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Ano:  2010  Vol. 76   Ed. 4  - Julho - Agosto - ()

Seção: Artigo Original

Páginas: 416 a 422

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Caracterização do diagnóstico tardio do câncer de boca no estado de Alagoas

Characterization of oral cancer diagnostic delay in the state of Alagoas

Autor(es): Luiz Carlos Oliveira dos Santos1, Olívio de Medeiros Batista2, Maria Cristina Teixeira Cangussu3

Palavras-chave: diagnóstico bucal, epidemiologia, neoplasias bucais.

Keywords: diagnostic services, epidemiology, mouth neoplasms.

Resumo:
O câncer de boca, no Brasil, ainda apresenta altos níveis de incidência e mortalidade, com diferentes características da doença no território nacional. A maioria dos casos é diagnosticada tardiamente, porém há uma grande chance de cura quando tratado no início. Objetivo: Avaliar os fatores relacionados ao diagnóstico tardio do câncer de boca no estado de Alagoas. Material e Métodos: Foi realizado um estudo prospectivo transversal em 74 pacientes portadores de carcinoma espinocelular da cavidade bucal diagnosticados em um hospital em Alagoas, no período de julho de 2007 a setembro de 2008. Foi realizada uma entrevista semiestruturada, obtendo-se dados sociodemográficos, profissional procurado, início dos sintomas, encaminhamento e estágio clínico do tumor no momento do diagnóstico. Resultados: De acordo com os resultados obtidos neste estudo, os pacientes procuraram mais o médico que o dentista quando apresentaram uma lesão na boca, sendo encaminhados pelo dentista sempre em um estágio avançado da doença. Conclusões: Esse estudo sugere a necessidade de programas de educação continuada da população e profissionais para a identificação de sintomas precoces da doença, porém necessita de outras investigações.

Abstract:
Oral cancer in Brazil still presents high levels of incidence and mortality bearing different traits throughout the national territory. In most of the cases the diagnosis is late; however there is a great possibility for cure when treated early on. Aim: to assess factors associated with the late diagnosis of oral cancer in the state of Alagoas. Material and Methods: a prospective cross-sectional study was carried out in 74 patients, all of them diagnosed with oral squamous cell carcinoma in a hospital of Alagoas, between July of 2007 and September of 2008. A semi-structured interview was given, obtaining socio-demographic data, the type of professional help sought, symptom onset, referrals and tumor clinical stage at the moment of diagnosis. Results: According to the results obtained in this study, the patients usually sought professional medical help, rather than dental help when a lesion in the mouth appeared, being always referred to a specialist by the dentist, in advanced stages of the disease. Conclusions: This study suggests the need for continued education programs for the population and professionals aiming at the early identification of symptoms of the illness; however needing further studies.

INTRODUÇÃO

O objetivo do estudo epidemiológico do câncer bucal vem sendo uma constante problemática decorrente dos múltiplos comprometimentos da saúde e da qualidade de vida dos pacientes1.

É através da epidemiologia que se pode afirmar que o câncer bucal é uma doença de alta incidência no mundo que vem sendo considerada como problema de saúde pública e que a prevenção e o diagnóstico precoce constituem as melhores formas de reverter essa situação2.

A boca é um sítio anatômico de fácil acesso para exame, permitindo que cirurgiões-dentistas, médicos generalistas ou o próprio paciente, através do autoexame, possam visualizar diretamente alterações suspeitas, principalmente nos estágios iniciais, levando ao diagnóstico precoce. No entanto, na maioria dos casos o diagnóstico é feito tardiamente3,4.

O diagnóstico precoce é dificultado pelo fato de que as lesões iniciais, geralmente assintomáticas, não são valorizadas pelo próprio indivíduo e nem pelos profissionais de saúde, sugerindo falta de conhecimento da patologia, deficiência na procura de atendimento médica por parte do indivíduo e/ou do acesso e qualidade da assistência à saúde, fator este ligado a uma ausência de programas governamentais que visem à prevenção e de um sistema de saúde eficiente.

