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Ano:  2007  Vol. 73   Ed. 5  - Setembro - Outubro - (21º)

Seção: Relato de Caso

Páginas: 718 a 718

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Neurinoma cervical faríngeo: disfagia e disfonia

Pharyngeal Cervical Neurinoma: dysphonia and dysphagia

Autor(es): Carla Maffei 1, Maria Ines Rebelo Gonçalves 2, Marçal Motta de Mello 3, Jaerilson h. kluppel Jr. 4, Paulo Antonio Monteiro Camargo 5

Palavras-chave: disfagia, disfonia, eletromiografia, neurinoma

Keywords: dysphonia, dysphagia, electromyography, neurinoma

INTRODUÇÃO

Os neurinomas mais avançados originam-se nas raízes nervosas cranianas e espinhais, manifestando-se sob a forma de compressão lenta e progressiva da medula, com indicação de remoção cirúrgica parcial ou total1. Os pares cranianos V, VII, IX, X, XI e XII atuam diretamente sobre as funções da fala e da deglutição2,3 e, quando afetados, podem interferir na qualidade de vida do paciente, comprometendo principalmente os aspectos social, nutricional e pulmonar. Quanto maior o grau de comprometimento destes nervos, maior o risco da pneumonia aspirativa4, sendo fundamental o atendimento multidisciplinar para a reabilitação do paciente, a fim de minimizar as seqüelas da ressecção5,6.

Nosso objetivo foi verificar os resultados da reabilitação das funções de voz, mastigação e deglutição em um caso de neurinoma cervical e faríngeo, por meio de exames: laringológico, videofluoroscópico da deglutição e eletromiográfico dos músculos mastigatórios.


APRESENTAÇÃO DO CASO

Paciente de 38 anos, pós-ressecção de neurinoma cervical e faríngeo que envolvia a região de pescoço e a artéria carótida, apresentava queixas de disfonia, disfagia e dificuldade à mastigação.

Na avaliação otorrinolaringológica observou-se atrofia da língua e redução da mobilidade labial à direita e redução de elevação lingual. Na videolaringoscopia verificou-se paralisia de hemilaringe e de prega vocal direita em total abdução, redução da contração da musculatura do palato mole à direita e qualidade vocal com soprosidade intensa. Após tireoplastia tipo I apresentou fenda triangular médio posterior com melhora vocal parcial.

Na videofluoroscopia da deglutição observou-se, para todas as consistências: escape prematuro do alimento; resíduos alimentares em cavidade oral; dificuldade no transporte do bolo alimentar da fase oral para a faríngea e estase em valéculas e recessos piriformes.

O exame eletromiográfico demonstrou redução da atividade dos músculos temporais e masseteres à direita.

A reabilitação fonoaudiológica consistiu de 24 sessões, com exercícios miofuncionais isotônicos e isométricos de língua e musculatura mastigatória (masseteres e temporais) e a emissão da vogal /i/ sustentada com mãos em gancho associada à flexão de pescoço para a direita.


DISCUSSÃO

Os achados pré e pós-reabilitação fonoaudiológica encontram-se na Tabela 1. Após a fonoterapia observou-se aos novos exames: melhora da força, tonicidade e mobilidade da língua; ausência de escape prematuro do alimento; aumento da contração dos músculos constritores da faringe, com redução do resíduo em valéculas e recessos piriformes; aumento da atividade dos músculos temporais e masseteres à direita e qualidade vocal inalterada.




É importante ressaltar que os exercícios selecionados para a reabilitação fonoaudiológica da paciente foram aqueles que, além de indicados, apresentaram melhores resultados durante a realização de provas terapêuticas.

O exercício vocal realizado foi selecionado por ser o único que promovia uma discreta redução da fenda glótica, com também discreto aumento da sonoridade durante sua execução. No decorrer da fonoterapia outros exercícios vocais foram selecionados, associados ou não a manobras posturais cervicais, mas também sem bom resultado com relação à qualidade vocal.


COMENTÁRIOS FINAIS

Houve melhora funcional significativa em relação à mastigação, deglutição, atividade muscular lingual e musculatura mastigatória após a reabilitação fonoaudiológica, embora a qualidade vocal permanecesse inalterada.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Omamura S, Nakajima Y, Kobayashi S, Ono S, Fujita K. Oral manifestations and differential diagnosis of isolated hypoglossal nerve palsy: report of two cases. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 1997;84(6):635-40.

2. Robbins SL, Cotran RS, Kumar VR:Patologia Estrutural e Funcional. 4aed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1991. p. 1168-75.

3. Sobotta J. Cabeça, pescoço e extremidade superior. In: Atlas de Anatomia Humana. 21a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2000. p. 107-12.

4. Sakao T, Noguchi S, Murakami N, Uchino S. Neurilemona of the neck;a report of 35 cases. Nippon Geka Gakkai Zasshi 1990;91(3):407-10.

5. Gonçalves MIR. Alterações estruturais mínimas da cobertura das pregas vocais: fatores que interferem no diagnóstico (Tese). São Paulo: Escola Paulista de Medicina; 1994.

6. Maffei C, Gonçalves MIR, Biase N. Avaliação laringológica e perceptivo-auditiva vocal nas fases pré e pós-aplicação da técnica de vibração sonora de pregas vocais na leucoplasia plana. Fonoatual 2004;28:53-4.





1 Mestrado em Distúrbios da Comunicação-Universidade Tuiuti do Paraná - Doutoranda em Estomatologia - Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Pesquisadora Voluntária junto ao Programa de Mestrado em Distúrbios da Comunicação da Universidade Tuiuti do Paraná.
2 Pós-Doutorado - California University, Professora Adjunto do Programa de Mestrado em Distúrbios da Comunicação da Universidade Tuiuti do Paraná.
3 Especialista em Motricidade Oral/Disfagia - Universidade Tuiuti do Paraná, Médico responsável pelo setor de exames de videofluoroscopia da deglutição do Hospital da Cruz Vermelha do Paraná.
4 Odontólogo. Especialista em Periodontia pela Universidade de Araçatuba, São Paulo.
5 Doutor, professor/diretor do Centro Avançado de ORL/Cérvico-facial.
Universidade Tuiuti do Paraná Centro Avançado de Otorrinolaringologia - CAO Hospital da Cruz Vermelha do Paraná Hospital São Vicente do Paraná.
Endereço para correspondência: Carla Maffei - Rua Martim Afonso 2986 apto. 1101 80730-030 Curitiba Paraná.
E-mail: carlamaffei@uol.com.br
Este artigo foi submetido no SGP (Sistema de Gestão de Publicações) da RBORL em 14 de fevereiro de 2006. cod. 1724.
Artigo aceito em 3 de agosto de 2006.

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