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Ano:  2011  Vol. 77   Ed. 4  - Julho - Agosto - (21º)

Seção: Relato de Caso

Páginas: 537 a 537

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Apneia obstrutiva do sono: resultados clínicos de caso tratado com o uso de aparelho intraoral

Obstructive sleep apnea: clinical results of a case treated with an oral appliance

Autor(es): Rafael Golghetto Domingos1; José Eduardo Lutaif Dolci2; Tomomi Harashima3

Palavras-chave: aparelhos ortodônticos removíveis, apnéia do sono tipo obstrutiva, ronco.

Keywords: orthodontic appliances, removable, sleep apnea, obstructive, snoring.

INTRODUÇÃO

A Síndrome da Apneia e Hipopneia Obstrutiva do Sono (SAHOS) é um distúrbio respiratório no qual ocorre a obstrução das vias aéreas superiores pelo colapso dos tecidos da orofaringe, interrompendo o fluxo de ar por mais de 10 segundos. A apneia representa a parada total do fluxo aéreo em eventos frequentes e repetitivos, enquanto a hipopneia é a redução de 50% desse fluxo combinado com uma redução da saturação de oxi-hemoglobina de pelo menos 4%1.

O diagnóstico da SAHOS pode ser firmado diante da história médica e de sono do paciente, incluindo o questionário de Epworth2, que mensura o grau de sonolência diurna, em conjunto com o exame físico e polissonográfico, o qual deve incluir o monitoramento dos estágios do sono, respiração nasal e oral, saturação de oxi-hemoglobina, eletrocardiograma e eletromiografia3.

O número de episódios de Apneia/Hipopneia por hora é chamado de Índice de Apneia/Hipopneia (IAH), definido pela Academia Americana de Medicina do Sono, e classifica a SAHOS em leve (IAH de 5 a 15 episódios de Apneia/Hipopneia por hora de sono), moderada (IAH de 16 a 30) e grave (acima de 30)1.

O tratamento da SAHOS pode ser cirúrgico ou conservador, existindo uma larga opção de modalidades cirúrgicas indicadas que variam de acordo com o tipo de problema causador da apneia detectada4. Todas estas técnicas visam corrigir as alterações anatômicas dos pacientes, podendo-se destacar o pós-operatório bastante desconfortável, sendo os seus resultados controversos na relação riscos/benefícios, pois seus índices de sucesso variam de 25 a 90%, de acordo com o tipo da cirurgia e o fator causador da doença4. Muitos pacientes não aceitam os tratamentos cirúrgicos, principalmente os procedimentos mais complexos.

Uma terapia conservadora que vem se tornando popular por sua efetividade no tratamento de desordens de respiração durante o sono é o uso de Aparelhos Intraorais de Protrusão Mandibular (AIO)5, o qual foi aceito pela "American Sleep Disorders Association Standards of Practice Committee" em 1995, e visa aumentar a passagem de ar na orofaringe, reposicionando a mandíbula para baixo e para frente.

Dentre as condições de uso dos AIO, o paciente deve possuir uma quantidade mínima de dentes em boas condições que mantenham o aparelho em posição e não possuir distúrbios na articulação têmporo-mandibular, pois estes poderiam ser agravados com o uso do aparelho6.


RELATO DE UM CASO

Paciente A.C., sexo masculino, branco, 33 anos de idade, IMC 21,5, questionário de Epworth 12, procurou o serviço queixando-se de ronco, irritabilidade e cansaço diurnos. Ao exame físico, apresentava-se BEG, altura 1,75m e 66 kg. Na avaliação otorrinolaringológica, tinha:

  • otoscopia normal bilateralmente;
  • desvio do septo nasal para esquerda, zona 2 de Cottler e conchas nasais aumentada, de volume, com mucosa de aspecto normal;
  • nasofibroscopia: meatos e coanas livres sem secreção, manobra de Müller positiva em orofaringe e laringe de aspecto normal;
  • boca e orofaringe: dentes em BEG, palato e úvula sem alterações, língua sem alterações, amígdalas grau I e Malampati grau II;
  • sem alterações ósseas craniofaciais.


  • Na avaliação do exame polissonográfico, constatou-se IAH 33/h, sendo 2 apneias/h e 31 hipopneias/h, e 86% de saturação mínima de oxi-hemoglobina. No exame odontológico foi constatada situação dentária, periodontal e têmporo-mandibular satisfatórias. IAH classificado como severo.

