beber; velhos amigos para confiar e autores antigos para ler". Poderíamos acrescentar que publicações tradicionais são melhores para referenciar.

Isto porque, uma revista que conseguiu se manter por 80 anos representa não somente o momento presente, mas carrega todo o esforço intelectual da comunidade que veiculou suas ideias científicas por todo este período.

Podemos sentir isto quando voltamos nossa atenção para alguns dos periódicos científicos mais conhecidos entre nós: Otolaryngology Head and Neck Surgery, 148 anos; Archives of Otolaryngology Head and Neck Surgery, 139 anos; Journal of Otology Laryngology, 127 anos; Laryngoscope, 123 anos e Annals of Otolaryngology Head and Neck Surgery, 121 anos.

Afinal, qual seria o papel de um periódico científico? A nossa revista começou como um repositório das discussões acadêmicas que ocorriam na Associação Médica de São Paulo, nos idos anos 30 do século passado, e, rapidamente, expandiu-se para ser o órgão divulgador de trabalhos apresentados por nossos colegas nos primeiros Congressos Brasileiros de Otorrinolaringologia. Mais tarde, trabalhos ditos "avulsos" começaram a surgiram em suas páginas e cada vez mais os artigos representaram a comunidade otorrinolaringológica nacional.

Entretanto, este papel passou a ser questionado com o advento das pós-graduações institucionais. Dentre outras exigências, precisavam ter os estudos científicos de seus alunos e professores publicados em periódicos de visibilidade internacional, para que pudessem contar pontos importantes para a nota oferecida pela CAPES, instituição gerenciadora da pós-graduação no Brasil. Esta exigência pode ser considerada uma guinada fundamental na trajetória de nossa revista.

Antes, mais preocupada em dar espaço aos especialistas brasileiros, se viu motivada a ser lida e ter artigos citados por autores em revistas estrangeiras e, com isso, ganhar status internacional e ser inserida nos organismos de indexação levados em conta pela CAPES (i.e, JCR-ISI).

Esta preocupação existia em todos os setores de fomento à pesquisa nacional e, por iniciativa da FAPESP - Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo, a Biblioteca Regional de Medicina (BIREME) iniciou um projeto para indexar e dar visibilidade às principais revistas científicas da América Latina. A plataforma de indexação foi denominada SciELO (Scientific Index Eletronic Library-online) e estabelecia exigências editoriais semelhantes ou superiores às dos principais órgãos indexadores do mundo. Ela pretendia estabelecer um sarrafo suficientemente alto, para que as revistas escolhidas pudessem ter nível de competitividade com as revistas estrangeiras.

Para a, na época, Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia, esta foi considerada a oportunidade ideal para a então, Revista Brasileira de Otorrinolaringologia (RBORL) galgar alguns degraus em seu status editorial.

Para que pudéssemos ser aceitos no SciELO eram necessários periodicidade bimestral, ter pelo menos 30 artigos publicados por ano e que 75% deles fossem artigos originais. Para atingirmos estas exigências era preciso que a comunidade como um todo, capitaneada pela Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia, encampasse um processo de aprimoramento.

Neste mesmo momento, havia uma forte demanda por parte das Academias de subespecialidades para que os seus congressos individuais fossem unificados. Foi criado o congresso triológico que se alternava com o congresso brasileiro e passou a ter um viés científico relevante. Esta foi a deixa para que um maior estímulo à produção científica pudesse ser implementado. Surgiram as premiações para os melhores trabalhos e a equipe de revisores da revista passou a fazer parte da banca examinadora dos congressos. Para que a avaliação pudesse ser levada a contento, os trabalhos encaminhados ao congresso e que quisessem concorrer deveriam ser enviados na íntegra e nos moldes exigidos pela RBORL.

Na época, não tínhamos ideia de qual seria o impacto destas medidas. Para nossa satisfação, houve um acentuado incremento da remessa de trabalhos para a nossa revista nos anos subsequentes, uma vez que a maioria dos trabalhos enviados para os congressos, já estavam prontos para submissão e acabaram por chegar aos nossos editores.

