Versão Inglês

Ano:  1974  Vol. 40   Ed. 2  - Maio - Dezembro - (17º)

Seção: Artigos Originais

Páginas: 183 a 186

 

Contribuição Histoquímica ao Estudo do Epitélio de Revestimento e Membrana Basal da Mucosa Nasal em Estado Crônico Hipertrófico

Autor(es): Elias Salomão Mansur* e **,
Marco Elisabetsky**

I - Introdução

Os avanços extraordinários da Medicina, nos diversos setores, têm oferecido contribuições importantes e muitas delas, até inesperadas. A penetração à intimidade dos tecidos, através da histoquímica, representa um destes avanços. Por meio de recursos especiais é possível obter conhecimentos mais precisos e intensos, ligados certamente ao mecanismo produtor das doenças. Diversos são os quadros nasais obstrutivos, em fase crônica, que estão relacionados à parede lateral na dependência de uma hipertrofia mucosa. Com freqüência o especialista reconhece estados crônicos hipertróficos, sem precisar a causa, com alterações estruturais evidentes. São estes quadros crônico-hipertróficos, com mucosa nitidamente alterada que serviram de base para um estudo histoquímico limitando-se as indagações aos polissacarídeos e proteínas.

II - Casuística e Métodos.

Material obtido de 20 pacientes adultos (18 a 50), brancos, brasileiros, 16 femininos e 4 do sexo masculino, portadores de obstrução nasal crônica com evidente hipertrofia mucosa ao nível do corneto inferior.

Para a pesquisa de polissacarídeos utilizou-se a mistura de Bouin e o líquido de Géndre para glicogênio, respectivamente, por 12 horas à temperatura ambiente e 4 horas a 4° C. Parte do material destinado à detecção de proteínas foi fixado em formaldeido a 10% tamponado a pH 7 e, o restante, no mesmo fixador a pH 4,6. Em ambos os casos, o.tempo foi de 12 horas à temperatura ambiente após o que, as peças eram lavadas em água corrente durante 24 horas. Procedeu-se à desidratação, diafanização e inclusão em parafina. Foram tomadas cautelas para diminuir as possibilidades de variações decorrentes de técnica histológica. A detecção de polissacarídeos e proteínas foi conseguida em cortes seriados com 5 e 13 micros de espessura respectivamente.

A. Polissacarídeos

De acordo com a finalidade, na pesquisa histoquímica dos polissacarídeos, foram utilizadas as seguintes reações:
1 - Reações ligadas à presença do grupo vicinal glicol e afins

a - Ácido periódico Schiff (P.A.S.)

b - Bloqueio pela acetilação seguido do P.A.S.

2 - Reações ligadas à presença de grupos ácidos (sulfurados e carboxilados)

a - Metacromasia tamponada em pH 5,6

b - Alcian-blue em pH 2,5

c - Captura do ferro

3 - Reações para distinção entre grupos ester sulfúrico e carboxila.

a - Metacromasia tamponada em pH 5,6 - 3,4 - 2,5 e 1,7.

b - Alcian-blue em pH 2,5 e 0,5
c - Alcian-blue em pH 2,5 após os processos de acetilação e saponificação.

d - Alcian-blue em pH 2,5 após os processos de metilação e saponificação.

4 - Reações que possibilitam evidenciação de polissacarídeos neutros.

a - P.A.S., após ação da amilase salivar

b - Alcian-blue em pH 2,5, após sulfatação.

5 - Reações combinadas para polissacarídeos ácidos e neutros.

Alcian-blue em pH 2,5, seguido do P.A.S.

6 - Reação para detecção do ácido siálico.

Alcian-blue em pH 2,5, após hidrolise ácida.

7 - Testes de ação enzimatica

a - Amilase salivar seguida de P.A.S.

b - Hialuronidase testicular seguida do Alcian-blue em pH 2,5

c - Hialuronidase bacteriana seguida do Alcian-blue em pH 2,5

8 - Reações combinadas para detecção de condroitin sulfato B.

Hialuronidase testicular seguida de hirólise ácida e Alcian-blue em pH 2,5.

B. Proteinas e Aminoacidos

1 - Reações ligadas à pesquisa do radical amino em geral

a - Aloxana-Schiff

b - Aloxana-Schiff após ação do ácido nitroso.

