Ano: 2009 Vol. 75 Ed. 1 - Janeiro - Fevereiro - (2º)
Seção: Artigo Original
Páginas: 5 a 14
Características do zumbido em trabalhadores expostos a ruído
The characteristics of tinnitus in workers exposed to noise
Autor(es): Luciara Giacobe Steinmetz1, Bianca Simone Zeigelboim2, Adriana Bender Lacerda3, Thais Catalani Morata4, Jair Mendes Marques5
Palavras-chave: perda auditiva, prevenção, ruído ocupacional.
Keywords: hearing loss, prevention, occupational noise.
Resumo:
O zumbido é um sintoma auditivo relatado por indivíduos expostos ao ruído. Objetivo: Estudar as características do zumbido relatadas por indivíduos expostos ao ruído ocupacional. Forma de Estudo: Descritivo prospectivo. Material e Método: Participaram 52 indivíduos com idade média de 29 anos que faziam parte do programa de prevenção da perda auditiva de um frigorífico. Os indivíduos responderam a uma anamnese e suas audiometrias realizadas em 2005 e 2006 foram utilizadas. Resultados: No presente estudo, 71% dos indivíduos apresentaram audiometria normal. A prevalência do zumbido para o sexo masculino foi de 16% e para o sexo feminino foi de 9% apresentando tempo médio de exposição ao ruído de sete anos a um nível médio de ruído entre 86 e 91 dBA (48%). Verificou-se um predomínio do zumbido bilateral (46%), do tipo chiado (40%) de intensidade média (49%), com tempo de instalação do sintoma entre um a cinco anos (67%), sendo sua freqüência semanal (41%) e a noite o período que mais perturba (34%). Encontrou-se significância entre a periodicidade do zumbido e o nível de ruído. Conclusão: Recomenda-se a inclusão do tema zumbido em programas de prevenção da perda auditiva a fim de promover a saúde auditiva dos trabalhadores.
Abstract:
Tinnitus is a common auditory complaint among individuals exposed to noise. Aim: this paper aims to study the characteristics of tinnitus in workers exposed to noise. Study design: this is a descriptive prospective study. Materials and method: Fifty-two individuals averaging 29 years of age were enrolled in a hearing loss prevention program at a meat processing plant. The participants were interviewed and had their hearing tested in 2005 and 2006. Results: seventy-one percent of the participants were found to have normal hearing. Tinnitus was present in 16% of the males and in 9% of the females. Mean noise exposure length was 7 years and noise levels ranged from 86 to 91 dBA (48%). Bilateral tinnitus (46%) of the hissing type (40%) and moderate intensity (49%) was the most prevalent. Symptoms began to be observed within one to five years after initial exposure to noise (67%) and manifested themselves in weekly episodes (41%) that bothered the patients mostly at night (34%). A significant correlation was observed between the frequency of tinnitus episodes and the noise levels to which workers were exposed. Conclusion: tinnitus should be included in hearing loss prevention programs in order to more comprehensively promote occupational hearing health.
INTRODUÇÃO
Pesquisas realizadas relatam que aproximadamente 17% da população geral e 33% da população idosa é acometida por zumbido. Ele adquire forma severa em 20% dos casos, causando sofrimento significativo em 4% das pessoas em geral. O zumbido pode afetar direta ou indiretamente o indivíduo nas suas atividades profissionais e de lazer, interferir em relacionamentos familiares e sociais podendo levar, em casos extremos, até mesmo ao suicídio1-4.
No Brasil, estima-se que aproximadamente seis milhões de pessoas são afetadas pelo zumbido e, apesar de haver diversas teorias sobre prováveis causas, nenhuma teve comprovação científica, devido à falta de métodos objetivos e não-invasivos para detectá-lo e para localizar a atividade neural a ele relacionada5.
