Ano: 2011 Vol. 77 Ed. 3 - Maio - Junho - (6º)
Seção: Artigo Original
Páginas: 303 a 307
Modelo didático 3D e guia útil dos canais semicirculares
3D didactic model and useful guide of the semicircular conducts
Autor(es): Ricardo D'Albora Rivas
Palavras-chave: canais semicirculares, doenças vestibulares, vestíbulo do labirinto.
Keywords: vestibule labyrinth, semicircular canals, vestibular diseases.
Resumo:
A identificação de determinadas afecções vestibulares exige conhecimento prévio sobre anatomia e fisiologia dos canais semicirculares (CSC) e de suas conexões centrais, que apresentam complexidade anatômica tridimensional e funcional. Objetivo: Propor um modelo anatômico e funcional dos CSC, em 3 dimensões (3D), para servir como uma ferramenta didática e um guia útil de consulta rápida. Material e Métodos: O modelo é projetado em cartão, com impressão em cores diferentes, acompanhados de um texto explicativo de 22 folhas, que detalha sua descrição topográfica, descritiva e sua utilização com base em exemplos das doenças vestibulares mais frequentes. Resultados: Embora os resultados não possam ser avaliados numericamente, este modelo já foi compreendido por diversos especialistas e tem sido bastante utilizado por eles. Além disso, o produto deste trabalho já foi apresentado em diferentes eventos científicos latino-americanos com excelente aceitação. Conclusão: Trata-se de ferramenta útil e de baixo custo para o ensino, a prática clínica diária em otoneurologia.
Abstract:
Knowledge of the anatomy and physiology of the semicircular canals and their central pathways is essential for the diagnosis of vestibular pathology. This 3 dimensional (3D) scheme of the Semicircular Canals (SSCC) is a teaching tool and a useful reference guide for rapid consultation. Material and methods: A multicolored cardboard model is accompanied by a user manual which provides a thorough description of the tool for the most common vestibular diseases. Results: Although results cannot be quantitatively assessed, the model has been well received at several Latin American scientific conferences. The model is often understood with verbal instruction only; nevertheless, a printed user manual is included. Conclusions: This 3 dimensional (3D) model of the Semicircular Canals (SSCC) is a practical, low cost tool for use in private and academic settings.
INTRODUÇÃO
O manejo das doenças vestibulares periféricas e centrais requer conhecimento prévio de anatomia e fisiologia1-6 e das vias centrais7 dos canais semicirculares (CSC)2,3,5. A anatomia e fisiologia dos CSC são de interpretação difícil, dada a sua geometria complexa e às variações fisiológicas entre os CSC horizontais e verticais.
A intenção deste modelo tridimensional (3D) dos CSC é servir de ferramenta didática e como referência rápida ao lidar com as doenças do labirinto. É também especialmente eficaz no diagnóstico e definição do tratamento da vertigem postural paroxística benigna (VPPB)8-11, na interpretação das causas de hipofunção vestibular12, no teste head thrust7,9, na identificação de diversos tipos de neurite (neuropatias inflamatórias), nas fístulas de canal9 e nos distúrbios vasculares, tendo como base um conhecimento da fisiologia, inervação e irrigação dos CSC4. O teste também ajuda a descrever, de forma simples e prática, o nistagmo vertical para baixo/cima e torsional (rotatório)7, como parte das vias vestibulares centrais. Não tem a intenção de servir como um modelo anatomicamente correto, mas como uma referência espacial simplificada. O modelo também não visa explicar em detalhe o exame clínico ou a patologia; requer, ainda, conhecimentos básicos sobre o sistema vestibular para um entendimento mais completo.
Este modelo não tem a intenção de substituir livros de referência mais detalhados sobre o tema. O modelo (CSC-3D) é portátil e fácil de usar.
MATERIAL E MÉTODOS
O modelo multicolorido em cartão (Tabela 1) vem acompanhado de um manual do usuário de 22 páginas, o qual descreve detalhadamente a ferramenta, apresentando exemplos das patologias vestibulares mais comuns.
RESULTADOS
Este modelo em 3D é o resultado da junção de conhecimentos da anatomia e fisiologia dos CSC. Os dois labirintos são apresentados lado a lado no modelo; para fins práticos, o labirinto direito está à esquerda. O labirinto esquerdo está apresentado sobre um fundo azul claro, e o labirinto direito está apresentado sobre um fundo rosa. O modelo tem 12 faces e os CSC são representados em 10 destas faces, nas três dimensões espaciais, de frente para o verso, com suas ampolas e cristas ampulares correspondentes. Cada CSC está codificado com cores; os que têm a mesma cor funcionam juntos quando estimulados. O canal semicircular anterior direito e o canal semicircular posterior esquerdo estão em azul. O canal semicircular direito posterior e o canal semicircular anterior esquerdo estão em verde. Os dois canais semicirculares horizontais estão em cinza (Figuras 1 e 2).
Figura 1. Face Anterior
Figura 2. Modelo 3D.
Cada uma das faces dos CSC contém as seguintes informações (Figura 3): o canal semicircular direito posterior (CSCP) é apresentado como exemplo, uma vez que se trata de um sítio comum para a BPPV. Cada face mostra a mesma informação no mesmo local. As faces dos canais horizontais estão organizadas de forma diferente, porém tendo como base o mesmo conceito. Um diagrama parcial da simbologia central está apresentada na Figura 4; o manual do usuário que acompanha o modelo explica este diagrama em detalhes. Nas faces inferiores dos CSC horizontais, há um diagrama mostrando os tipos mais comuns de vascularização, inervação e suas variações anatômicas, para o ouvido interno.