Com o aumento da demanda foi preciso profissionalizar o nosso grupo de revisores e durante os congressos nacionais passamos a fazer workshops com os revisores para uniformizar as avaliações. Os resultados surgiram rapidamente. O tempo de avaliação caiu substancialmente e apesar do número de trabalhos publicados ter aumentado muito, levando a um aumento de 200 páginas por ano na revista, a porcentagem de trabalhos reprovados subiu para 35%.

Estavam dadas as condições para que a Revista da Sociedade fosse indexada pelo SciELO - artigos com apuro revisional, mais de 80 artigos científicos publicados por ano, 6 edições anuais e distribuição nacional. A indexação ocorreu prontamente, sendo uma das primeiras revistas nacionais de sociedade a sê-lo.

Entretanto, ainda faltava um passo importante para a visibilidade. Apesar do SciELO fornecer uma plataforma de pesquisa alcançável por qualquer um no mundo, só eram acessados os números após a data em que a indexação ocorreu. Era preciso recuperar o grande acervo de mais de 60 anos de nosso periódico e isto foi feito ao serem digitalizados todos os números anteriores e serem inseridos na nossa página eletrônica recém-criada.

Ao ser iniciado o processo de digitalização, surgiu outro fator de estrangulamento do fluxo editorial. O crescente número de submissões, provenientes de todos os estados da federação, e a grande quantidade de idas e vindas de pareceres, dois ou três revisores para cada artigo, gerava uma montanha de correspondência.

O caminho era a informatização e o uso da internet para o trâmite de artigos, processo que já vinha sendo usado por alguns dos principais periódicos do mundo. Devido ao custo das plataformas estrangeiras da época, foi elaborado um processo de editoração totalmente nacional. Pela sua eficiência, acabou sendo utilizado por grande parte das outras revistas do país nos anos vindouros. Com isso, o processo de submissão e avaliação e aprovação caiu de 6 meses para 2 meses.

Com o fluxo editorial garantido, naturalmente a qualidade dos artigos escolhidos foi aumentando e a confiança de que a presença de nossa revista no exterior poderia ser testada se consolidou. A internet era um fator facilitador, mas a cultura do papel ainda era predominante no mundo acadêmico. Para receber maior atenção dos meios acadêmicos, era preciso gerar uma revista, em papel, em inglês, que fosse distribuída diretamente às bibliotecas das principais universidades e serviços do mundo. Foi o início do Brazilian Journal of Otorhinolaryngology (BJORL).

O caminho semeado pelos idealizadores da revista foi mantido a duras penas por uma comunidade persistente, que amadureceu muito nos 80 anos que se passaram. A revista somente representou os passos desta comunidade e podemos dizer que hoje caminha em passos inexoráveis para atingir o mesmo nível de excelência desta comunidade em âmbito internacional.

Em recente avaliação comparativa (2011) realizada pelo SCImago Journal & Country Rank, portal que inclui os jornais contidos no banco de dados Scopus®, um dos mais democráticos dos bancos de revistas científicas do mundo, o BJORL é considerada a 49ª entre 93 revistas internacionais na temática ORL (Tabela 1). Pode parecer pouco, mas se observarmos a curva de citação da revista de 2005 a 2011 (http://www.scimagojr.com/journalsearch.php?q=4700152300&tip=sid&clean=0) (Figuras 1 e 2), percebemos que o BJORL apresenta um crescimento vertiginoso, projetando um fator de impacto (índice que determina o nível de citação das revistas) semelhante ao das 10 revistas mais tradicionais nos próximos 5 a 10 anos.




Figura 1. Curva mostra a grande evolução das citações do BJORL a partir de 2005 (Fonte: SCImago).


Figura 2. Proporção entre artigos citáveis (fruto de pesquisa, trabalhos apresentados em congressos e artigos de revisão) publicados pelo BJORL. (Fonte: SCImago).



Nada mal para um jovem de 80 anos. Parabéns!

Henrique Olavo de Olival Costa

Imprimir:

BJORL

 

 

 

 

Voltar Voltar      Topo Topo

 

GN1
All rights reserved - 1933 / 2024 © - Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico Facial