Versão Inglês

Ano:  1974  Vol. 40   Ed. 2  - Maio - Dezembro - (29º)

Seção: Artigos Originais

Páginas: 236 a 240

 

Estudo Clínico da Ação de Sedativos em Exames Impedanciométricos

Autor(es): Otacilio C. Lopes F.°*,
Antonio Elber D. Arruda**,
Hapet Souzani (EA. SBA)*** e
Ieda N. Chaves Russo****

Introdução

Dentre os métodos objetivos da avaliação da audição e impedanciometria vem a cada dia ganhando maior destaque. A facilidade de sua utilização, a simplicidade de que é revestida, sua rapidez de execução tem sido fatores positivos para sua divulgação cada dia maior. Pela sua objetividade e simplicidade é particularmente indicada na avaliação da audição em crianças portadoras de membrana timpânica íntegra.

Embora simples o método encontra algumas vezes dificuldade em sua aplicação, ou em crianças muito pequenas ou naquelas que amedrontadas se negam a participar do teste. Para estes casos torna-se necessário uma sedação. O sedativo a ser aplicado além de preencher todos os requisitos de segurança não deve influir sobre o resultado final do exame.

Com o objetivo de estudar o efeito de algumas drogas ou associações de drogas, na sedação e no resultado final do teste é que decidimos efetuar o presente estudo.

Material e Métodos

Neste estudo, foram observadas 55 crianças, saudáveis, sem queixas otológicas (escolares). A idade variava de 4 a 10 anos. Aparentemente todas tinham audição normal e o exame otoscópico e otorrinolaringológico não revelou anormalidades.

O teste tinha a seguinte seqüência:

- Timpanometria (antes e depois da sedação)

- Complacência estática (antes e depois da sedação)

- Reflexo do músculo do estribo (antes e depois)

Avaliação subjetiva do grau de sedação (no início e no fim do segundo teste).

O equipamento utilizado para o exame impedanciométrico foi de marca MADSEN modelo ZO-72 (com audiômetro acoplado e saída máxima de 125 dB para o estímulo sonoro nas freqüências de 500 a 4.000c/s.)

As crianças foram divididas em 6 grupos de 10 em cada, sendo o último grupo com apenas 5 crianças. Os grupos foram denominados de A, B, C, D, E, e F, tendo sido a cada um administrado um tipo diferente de sedativo.

Gruo A

A este grupo foi administrada uma associação de:

Droperidol - 0.35mg
Escopolamina - 0.03mg
Veículo qsp - 1.00ml (dose: 1 ml por 5 kilos de peso)

com Nitrazepan (comprimidos de 1.25mg) na dose de 1 comprimido para cada 5 kilos de peso.

Grupo B

Para estas crianças foi administrada a droga Nitrazepan na dose de um comprimido (1.25mg) para cada 5 kilos de peso corporal.

Grupo C

A este grupo foi administrado Levomepromazina, na dose de uma gota (0.25mg) para cada kilo de peso.

Grupo D

Apenas solução de:

Droperidol - 0.35mg
Escopolamina - 0.03mg
Veículo qsp - 1.00m1

foi ministrada na dose de 1 ml por cada 5 kilos de peso.

Grupo E

Administramos o medicamento Diazepan na dose de um comprimido de 1.25mg de substância ativa, para cada 5 kilos de peso.

Grupo F

Este que foi menor grupo com apenas 5 casos constou da administração de Metohexital sódico, na base de 5mg por kilo de peso, na solução a 1%, por via intra-muscular.

Após a administração do medicamento, aguardou-se entre 20 minutos a uma hora, a fim de repetir o teste impedânciométrico. O critério do tempo foi puramente subjetivo, repetindo-se o teste no momento em que julgávamos haver o sedativo completado o efeito desejado.

Antes de estudarmos os resultados, procuramos avaliar estatisticamente os valores da complacência estática, obtidos em 20 crianças escolhidas ao acaso, antes da medicação. Foi constatado que há uma variação dos valores da complacência, significativa ao nível de 5 % entre os pacientes. Quando porém os valores da complacência eram estudados com relação aos dois ouvidos de um mesmo paciente, verificou-se que a tendência era de se encontrar complacências idênticas, ou melhor semelhantes, em ambos ouvidos.

O estudo da timpanometria antes da administração da droga mostrou que dos 110 ouvidos examinados:

103 apresentavam curva tipo A (normal)
6 curva tipo C (disfunção tubária)
1 curva tipo B (otite média serosa).

O reflexo do músculo do estribo não foi obtido em três ouvidos, antes da medicação.

Resultados

Após a administração das drogas aos pacientes dos vários grupos observados, os restes foram repetidos e pudemos fazer as seguintes observações:

a - Timpanometria - A administração das drogas, não resultou em modificação do perfil timpanométrico de nenhum dos pacientes.

b - Complacência estática -

Analisando as diferenças dos valores da complacência estática, obtidos antes e depois da medicação, nos vários grupos estudados somente foi encontrada diferença significativa (estatisticamente significante) na série F, ao nível de 5% de significância e quase ao nível de 1% (este foi o grupo com menor número de observações). Nos outros grupos não houve basicamente diferenças entre os valores antes e depois da medicação.

c - Reflexo estapediano -

Uma análise qualitativa dos resultados obtidos antes e depois da medicação, quanto ao reflexo estapediano (em que se considerou que a ausência do mesmo após a medicação, como sendo uma elevação de seu limiar) considerando-se os dois ouvidos do paciente verificou-se:

a - tendência ao aumento do limiar para as séries A, B, E e F;

b - tendência ao decréscimo para os das séries C e D.