O zumbido, independentemente da queixa auditiva, é um sintoma auditivo muito relatado por indivíduos expostos a níveis de pressão sonora elevados (NPSE)6-9.Estudosreferem7 que a exposição prolongada do ruído ocupacional pode não somente levar a uma diminuição da audição, mas também ao zumbido e à hiperacusia.A exposição excessiva ao ruído é o mais importante fator de risco para a diminuição da audição e para o aparecimento do zumbido, seguidos da idade e do gênero10. Os autores11 referem que tanto a duração da exposição quanto à severidade do ruído relatado por trabalhadores expostos a NPSE são significantemente associados com o zumbido.
O objetivo da presente pesquisa foi estudar as características do zumbido relatadas por indivíduos expostos ao ruído ocupacional.
MATERIAL E MÉTODO
O presente trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética Institucional da Universidade Tuiuti do Paraná sob o protocolo de número 063/2006 e autorizado pelos indivíduos por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Foram identificados potenciais participantes do estudo por meio da aplicação de um questionário que faz parte do programa de prevenção da perda auditiva (PPPA) utilizado e oferecido por uma empresa Frigorífica Volátil do Estado do Rio Grande do Sul no ano de 2005. Esta empresa possui 372 funcionários, sendo 120 do sexo feminino e 252 do sexo masculino. Aplicou-se o questionário no início dos treinamentos realizados sobre o PPPA em todos os funcionários da empresa com o objetivo de conhecer as histórias auditiva, profissional e individual de cada indivíduo. Dentre as questões respondidas, duas faziam referência à presença de zumbido e de sua lateralidade, onde 82 indivíduos (22%) afirmaram queixa de zumbido, possibilitando assim identificar os indivíduos para a presente pesquisa.
Dos 82 indivíduos com queixa de zumbido inicialmente identificados para participação do estudo, 20 (24%) foram demitidos, 5 (6%) no momento da pesquisa referiram não possuir mais o zumbido e 5 não participaram (6%) por estarem em período de férias. Constituiu-se a amostra do estudo em 52 indivíduos.
Após a seleção dos indivíduos, analisaram-se as avaliações auditivas ocupacionais periódicas. A audiometria tonal limiar foi realizada na empresa no período 2005/2006, respeitando-se os critérios sugeridos pela Portaria 19 do Ministério do Trabalho12 como segue abaixo.
a) Anamnese para levantamento de dados demográficos, história médica e história profissional bem como questões relacionadas especificamente ao zumbido;
b)Inspeção do meato acústico para investigar a presença de cerume;
c)Audiometria tonal limiarrealizadaem cabine acústica sob repouso acústico de 14 horas. O equipamento utilizado foi o audiômetro marca Interacoustics modelo AD 229 com fone TDH-39, calibrado de acordo com as normas internacionais (ISO 8253). As freqüências avaliadas por via aérea foram de 250 a 8 kHz e, quando o limiar encontrado fosse superior a 25 dB, realizou-se a pesquisa por via óssea de 500 a 4 kHz.
As audiometrias foram classificadas conforme critério da portaria 19 do Ministério do Trabalho12. Segundo a portaria, considera-se dentro dos limites aceitáveis, para efeito desta norma técnica de caráter preventivo, os casos cujos audiogramas mostrem limiares auditivos menores ou iguais a 25 dB (NA), em todas as freqüências examinadas. Considera-se sugestivos de perda auditiva induzida por ruído (PAIR) os casos cujos audiogramas, nas freqüências de 3 e/ou 4 e/ou 6 kHz demonstrarem limiares auditivos superiores a 25 dB(NA) tanto no teste por via aérea quanto por via óssea, em um ou em ambos os lados. São considerados não sugestivos de PAIR os casos cujos audiogramas não se enquadram nas descrições acima.
