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Ano:  2010  Vol. 76   Ed. 3  - Maio - Junho - (24º)

Seção: Relato de Caso

Páginas: 406 a 406

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Sinuplastia com balão em paciente portador de paralisia cerebral: resultado e seguimento

Balloon sinuplasty in patient with cerebral palsy: result and follow-up

Autor(es): João Flávio Nogueira Júnior1, Maria Laura Solferini Silva2, Aldo Cassol Stamm3

Palavras-chave: cirurgia vídeo-assistida, cuidados pós-operatórios, período pós-operatório, procedimentos cirúrgicos minimamente invasivos, sinusite.

Keywords: video-assisted surgery, postoperative care, postoperative period, surgical procedures, sinusitis.

INTRODUÇÃO

A dilatação dos óstios dos seios paranasais (SPN), ou sinuplastia, tem apresentado resultados interessantes no tratamento da rinossinusite crônica (RSC)1,2. A sinuplastia utiliza o conceito do remodelamento destas estruturas, sem remoção óssea ou de mucosa1-3.

A preservação destes tecidos pode apresentar uma vantagem desta ferramenta, já que problemas como diminuição dos movimentos mucociliares, fibrose cicatricial, sinequias e sangramentos pós-operatórios são menos frequentes em pacientes submetidos a estas dilatações1,2,4.

Os cuidados pós-operatórios também são mais simples. Como não há remoção de tecidos, nem trauma na mucosa nasal, a formação de crostas e a necessidade de curativos nasais são bem menores. Isto pode ser interessante principalmente em pacientes que possam apresentar dificuldades na realização de limpezas pós-operatórias, como crianças e portadores de alguma deficiência tal como paralisia cerebral3,4.

Apresentamos jovem com paralisia cerebral e RSC que foi submetido à sinuplastia, discorrendo sobre o seguimento pós-operatório.


APRESENTAÇÃO DO CASO

ASPN, masculino, 18 anos, com paralisiacerebral e diagnosticado há 5 anos com RSC, sendo submetido a tratamentos medicamentosos sem sucesso. Há 2 meses apresentou celulite orbitária à direita e meningite como complicação de sinusite frontal e etmoidal. Foi internado com medicações adequadas, apresentando melhora.

Encaminhado ao nosso serviço, foi solicitada tomografia computadorizada (TC) que evidenciou sinais sugestivos de RSC frontal à direita.

Após esclarecimento, consentimento dos responsáveis e realização de exames préoperatórios, o paciente foi submetido à sinuplastia no seio frontal direito.

A cirurgia foi realizada sob anestesia geral. Utilizamos o sistema "Relieva Sinus Balloon Catheter System" (Acclarent, Estados Unidos) e as técnicas descritas para o uso com transiluminação4.

Um balão de 5mm foi introduzido e dilatado em vários pontos do recesso frontal direito com solução salina a até 12 atmosferas de pressão (Figura 1). Após, o cateter de lavagem foi introduzido para limpeza das secreções presentes.


Figura 1. Sinuplastia em região de seio frontal direito. A: visão endoscópica (45 graus, 4mm) de meato médio direito e colocação de cateter guia no seio frontal direito sob transiluminação. B: visão endoscópica (45 graus, 4mm) da colocação do balão para dilatação do recesso e óstio do seio frontal direito. C: Visão endoscópica (45 graus, 4mm) do aspecto após a dilatação e lavagem do seio frontal direito. D: Visão endoscópica (0 graus, 4mm) do meato médio direito ao final da sinuplastia. Note praticamente ausência total de trauma na mucosa nasal.



Todo procedimento durou aproximadamente 60 minutos. Não foi utilizado tamponamento nasal. Não houve sangramentos ou outras complicações.

O paciente retornou com 7, 14, 30 e 60 dias após a realização da cirurgia. Limpezas superficiais foram realizadas, pois o paciente não permitia limpezas sob endoscopia. No 60º dia pós-operatório, uma nova TC foi solicitada, mostrando aeração normal das cavidades paranasais.


