Versão Inglês

Ano:  1952  Vol. 20   Ed. 6  - Novembro - Dezembro - ()

Seção: Associações Científicas

Páginas: 210 a 215

 

Associações Científicas

Autor(es): Dr. Mauro Candido de Souza Dias

Sessão ordinária - 19 de maio de 1952
Presidente: Dr. Mauro Candido de Souza Dias

FOTOGRAFIA EM ENDOSCOPIA PERORAL - Dr. J. Arruda Botelho.

Resumo - O autor apresentou uma máquina fotográfica adaptada que permite fotografar a bôca, faringe, rinofaringe, tímpano, laringe, traquéia, brônquios e esôfago. As partes essenciais do aparelho são: uma máquina Coutax S, de visor reflexo através da objetiva, voltado para trás. Esta máquina permite ver a imagem sem inversão e em um vidro fosco, podendo assim ser controlada a focalização e o enquadramento da mesma. Como o campo da fotografia é pequeno, o autor substituiu a objetiva da máquina por uma teleobjetiva de 120 mm e abertura de 4,5. Com esta objetiva conseguiu reduzir muito o campo e, consequentemente, fazer que o objeto a ser fotografado tomasse mais espaço na película ou, em outras palavras, fôsse reproduzido em tamanho maior do que em uma fotografia com a objetiva normal. Para reforço dêste aumento, adaptou a teleobjetiva à máquina por intermédio de um pequeno tubo de alongamento de 5 mm. Nestas condições, se a teleobjetiva usada fôr uma Wollentak 102 mm para cinefotografia 16 mm, teremos na Contax S uma focalização à distância máxima de 46 cm, com a tele na posição do infinito. A máquina assim preparada é adaptada a um suporte juntamente com o foco da luz. Um espelho inclinado de 45° em relação a este desvia a luz do foco perpendicularmente para o objeto a ser fotografado e faz com que a luz refletida por este objeto venha ter à objetiva da máquina também em incdência perpendicular. O conjunto de máquina fotográfica, visor reflexo através da objetiva, foco de luz de grande intensidade, espelho inclinado de 45° com o furo na parte central e cabo contendo o botão regulador de luz e disparador, habilita a fazer fotografias de laringoscopias indiretas. Para fazer fotografias de laringoscopias diretas, esofagoscopias, broncoscopias e mesmo para obter melhor concentração de luz nas laringoscopias indiretas é necessário que o aparêlho disponha de um suporte onde podem ser adaptados tubos de vários calibres e diferentes comprimentos. O suporte adaptado por Hollinger é excelente e permite que, com uma só mão, coloquemos e retiremos tubos do aparêlho. O autor projetou diversas fotografias coloridas obtidas com a máquina descrita e constantes de lesões diversas do laringe, faringe fossas nasais e ouvido médio.

Sessão extraordinária - 26 de junho de 1952
Presidente: Dr. Mauro Cândido de Souza Dias

TRAUMAS SINUSAIS POR ARMA DE FOGO - Dr. Silvio Marone.

Resumo - O autor fêz estudo analítico de uma série de casos que observou, de traumatismos sinusais decorrentes de arma de fogo. Os seios mais vulneráveis são os anteriores graças à sua situação anatômica. Os projéteis podem localizar-se mais ou menos profundamente, com comprometimento não só da parede do seio, como também de sua mucosa. Por vezes pode haver formação de fístulas ou mesmo complicações nervosas ou vasculares importantes. O autor fez comentários quanto à conduta cirúrgica e terminou ressaltando o valor da radiografia e particularmente da tomografia para a localização do corpo estranho.

Comentários - Dr. Haroldo Silva Bastos : Observei um paciente, que se encontra internado na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo que, em conseqüencia de trauma produzido por arma de fogo, apresenta uma fistula no antro bucal e síndrome do buraco despedaçado posterior.

Dr. Jorge Hirschmann: Observei uma criança que, após sofrer ferimento por arma de fogo, perdeu o globo ocular. Na lesão foram encontrados, além de grãos de chumbo, pedaços de papelão que acompanhavam o, projétil, sendo estes os responsáveis pela supuração.

Dr. Mauro Candido de Souza Dias: Chamo a atenção para a importância da radiografia na localização do projétil. Atendi um paciente no Hospital Matarazzo, que foi operado, mas não consegui encontrar o projétil no seio frontal, que se encontrava infectado; possivelmente o corpo estranho havia sido eliminado. Decorre daí o valor da radiografia, que deve ser procedida com técnica rigorosa.