Posteriormente aplicou-se o questionário Tinnitus Handicap Inventory (THI), elaborado por Newman et al. traduzido e adaptado para a língua portuguesa13. O questionário THI é composto por 25 questões agrupadas em três subescalas, sendo três as opções de resposta para cada uma das questões que são pontuadas da seguinte maneira: para as respostas "sim" são tabulados 4 pontos, "às vezes" são tabulados2 pontos e "não", nenhum ponto. Todos os pontos foram somados com o objetivo de investigar o grau de gravidade do zumbido para cada indivíduo. Estudos14-15 sugerem que a análise deva ser dividida em 5 grupos ou graus de gravidade, são eles: Grau 1- zumbido desprezível; Grau 2-zumbido leve; Grau 3-zumbido moderado; Grau 4-zumbido severo e Grau 5-zumbido catastrófico. A análise dos resultados segundo estudos16 com relação à gravidade do zumbido se realiza da seguinte forma: no Grau 1 o zumbido é ouvido somente em ambientes quietos, no Grau 2 o zumbido é facilmente mascarado por sons ambientais e esquecido facilmente nas atividades, no Grau 3 o zumbido é escutado na presença de ruído de fundo e as atividades diárias podem ser executadas, no Grau 4 o zumbido é escutado quase sempre e a pessoa apresenta perturbação no sono e pode ter suas atividades diárias comprometidas e finalmente no Grau 5 o zumbido é escutado sempre, a pessoa possui alterações no sono e pode apresentar dificuldades em algumas atividades diárias.
Análise estatística do trabalho
Realizaram-se as análises descritivas dos seguintes dados encontrados na anamnese:
a) resultados das histórias médica, auditiva e profissional;
b) características do zumbido quanto à lateralidade, duração (em anos), freqüência, duração de cada episódio, características acústicas (grave, agudo, chiado, etc.), intensidade e período do dia em que o zumbido mais perturba. Considerando-se o nível de significância de 5% por meio do coeficiente de correlação de Spearman, realizaram-se as seguintes correlações relacionadas a periodicidade do zumbido:
a) nível de ruído;
b) tempo de ruído na empresa e
c) resultado da audiometria (normal x alterado). Posteriormente considerando-se o nível de significância de 5% por meio do teste qui-quadrado, realizaram-se as seguintes correlações relacionadas à gravidade do zumbido:
a) nível de ruído;
b) tempo de ruído na empresa e
c) resultado da audiometria (normal x alterado).
RESULTADOS
a) Resultados da anamnese:
A idade média da população estudada foi de 29 anos. Na descrição da anamnese e da avaliação audiológica avaliaram-se 52 indivíduos que apresentaram queixa de zumbido sendo 11 do sexo feminino (9% de prevalência, ou seja, do total de 120 trabalhadoras na empresa) e 41 do sexo masculino (16% de prevalência, do total de 252 trabalhadores).
Com relação ao tempo total de exposição ao ruído observou-se que 46% da população possui de 6 a 10 anos de exposição, como se observa no Gráfico 1.
Gráfico 1- Porcentagem de indivíduos referente ao tempo total de exposição a ruído.
No que se refere ao nível de ruído ao qual os indivíduos estão expostos, constatou-se que 48% da população estudada está exposta a níveis de ruído entre 86 a 91 dBA conforme ilustra o Gráfico 2.
Gráfico 2 - Porcentagem de indivíduos referente á dose de exposição ao ruído que está exposto.
Na Tabela 1, encontram-se os achados referentes aos problemas de saúde e das histórias auditiva e médica relatados pelos indivíduos estudados. Ainda na história auditiva, os participantes foram questionados se o ruído do trabalho prejudica ou prejudicou a sua audição. A resposta foi afirmativa para 15 (28%) dos sujeitos.
b) Resultados da avaliação audiológica
Com relação aos achados audiológicos, todos os indivíduos apresentaram inspeção do meato acústico sem alteração. Quanto aos resultados das audiometrias, 71% dos indivíduos apresentaram normalidade, 12% apresentaram configuração audiométrica sugestiva de PAIR e 17% apresentaram configuração audiométrica de perda auditiva não relacionada ao ruído. Calculou-se em ambas orelhas as medianas dos limiares audiométricos dos indivíduos. Na Figura 1 observa-se, respectivamente as medianas dos limiares auditivos das orelhas direita e esquerda.