2 - Reações destinadas à detecção de radicaes ativos de aminoacidos.

a - Guanidil (Arginina)
a. 1 Reação de Sakaguchi
a. 2 Reação de Sakaguchi após ação do cloreto de benzoila

b - P-Hidroxifenila (Tirosina)
b. 1 Reação de Millon modificada
b. 2 Reação de Millon modificada após tratamento pelo iodo amoniacal

c - Indol (Triptofano)
c. 1 Reação de Lison e Pinheiro
c. 2 Reação de Lison e Pinheiro após a ação do ácido perfórmico

III - Resultados

A histoquímica proporciona imagem microscopica da composição química ou da atividade metabolica de algumas substâncias em cortes histológicos. Oferece imagens que se distinguem pela forma e afinidades tintoriais, pela reação visível, colorida e do local onde ela ocorre. A forma e afinidade tintorial oferecem imagem morfoquímica suscetível de analises qualitativa e semi-quantitativa. Fornecendo cor, obtem-se reação cromoquímica, habitualmente patente e com efeitos cromaticos diversos. Sua interpretação, com toda gama intermediária, pode ser muito simples ou difícil. Pelo local em que ocorre a reação obtem-se imagem topoquímica que permite distinguir diferenças de reatividade entre elementos morfologicamente similares que, na verdade, devem estar representando diferenças funcionais significativas. Estes fatos destacados para a mucosa nasal recordam que a função geral do órgão é a resultante das funções parciais de seus elementos constitutivos. Do estudo realizado em cerca de 500 preparações da mucosa nasal em estado crônico hipertrófico, o A. verificou:

A. Epitelio de Revestimento

O epitélio prismático estudado nestas condições é representado por mucopolissacarídeos neutros, ácido hialuronico e mucopolissacarídeos ácidos sulfatados. Os elementos caliciformes do epitélio revelam-se possuidores de mucopolissarídeos neutros, ácido siálico e mucopolissacarídeos ácidos sulfatados.

B. Membrana Basal

A substância fundamental da membrana basal mostra-se em continuidade àquela do conjuntivo do cório. Em certas áreas, verdadeiras massas de substância amorfa do conjuntivo subjacente estão unidas, formando bloco único com a membrana basal. Em outras áreas desta membrana, a substância amorfa reúne-se em circunvoluções, quase que inteiramente dissociadas da substância fundamental do cório. Este material assim depositado, é responsável pelo aspecto morfoquímico irregular, de espessura variável, ora em direta continuidade, ora não, entre membrana basal e substância amorfa do tecido conjuntivo. Não há evidentes contrastes cromoquímicos. Foram reconhecidos mucopolissacarídeos neutros e ácidos sulfatados, ácido hialurônico e sulfatos de condroitin A. B e C, na substância fundamental, conjuntiva e basal.

IV - Conclusões

O A. em seu estudo, realizado em cerca de 500 preparados da mucosa nasal em estado crônico hipertrófico, fez as seguintes constatações:

I - Epitélio de revestimento

Considerando como grandes as alterações epiteliais do ponto de vista histoarquitetural, as modificações de ordem histoquímica são pequenas e praticamente ligadas ao glicogênio. Presente no epitélio normal, o glicogênio não foi reconhecido em condições patológicas. No epitélio em condições de sofrimento, ao nível das células prismáticas e caliciformes, foram reconhecidos mucopolissacarídeos neutros e ácidos carboxilados (ácidos hialurônico, e siálico) e/ou sulfatados. As reservas naturais de glicogênio celular possivelmente esgotam-se em função do grau de sofrimento epitelial.