    Após avaliação clínica e otorrinolaringológica observamos que o paciente não apresentava nenhuma alteração anatômica significativa que justificasse um procedimento cirúrgico ou explicasse o acentuado aumento do IAH, o que nos levou a optar pelo uso do AIO.

    Após os procedimentos odontológicos de exame clínico, moldagem, instalação do AIO e controle, o paciente foi enviado para novo exame de polissonografia, que indicou um IAH 2/h com o uso do aparelho, sendo 0 apneia/h e 2 hipoapneias/h, e 90% de saturação mínima de oxi-hemoglobina. O IMC apresentado no novo exame foi de 21,8.


    Figura 1. Paciente A.C. usando o APM.



    DISCUSSÃO

    O tratamento da SAHOS deve ser multidisciplinar, uma vez que a fisiopatologia da doença é multifatorial. A decisão terapêutica, seja ela cirúrgica ou clínica, deve ser analisada individualmente. Diante disso, o tratamento da síndrome pode iniciar-se de uma forma mais conservadora e menos invasiva, fazendo uso do AIO, auxílio fonoaudiológico e nutricional, higiene do sono e principalmente pela conscientização e cooperação do paciente no tipo de tratamento proposto6.


    COMENTÁRIOS FINAIS

    O Aparelho Intra-Oral de Protrusão Mandibular mostrou-se eficaz em diminuir o Índice de Apneia e Hipopneia neste paciente portador da SAHOS, podendo ser utilizado como terapia conservadora alternativa à cirurgia.


    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

    1. Bassiri AG, Guilleminault C. Clinical features and evaluation of obstructive sleep apnea. In: Krieger MH, Roth T, Dement WC, editors. Principles and practice of sleep medicine. 3rd ed. Philadelphia: WB Saunders; 2000. p. 869-78.

    2. Johns MW. Reliability and factor analysis of the Epworth Sleepiness Scale. Sleep. 1992;15(4):376-81.

    3. Practice parameters for the indications for polysomnography and related procedures. Polysomnography Task Force, American Sleep Disorders Association Standards of Practice Committee. Sleep. 1997;20(6):406-22.

    4. Riley RW, Powell NB, Li KK, Troell RJ, Guilleminault C. Surgery and obstructive sleep apnea: long-term clinical outcomes. Otolaryngol Head Neck Surg. 2000;122(3):415-21.

    5. Marklund M, Franklin KA. Long-term effects of mandibular repositioning appliances on symptoms of sleep apnoea. J Sleep Res. 2007;16(4):414-20.

    6. Stradling J, Dookun R. Snoring and the role of the GDP: British Society of Dental Sleep Medicine (BSDSM) pre-treatment screening protocol. Br Dent J. 2009;206(6):307-12.










    1. Especialista em Ortodontia pelo Centro de Estudos, Treinamento e Aperfeiçoamento em Odontologia - CETAO, Pesquisador do Instituto de Pesquisa em Saúde "Aluísio Calil Mathias" - INPES.
    2. Doutor em Otorrinolaringologia pela Universidade Federal de São Paulo, Professor Titular de Otorrinolaringologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo; Membro do BOARD of Directors da International Federation of Othorrinolaringology Societies; Membro do Conselho Administrativo da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia.
    3. Mestre em Endodontia pela Universidade de Showa, Tókio, Japão. Membro do grupo de estudos de ronco e SAHOS do departamento de otorrinolaringologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo; Coordenador do Centro de Tratamento da Apneia Obstrutiva do Sono do Centro de Estudos treinamento e Aperfeiçoamento em Odontologia CETAO; Pesquisador do Instituto de Pesquisa em Saúde "Aluísio Calil Mathias" - INPES.

    Instituto de Pesquisa em Saúde "Aluísio Calil Mathias" - INPES.

    Endereço para correspondência:
    Dr. Rafael Golghetto Domingos / Dr. Tomomi Harashima
    Av. Indianópolis, 153, Moema
    São Paulo - SP, Brasil. CEP: 04063-000

    Este artigo foi submetido no SGP (Sistema de Gestão de Publicações) da BJORL em 15 de janeiro de 2010. cod. 6876
    Artigo aceito em 05 de maio de 2010.

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