Versão Inglês

Ano:  1974  Vol. 40   Ed. 2  - Maio - Dezembro - (48º)

Seção: Artigos Originais

Páginas: 298 a 300

 

Ameloblastoma Pigmentado

Autor(es): Adelmar Cadar*

Este tumor é também conhecido na literatura sob os nomes de "Melanoameloblastoma", "Ameloblastoma Melanótico", "Ameloblastoma Pigmentado", "Progonoma", "Progonoma Melanótico" e "Tumor de Linhagem Retiniana". É um tumor raro, havendo apenas cerca de 53 casos publicados na literatura mundial. O primeiro caso foi descrito por Krompecher em 1918, sob o nome de "Melanun carcinoma congenitus processus alveolaris". Em 1925, Mummery e Pitts descreveram um caso idêntico sob o nome "Odontoma epitelial melanótico". Posteriormente, vários casos idênticos foram descritos sob outros nomes como: "Melano-carcinoma congênito" (Dudits e Szabo), em 1935; "Teratoma pigmentado" e "Melanoameloblastoma atípico" (Sodeberg e Padgett) em 1941; "Tumor da linhagem retinianá" (retinal anlage tumor) (Halpert e Patzer) ; em 1948, Wass colocou um tumor deste gênero entre os ameloblastomas; "Tumor melânico do maxilar superior" (Field, Ackerman e Kannertteins), 1950; "Melanoameloblastoma e tumores da linhagem retiniana" (Shaffer e Frissel), 1953. Uma revisão dos casos publicados depois de 1954, feita por Carlier e Colt. permitiu concluir os nomes mais correntemente usados: "Melanoameloblastoma", "Tumor da linhagem retiniana" ("Retinal anlage tumor' ou "Tumeur de la lignée rétinienne") e "Progonoma melanótico ou melânico", adotado mais recentemente por Vilasco, Cornet, Camain e por Dechaume, Cauhpe, Payen, Peri.

Histogênete - Há 3 teorias:

1.ª) Origem epitelial odontógena, a mais aceita, devido à localização maxilar superior preferencial e presença de elementos ameloblásticos pigmentados.

2.ª) Origem retiniana embrionária, devido à analogia de certos componentes tumorais com os neuroblastos, astrocyros, oligodendrocytos e certas formações papilares, lembrando o plexo coroide.

3.ª) Origem neuro-ectodérmica, defendida ultimamente por vários autores, devido a existência de localizações extra-faciais (um caso no crâneo) e aspectos histológicos lembrando estrutura de cristas neuro-ectodérmicas.

Estudo Clínico - É um tumor extremamente raro, e que aparece em crianças, preferencialmente antes do 6.° mês de vida. As idades extremas são de 5 semanas a 5 anos. Na grande maioria, os casos apareceram em crianças do sexo feminino. A localização principal é no maxilar superior, na região anterior. Poucos casos se localizam na mandíbula e há uma referência a um caso no crâneo. (Shaffer, 1953). Tem o aspecto de uma tumefação escura, não dolorosa e de evolução rápida. É recoberta por mucosa normal, deformando o lábio, nariz e tecidos moles jugais. Pode determinar erupção precoce dos dentes, seu deslocamento ou mesmo sua eliminação, e se ulcerar traumaticamente ou por expulsão de um dente de leite. As vezes dificulta a alimentação, fonação e prejudica a estética. A radiografia mostra geralmente protusão de um incisivo central, deslocamentos dos germes dentários e uma cavidade com imagem de rarefação óssea.

Anátoma-Patológica - Macroscopicamente, apresenta-se como uma massa homogênea escura. Não é capsulado e pode infiltrar-se no osso, apesar de ser benigno. Microscopicamente, encontram-se cordões epiteliais cheios de estruturas reticulares cercadas por elementos epiteliais ameloblásticos cúbicos ou arredondados, encerrando pigmento melânico. Podem-se encontrar células redondas de natureza nervosa que dão origem às discussões sobre a classificação nosológica.

Evolução - O crescimento é rápido e em poucos meses pode atingir volume considerável. A não ser quando há problema de alimentação, não causam distúrbios ao estado geral e não há comprometimento linfático. Não há tendência à recidiva após exérese cirúrgica. O diagnóstico é sempre feito pelo exame anátomo-patológico, embora clinicamente possa sugerir um processo sarcomatoso, devido á rápida evolução.

Tratamento - Deve ser sempre cirúrgico, cientificando-se de que não haja infiltração óssea. Quando houver, deve ser curetada até aparecer osso normal. Para evitar deformações faciais consideráveis, a cirurgia deverá ser conservadora ao máximo.

Observação de Um Caro na Santa Cata de Belo Horizonte - J.F.V., natural de Belo Horizonte, com 5 meses de idade, sexo feminino, cor preta, veio à consulta em 08.04.1974. Informou a sua mãe que a criança apresentava há 2 meses, tumoração escura na parte anterior mediana do maxilar superior, evoluindo progressivamente. Alimenta-se bem, não tem febre e nem sente dores. Antecedentes familiares e pessoais sem importância.

