Ano: 2008 Vol. 74 Ed. 3 - Maio - Junho - (29º)
Seção: Relato de Caso
Páginas: 478 a 478
Ameloblastoma em mandíbula
Ameloblastoma in the mandible
Autor(es): Marcelo Medeiros1, Gabriela Granja Porto2, Jose Rodrigues Laureano Filho3, Luís Portela4, Ricardo Holanda Vasconcellos5
Palavras-chave: ameloblastoma, cirurgia, doenças mandibulares
Keywords: ameloblastoma, surgery, mandible patology
INTRODUÇÃO
O ameloblastoma é um tumor de tecido do órgão do esmalte, que não sofre diferenciação a ponto de formar esmalte, benigno e de origem ectodérmica. Apesar de ser considerado um tumor benigno, seu comportamento clínico pode ser considerado entre benigno e maligno. Crescimento lento, mas persistente, e infiltração nos tecidos adjacentes são algumas características deste tumor1,2.
APRESENTAÇÃO DO CASO
Paciente R.T.B., sexo masculino, com 30 anos de idade, procurou o Departamento de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial queixando-se de aumento de volume em região de mandíbula, lado esquerdo, que aumentava de tamanho há cerca de 10 anos. Foi realizada biópsia incisional por acesso intrabucal. O resultado do estudo histopatológico foi ameloblastoma. Para melhor planejamento do acesso à lesão e da reconstrução da mandíbula após a exérese do tumor foi realizado um modelo através da técnica de prototipagem. O tratamento de escolha foi hemimandibulectomia com desarticulação do côndilo mandibular do mesmo lado, uma vez que o tumor já tinha invadido as corticais ósseas, com reconstrução imediata com placa de reconstrução e côndilo acoplado. Atualmente, o paciente encontra-se com 4 anos de proservação sem sinais de recidiva (Figura 1).
Figura 1. Aspectos clínico e radiográfico pré-operatórios, modelo de prototipagem e aspecto radiográfico pós-operatório.
DISCUSSÃO
Os ameloblastomas são classificados em unicísticos, sólidos ou multicísticos, periféricos e subtipos malignos, sendo o sólido convencional ou multicístico (86% dos casos), unicístico (13% dos casos) e periférico ou extra-ósseo (cerca de 1% dos casos)3. Este tipo de distinção é importante, uma vez que o tratamento de uma lesão unicística pode ser mais conservador, porque apresenta um comportamento menos agressivo e tamanho menor que a variante sólida ou multicística4.
O ameloblastoma típico começa insidiosamente como uma lesão óssea central que é lentamente destrutiva, mas tende a expandir o osso em vez de perfurá-lo. O tumor raramente é doloroso, a menos que infectado secundariamente, e não produz com freqüência sinais ou sintomas de comprometimento de nervo, mesmo em tumores grandes3.
Radiograficamente, os aspectos do ameloblastoma multicístico mais comum é o de uma lesão multilocular, e muitas vezes, é descrita como tendo o aspecto de "bolhas de sabão", quando são loculações grandes e quando pequenas, são descritas como "favo de mel". Freqüentemente, está presente uma expansão cortical lingual e bucal e, é comum, a reabsorção das raízes dos dentes adjacentes ao tumor. Os ameloblastomas unicísticos apresentam imagem radiolúcida que circunda a coroa de um dente não-erupcionado ou, simplesmente, como áreas radiotransparentes bem definidas3.
A ocorrência do ameloblastoma em relação ao gênero é 1:14,5. A idade em que este tipo de lesão ocorre com maior freqüência é a 3ª e 4ª década6. A mandíbula é cerca de quatro vezes mais acometida que a maxila6. Cerca de ¾ dos tumores na mandíbula são localizados área de ramo e molares. Nos casos que ocorrem na maxila, é também a região posterior a mais afetada, podendo, em sua evolução, comprometer o seio maxilar e a órbita5.
Há uma tendência de tratar os ameloblastomas unicísticos por curetagem com cerca de 10%15% de recidiva, mas evitando a mutilação do paciente. Na variante sólida ou multicística a excisão cirúrgica radical é necessária, com ressecção do osso afetado com pelo menos 15 mm de tecido sadio como margem de segurança6. A mucosa em contato com o tumor deve ser toda removida, pois poderá conter células ameloblásticas que podem contaminar o enxerto, quando da reconstrução1.
É importante salientar a capacidade do ameloblastoma de desenvolver recidivas tardias. Devido a seu crescimento lento, essas recidivas podem levar muitos anos e até mesmo décadas da primeira cirurgia1.
COMENTÁRIOS FINAIS
Conclui-se, então, que a cirurgia radical é o tratamento de escolha na maioria das vezes. Deve-se salientar que os métodos radiográficos não são capazes de determinar a extensão exata da moléstia e que o índice de recidiva aproxima-se de 100% quando não tratada adequadamente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Ferretti C, Polakow C, Coleman H. Recurrent Ameloblastoma: Report of 2 Cases. J Oral Maxillofac Surg 2000;58:800-4.
2. AlKhateeb T, Ababneh KT. Ameloblastoma in Young Jordanians: A Review of the Clinicopathologic Features and Treatment of 10 Cases. J Oral Maxillofac Surg 2003;61:13-8.
3. Neville BW, Damm DD, Allen CM, et al. Patologia Oral & Maxilofacial. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1998.
4. Ord RA, Blanchaert Jr RH, Nikitakis NG, Sauk JJ. Ameloblastoma in Children. J Oral Maxillofac Surg 2002;60:762-70.
5. Zwahlen RA, Vogt P, Fischer FS, Gra¨tz KW. Case Report: Myocardial Metastasis of a Maxillary Malignant Ameloblastoma. J Oral Maxillofac Surg 2003;61:731-4.
6. Pizer ME, Page DG, Svirsky JA. ThirteenYear Follow-Up of Large Recurrent Unicystic Ameloblastoma of the Mandible in a 15 Year Old Boy. J Oral Maxillofac Surg 2002;60:211-5.
1 Especialista em cirurgia e traumatologia buco-maxilo-facial, aluno do curso de mestrado em cirurgia e traumatologia buco-maxilo-facial.
2 Especialista, aluna do mestrado em cirurgia BMF FOP-UPE.
3 Doutor em cirurgia e traumatologia buco-maxilo-facial, professor adjunto em cirurgia e traumatologia buco-maxilo-facial da Universidade de Pernambuco.
4 Mestre em engenharia biomédica, professor assistente de implantodontia da Universidade de Pernambuco.
5 Doutor em cirurgia e traumatologia buco-maxilo-facial, professor adjunto em cirurgia e traumatologia buco-maxilo-facial da Universidade de Pernambuco.
Este artigo foi submetido no SGP (Sistema de Gestão de Publicações) da RBORL em 24 de outubro de 2006. cod. 3470.
Artigo aceito em 5 de novembro de 2006.