O estado de Alagoas vem apresentando um crescente número de novos casos de câncer acompanhados de diagnósticos realizados tardiamente e dificuldades de acesso aos tratamentos, 110 novos casos só de câncer bucal para 20085, deste modo, aumentando cada vez mais o número de pacientes que se enquadram no que se denomina de "pacientes fora de possibilidades terapêuticas" (FTP). Estes pacientes geralmente são encaminhados para suas casas, e padecem até a morte com dor e outros sintomas decorrentes da progressão da doença6.

Como já citado, a maioria dos casos de câncer de boca quando diagnosticados pela primeira vez se encontra em um estado avançado, tornando-se necessário identificar os fatores que favoreceram essa situação. Nesse sentido é que foi realizada uma investigação com a finalidade de estabelecer e analisar os fatores que levaram a esse diagnóstico tardio, contribuindo dessa forma com a organização dos serviços de referência para o câncer de boca no estado.


METODOLOGIA

Foi realizado um estudo prospectivo, de caráter exploratório, com abordagem quantitativa em 74 pacientes com carcinoma espinocelular (CEC), atendidos e diagnosticados em um hospital do estado de Alagoas, no período de julho de 2007 a setembro de 2008, com o propósito de delinear o perfil epidemiológico dos pacientes portadores da doença.

A pesquisa foi realizada no Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço desse hospital, por ser este referência em oncologia no estado de Alagoas, atendendo a 102 municípios, agrupados em 13 microrregiões de saúde.

Para a realização da pesquisa foi utilizado um questionário individual com as seguintes variáveis: faixa etária, gênero, estado civil, etnia, profissão, nível de instrução, hábitos (tabagismo e etilismo), tempo da sintomatologia inicial da doença, tempo de evolução (em meses), se procurou o serviço de saúde no seu local de residência, o tempo em meses do encaminhamento até um serviço especializado, profissional procurado pelo paciente e sua conduta e determinação do estadiamento clínico do tumor.

Após assinar o termo de livre consentimento, os pacientes diagnosticados com câncer de boca atendidos no ambulatório por um profissional médico do hospital (cirurgião cabeça e pescoço ou o oncologista), eram entrevistados pelo estomatologista (pesquisador responsável).

Foi considerado diagnóstico tardio neste estudo quando o paciente relatava o início dos sintomas com mais de três semanas, já que a recomendação dos serviços de Saúde Pública é que pacientes que apresentem "feridas ou úlceras" que não cicatrizam por um período de duas semanas devem procurar atendimento em algum Posto de Saúde7.

Os tumores foram registrados de acordo com a Classificação de Doenças para Oncologia (CID-O) e a classificação TNM da União Internacional de Combate ao Câncer-UICC. Os tumores são considerados como avançados quando classificados em estádio T3 ou T4 de acordo com a classificação do T. O estádio do tumor foi dividido em estádio I-II (T1 ou T2 e N0) e estádio III-IV (T3, T4 ou N>0)8.

O diagnóstico tardio foi avaliado em meses a partir da data quando o paciente referiu o início dos sinais ou dos sintomas até o momento do diagnóstico no serviço especializado e o estádio do tumor no momento do diagnóstico.

As informações coletadas foram transferidas para um banco de dados preparado no programa Excel para Windows, versão 2003 e posteriormente realizou-se a análise descritiva, com a apresentação das medidas de tendência central e dispersão para as variáveis continuas e número e percentual das variáveis categoriais. Para testar as diferenças entre os grupos utilizou-se os testes do qui-quadrado e t de Student, ambos com nível de significância de 95%.

Esta pesquisa foi conduzida com autorização formal dos setores envolvidos. Os preceitos éticos vigentes, estabelecidos pela Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, foram obedecidos e a identidade dos pacientes e profissionais foram preservadas. Também foi garantida liberdade ao paciente para participar ou não do estudo sem prejuízo no seu tratamento posterior.

A pesquisa foi previamente avaliada e aprovada pelo comitê de ética da instituição, sob o número 005567/2006-17.


