PROFESSOR MAURÍLIO SOARES
Professor Maurilio Soares
Autor(es): Ademar Cadar
A otorrinolaringologia brasileira está de luto com o recente falecimento do Professor Maurílio Soares, ocorrido em Belo Horizonte. Maurílio Soares nasceu na cidade mineira de Pium-i, situada na Serra da Canastra, a 27 de março de 1915. Filho do médico Vicente Soares Ferreira e Imbelina Leonel da Silva.
Em sua terra natal fez o curso primário e, o secundário em Formiga, o qual concluiu no Colégio Arnaldo de Belo Horizonte. Atendendo à vocação, ingressou na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. Diplomou-se em 1939.
Uma vez formado, entrou para o serviço de Cirurgia Geral da santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte. Lá exercendo suas atividades até 1942, quando resolveu especializar-se em Otorrinolaringologia. Transferiu-se então para o Serviço dessa Especialidade na própria Santa Casa, onde era chefe o médico J. Mendes de Sousa. Pouco tempo após, assumiu a chefia da Clínica, dando início a uma série de mudanças com a formação de novos especialistas, o que progrediu, criando uma verdadeira escola existente até hoje.
É de se notar que a Santa Casa sempre viveu e ainda vive em dificuldades mas, mesmo assim, fez com que seu serviço se transformasse em um dos mais respeitados do Brasil. Maurílio Soares tinha prazer em ensinar a seus assistentes, dos quais, exigia reciprocidade representada por estudo e dedicação à clínica. Por isto que, numerosos médicos se especializaram no Serviço de Otorrinolaringologia da Santa Casa, inclusive alguns estrangeiros. Em 1949, participou da fundação da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, da qual foi professor catedrático até o ano de 1992, quando se aposentou. Nesta oportunidade recebeu uma grande homenagem de seus alunos e assistentes, a qual compareceram numerosos colegas, seus amigos vindos de vários Estados do Brasil. Suas aulas eram muito freqüentadas devido à didática e carinho com que se dedicou ao magistério, tendo sido freqüentemente homenageado no quadro de formatura. Deu aulas também durante muitos anos na Escola de Enfermagem "Hugo Werneck" e na escola de Fisioterapia da Faculdade de Ciências Médicas.
Tinha o espírito aguçado e, sem vocação para o conformismo. Procurou freqüentar os melhores serviços do mundo. Esteve em Estocolmo, Milão, Paris, Bordeaux, Barcelona, Nova York, Los Angeles, Dalas e outras cidades. Falava fluentemente vários idiomas. Freqüentador assíduo de Congressos, praticamente comparecia a todos na qualidade de participante, relator, moderador e professor, sendo suas opiniões sempre acatadas por todos. Estimulava os assistentes da Santa Casa a se aperfeiçoaram no exterior ou em outros centros e, foram muitos os que seguiram seus conselhos, dando maior gabarito ao Serviço daquela Instituição.
Foi pioneiro de numerosos tipos de cirurgias como por exemplo a Laringectomia parcial, pela técnica de Leroux-Robert, evitando-se a Laringectomia total, que era usada para qualquer tipo de câncer da laringe, em qualquer estágio. Realizou aqui a primeira laringectomia fronto-lateral e frontal anterior. Também foi o primeiro a realizar a Estapedectomia em Belo Horizonte. Lançou, juntamente com os colegas Ademar Cadar, Roberto Machado Neves Pinto, Olaph Brasil e Jayme Nogueira Costa o livro "Rinoceptoplastia Funcional" que, ainda hoje, tem seus conceitos seguidos por numerosos especialistas. Neste livro consta um excelente trabalho de sua autoria sobre anatomia do nariz.
Maurílio Soares não foi apenas mais um médico, mas sim um médico diferenciado por tudo que fez pela especialidade. Dedicado ao extremo à Santa Casa, dali fez o principal objetivo e, mesmo com grande número de assistentes, freqüentava diariamente o serviço, atendendo ou ensinando os novos a operar. Foram tantos os que passaram pelo serviço da Santa Casa que, praticamente até alguns anos atrás 80% dos otorrinos mineiros ali foram preparados.
Maurílio Soares tinha mis sete irmãos: Fabrício e Lucio (falecidos) e Francisco, advogados; Marcílio, ortopedista; Abelardo e José, engenheiros e Luciano, odontólogo. Casou-se em 1956 com D. Wanda Tavares Soares e deixa três filhos, o engenheiro aeronáutico Sergio Tavares Soares e duas filhas: Claudia e Patrícia, ambas graduadas em Comunicação Social. Além de ter deixado também cinco netos.
Seu falecimento foi muito sentido não somente no meio médico, mas também entre os seus numerosos amigos e clientes. Deixou para os seus alunos e assistentes um padrão de caráter, ética, honestidade e competência. Exerceu com dignidade a medicina e o magistério, deixando-nos como herança registros de sua sabedoria e amor pela medicina.
Ademar Cadar - Ex Prof. da Faculdade de Ciências Médicas; Chefe honorário da Clínica Otorrinolaringológica Da Santa Casa de Minas Gerais