Dr. Sílvio Marone: No caso referido pelo Dr. Haroldo Silva Bastos, o projétil teve seu ponto de entrada pela face anterior do crânio, apesar de ter-se alinhado no occipital, dando a impressão de que a bala teria sido recebida por trás. Geralmente, o projétil ricocheteia e muda de trajetória. O cone do rastilho é o que orienta a direção da bala.

ESTUDO CLINICO DO CARCINOMA DA LINGUA. ANALISE DE 40 CASOS
Dr. Jorge Fairbanks Barbosa.

Resumo - O autor apresentou um estudo clínico do carcinoma da língua, fazendo conjuntamente uma análise dos 40 casos que teve ocasião de acompanhar na Associação Paulista de Combate ao Câncer, no período compreendido entre outubro de 1949 e setembro de 1951. A forma mais comumente observada foi a úlcero-infiltrante e a localização mais frequente foi a borda da língua, em seu terço médio. Havia metástases em grande percentagem de casos. O câncer da língua é tremendamente maligno, de evolução rápida, grande tendência metastática e baixo índice de cura. Na média dos casos, a curabilidade é de 25%. A finalidade máxima da apresentação dêste trabalho foi a de divulgar a padronização adotada na A.P.C.C. quanto ao modo de se examinar um portador de câncer da língua, e quanto ao modo de se elaborar o relatório deste exame. No que diz respeito ao exame, é indispensável que a observação seja completada por um rigorosa apalpação porque, dado o caráter infiltraste dos cânceres linguais, somente a manobra palpatória poderá fornecer elementos para avaliar a real extensão do tumor. A apalpação do pescoço (leve também ser feita com grande cuidado para se descobrir as metástases. O relatório deve conter: 1) rigorosa descrição da lesão primária, quanto ao tipo, dimensões e localização; 2) estagiação da lesão primária; 3) representação esquemática desta lesão em, pelo menos, três gráficos anatomicos da língua: um mostrando a superfície do órgão, na região em que o tumor se localiza; outro mostrando a secção transversa do órgão nesse ponto; o terceiro, mostrando sua secção longitudinal no mesmo local; 4) rigorosa descrição das metástases, quanto ao número, condições de fixação ou de mobilidade, dimensões e localizações; 5) estagiação das metástases; 6) representação gráfica da distribuição metastática em dois esquemas anatómicos (de frente de perfil) da região cervical. Juntamente com este relatório, o especialista deverá mandar um fragmento da lesão primária para exame histopatológico.

Comentários - Dr. J. Arruda Botelho: Qual o prognóstico do câncer da língua ?

Dr. Jorge Hirschmann: Qual o tratamento? Radioterapía ou rontgenterapia? Praticam o esvaziamento ganglionar sistemático?

Dr. Mauro Candido de Souza Dias: Observei um caso, acompanhado pelo Dr. Ernesto Moreira, na Santa Casa, em que o câncer da língua, apesar de sua extensa destruição, expondo a mandíbula, permitiu ao paciente um periodo relativamente longo de vida.

Dr. Jorge Fairbanks Barbosa: Não posso fornecer ainda um prognóstico sobre o câncer da língua, pois estes casos foram acompanhados de 1949 para cá. É acentuadamente maligno, apresentado evolução rápida e baixo índice de cura. Dos 12 casos que ainda vivem, no trais velho, que data de um ano, foi feito o agulhamento da lesão primário e esvaziamento ganglionar. O tratamento é turra assunto complexo; não foi padronizado, sendo cada um orientado de um modo particular. No caso da lesão primária não apresentar invasão, era esta tratada pela radioterapia e, só em casos excepcionais, com rontgenterapia. A radioterapia intersticial domina a lesão e o esvaziamento se impõe.

GUNDU - Dr. Fábio Barreto Matheus.

Resumo - O autor apresentou a observação de um caso de Gundu, em um doente do sexo masculino, de cor preta, com 42 anos. Nos antecedentes constava traumatismo da face há 20 anos e câncer sifilítico há 25 anos. As tumorações datavam de 9 anos e ocupavam as regiões látero-nasais; a radiografia mostrava tumoração radiopaca ao nível dos ramos a montante dos maxilares. Os exames revelaram: reação de Wassermann fortemente positiva; reação de Frey negativa. Exame de fezes: cistos de Endamoeba Butschlii e Endamoeba coli. Dosagens no sangue (em mg/100 ml): cálcio 10,5 fósforo 3,82. Fosfatemia 3,60 u. d. Bodansky por 100 ml. O paciente foi operado e os fragmentos ósseos examinados mostraram tratar-se de hiperplasia óssea constituiria por neoformação de lamelas. Trata-se do 20.º caso da doença observado no Brasil. O autor passou em revista as teorias etiopatogênicas e o diagnóstico diferencial com a leontíase óssea, doença de Paget e de Reckliughausen. O exame anátomo-patológico em todos os casos não mostrou alterações que fôssem exelusivas da doença.