RESULTADOS

Caracterização da População do Estudo

Foram analisados, no total, os dados de 74 pacientes que demandaram o serviço no período de 14 meses. A média de idade foi de 57,22 anos (DP=14,01), com um mínimo de 26 e máximo de 85 anos. Outras informações sócio-demográficas que caracterizam a população de estudo podem ser observadas na Tabela 1.




Observa-se que, dentre os 74 integrantes da amostra, 70,3% são do gênero masculino, e 29,7%, do gênero feminino, indicativo de que o quantitativo dos indivíduos do gênero masculino foi estatisticamente maior que do gênero feminino.

Em relação à escolaridade houve um equilíbrio entre os pacientes que eram analfabetos (37,8%), e os que tinham o ensino fundamental incompleto ou mais (40,3%). Com relação à ocupação do paciente, 39,2% responderam que eram trabalhadores rurais.

Apesar das características sócio-demográficas dos pacientes, a maioria tinha uma renda familiar entre menos de um salário mínimo (20,3%) a um salário mínimo (66,2%).

Os pacientes foram encaminhados de 31 municípios de Alagoas, o que corresponde a 30,4% dos 102 municípios, sendo a maioria da capital Maceió, seguido por Arapiraca.

Com relação à busca de ajuda profissional, 52 (70,3%) pacientes procuraram um médico antes de chegar ao hospital de referência em Alagoas, 21 pacientes (28,4%) procuraram um dentista, enquanto que um paciente (1,3%) procurou o agente comunitário.

Quanto à localização, o percentual de prevalência da doença na língua foi estatisticamente maior do que nas demais localizações (Figura 1).


Figura 1. Localização anatômica das lesões.



Observou-se que a maior parte dos pacientes (78,4%) apresentou tumores classificados em maiores que T2N0M0 (estádio III e IV), caracterizando doença avançada. Já 21,6% dos pacientes apresentaram tumores classificados em T1N0M0 e T2N0M0, significando estádio I, e II caracterizando doença precoce. Verifica-se o predomínio de pacientes com doença avançada.

Em relação ao estadiamento foram encontrados os valores apresentados na Figura 2. Houve predomínio das lesões em estádios avançados, diferença estatisticamente significante quando comparadas com os estádios T1 e T2 (k2= 37,33; p< 0,00)


Figura 2. Distribuição do estadiamento detectado.



Diagnóstico e Encaminhamento aos Serviços De Saúde

Com relação à percepção dos primeiros sintomas da doença referido em meses pelo paciente, no momento da sua chegada ao ambulatório do Serviço de Cabeça e Pescoço do hospital de referência em Alagoas, 24(32,4%), referiram 1-3 meses do início dos sintomas até a data da consulta ao especialista, 20(27,0%) afirmaram que os sintomas evoluíram de 4 a 6 meses, 20(27,0%) desses pacientes referiram os sintomas iniciais em um período de 7 a 9 meses, e 10(13,5%) um período maior que 9 meses.

Quanto ao tempo de encaminhamento desses pacientes pelos profissionais que os atenderam no serviço de saúde de seu local de origem, 20(27,0%) desses pacientes chegaram com menos de dois meses ao Serviço de Cabeça e Pescoço do hospital de referência em Alagoas, 41(55,4%) levaram de 2 a 6 meses, e 13(17,6%) demoraram mais de 6 meses.

Sobre o encaminhamento do paciente a um centro especializado feito por profissional médico ou dentista com estágio da doença avançada ou precoce, o dentista fez o encaminhamento de 6(8,1%) pacientes com doença precoce e 15(20,3%) pacientes com doença avançada totalizando 21(28,4%) pacientes. O médico fez o encaminhamento de 42 pacientes(56,8%) com doença avançada e 10(13,5%) com doença precoce, perfazendo um total de 52(70,3%) dos pacientes, houve ainda o encaminhamento feito por um agente comunitário de um paciente (1,4%) em estágio avançado (T3). De acordo com estes resultados, observa-se um predomínio de encaminhamento de pacientes por profissionais da área médica, sendo que ambos o fizeram com percentual significante da doença em estágio avançado.