DISCUSSÃO

O manejo da RSC em alguns pacientes é um desafio aos otorrinolaringologistas5. Tratamentos escalonados são realizados, entretanto quando há falha na terapêutica, a cirurgia endoscópica nasal (CEN) é indicada5.

A CEN é segura e apresenta excelentes resultados, entretanto complicações inerentes, como sinequias, crostas e epistaxe são frequentes, principalmente em grupos especiais de pacientes, que muitas vezes são refratários aos cuidados pós-operatórios adequados2,5.

Recentemente, uma técnica minimamente invasiva foi introduzida em nosso país: a sinuplastia por balão. Este procedimento é seguro e apresenta bons resultados até o presentemomento2,3.

A sinuplastia parece oferecer algumas vantagens quando comparada à CEN tradicional, como tempo cirúrgico e de internação hospitalar reduzidos, menos complicações como sangramentos e sinequias e, mais importante, menos necessidade de cuidados pós-operatórios2,3,4.

A limitação deste instrumento é a incapacidade de cateterização e dilatação adequada do seio designado em casos de anatomia não favorável1 e há autores que questionam o fato de a dilatação apresentar resultados temporários6. São poucas as complicações com o uso destes instrumentos. Destaca-se a possibilidade de, assim como na CEN, fístulas liquóricas1,3,4.


COMENTÁRIOS FINAIS

Não houve complicações ou dificuldades técnicas na sinuplastia deste paciente. Após 60 dias, o jovem apresenta melhora da sintomatologia e normalização das imagens da TC dos SPN.

A sinuplastia pode ser uma alternativa no tratamento cirúrgico de alguns pacientes, já que introduz procedimento minimamente invasivo que permite a preservação da mucosa do nariz e SPN. Entretanto, séries de caso com seguimento mais longo são necessários.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Nogueira Júnior JF, Silva MLS, Santos FP, Stamm AC. Sinuplastia com balão: um novo conceito na cirurgia endoscópica nasal. Arq Int Otorrinolaringol. 2008;12:538-45.

2. Stamm A, Nogueira JF, Lyra M. Feasibility of balloon dilatation in endoscopic sinus surgery simulator. Otolaryngol Head Neck Surg. 2009;140:320-3.

3. Bolger WE, Brown CL, Church CA, Goldberg AN, Karanfilov B, Kuhn FA, et al. Safety and outcomes of balloon catheter sinusotomy: a multicenter 24- week analysis in 115 patients. Otolaryngol Head Neck Surg. 2007;137:10-20.

4. Friedman M, Schalch P. Functional endoscopic dilatation of the sinuses (FEDS): patient selection and surgical technique. Op Tech Otolaryngol Head Neck Surg. 2006;17:126-34.

5. Wittkopf ML, Becker SS, Duncavage JA, Russell PT. Balloon sinuplasty for the surgical management of immunocompromised and critically ill patients with acute rhinosinusitis. Otolaryngol Head Neck Surg. 2009;140(4):596-8.

6. Kieff DA, Busaba NY. Reformation of concha bullosa following treatment by crushing surgical technique: implication for balloon sinuplasty. Laryngoscope. 2009;119(12):2454-6.










1. Título de Especialista em Otorrinolaringologia pela ABORL-CCF, Médico Otorrinolaringologista do Centro de Otorrinolaringologia de São Paulo - Hospital Prof. Edmundo Vasconcelos.
2. Médica, Residente de Otorrinolaringologia do Centro de Otorrinolaringologia de São Paulo - Hospital Prof. Edmundo Vasconcelos.
3. Doutor, Diretor do Centro de Otorrinolaringologia de São Paulo - Hospital Prof. Edmundo Vasconcelos.

Centro de Otorrinolaringologia de São Paulo - Hospital Prof. Edmundo Vasconcelos
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Este artigo foi submetido no SGP (Sistema de Gestão de Publicações) da BJORL em 4 de julho de 2009. cod. 6491.
Artigo aceito em 24 de dezembro de 2009

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