Comentários - Dr. Antonio Corrêa: Acompanhando a rinorréia apresentada pelo paciente havia alguma alteração no aspecto da mucosa?

Dr. Fábio Barreto Matheus: Não havia alteração da mucosa no caso apresentado; sòmente notei abaulamento da porção óssea. Em outros casos compulsados também não havia alterações da mucosa nasal.

SOBRE A AÇÃO DA TIOSSEMICARBASONA EM UM CASO DE BLASTOMICOSE DA MUCOSA (Nota prévia). - Drs. Mauro Caudido de Souza Dias e Manuel Haroldo da Silva Bastos.

Resumo - Os autores ensaiaram, pela primeira vez, o TB, (tiossemicarbasona) em um paciente adulto portador de blastomicose do faringe e do laringe, diagnosticada por exame anátomo-patológico. O paciente tornou a droga segundo o esquema do tratamento da tuberculose, isto é, 3 comprimidos de 50 mg diariamente, após um período inicial de dose mais baixas, pesquisando a tolerância. A dose empregada foi de 152 comprimidos (7,60 g), quando pôde ser notado nítido efeito sôbre a lesão faríngea, que se apresentou totalmente cicatrizada, e grande melhora da lesão laríngea. O paciente tolerou bem o medicamento (vômitos raros). Foi feito controle hematológico e pesquisa sistemática da bilirrubina, na urina.

FILMAGEM EM ENDOSCOPIA PERORAL - Dr. José Arruda Botelho.

Resumo - O autor apresentou, sob forma de nota prévia, a descrição de uma máquina cinematográfica montada especialmente com a finalidade de filmar a laringe, traquéia, brônquios, esôfago, além de poder ser usada para filmar o conduto auditivo, tímpano e cavum. A máquina cinematográfica é uma Pathé "M" adaptada ao mesmo sistema de iluminação já apresentado pelo autor no Departamento de Otorrinolaringologia da Associação Paulista de Medicina no mês de maio próximo passado. Depois de apresentar a máquina com suas adaptações necessárias à filtragem endoscópica - adaptações feitas em São Paulo pela Mecânica Uránía e Indústria Cord Ltda., sob a orientação do autor - foi apresentado um filme onde se podia ver um caso de tumor do cavum, um caso de polipose da laringe, um caso de tumor amilóide da língua e finalmente um polipo do conduto auditivo.

Sessão ordinária - 17 de julho de 1952
Presidente: Dr. Mauro Cândido de Souza Dias

COLAPSO DA PONTA, DO NARIZ OU DE UMA OU AMBAS AS ASAS, COM PERDA DE SUBSTANCIA CONDROMUCOSA REPARAÇÃO DO ESTOJO NASAL COM ENXERTO GENIANO PEDICULADO - Dr. Roberto Farina.

Resumo - O autor estudou a patogenía do colapso da ponta do nariz de uma ou ambas as asas nos casos em que há destruição da porção mucocartilagínea. Mostrou que a destruição do arcabouço cartilagíneo basta por si só para provocar o colapso da ponta do nariz ou, das asas, conforme os casos. Essa situação se agrava ainda mais quando a destruição atinge também a mucosa do nariz. A retração secundária que se processa nesses casos compromete mais sériamente a deformidade em questão. Dentre as causas mais freqüentes, aponta a lepra, leishmaniose e os abscessos da ponta do nariz. Descreve a seguir o método dos enxertos genianos pediculados para correção dessas graves deformidades. Estes enxertos são confeccionados na região correspondente ao sulco nasogeniano e são transplantados para o interior do nariz depois de sofrerem rotação sôbre seu próprio eixo, de mais ou menos 130°. Para tanto há necessidade de desinserir as asas do nariz junto de sua base, como remate da operação, fazer o alongamento da columela à custa do filtrum e, posteriormente, enxêrto ósseo para soerguer a ponta do nariz. O autor ilustrou seu trabalho com fotografias tirada antes, durante e após a intervenção.

SOBRE A AMILOIDOSE SISTEMATIZADA CUTANEO - MUCOSA
Drs. Benjamim Zílberberg e Luís Piza Neto.