Com relação à questão aberta, foram extraídos categorias de pensamentos homogêneos, sendo adotada a metodologia utilizada anteriormente na Paraíba9, onde foram selecionadas respostas semelhantes, que exprimissem as mesmas idéias.

Foram consideradas 5 categorias baseadas nos relatos dos pacientes que responderam a questão sobre o motivo da demora em procurar o serviço de saúde apresentadas na Tabela 2.




Do total, 41,9% dos pacientes relatam que sabiam da lesão, mas só procurou o serviço de saúde quando a mesma começou a incomodar. Foi a categoria com o maior número de indivíduos. Não houve diferença estatística entre os percentuais de resposta (p=0,10).


DISCUSSÃO

O tipo histológico mais frequente de câncer bucal encontrado na amostra foi o carcinoma espinocelular (CEC) com 100% dos casos, o que já foi comprovado pela literatura10. Devido à sua grande incidência, os trabalhos sobre este tipo histopatológico confundem-se com aqueles que abordam o câncer bucal de maneira geral e são discutidos de maneira conjunta11.

Em Alagoas observou-se que dos 102 municípios existentes, apenas 31 encaminharam pacientes com câncer de boca ao hospital de referência em Alagoas, sendo a maioria da capital, seguido por Arapiraca, dado esse semelhante ao apurado em pesquisa desenvolvida anteriormente em Alagoas12, que ainda enfatiza a importância dos serviços da capital para a população e da ausência de serviços de média e alta complexidade de forma descentralizada no estado. A ausência de municípios nessa estatística pode ser justificada pela distância geográfica e deslocamento difícil em muitos municípios da zona rural, bem como a ausência de um sistema efetivo de referência e contra-referência entre a rede básica de saúde e os hospitais de referência para o câncer.

Foram identificados para o período estudado 74 pacientes diagnosticados com câncer de boca, atendidos no hospital de referência. Em relação à faixa etária observou-se a predominância das lesões na população acima dos 60 anos valores esses concordes com a literatura13-15, porém outros autores encontraram essa faixa etária entre os 50-60 anos de idade16-19.

Com relação ao gênero, a amostra desta pesquisa foi composta, na maioria, por homens. O mesmo predomínio do gênero masculino na prática odontológica pôde ser observado em vários estudos5,14-16,18. Essa tendência na incidência de pacientes do gênero masculino tem sido observada frequentemente, porém nas últimas décadas, devido a mudanças de comportamento, nota-se um aumento na incidência do carcinoma espinocelular (CEC) de boca em mulheres19.

Houve um alto índice de pacientes com escolaridade inferior ao fundamental 42 pacientes, sendo que 28 pacientes eram analfabetos, dado esse bastante inferior ao encontrado um trabalho desenvolvido na Paraíba em 20069, que totalizou 75% dos indivíduos entrevistados. Já considerando a ocupação, a maior parte era formada por trabalhadores rurais, corroborando os achados na literatura16,19.

Quanto à etnia, encontrou-se uma incidência maior no grupo dos não brancos, predomínio discordante com uma pesquisa relatada na literatura20, que mostra a cor branca como a de maior incidência, porém semelhante a de outros autores21, embora exista a afirmação que o acometimento de determinada cor/raça varia conforme a metodologia aplicada no estudo e a região onde o mesmo é realizado22, tornando difícil a comparação de resultados.

Em relação ao hábito de fumar e ao etilismo, permitiu-se constatar a presença de consumo de tabaco em 37,8% dos pacientes, 39,1% eram fumantes e etilistas e 20,3% não fumavam e nem bebiam. Nota-se que o hábito do tabagismo e etilismos, neste estudo, é alto. Dentre os hábitos bucais, o tabagismo e o alcoolismo têm sido frequentemente documentados como sendo os principais fatores de risco no desenvolvimento de novos cânceres bucais, agindo de forma sinérgica e aumentando a incidência21-24.

O sítio anatômico mais acometido foi a língua, seguida do palato mole, resultados coincidentes com a literatura onde se constatou o predomínio da língua como a localização mais frequentemente atingida15,18,19, porém divergentes dos apresentados por outros autores25,26.

