Versão Inglês

Ano:  1974  Vol. 40   Ed. 2  - Maio - Dezembro - ()

Seção: Artigos Originais

Páginas: 141 a 144

 

Pesquisa do Reflexo Estapediano por Estímulo não Acústico (Jato de Ar)

Autor(es): Fernando de A. Quintanilha Ribeiro* e
Otacilio C. Lopes F.°**

1 - Após os trabalhos de Lopes Filho3, 4, 5, a impedanciometria clínica vem sendo cada dia mais utilizada, em nosso meio, como método auxiliar na avaliação da audição. Dentre os três parâmetros que nos são oferecidos pela impedanciometria, parece-nos ser, o reflexo estapediano, o que se reveste de maior importância. Embora a valorização dos dados do exame só possa ser feita quando todos eles são analizados em conjunto, em certas circunstâncias, o reflexo estapediano, por si só, oferece elementos de alto significado diagnóstico. Sua presença, segundo Klockhoff6, 7, é um índice muito significativo de ouvido médio normal. Num paciente, com perda neurosensorial, e limiar do reflexo menor de 60dB, acima de seu limiar tonal, é indicativo de "recrutamento". Num paciente, com paralisia facial periférica, a presença do reflexo pode sugerir uma lesão infra-estapediana (Kristensen)8. O declínio muito rápido da contração do músculo do estribo é altamente significativo de lesão retro-coclear (Anderson)1. Em algumas circunstâncias, porém, torna-se impraticável a pesquisa do reflexo estapediano. Isso acontece quando no ouvido em que se coloca o fone (ouvido aferente) não há limiar auditivo capaz de desencadear o reflexo no ouvido contra-lateral (via eferente). Isso acontece em pacientes não recrutantes, com limiares acima de 50dB ou em recrutantes com limiares maiores que 90dB. Em certas ocasiões, é muito importante diferenciar se o ouvido oposto (eferente) é puramente neuro-sensorial, ou se tem um componente condutivo. No primeiro caso, haveria o reflexo. E, no segundo, ele estaria abolido. Alguns autores, como Klockhoff7, Wersall9 e Djupesland2, procuraram estudar outros estímulos, que não acústicos, que pudessem desencadear o reflexo estapediano e o substituíssem quando não houvesse limiar suficiente. Dentre esses, chamou-nos a atenção o de Djupesland2, que descreve o método da injeção de ar no conduto auditivo do ouvido oposto (via aferente) ao qual se deseja o reflexo (via eferente). Segundo aquele autor, o estímulo é tactil, sendo de resposta bi-lateral (como o acústico), e pode ser pesquisado estimulando-se o ouvido aferente, ou mesmo o eferente. O método é tão simples, quando comparado aos outros descritos, que levou-nos a utilizá-lo em nossos estudos, a fim de comprovar sua aplicabilidade clínica.

2 - Material e métodos empregados.

Nosso estudo consta da análise dos resultados obtidos em 18 pacientes assim divididos:

a - 4 pacientes considerados audiologicamente normais;

b - 9 pacientes portadores de disacusia neuro-sensorial;

c - 5 pacientes com hipo-acusia do tipo condutivo;



FIG. 1



Utilizamos, como fonte geradora, da corrente de ar, uma pera de borracha como as empregadas no espéculo de Bruening e fornecida pela "Casa ZTORZ" (figura 2). Quando pressionada vigorosamente, determina ela um fluxo de ar que é acompanhado de um ruído (semelhante ao ruído branco), cuja intensidade é comparável a 125dB. Esse fluxo é orientado contra a parede posterior do conduto auditivo externo. O equipamento constou de um impedanciômetro ZO-72 acoplado a um registrador gráfico XXYY MADSEN. O referido modelo possui uma fonte geradora de tons puros, cuja saída máxima é de 125dB, em 500, 1 .000, 2.000 e 4.000 cs.



FIG. 2



3 - Resultados.

a) - Pacientes considerados audiologicamente normais.

Dos quatro pacientes estudados (8 ouvidos), em todos eles o reflexo estapediano foi obtido tanto por estímulo acústico como por estímulo através do jato de ar. Curioso de observar, o registro da resposta ao jato de ar, que mostra duas contrações seguidas, do músculo. Uma, com o estímulo mais forte, inicial, e outro, logo em seguida, causada pela sucção da pera, quando descomprimida (ver figura 3). Essa segunda contração deixava de existir quando, após o estímulo inicial de ar, não se permitia a descompressão da pera.



FIG. 3



b) - Pacientes portadores de disacusia neuro-sensorial.

Foram observados 9 pacientes (18 ouvidos), portadores de disacusia neuro-sensorial moderada ou grave, ou, ainda, com cofose uni ou bi-lateral.

