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Ano:  2006  Vol. 72   Ed. 5  - Setembro - Outubro - (24º)

Seção: Relato de Caso

Páginas: 717 a 717

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Pericondrite auricular por piercing complicada com infecção por pseudomonas

Auricular perichondritis by piercing complicated with pseudomonas infection

Autor(es): Felipe Montes Pena1, Daniela Mendonça Sueth2, Maria Irene Rocha Bastos Tinoco3, Janine Franklin Machado4, Luiz Eduardo O. Tinoco5

Palavras-chave: infecção por pseudomonas, pericondrite, piercing.

Keywords: perichondritis, piercing, pseudomonas infection.

INTRODUÇÃO

As pericondrites são infecções de evolução lenta, localizadas na cartilagem auricular. Resultam de lacerações, contusões, cirurgias e outras afecções. A pericondrite do pavilhão auricular induzida por piercing é uma afecção freqüente entre jovens. O agente etiológico mais encontrado é a Pseudomonas aeruginosa e sua inoculação decorre da exposição do pericôndrio e cartilagens do pavilhão, durante ou após procedimento. É imperiosa a investigação etiológica através de cultura e antibiograma da secreção. O tratamento consiste em drenagem cirúrgica, antibioticoterapia e antiinflamatório sistêmico1.

RELATO DO CASO

A.F.C., 26 anos, branca, casada, natural de Itaperuna-RJ, relata colocação de piercing na cartilagem auricular, que após oito dias, iniciou quadro com dor, edema e rubor local. Fez uso de diclofenaco de potássio, sem melhora. Com quatorze dias de evolução, procurou um Otorrinolaringologista, que diagnosticou abscesso e optou por realizar drenagem e antibioticoterapia com cefalexina associada à prednisona. A ferida evoluiu inadequadamente, necessitando de atendimentos de urgência com uso de analgésicos venosos e, após uma semana, realização de nova drenagem. No mesmo procedimento foi colhido material para cultura, obtendo positividade para Pseudomonas aeruginosa, com início imediato de Ciprofloxacina e nova drenagem, obtendo melhora. Evoluiu com deformidade cicatricial e tem se submetido a outros tratamentos para a melhora da deformidade (Figura 1).


Figura 1. Aspecto após tratamento com visualização posterior do pavilhão auricular.


DISCUSSÃO

O piercing corporal é conhecido como cultura tribal em alguns países da Arábia e África e comumente usado no nariz, lábios e língua2.

A descrição do primeiro caso de pericondrite por Pseudomonas aeruginosa após colocação de piercing é recente. Geralmente ocorre nos meses quentes, em que a perspiração corporal é excessiva prejudicando a cicatrização e predispondo à infecção. O risco de desenvolver infecção é maior para piercing na cartilagem auricular do que no lobo3.

Os sintomas começam em poucas horas a três dias após a colocação, caracterizam-se por induração ou eritema no local do piercing, dor a palpação e drenagem de sangue ou pus por quatorze dias ou mais3. O agente etiológico mais comum encontrado é a Pseudomonas aeruginosa, sendo menos freqüentemente causada por Staphylococcus aureus.

O diagnóstico é essencialmente clínico, devendo-se realizar cultura e antibiograma da secreção. A realização de ampla incisão cirúrgica com a remoção de tecido necrótico é determinante no aspecto cicatricial, visando prevenir deformidades. O tratamento clínico compreende a utilização de antimicrobianos como Cefalosporinas e Quinolonas, para a erradicação de Pseudomonas aeruginosa1. As principais complicações consistem em dermatite de contato e reação de hipersensibilidade ao níquel4. A seqüela mais freqüente é a deformidade do pavilhão auricular, que apresenta aspecto de "couve-flor"1.

Alguns estudos demonstram que o piercing de pavilhão auricular é um fator de risco para transmissão de Hepatite B5. Problemas não-infecciosos, hipersensibilidade a metais notavelmente, podem ser mais comuns que uma infecção séria6. A pericondrite por piercing apresenta grande morbidade, evoluindo para complicações em até 35% dos pacientes4.

Concluímos que piercings corporais trazem efeitos adversos como infecção secundária, risco de contrair hepatite B e AIDS. O piercing na cartilagem auricular tem maior risco de infecção e na condrite auricular a Pseudomonas aeruginosa deve ser considerada como provável causa. Apesar dos resultados após tratamento serem bons, as deformidades estéticas podem ocorrer, ficando mais evidentes quanto mais tardar o tratamento adequado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Cossete JE. High Ear-Piercing. Otolaryngol Head Neck Surg 1993;107:967-8.

2. Oumeish OY. The Philosophical, Cultural, And Historical Aspects Of Complementary, Alternative, Unconventional, And Integrative Medicine In The Old World. Arch Dermatol 1998;134:1373-86.

3. Keene WE, Markum AC, Samadpour M. Outbreak of Pseudomonas aeruginosa Infections Caused by Commercial Piercing of Upper Ear Cartilage. JAMA 2004;291:981-5.

4. More DR, Seidel JS, Brian PA. Ear-piercing techniques as a cause of auricular chondritis. Pediatric Emergency 1999;15(3):189-92.

5. Johnson CJ, Anderson H, Spearman J, Madson J. Ear piercing and hepatitis. JAMA 1974;227:1165.

6. Koenig LM, Carnes M. Body piercing medical concerns with cutting-edge fashion. J Gen Intern Med 1999;14:379-85.



1 Estudante.
2 Estudante de medicina.
3 Especialista em Dermatologia.
4 Estudante de medicina.
5 Especialista em Otorrinolaringologista, Otorrinolaringologista.
Hospital São José do Avaí.
Endereço para correspondência: Felipe Montes Pena - Rua Alberto Torres 506 Bairro Aeroporto Itaperuna RJ 28300-000.
Tel: (0xx22) 3824-3372 - E-mail: fellipena@yahoo.com.br
Este artigo foi submetido no SGP (Sistema de Gestão de Publicações) da RBORL em 2 de junho de 2006. Cod. 2055.
Artigo aceito em 8 de junho de 2006.

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