Foi possível observar uma larga maioria de pacientes com tumor em estádio clínico avançado, sendo classificados como T3 ou T4, resultado este coincidente com os de alguns autores9,12, comprovando que os pacientes quando chegam aos serviços de saúde, a doença se encontra em um estágio avançado.

Vários fatores podem influenciar a qualidade na assistência aos pacientes com câncer como: agilidade no atendimento, disponibilidade de recursos e profissionais, entretanto, mesmo com todos esses recursos não há uma forte influência no prognóstico, e sobrevida do paciente como quando é realizado o diagnóstico precoce da doença.

Conforme mostram diversos autores4,27,28,29, o tempo decorrido entre a percepção dos sintomas e o diagnóstico e tratamento corretos interfere na evolução e no prognóstico dessa doença e também na qualidade de sobrevida dos pacientes.

Neste estudo verificou-se que 41,9% dos pacientes sabiam da lesão, mas só procurou o serviço de saúde, quando a mesma começou a incomodar (Tabela 1). Foi a categoria com o maior número de indivíduos, o que indica a pouca valorização do autocuidado e também desconhecimento em relação aos sinais da lesão, por serem lesões inicialmente assintomáticas, não existindo a preocupação em procurar tratamento. O percentual considerável do tratamento incorreto reforça o despreparo dos profissionais em relação à questão. Da mesma forma, a recusa ou negação da doença reforça o seu estigma negativo na população, que vê o câncer como uma sentença de morte, geralmente sem possibilidade de tratamento, o que não se justifica nas lesões descobertas precocemente. Mostraram-se de forma explícita, em uma proporção importante (12,2%) as dificuldades de acesso ao SUS para o tratamento de média e alta complexidade, e da pouca disponibilidade do sistema para trabalhadores.

Quanto ao profissional que examinou o doente pela primeira vez, encontrou-se que cinquenta e dois pacientes foram examinados primeiramente por um médico e vinte e um pacientes por um dentista. A preferência dos doentes em procurar inicialmente o médico e não o dentista está de acordo com os relatos da literatura4,9.

Com relação à percepção dos primeiros sintomas da doença até a chegada dos pacientes ao hospital de referência em Alagoas, houve um maior índice de pacientes que relataram que perceberam os primeiros indícios da doença em um período de 1-3 meses e em menor proporção os pacientes que perceberam em um período maior que nove meses, notando-se um equilíbrio proporcional nos diversos níveis, resultados semelhantes aos relatados por diversos autores9,27,30,31, enquanto que em outro estudo32 foi encontrado uma média de 273,19 dias de atraso pelos pacientes.

Essa situação reflete a falta de informação da população, que pelo fato das lesões iniciais serem assintomáticas33, só procuram o atendimento de saúde, consequentemente, quando o tumor está em estágio bastante avançado, acarretando uma queda drástica na sobrevida dos pacientes28.

O tempo do profissional é uma variável que apresentou a maioria do encaminhamento um período de 2-6 meses, intervalo que pode ser considerado muito elevado, coincidindo com a literatura9,30. O acesso ao serviço de saúde, o sistema de marcação de consultas, o sistema de transportes e a questão cultural e financeira, além do reconhecimento das lesões pelos primeiros profissionais que fazem a primeira consulta são os principais fatores para o atraso no encaminhamento33-39.

Sobre o encaminhamento do paciente a um centro especializado feito pelo médico ou por um dentista com estágio da doença avançada ou precoce, ambos fizeram o encaminhamento, na maioria, pacientes com doença em estágio avançado, totalizando 56,8% e 20,3%, respectivamente. De acordo com estes resultados, subtende-se que o desconhecimento e o despreparo do profissional com relação às lesões suspeitas da boca dificultam o encaminhamento desses pacientes.

É de grande importância o papel do primeiro profissional que atende o paciente e a dificuldade do diagnóstico de lesões malignas incipientes40, profissionais esses responsáveis pelo encaminhamento dos pacientes a um centro ou a um profissional de saúde especializado.