Figura 1 - Medianas para os limiares dos grupos sugestivo de PAIR, normais e causas diversas (orelha direita e esquerda).
c) Caracterização do zumbido
As informações referentes à caracterização do zumbido encontram-se na Tabela 2.
d) Gravidade do zumbido
Os resultados sobre as informações referentes ao grau de interferência do zumbido estão apresentadas no Gráfico 3.
Gráfico 3- Porcentagem da análise individual do THI sobre o grau de interferência do zumbido.
e) Correlações do zumbido
Os resultados sobre as correlações entre a periodicidade e a gravidade do zumbido com o nível e o tempo de ruído na empresa estão descritos na Tabela 3. Considerando-se o nível de significância de 5% verifica-se, através do Coeficiente de Correlação de Spearman, que existe correlação significativa entre a periodicidade do zumbido e o nível de ruído a que os trabalhadores estão expostos.
Os resultados referentes a correlação da periodicidade do zumbido com o resultado da audiometria são observados na Tabela 4. Considerando-se o nível de significância de 5%, verifica-se através do teste qui-quadrado que p = 0,9777, ou seja, não existe dependência significativa entre o resultado da audiometria e a periodicidade do zumbido.
Os resultados referentes à correlação da gravidade do zumbido com o resultado da audiometria são demonstrados na Tabela 5. Considerando-se o nível de significância de 5%, verifica-se através do teste qui-quadrado que p = 0,9380, ou seja, não existe dependência significativa entre o resultado da audiometria e o grau de zumbido.
DISCUSSÃO
Na presente pesquisa responderam ao questionário, realizado no treinamento do PPPA na empresa, 372 funcionários. Oitenta e dois (22%) referiram queixa de zumbido. O autor8 estudou 200 trabalhadores expostos a ruído e observou a prevalência do zumbido em 15% dos trabalhadores. Já outros autores17 encontraram uma porcentagem maior de indivíduos com zumbido (48%). Esta diferença de porcentagem pode ser devido à população estudada pelos autores correlacionados ser oriunda de vários tipos de empresas com um tempo de exposição ao ruído superior a população estudada (média de 6,8 anos).
Sabe-se que existem fatores que podem ser considerados de risco para o zumbido. Ressaltam-se: idade, sexo, diversas doenças (otológicas, metabólicas, neurológicas, alterações vasculares e fatores odontológicos), perda auditiva, exposição ao ruído, drogas ototóxicas, cafeína, nicotina e o álcool10-11,18-19. Portanto, procurou-se conhecer quais os riscos para o zumbido, além do ruído, que os indivíduos da pesquisa poderiam estar expostos.
Quanto ao sexo, verificou-se prevalência do zumbido no sexo masculino (16%) em relação ao sexo feminino (9%), concordando com diversos autores13,20-21. A média de idade (29 anos) da população estudada esta abaixo daqueles resultados encontrados na literatura onde a média de idade variou de 40 a 50 anos1,16,22-23.
A condição auditiva foi um fator importante associado à prevalência do zumbido entre indivíduos expostos ao ruído em diferentes estudos8,11,24-26.O autor8 concluiu que 33% dos indivíduos com PAIR apresentavam zumbido, enquanto a prevalência nos grupos com outras alterações auditivas e com audição normal foi de 9,7% a 20%, respectivamente.
No presente estudo, 71% dos participantes apresentaram audiometria normal. Entretanto, não existiu dependência significativa entre o resultado da audiometria e a periodicidade do zumbido (p = 0,9777) e o grau de zumbido (p = 0,9380) (Tabelas 4 e 5).O zumbido seria o primeiro sinal de uma exposição a estímulo sonoro intenso e poderia ser o sintoma de uma mudança auditiva temporária (MAT)9. Nesta população não temos dados sobre a presença de MAT, porém a queixa do zumbido merece ser mais bem investigada e os trabalhadores deverão ser acompanhados.
As diferenças dos resultados observados entre este estudo e a literatura pertinente com relação à idade média e os achados audiológicos dos indivíduos pode ser explicada pelo fato de a população estudada ser composta por jovens (média de 29 anos) com pouco tempo de exposição ao ruído (média de 6,8 anos) e para uma grande parte da população sem alteração na história auditiva.
