Versão Inglês

Ano:  1974  Vol. 40   Ed. 1  - Janeiro - Abril - (14º)

Seção: Artigos Originais

Páginas: 107 a 109

 

CISTO DERMÓIDE DO NARIZ (*)

Autor(es): Luis Carlos Fontoura Carpes**,
Luis Carlos de Avelino**,
Vicente Barbosa Marques***

O cisto dermóide congênito do dorso nasal é uma rara afecção. Existe cerca de 150 casos relatados. Aparece em um ponto na linha média do dorso nasal, geralmente no bordo inferior dos ossos nasais. A abertura da fístula pelo seu tamanho diminuto pode passar desapercebida, mas a presença de cabelo (o chamado pêlo sentinela), melhor visto em perfil, ajuda o diagnóstico. É encontrado em qualquer idade mas predomina na adulta.

O trajeto fistuloso é variável, podendo restringir-se a uma simples depressão no septo nasal pela resistência da cartilagem septal à pressão, como pode ocorrer trajeto fistuloso até o etmóide, esfenóide ou mesmo junto à hipófise.

Classicamente existe duas teorias que procuram explicar a origem dos cistos dermóides. A teoria da origem superficial, ou facial e a teoria da origem profunda ou craneal. A primeira é atribuída a Bland-Sutton. Ele considerava a cápsula nasal constituída de uma cartilagem hialina coberta por pele externamente e por mucosa internamente. Segundo ele, no terceiro mês de vida intrauterina, a pele poderia dissociar-se da cartilagem por intrusão gradual dos ossos nasais.

Pequena porção de pele ficando aderente à cartilagem poderia dar origem ao desenvolvimento de cisto dermóide. Esta teoria também é seguida por vários autores, como New e Erich, Holmes, Crawford, Champion, Webster e Prendiville.

Cruvelhier em 1817 (citado por Lannelongue) descreveu um paciente que possuía uma fístula no nariz desde o nascimento com saída de material e pêlo para o exterior. Durante o ato cirúrgico, observou que o trajeto fistuloso ia até os ossos da base do crâneo. Lannelongue e Gussarez, descreveram casos em que a fístula ia até o esfenóide e em outros observaram o contato com a dura, sendo preciso removê-la. Matson relatou um caso com complicações intracraneais. Os autores citados admitem a origem profunda ou craneal e sua exteriorização no dorso nasal como acidental. Sua teoria é que a porção do ectoderma fetal foi fechada ou incluída no tempo de fechamento do neuroporo anterior e o subseqüente crescimento exagerado do processo fronto-nasal desta região, terminando em fístula do dorso, quando fechado.

O exame radiológico contrastado é de fundamental importância nos permitindo ver o trajeto fistuloso em toda a sua extensão. A perfeita avaliação pré-operatória facilita a retirada total da patologia evitando que ocorra recidova, encontrada nos casos em que não se consegue retirar totalmente.

O uso do microscópio otológico, para melhor visualização das estruturas é uma conduta que facilita a exerese total.

O diagnóstico diferencial deve ser feito com: cisto sebáceo, que está ligado à pele, mas não aos tecidos subjacentes; cisto de implantação ou inclusão, que geralmente está associado a história de trauma ou cirurgia; furúnculo, o tempo de evolução elucida; lipomas, não estão ligados à pele ou a outras estruturas; meningocele, drena líquido cérebro-espinhal; ainda podemos lembrar os gliomas, neurofibromas e encéfaloceles.

RELATO DE UM CASO: J.S., 30 anos, masculino. Procurou-nos com a queixa de saída de secreção fétida por um orifício no dorso nasal. Ao exame da pirâmide nasal observamos pequena abertura na base dos ossos nasais, com presença de pêlos melhor visualizados em perfil. Fig. 1

Realizamos a cirurgia com anestesia local, utilizando o microscópio otológico.

O exame histopatológico revelou tratar-se de cisto dermóide. Fig. 2



FIG. 1 - J.S., 30 anos, masculino, apresentando pequeno orifício na base dos ossos nasais, com saída de secreção e presença de pêlos.



FIG. 2 - Estudo histológico do caso.



Comment:

The diagnosis of the typical dermoid cyst of the nose is usualy not difficult. But if inadequately avaluated preoperatively or if incompletely excised, may present difficult management problems.

Bibliografia Consultada

1. BIRKETT, H. S. - Report of two cases of dermoid cyst of the nose. New York Med. J. 73: 91-94, 1901.
2. CRAWFORD, J. K., WEBSTER, J. P. - Congenital dermoid cyst of the nose. Plast. & Reconstruet. Surg. 9: 235, 1952.
3. HOSHAW, T. C. and WALIKE, J. W. - Dermoid cyst of the nose. Arch. Otolaryng 93 : 487-491, May, 1971.
4. LANNELONGUE, R. and MENARD, V. - Affectians congenitales. Asselin et Houzeau, Paris, 1891.
5. LITTLEWOOD, A. H. M. - Congenital nasal dermoid cyst and fistulas. Plast. Reconstr. Surg. 27: 471-488, 1961.
6. LUONGO, R. A. - Dermoid cyst of the nasal dorsum. Arch. Otolaryng Chicago. 17: 755-759, June, 1933.
7. PRATT, L. W. - Midline cysts of the nasal dorsum. Embriologic origin and treatment. Laryngoscope 75: 968980, 1965.
8. TAYLOR, B. W. and ERICH, J. B. Dermoid cyst of the nose. Mayo Clin. Proc. 42 : 488-494. Aug. 1967.





(*) Trabalho realizado na Clínica Professor José Kós
(**)Professores Assistentes da Cadeira de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina de Valença. Médicos do Curso de Especialização em Otorrinolaringologia da Clínica Professor José Kós.
(***) Médico do Curso de Especialização em Otorrinolaringologia da Clinica Prof. José Kós.

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