Dos 74 pacientes da pesquisa, 73,4% foram encaminhados a outros profissionais. Quanto maior o número de consultas anteriores ao diagnóstico deduz-se que maior tenha sido o tempo de duração da queixa. Um número excessivo de profissionais consultados sugere que o paciente tenha feito uma peregrinação a médicos, a serviços de saúde e a uma grande quantidade de exames complementares, até que tenha sido estabelecido o diagnóstico final

Existem falhas no conhecimento sobre o câncer de boca entre os profissionais da saúde, seja na rede pública, PSFs ou consultórios particulares, porém há vontade destes profissionais em se capacitarem através de cursos atualização, com a finalidade de aumentarem seus conhecimentos e práticas nesta área19,33.

Outro ponto discutido na literatura são as estratégias de prevenção e educação da população e treinamento profissional, mostrando que a principal preocupação localiza-se na estruturação dos cursos de graduação, tanto de medicina quanto de odontologia3.

O pouco conhecimento sobre a doença entre pacientes e profissionais de saúde, o medo do diagnóstico e as dificuldades para acessar o sistema de saúde são causas importantes para o atraso no diagnóstico. Os pacientes, algumas vezes, são descritos pelos profissionais como os responsáveis pela doença. Os profissionais de saúde são fundamentais no diagnóstico do câncer bucal e devem ter consciência dessa responsabilidade e não culpar os pacientes pelo atraso no diagnóstico. É preciso não só conhecimento, mas atitudes positivas, valores pessoais, habilidades no relacionamento, domínio psicológico e autoconfiança como subsídio ao sucesso do tratamento41.

Outros fatores de estudo foram investigados como uso de prótese, dificuldades de acesso aos serviços de saúde, porém não mostraram associação, tornando-se um dos limites desta investigação.

Pelo exposto pode-se inferir que existe a necessidade de programas de educação continuada da população e dos profissionais no sentido da identificação de sinais precoces da doença, visto que o acesso precoce é definidor do prognóstico.


CONCLUSÃO

Baseado nos resultados conclui-se que:

Não existem grandes diferenças entre os resultados obtidos nesta pesquisa e os demais estudos;

Os pacientes apresentaram baixo nível socioeconômico e educacional, com pouca ou nenhuma informação sobre sintomatologia do câncer de boca e sua prevenção;

Os pacientes mais atingidos foram do gênero masculino, melanoderma, faixa etária acima dos 60 anos, trabalhadores rurais, tabagistas e etilistas;

A localização anatômica mais frequente foi a língua, seguida pelo palato mole;

Existe um grande número de pacientes com lesões em estádios avançados; provavelmente porque as lesões iniciais são assintomáticas e também, pelas inúmeras dificuldades de natureza social e desconhecimento;

Em função da predominância de tumores no estádio III e IV, faz-se necessário a otimização de ações para prevenção, diagnóstico precoce e controle da doença;

O atraso no diagnóstico do câncer de boca ocorreu mais pela ignorância por parte dos pacientes, que pelos profissionais, apesar de ter sido detectado um índice significativo em relação ao desconhecimento e despreparo do profissional em relação às lesões suspeitas da boca, o que dificulta o encaminhamento dos pacientes;

O número de pacientes que procurou o médico generalista foi maior do que o número que procurou o médico especialista ou o dentista, geralmente profissionais que não reconhecem os sinais e sintomas do câncer, consequentemente atrasando o encaminhamento dos indivíduos.


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1. Doutor em Estomatologia pelo Programa Integrado de Doutorado em Odontologia da UFPB/UFBA, Professor Adjunto de Estomatologia - UFAL.
2. Doutor em Sciences Biologiques Et Santé. Universite de Rennes I, U.R.I., França, Professor Adjunto de Estomatologia da UFPB.
3. Doutora em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo, Professora Adjunta do Departamento de Odontologia Social e Pediátrica.

Este artigo foi submetido no SGP (Sistema de Gestão de Publicações) da BJORL em 24 de abril de 2009. cod. 6378
Artigo aceito em 20 de fevereiro de 2010

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