A análise estatística destes dados revelou no entanto, que estas relações não são significativas entre as séries com tendência ao acréscimo do limiar, no nível de confiança de 5%.





Uma análise superficial destes resultados, em percentagem, dá-nos a impressão de que nos grupos C e D houve uma tendência oposta aos outros grupos, isto é, diminuição do limiar do reflexo. No entanto uma conclusão estatística definitiva, não foi possível devido ao pequeno número de casos observados.

d - Grau de sedação Conforme o grau de sedação conseguido, classificamos os resultados em dois grupos:

1 - sedação eficiente;

2 - sedação ineficiente.

A análise dos resultados em eficiente e ineficiente, conforme a droga aplicada, revelou evidência significante, mesmo ao nível de 1% (grau de confiança de 99%) que o medicamento influiu no grau de sedação. Ora, tendo sido o medicamento E aquele que se revelou o mais ineficiente, fica comprovada sua inadequação. Retirando dos grupos, o do medicamento E, e fazendo-se nova análise dos resultados, não ficou constatado (embora uma análise superficial pareça indicar) diferenças entre os outros grupos, com significação estatística.





Comentários

Os resultados obtidos permite-nos tirar algumas conclusões de ordem prática:

a - A medicação em nenhum dos grupos teve influência sobre as curvas tipanométricas;

b - Apenas os pacientes do Grupo F, sofreram modificação dos valores da complacência estática, após a medicação;

c - As variações dos limiares do reflexo estapediano, após a medicação não foram estatisticamente significantes;

d - Com relação á sedação, constatamos ser o medicamento ministrado ao grupo E, inadequado (grau de confiança 99% ).

Drogar empregadas

1 - Droperidol - (de-hidrobenzoperidol) é um farmaco derivado da butirofenona que induz a um estado de depressão psíquica, levando também a alterações do equilíbrio e da coordenação. Em pequenas doses age sobre a substância reticular, hipotálamo e tálamo e em doses maiores sobre todo o encéfalo.

2 - Ercopolamina (hioscina) é um anticolinérgico que em doses terapêuticas provoca normalmente sonolência, euforia, amnésia, fadiga e sono sem sonhos. Deprime a atividade espontânea do EEG e a resposta do EEG à foto-estimulação.

3 - Nitrazepan é uma droga derivada da 1,4-benzodiazepina, bloqueia a ativação do EEG que tem origem na estimulação da formação reticular. Diminui a duração das pós descargas elétricas no sistema Limbido, incluindo a região septal, as amigdalas cerebelares e hipocampo

4 - Levomepromazina, é um derivado fenotiazídico e como tal parece produzir alterações em todos os níveis do eixo cerebrospinal, mas ainda não se pode dizer qual delas é mais importante em relação às ações terapêuticas e qual é mera coincidência. Acredita-se que deprime igualmente o sistema de alerta mesoencefálico constituído pela formação reticular e as projeções tálamo corticiais difusas.

5 - Diazepan é um benzodiazepínico, portanto com ação semelhante ao Nitrazepan. Seu efeito se manifesta mais como miorelaxante e anticonvulsivo.

6 - Metohexital aódico. E um sal sódico do ácido barbitúrico, no homem possui uma potência 3 vezes superior ao do tiopental. A cortex cerebral e o S.R. ativador são os mais sensíveis; o sistema cerebeloso, vestibular e espinhal não o são e menos ainda os sistemas medulares. Se desconhece o mecanismo de ação dos barbitúricos, mas se sabe que elevam o umbral de excitação dos neurônios, possivelmente por estabilização da membrana celular.

Summary

The authors studied the values of impedance audiometry (rympanometry, static compliance and stapedius reflex) before and after the admnistration of six different types of sedatives.

a - There were no changes in the outline tympanometry.

b - There was a tendency in the increase of the static compliance in group F.

c - There was no statistical prouf of changes in the threshold of the stapedius reflex after the medication in any group studied.

d - In relation to the degree of sedation it was statistically proved that the medication
used on group E was inefficient.

Bibliografia selecionada

1. Goodman, L. S. & Gilman, A. - As bases farmacológicas da terapéutica. 3ª ed. Brasileira, 1967.
2. Lopes F.°, O. C. - Contribuição ao estudo clínico da impedância acústica. Tese. Univ. de São Paulo, 1972.
3. Jerger, J. - Clinical experience with impedance audiometry. Arch. Otolaryng., 92:311- 324, 1970.
4. Jerger, S. et al. - Studies in impedance audiometry. Arch. Otolaryng. 99:1-9, 1974.
5. Robereson, E. et al. - Relative impedance measurements in young children. Arch. Otolaryng., 88:102-168, 1968.
6. Wylie W. D., et al. - Anestesiologia. Versão espanhola da 2ª edição Inglesa, 1969.




Endereço dos autores

Faculdade de Ciências Médicas Sta. Casa de S. Paulo
Clínica Otorrinolaringológica
Rua Cesario Motta Junior, 112, 5 °
01221 - S. Paulo - Brasil.

* Professor Associado da Clínica O.R.L. da F.C.M. Sta. Casa de S. Paulo
** Assistente voluntário e Bolsista do C.N.Pq.
*** Auxiliar de ensino da F.C.M. Sra. Casa de S. Paulo
**** Fonoaudióloga, responsável pelo setor de Audiologia.

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