Em dois deles foi possível desencadear o reflexo estapediano por estímulo sonoro e pelo jato de ar. Em 7 outros, que não respondiam ao estímulo sonoro, também não se observou o reflexo por estímulo do jato de ar.

c) - Pacientes com hipo-acusia do tipo condutivo.

Constam, nossas observações, de 5 pacientes portadores de hipo-acusia condutiva. Em nenhum deles foi obtido o reflexo por estímulo sonoro ou pelo jato de ar, quando o ouvido eferente era o portador do defeito de condução (nos unilaterais). Nos bilaterais em nenhum ouvido foi obtido o reflexo com qualquer dos dois estímulos.

4 - Discussão.

Nos pacientes considerados normais, houve absoluta concordância entre os resultados obtidos com estímulo acústico e com o jato de ar. Um curioso achado, a segunda contração, quando da aspiração da pera pela descompressão, levou-nos a pensar que o estímulo do jato de ar se comportava como um estímulo sonoro, pelo ruído determinado pelo fluxo do ar.

Essa hipótese veio a se confirmar quando estudamos o grupo de pacientes com
disacusia neuro-sensorial. Só conseguimos obter reflexo pelo jato de ar nos casos em que o estímulo sonoro também havia sido efetivo. Djupesland2, em seu trabalho, pareceu-nos ter utilizado como fonte sonora um audiômetro cuja saída máxima era de 110dB, em contraste com o jato de ar que gera um ruído de aproximadamente 125dB. E possível admitir-se que aqueles pacientes nos quais não se havia conseguido o reflexo a 110dB, mas o conseguido com o jato de ar, pudessem apresentar o reflexo quando estimulados a 125dB. Nos pacientes com hipo-acusia de condução, não foi possível observar-se o reflexo no ouvido lesado, com nenhum dos dois estímulos, ó que está de acordo com os nossos conceitos.

5 - Conclusões:

Em vista dos resultados obtidos, podemos concluir que o estímulo pelo jato de ar representa na realidade, um estímulo acústico e não tactil como afirma Djupesland2. Assim sendo, não oferece interesse clínico a sua utilização em pacientes que não apresentem o reflexo a 125dB. Pode, no entanto, pela concordância dos achados, substituir um audiômetro como fonte geradora de ruído, para a pesquisa do reflexo.

Summary.

The authors studied the stapedius reflex using air jet and sound in 18 patients (36 ears), using a MADSEN Impedance Bridge ZO-72. In the patients with normal hearing the stapedius reflex was present when using both stimulus. In patients with neuro-sensorial defects, when the reflex was -present with the air it was present with sound too. No patient had the reflex with air without also having it with sound. In patients with conductive defects no reflex was obtained either with air or with sound (when the probe sound was in the defected ear). They concluded that the air jet provokes the reflex not by tactil stimulus but by the sound of the air current.

Referências bibliográficas

1. Anderson, H. et al. - The early detection on acoustic tumours by the stapedius reflex test. In: Wolstenholme, G. E. & Knight J. ed. Sensorial hearing loss, London, J. & A. Churchill, 1970. p. 275-288.
2. Djupesland, C. - Intra aural muscular reflexes elicited by air current stimulation of the externa) ear. Acta Otolaryng. (Stockh.), 54:143153, 1962.
3. Lopes F.° O. C. - Contribuição ao estudo clínico da impedância acústica. Tese, Univ. São Paulo, 1972.
4. Lopes F.°, O. C. - Impedância acústica do ouvido médio. Suas aplicações clínicas. Revista Brasileira de O.R.L. 38:176-180, 1972.
5. Lopes F.O, O. C. - Método objetivo no diagnóstico otológico. Rev. Atual. Otol. Fon., 1: 113-126, 1973.
6. Klockhoff, I. - Middle ear muscle reflex tests for otologic diagnosis. Tr. Am. Acd. Ophth. and Otol., 58:777-784, 1963.
7. Mockhoff, I. - Middle ear muscle reflex in man. Acta Otolaryng. (Stockh.), supp. 164, 1961.
8. Kristensen, H. K. - Topic diagnosis of peripheral facial nerve palsy. Ann. Otol. (St. Louis), 66:1113-1118, 1957.
9. Wersall, R. - The tympanic muscles and their reflexes. Acta Otolaryng. (Stockh.) supp. 139, 1958.




Endereço dos autores:

Faculd. Ciências Médicas Sta. Casa de São Paulo Clínica Otorrinolaringológica
Rua Cesário Motta Júnior 112, 5.° andar
01221 - São Paulo - Brasil

* Residente da Disciplina de O.R.L. da Sta. Casa de Misericórdia de São Paulo.
** Prof. Associado da Disciplina de O.R.L. da F.C.M. da Sta. Casa de São Paulo.

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