Quanto aos problemas de saúde relatados pelos participantes do estudo, a sinusite (37%), os fatores odontológicos (35%) e as alterações vasculares (30%) foram os problemas crônicos mais citados (Tabela 1). As múltiplas variáveis da história médica possuem parâmetros significativos associados com o zumbido. Lesões no pescoço, no ouvido médio, sinusite e a cefaléia aumentam o risco do zumbido de 28 a 35%11.
O nível elevado de lipídio no sangue, a hipertensão, as desordens do fígado, a artrose cervical e o consumo de álcool são fatores de risco significativos para o zumbido27.
Quanto à utilização de medicamentos relatada por 25% dos indivíduos,estudos referem19 que os efeitos colaterais de medicamentos e drogas, por exemplo, o ácido acetilsalicílico, os antiinflamatórios não-esteróides, os antibióticos, os aminoglicosídeos, principalmente administrados concomitantemente a diuréticos, os sedativos e os antidepressivos tricíclicos poderiam causar ou piorar o zumbido (Tabela 1).
Com relação ao tabaco, ao consumo de bebida alcoólica e os estimulantes, 64,0% dos indivíduos referiram não fumar, 94% referiram não consumir diariamente bebida alcoólica e 71% consomem diariamente chá ou café (Tabela 1).
A cafeína e a nicotina poderiam piorar o quadro de zumbido por serem estimulantes e por provocarem constrição dos vasos sangüíneos19. Segundo o autor, os médicos acreditam que 50% dos pacientes com queixa de zumbido melhoram significativamente quando deixam de fumar ou diminuem a ingestão de cafeína. O autor28 verificou que 84% dos pacientes avaliados apresentaram piora do quadro do zumbido com o consumo de álcool; dos quais 73% relataram estar mais conscientes do zumbido; 49% referiram piora do zumbido no dia seguinte à ingestão de álcool e 47% tiveram aumento do sono. Não foi constatada diferença nos efeitos do álcool sobre o zumbido em função do tipo de bebida.
O tempo médio de instalação do zumbido em nosso estudo encontra-se situado entre um e cinco anos (Tabela 2). Estes achados estão em concordância com os estudos29-30 que relataram o início do zumbido há menos de cinco anos. Já os autores31 referiram que 50% dos indivíduos possuíam o zumbido há mais de cinco anos.
No que se refere à lateralidade do zumbido observou-se predomínio de zumbido bilateral (46%) em concordância com diversosestudos29,30-32. Em outros33 encontrou-se 28% dos indivíduos com zumbido unilateral à direita, 36% com zumbido unilateral à esquerda e 36% com zumbido bilateral (Tabela 2).
O tipo de zumbido mais referido foi o chiado (40%). Os autores31 observarammais osdo tipo cigarra (35%), grilo (26%), chiado (26%), e panela de pressão (5,9%) foram os mais citados (Tabela 2).
Com relação à intensidade do zumbido a mais referida foi a intensidade média (49%), concordando com30-31 que encontraram de 29,4% a 92,9% dos indivíduos com zumbido de intensidade moderadaa severa (Tabela 2).
Quanto à periodicidade do episódio, a semanal foi a mais relatada (41%) e o período da noite, a hora que o zumbido mais perturba (34%) (Tabela 2). Encontrou-se uma correlação significativa entre a periodicidade do zumbido e o nível de ruído (Tabela 3). Isto significa que os indivíduos que apresentaram queixa de zumbido diário ou semanal estão expostos a níveis de ruídos mais elevados comparativamente aos indivíduos com queixa de zumbido quinzenal, mensal ou esporádico.