Ao exame, nota-se massa tumoral de cor escura, sob a mucosa bucal, interessando a região anterior do maxilar superior, incisiva e canina. Cerca de 30 dias após, notamos que o tumor evoluiu rapidamente, quase dobrando de tamanho. No dia 09.05.1974, a criança foi submetida à cirurgia, sob anestesia geral, por entubação naso-traqueal. Nesta ocasião, o tumor media de 4 cms x 2 cms. A incisão foi feita sobre o bordo alveolar, afastada a mucosa e descolado o tumor, que foi retirado juntamente com germes de 5 dentes. Após a retirada, constatamos infiltração no osso, visível como uma pigmentação escura na maxila. Foi feita então, uma cuidadosa curetagem, até a sua total eliminação, e em seguida sutura da mucosa e tamponamento da cavidade com Gelfoam. O post-operatório foi tranquilo, recebendo a criança, alta com 10 dias. Encontra-se em bom estado atualmente.

O resultado do exame anátomo-patológico foi o seguinte:

N.° 1.301/74 - Dr. Rui da Silva Neto

Material: Tumor de palato duro

Macroscopia: Tumor de 2,5 cm. de diâmetro, recebido em fixador (formol) e revestido, em parte, por membrana acinzentada. Aos cortes, é de cor preta, viscoso e apresenta pequenos pontos de consistência pétrea.

Microscopia: Aspecto microscópico: Em uma das preparações microscópicas, nota-se a presença de um cisto revestido, internamente, por epitélio estratificado, escamoso, contendo algumas células descamadas, cujo epitélio sofreu atrofia por compressão. A partir da camada basal desse epitélio, nota-se brotamento que reproduz estrutura de órgão do esmalte de embrião de dente. Em outras áreas vêem-se formações adenomatosas revestidas em todo, ou em parte, por epitélio cúbico pigmentado (melanina) e contendo células não pigmentadas, de citoplasma escasso e de limites indistintos, com núcleos vesiculosos e algo hipercromáticos, observando-se mitoses muito raras dessas células. Existem áreas em que tais células estão de permeio no estroma conjuntivo, sem estarem envolvidas pelo epitélio. pigmentado. As células pigmentadas em outras áreas se dispõem em colunas ou formam pequeninas cavidades vazias.

Diagnóstico Anatomopatológico: Ameloblastoma pigmentado, tipo folicular. (Progonoma Pigmentado).

a) Moacyr A. Junqueira

Summary

The author presents a case of a pigmented ameloblastoma. It is a very unusual tumor, only fifty-three case published in the world literatura. These are three theories about the histogenesis: odontological epithelial origin, embryo retinal and neuro-ectoderm. It preferably appears before the sixth month of life, in the feminine sex, and it is commonly located in the superior maxillary. It is a dark tumor, not painful, with a rapid but not painful evolution; it can sometimes become ulcerous and make feeding dificult. It is not capsuled an it can filter through the bones in spite of being a benign tumor. Its treatment is surgical. The case presented is of a five month old black girl. The tumor was dark in color, measuring 4 x 2 centimeters in the canine and incisive region of the upper maxillary. She was operated on it and the tumor was removed together with the germination of five teeth. There was an osseous infiltration, visible as a dark pigmentation, which was curetted. The mucous was sutured and the cavity tamponed with Gelfonam. The child was able to leave the hospital in ten days, and is well nowadays.

Referencias Bibliográficas

1. Alvarenga, R. J., Professor de Patologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (Comunicação pessoal).
2. Carfier, G., M. Donazzan, Mlle. F. Vandenboss-Che, B. Gosslin et J. Dura. - Un cas de Melano-Ameloblastoma. Acta Stomatol. Belg. 67:309-324, 1970 (Fre).
3. Dechaume, M., Cauhepe, J., Payen, J. et Peri, M. - A propos d'un cas de melanotic progonoma. Revne de Stomatologie, 1966, 67. n.° 6, 321-327.
4. Ebling, H. - Cistos e Tumores Odontogênicos - 1970 (Porto Alegre).
5. Field, H. J., Ackerman, A. A., and Kannersteins, M. - Melanotic Tumor of the Maxillar in an Infante Case Report, J Newark Beth Israel - Hosp. 1: 286-291, 1950.
6. Halpert, B. and Patzer, R. - Maxillary tumor of retinal anlage. Sugery, 1947, 22, 837-841.
7. Krompecher, E. - Zur Histogenese und Morphologie der Adamantion und soustiger Kiefergeschwulste. Beitr. Zut. Path. Anat., 1917, 1918, 64, 165-167.
8. Martin, H. and Foote, F. W. - A third case of so called retinal anlage tumor, Cancer, 1951, 4, 86-91.
9. Mummery, I. H. and Pitts, A. T. - Melamotic epithelial Odontoma in child. Proc. Roy. Soc. Med., 1926-1925, 11, 21.
10. Schaffer, W. G. and Frissel, C. T. - Melano ameloblastoma and retinal anlage tumor. Cancer, 1953, 6, 360-364.
11. Tiecke, R. W. and Bernier, J. L. - Melanotic ameloblastoma. Oral Surg., Oral Med., Oral Path., 1956, 9, 1197-1209.
12. Wass, 5. H. - Melanotic adamantinoma of the mandible in a child aged 5 months. Proc. Roy. Soc. Med., 1948, 41, 281-283.




* Da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais e da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte.

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