Figura 3. 1- Sigla do nervo que inerva o canal semicircular. Nervo posterior ampolar. 2- Sigla do sáculo. O sáculo compartilha a inervação deste canal semicircular. 3- Posição inicial do otólito (t0) 4- Direção da inclinação da cúpula 5- Cúpula. 6- Crista.7- Cupulolitíase. 8- Equação que calcula o tempo total de migração dos cristais de otocônias D: Duração, L: Latência, tNy: Duração do nistagmo 9- Sigla do nome correspondente ao ouvido 10- Ganho do canal semicircular. 11- Posição do olho após estímulo do canal. 12- Eixo vertical do olho. 13- Ouvido direito. 14- Nome do canal semicircular. 15- Direção da endolinfa. 16- A seta grossa indica que o estímulo excitatório é mais forte que o inibitório. 17- A seta fina mostra o estímulo inibitório. Este estímulo é ampulípeta. 18- Cada canal semicircular está codificado por cores; aqueles com a mesma cor funcionam em conjunto quando estimulados. 19- Fases lentas. 20- A superfície redonda indica o movimento ocular. Estão colocados ali como lembrete aos operadores de que durante o Ny, o movimento rotatório fica mais claro quando o paciente olha para fora; o movimento vertical fica mais claro quando o paciente olha para dentro.
Figura 4. Via Central - Siglas na Figura 3: FLO: Flóculo cerebelar, SVN: Núcleos Vestibulares Superiores, MVN: Núcleos Vestibulares Mediais, MLF: Fascículo Longitudinal Medial, UBN: Nistagmo para cima (violeta), NVI: Nistagmo para baixo (vermelho), NT: Nistagmo rotatório (verde).
Com base em um código de cores, as artérias estão em vermelho, as veias em azul escuro, e a drenagem venosa correspondente em azul claro. Os nervos estão na cor verde (Figura 5). Na face posterior dos CSC, há um diagrama que mostra a distribuição e relações anatômicas dos nervos que cursam ao longo do canal auditório interno (visão posterior) (Figura 6). Este modelo tem sido bem recebido em diversos congressos latino-americanos, tais como:
Figura 5. Face Interna
Figura 6. Face Posterior - Siglas nas Figuras 1, 2, 4 e 5: A / SSC: Canal Semicircular Anterior / Superior, PSC: Canal Semicircular Posterior, H/ LSC: Canal Semicircular Horizontal / Lateral, SVN: Nervo Vestibular Superior, APN: Nervo Ampolar Posterior, SN: Nervo Sacular, FN/VII: Nervo Facial. CN: Nervo Coclear, U: Utrículo. Sua inervação e vascularização são compartilhadas neste canal, S: Sáculo (neste caso em particular, o Nervo Sacular) G: Ganho: Razão entre o movimento angular da cabeça e o movimento angular do olho. D: Duração/ Comprimento total da migração otoconial. L: Latência, que é o tempo decorrido entre a posição final na manobra diagnóstica de Dix-Hallpike até o aparecimento do primeiro batimento de nistagmo. tNy: A duração completa do nistagmo, RE: Ouvido direito, LE: Ouvido esquerdo, AICA: Artéria Cerebelar Anterior Inferior, IAA: Artéria Auditiva Interna, AVA: Artéria Vestibular Anterior, CCA: Artéria Coclear Comum, PCA: Artéria Coclear Posterior, CVA: Artéria Vestibular Coclear, CB: Ramo Coclear, RV: Ramo Vestibular, sPCA: Similar à Artéria Coclear Posterior, sCVA: Similar à Artéria Vestibular Coclear, sAVA, Similar à Artéria Vestibular Anterior. ACV: Veia Coclear do Aqueduto, AVV: Ceia Vestibular do Aqueduto.Primer Curso Internacional de Neurotología. Centro Neurológico ABC. Mexico DF. 1315/10/2008. 6º congreso Nacional de ORL y XVII encuentro de ORL del Interior de la República. Hotel Jean Clevers. Punta del Este. Maldonado. Uruguay 31/10 y 1 y 2 /12 2008. Seminario de Interacoustics Lima, Perú 13/12/2008. VI Simposio INEBA de Neuro-Otología 11 de Junio de 2009. BsAs Argentina 71º Jornadas Rioplatenses de ORL 1416 de Julio de 2010, como Congresso.
Este modelo também é utilizado pelo Serviço de ORL do Hospital das Clínicas da Faculdad de Medicina da Universidad de la República Oriental del Uruguay. O modelo frequentemente é compreendido apenas com instruções verbais; no entanto, um manual do usuário impresso está incluído.
DISCUSSÃO
Este modelo 3D é uma ferramenta útil para o ensino de conceitos de anatomia, fisiologia e patologia, sem a necessidade de recorrer a textos escritos. Trata-se de uma ferramenta prática de baixo custo para uso privado ou acadêmico.
Este trabalho é uma versão resumida; recomendamos ler a versão integral para uma compreensão detalhada desta ferramenta.
CONCLUSÃO
Este modelo é uma ferramenta prática de baixo custo para uso privado ou acadêmico. Requer apenas conhecimentos básicos de anatomia e é fácil de aprender.
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Medical Doctor. ENT. Associate Professor. Vestibular Department. Clinicas Hospital. School of Medicine of Uruguay. University of the Oriental Republic of Uruguay.
Endereço para correspondência:
Dr. Ricardo D'Albora
Rincón 728
Maldonado Maldonado. Uruguay.
E-mail: ricardodalborar@hotmail.com
Este artigo foi submetido no SGP (Sistema de Gestão de Publicações) da BJORL em 22 de agosto de 2010. cod. 7283.
Artigo aceito em 7 de novembro de 2010.
Presented and registered in the National Library in the book 31, entry 800, on September 2008.