Resumo - Em 1929, Lubarsch propôs o nome de amiloidose sistematizada para uma forma de amiloidose diferente da generalizada e circunscrita e que se caracterizava por: a) discreto ou nenhum comprometimento dos órgãos que são ordinariamente doentes na amiloidose generalizada; b) presença de amilóide em órgãos que são usualmente poupados nas formas comuns; c) depósito de amilóide em forma de pápulas e nódulos, com o comprometimento freqüente da pele e mucosas; d) falha dêsses depósitos em reagir de maneira ordinária aos corantes eletivos de amilóide; e) dificuldade em demonstrar os fatóres etiológicos ou doenças concorrentes como causas dos depósitos degenerativos. Dentro dessa definição de amiloidose sistematizada, os autores tiveram a oportunidade de observar o paciente L. M., de 39 anos, visto pela primeira vez em setembro de 1951. Referia que a língua aumentara de volume, ficando deformada por sulcos mais ou menos profundos e depressões que delimitavam zonas salientes, moles, amarela das ou amarelo-róseas e recobertas de muco. A mucosa jugal de ambos os lados, assim como as gengivas, apresentavam degeneração semelhante. Deglutição e articulação da palavra prejudicadas moderadamente. O exame cutâneo mostrava a presença de um tumor amarelo-cinza por cima e de cada lado do sulco interglúteo, mole, com perda de sua plasticidade, assim como uma infinidade de papuletas chatas e xantomatóides no baixo ventre, virilhas e região crural, estendendo-se para as nádegas. Lesões semelhantes, variando apenas no tamanho e coloração, observavam-se no corpo do pênis, ombros, pálpebras superiores, no meio das quais se entremeavam petéquias ou hemorragias mais extensas. Alem dêsses caracteres, ó paciente tinha dificuldades e dôres ao fechar as mãos, e nas palmas observavam-se manchas vermelhas e hemorragias profundas. Dificuldade em ficar em decúbito dorsal, com dores na coluna vertebral. Foram feitos exames complementares (sorologia, bioquímicá do sangue, urina, radiografias ósseas, etc.) sem que mostrassem qualquer alteração digna de nota. Apenas as radiografias osseas mostraram: dismineralização difusa do esqueleto, sombra cálcica no ombro esquerdo, e intensa porose óssea difusa com adelgaçamento e irregularidades das corticais ósseas em ambos os ombros. Todos os aparelhos normais ao exame clínico e radiográfico. Exames mais interessantes e decisivos para o diagnóstico foram as biópsias praticadas em todas as lesões cutâneo-mucosas, com evidente demonstração de degenerescência amilóide em sua totalidade. Assim, na língua e mucosa jugal, degeneração dos músculos e do colágeno em estado adiantado, com destruição elástica. Nas lesões da pele, a degeneração era menor, salvo no tumor supra-anal, onde não havia tecido conjuntivo são. De maneira geral, os feixes colágenos e musculares, impregnados de amilóide, flutuavam, dispersos e sem conexão entre êles. Nenhuma alteração vascular foi notada, assim como rara e discreta infiltração inflamatória em poucas lesões se observou. A prova de Berenhold foi negativa, retendo o organismo apenas 31% do vermelho Congo, quando, nas formas chamadas generalizadas secundárias, a retenção é de 60 a 80%. A prova de Nomland, pela infiltração de vermelho Congo a 1% na derme, nas vizinhanças e nas lesões própriamente ditas, foi positiva pela intensidade e persistência da coloração própria assumida. Foi ensaiado com relativo sucesso, do ponto de vista das dôres muscular e articular, o ACTH, em doses de 10 mg, intravenosamente gota a gota, diariamente, durante duas semanas. Os fenômenos dolorosos quase que desapareceram no fim das doses, não havendo mudança nas lesões mucocutaneas. Neste casa é preciso revelar a ausência clínica de qualquer lesão, tanto do coração (eletrocardiograma normal) como do tracto intestinal, órgãos sempre comprometidos na maior parte das observações da literatura. O paciente foi apresentado na sessão.

Comentários - Dr. Silvio Marone: Qual a causa desta doença? Chamo a atenção para o estado geral do paciente, que é relativamente bom.

Dr. Benjamim Zilberberg: Até o momento desconhece-se a causa da moléstia, talvez pela sua raridade (sabe-se sòmente da existência de 60 casos). Quanto ao bom estado geral do paciente, acredita o Dr. Piza Neto que corra por conta da adequada alimentação que lhe vem sendo ministrada, por indicação do Dr. Maffei.

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