II - Membrana basal

Não há grandes divergências, em condições normais e patológicas, sob o aspecto qualitativo, da histoquímica da membrana basal. Em condições normais reconhecemos os sulfatos de condroitin A e C e em condições anormais apenas o sulfato B de condroitin. Seria este, por assim dizer, a forma de mucopolissacarídeo ácido sulfatado depositado ao nível da membrana basal em condições de sofrimento tissular. Há, ainda, um exagero de depósito das demais substâncias sulfatadas colaborando para o espessamento e irregularidade da membrana basal. A deposição de material proteico a este nível é também exuberante. O aumento da população celular, linfoplasmocitária, desde o cório até o revestimento epitelial formando camada única ou aglomerados, é paralelo ao material proteico depositado em nível da membrana basal. Nos estados crônicos hipertróficos cumpre destacar a abundância de material proteico depositado. Há necessidade de técnicas especiais para o reconhecimento devido de sua natureza. E lícito inferir que se trata de material proteico do tipo das imuneglobulinas. Seu estudo, envolvendo metodologia própria poderá ser feito sob o aspecto qualitativo ou do ponto de vista quantitativo. Estas medidas não foram objeto de preocupação na presente pesquisa.

Summary

The author studies 500 preparations of the nasal mucous membrane in the chronic hipertrophic stage with the following conclusions:

1 - Lining of the epithelium

Considering the major changes of the epithelium on the histoarchitectural point of view, the histochemical modifications are small and mostly related to the glicogen. The glicogen present in the normal epithelium was not seen in pathological conditions.

Neutral mucopolysacharides and carboxilated and/or sulphated acids (hialuronic and sialic acids) were found in the epithelium under stressing conditions at the prismatic and caliciformed cells level. The natural reserves of the celularglicogen possible wear out in relations to the suffering of the epithelium.

II - Basal membrane

There are not great differences under normal or pathological conditions in the qualitative aspect of the histochemistry of the basal membrane. Under normal conditions the condroitin sulphates A and C are easily recognizable and under abnormal conditions only the B sulphate in found. During tissular suffering the B condroitin sulphate is the muco polysacharide deposited in the basal membrane. There is also an exagerated de Posit of others sulphated substances producing the thickening and irregularity of the basal membrane. The deposit of proteic material at this level is also very exuberant. The growth of the cells, lynphoplasmocytes, from the corium to the epithelium lining forming a single layer or agglomerated, is parallel to the proteic material deposited at the basal membrane level. In the chronic hypertrophic stages the proteic material deposited is very abundant; because of its nature special techniques are necessary for its recognition. It can be assumed that the proteic material is of an immunoglobulin nature. Its study with adequate methods can be done concerning the qualification or the quantitative aspect. These questions were not of our concern in the present work.

V - Referêcias Bibliográficas

1. Cestino, f. & Crifó, S. - Sulla distribuizione del mucopolisacaridi acidi nella mucosa nasale umana fetale, adulta normale ed in condizioni allergiche. Clin. O.R.L. 608-615, 1954.
2. Chevance, L. G. - Histochimie de la muqueuse naco-sinusienne, normale et pathologique. In: la Physiologie des sinus. - Ses applications cliniques et therapeutiques. L. Flottes, P. Clerc, R. Riu et F. Devilla. Collaberation de R. Guiller, R. Badré et R. Le ben. Librairie Arnette. (Paris) 1. Ed. 299-307. 1960.
3. Fabianek, J.; Herp, A. & Pigman, W. - Comparative study of acid muccopolysaccharides in dermal connective tissue of some mammals. Comp Siococchem Physiol. 14:21-28, 1965.
4. Ferecici F. - SulPistologia della tunica propria del turbimato inferiore umano. (Controbuto allo studio del connettivo). Arch. It. Anat. Embr. 26:1-62, 1929.
5. Ferrari-Lelli, G. - Sulla natura delta membrana basale della mucosa nasale. Atti Soc. It. Anat., X.° Conv., 147-168, 1946.
6. Jackson, R. T. 7 Arihood, S. A. - The acid mucopolysaccharde and collagen content of human nasal polyps, human and animal nasal mucosa. ANN. OTOL. Rhinol. Laryngol. 80:586592, 1971.
7. Lillie, R. D. - Histopathologic technic and practical histochemistry. New York. McGraw Hill, 201-210, 1965. 1.ª Ed.




* Docente livre de O.R.L. da Faculdade de Medicina da U.S.P.
* Do Departamento de O.R.L. e Oftalmologia da F.M.U.S.P. (Prof. Lamartine Junqueira Paiva).

Imprimir:

BJORL

 

 

 

 

Voltar Voltar      Topo Topo

 

GN1
All rights reserved - 1933 / 2024 © - Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico Facial