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Ano:  2009  Vol. 75   Ed. 2  - Março - Abril - (27º)

Seção: Relato de Caso

Páginas: 318 a 318

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Coexistência incomum de cisto linfoepitelial oral e glossite migratória benigna

Unusual coexistence of oral lymphoepithelial cyst and benign migratory glossitis

Autor(es): Karuza Maria Alves Pereira1, Cassiano Francisco Weege Nonaka2, Pedro Paulo de Andrade Santos3, Ana Myriam Costa de Medeiros4, Hébel Cavalcanti Galvão5

Palavras-chave: cisto linfoepitelial, cisto linfoepitelial oral, glossite migratória benigna.

Keywords: lymphoepithelial cyst, oral lymphoepithelial cyst, benign migratory glossitis.

INTRODUÇÃO

O cisto linfoepitelial é uma lesão incomum em cavidade oral, apresentando-se como discreta elevação assintomática, de coloração branco-amarelada, geralmente localizada em assoalho bucal1,2. Por sua vez, a glossite migratória benigna está caracterizada por áreas eritematosas ao longo da superfície da língua, margeadas por bordas esbranquiçadas, com períodos de exacerbação e remissão, conferindo o aspecto migratório típico desta entidade3. Até o presente momento, este é o primeiro relato de caso revelando coexistência de cisto linfoepitelial oral e glossite migratória benigna.


RELATO DE CASO

Paciente do sexo feminino, 46 anos, recorreu ao Serviço de Diagnóstico Oral, queixando-se de episódios de ardência na língua com períodos de remissão, presente há vários anos. Ao exame intra-oral foram constatadas áreas eritematosas múltiplas, dolorosas, com bordas esbranquiçadas, localizadas no dorso da língua, sendo diagnosticadas como glossite migratória benigna. Dessa forma, a paciente foi submetida à terapia de suporte com corticosteróide à base de cloridrato de dexametasona (0,1mg/ml), para alívio dos sintomas.

A inspeção minuciosa da superfície da língua permitiu identificar, na região póstero-lateral, uma pápula indolor, com aproximadamente 5mm de diâmetro, de coloração amarelada, até então, não percebida pela paciente (Figura 1). Procedeu-se à biópsia excisional, encaminhando-se o material para exame histopatológico no Serviço de Anatomia Patológica. A análise microscópica revelou cavidade revestida por epitélio pavimentoso estratificado paraceratinizado com interface epitélio-conjuntivo plana, e cápsula de tecido conjuntivo fibroso exibindo tecido linfóide proeminente com formação de centro germinativo. Dessa forma, a lesão foi diagnosticada como cisto linfoepitelial.


Figura 1. Fotografia revelando lesões eritematosas margeadas por discreta borda esbranquiçada circinada, bem como, na superfície póstero-lateral da língua, pápula amarelada.



Após um ano de proservação, não foram observados indícios de recidiva do cisto linfoepitelial oral. Em relação à glossite migratória benigna, puderam ser constatados três episódios sintomáticos de recidiva, todos tratados de forma paliativa com corticosteróide à base de cloridrato de dexametasona (0,1mg/ml).


DISCUSSÃO

Cistos linfoepiteliais em cavidade oral são raros. Muitos destes localizam-se na região de assoalho de boca (65,3 %), com a superfície póstero-lateral da língua sendo responsável por aproximadamente 13,7% dos casos. As lesões de cisto linfoepitelial oral são assintomáticas e de pequenas dimensões, raramente excedendo 15mm de diâmetro1,2. No caso ora relatado, a presença de uma lesão de cisto linfoepitelial de pequenas dimensões, em localização intra-oral pouco freqüente, ressalta a importância da realização de um exame clínico minucioso.

Escassos relatos descrevem a coexistência de cistos linfoepiteliais orais e cistos epidermóides em um mesmo sítio anatômico4. Adicionalmente, análises de casos de glossite migratória benigna relatam a associação desta com diversas condições médicas, locais ou sistêmicas5. Contudo, até o presente momento, não havia sido reportada a coexistência de cisto linfoepitelial oral e glossite migratória benigna.