Quanto ao grau de gravidade do zumbido entre os participantes, as respostas obtidas variaram do grau desprezível (grau 1) ao severo (grau 4). Nenhum caso com grau catastrófico (grau 5) foi encontrado. Porém, o autor34 estudando a mesma casuística, verificou que o zumbido interferiu na qualidade de vida dos trabalhadores expostos a ruído, sendo a escala funcional a mais acometida, o que significa que esses indivíduos são mais prejudicados nas atividades sociais, diárias e de leitura que envolvem concentração, acuidade auditiva, atenção e sono. Os dados também confirmaram que o zumbido aumenta a sensação de cansaço e se acentua devido ao estresse.
Os achados deste estudo justificam dentre as etapas do PPPA, a inclusão do tema zumbido, pois sabe-se que o zumbido é prevalente, e sendo um sintoma único pode acometer o indivíduo de modo bastante diverso, interferindo nas suas atividades diárias de trabalho ou de lazer e também nas relações familiares, afetando conseqüentemente a qualidade de vida35-37.
A criação de grupos de apoio aos portadores de zumbido nesta população seria indicada com o objetivo de:
1) aconselhar (esclarecendo as dúvidas e orientando sobre os assuntos referentes ao zumbido);
2) proporcionar trocas de informações e experiências entre os portadores do sintoma e
3) promover uma conscientização coletiva do problema.
Diversos autores38 relataram a experiência com um grupo de portadores de zumbido atendidos no ambulatório de um hospital, e observaram que os integrantes do grupo desenvolveram novos comportamentos e mudanças em suas vidas convivendo melhor com o problema.
Avaliar o impacto que o zumbido ocasiona na vida dos trabalhadores e conhecer suas características seria a maneira inicial para a aceitação, aconselhamento, acompanhamento e controle do sintoma.
CONCLUSÃO
A prevalência de zumbido na população estudada foi de 22%. Houve um predomínio maior do zumbido nos participantes do estudo do sexo masculino (16%), sendo a população composta por jovens (média de 29 anos) com pouco tempo de exposição ao ruído (média de 6,8 anos) e expostos a um nível de ruído situado entre 86 e 91 dBA (48%). Houve também um predomínio de portadores de zumbido com audição normal (71%).
Quanto a caracterização do zumbido, o tempo de instalação do sintoma ficou situado entre um e cinco anos (67%) e a idade de início entre 12 e 32 anos (65%). Verificou-se um predomínio do zumbido bilateral (46%), do tipo chiado (40%) de intensidade média (49%), sendo a freqüência do episódio semanal a mais relatada (41%), e o período da noite a hora que o zumbido mais perturba (34%).
Recomenda-se a inclusão dos trabalhadores com audição normal (71%) no PPPA da empresa para aconselhamento e acompanhamento do zumbido a fim de prevenir o aparecimento de uma possível perda auditiva.
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1 Mestre em Distúrbios da Comunicação pela Universidade Tuiuti do Paraná, Fonoaudióloga clínica.
2 Doutor, Coordenador do Programa de Mestrado e Doutorado em Distúrbios da Comunicação da Universidade Tuiuti do Paraná.
3 Mestre em Distúrbios da Comunicação pela Universidade Tuiuti do Paraná, Docente do Curso de Graduação e Especialização em Audiologia Clínica da Universidade Tuiuti do Paraná.
4 Pós-Doutora pelo NIOSH - Docente do Programa de Mestrado e Doutorado em Distúrbios da Comunicação da Universidade Tuiuti do Paraná e Pesquisadora do do National Institute for Occupational Safety and Health, EUA
5 Doutor em Ciências Geodésicas pela Universidade Federal do Paraná, Docente do Programa de Mestrado e Doutorado em Distúrbios da Comunicação da Universidade Tuiuti do Paraná.
Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná. Todos os autores possuem currículo cadastrado no CNPq.
Endereço para correspondência: Dra. Bianca Simone Zeigelboim - Rua Gutemberg 99, 9º andar Curitiba PR 80420-030.
Tel/Fax: (0xx41) 3331-7807 - E-mail: bianca.zeigelboim@utp.br
Este artigo foi submetido no SGP (Sistema de Gestão de Publicações) da RBORL em 14 de maio de 2007. cod. 4516
Artigo aceito em 14 de julho de 2007.