A patogênese dos cistos linfoepiteliais orais permanece incompreendida, sendo sugeridos como prováveis fatores causais: traumatismos locais e obstrução de criptas tonsilares2,4. Adicionalmente, a etiopatogênese da glossite migratória benigna é motivo de discussão na literatura, e diferentemente dos cistos linfoepiteliais orais, não se relaciona a eventos traumáticos ou obstrutivos5. Assim, a coexistência de cisto linfoepitelial oral e glossite migratória benigna observada no caso ora apresentado, provavelmente representa uma associação incomum entre doenças de etiologias distintas.

O tratamento para o cisto linfoepitelial oral consiste na remoção cirúrgica conservadora, sendo raras as recidivas2,4. No caso em questão, um ano após realização de biópsia excisional, não há indício de recorrência da lesão. Com relação à glossite migratória benigna, três episódios sintomáticos de recidiva foram evidenciados, todos estes submetidos à terapia de suporte com corticosteróide tópico, à semelhança de outros casos descritos na literatura6.


COMENTÁRIOS FINAIS

Até o presente momento, este é o primeiro relato de coexistência de cisto linfoepitelial oral e glossite migratória benigna. Apesar de exibirem patogênese incompletamente elucidada, estas lesões exibem eventos etiopatogenéticos distintos. Dessa forma, a coexistência de cisto linfoepitelial oral e glossite migratória benigna, provavelmente representa uma associação incomum entre estas duas doenças.

Adicionalmente, cistos linfoepiteliais orais constituem lesões de pequenas dimensões. Assim, o presente relato ressalta a importância da realização de um exame clínico minucioso, considerando não somente a queixa principal reportada pelo paciente.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Antoniades D, Epitavianos A, Zaraboukas T. Lymphoepithelial cysts of the oral cavity: literature review and report of four cases, one case with coexistence of epidermal cyst. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod. 2004;98(2):209.

2. Flaitz CM, Davis SE. Oral and maxillofacial case of the month: oral lymphoepithelial cyst. Tex Dent J. 2004; 121(7):624-31.

3. Menni S, Boccardi D, Crosti C. Painful geographic tongue (benign migratory glossitis) in a child. J Eur Acad Dermatol Venereol. 2004;18:736-48.

4. Epitavianos A, Zaraboukas T, Antoniades D. Coexistence of lymphoepithelial and epidermoid cysts on the floor of the mouth: report of a case. Oral Dis. 2005;11:330-3.

5. Jainkittivong A, Langlais RP. Geographic tongue: clinical characteristics of 188 cases. J Contemp Dent Pract. 2005;6(1):123-35.

6. Cambiaghi S, Colonna C, Cavalli R. Geographic tongue in two children with nonpustular psoriasis. Pediatr Dermatol. 2005;22(1):83-5.








1 Mestre em Patologia Oral, Aluna de Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Patologia Oral.
2 Mestre em Patologia Oral, Aluno de Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Patologia Oral.
3 Especialista em Prótese Dentária, Aluno de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Patologia Oral.
4 Doutora em Patologia Oral, Professora da Disciplina de Diagnóstico Oral.
5 Doutora em Patologia Oral, Professora do Programa de Pós-Graduação em Patologia Oral. Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Endereço para correspondência: Profa. Dra. Hébel Cavalcanti Galvão - Departamento de Odontologia Av. Senador Salgado Filho 1787 Lagoa Nova Natal RN 595056-000. Tel. (0xx84) 215-4132/ 215-4138 - Fax (0xx84) 215-4138 - E-mail: hebel.galvao@yahoo.com.br
Este artigo foi submetido no SGP (Sistema de Gestão de Publicações) da RBORL em 20 de março de 2007. cod. 3790.
Artigo aceito em 28 de março de 2007.

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