Ano: 1974 Vol. 40 Ed. 1 - Janeiro - Abril - (6º)
Seção: Artigos Originais
Páginas: 47 a 51
LINFANGIOMA - apresentação de dois casos (*)
Autor(es):
Cesar Sant'Anna Lorandi**,
João Jorge D. Barbachan***,
Liliane Yurgel de Oliveira****
Introdução
O linfangioma é considerado pela maioria dos autores como uma anomalia congênita de vasos linfáticos.(1, 2, 3, 5, 6).
A lesão é indolor e o único sinal clínico pode ser o aumento de volume da região envolvida. Muitas vezes o paciente só procura o profissional quando a lesão é traumatizada e, então, notada.
Apresentação de casos
Os casos aqui apresentados foram enviados pelo Prof. Dr. João Ephrain Wagner, Titular da Disciplina de Cirurgia Buco Facial da Faculdade de Odontologia da Pontifícia Universidade Católica, do Rio Grande do Sul, P. Alegre.
Caso n.º 1: Ficha 112, paciente MLH, feminina, branca, 17 anos, apresentava um aumento de volume em toda a hemi língua, do lado direito, da. mesma cor da mucosa, indolor. Dizia ter há cerca de "13 anos". O aspecto clínico lembrava uma hiperplasia de papilas.
O exame macroscópico da peça revelou: fragmento de tecido mole, de 3 cm de comp. x 2 cm de larg. x 0,5 cm de espessura, com hipertrofia das papilas fungiformes. Ao corte notou-se espessamento do epitélio, consistência firme e coloração esbranquiçada.
O exame microscópico da peça, corada por Hematoxilina/Eosina, revelou: grande número de vasos linfáticos, principalmente no córion e junto às papilas linguais. (Fig. 1) Também entre as fibras musculares haviam espaços vasculares. (Fig. 2) Alguns desses vasos achavam-se preenchidos por linfa. No estroma, de tecido conjuntivo fibroso, notava-se a presença de vários ninhos linfocitários. (Fig. 3) Havia, também, um leve infiltrado inflamatório crônico e vários vasos sanguíneos trombosados, sendo que alguns parcialmente hialinizados. Um outro achado foi a presença de espongiose, no epitélio. (Fig. 3)
FIG. 1 - Linfangioma de língua. Notar espaços vasculares localizados nas papilas linguais. Epitélio com espongiose
FIG. 2 - Linfangioma de língua. Grande número de vasos linfáticos entre os feixes de fibras musculares
FIG. 3 - Linfangioma de língua. Ninho linfocitário abaixo do epitélio. Notar a espongiose do epitélio
Diagnóstico Histopatológico: Linfangioma
Caso n.º 2: Ficha 118, paciente ACR, masculino, branco, 24 anos, apresentava uma lesão elevada na bochecha direita, de forma ovóide, com cerca de 1 cm de diâmetro, próxima ao canal de Stenon, de coloração esbranquiçada. Havia secreção de um líquido seroso, amarelado.
O exame macroscópico da peça, revelou: fragmento de tecido mole, de coloração esbranquiçada, com cerca de 2 cm de comp. x 1 cm de larg. x 0,5 cm de espessura, com superfície lobulada e consistência mole ao corte.
O exame microscópico da peça, corada por Hematoxilina/Eosina, revelou: grande número de vasos linfáticos, alguns vazios, outros preenchidos por líquido linfático. (Fig. 4). O conjuntivo apresentava-se extremamente frouxo dando, inclusive, impressão de edema. Havia a presença de ninhos linfocitários e alguns linfácitos espalhados. No epitélio havia acantose e nítida espongiose. (Fig. 5)
FIG. 4 - Linfangioma de bochecha. Grande número de vasos linfáticos e ninho linfocitário abaixo do epitélio
FIG. 5 - Linfangioma de bochecha. Vasos linfáticos e epitétio com espongiose
Discussão
Clinicamente a aparência dos linfangiomas pode ser igual a dos hemangiomas, cujo diagnóstico diferencial é, então, feito pela cor da lesão (3). Dentre os defeitos vasculares linfáticos orais parece que o de língua é o mais comum (4, 5) resultando, quase sempre, em uma macroglossia (1, 4, 5, 6). A macroglossia é, inclusive, muitas vezes, o sinal inicial de um linfangioma (3). Mesmo quando a anomalia de sistema linfático é em outra região (assoalho da boca, por exemplo), é comum uma macroglossia associada (4).
Em ambos os casos relatados foi evidente o grande número de espaços lineados por endotélio, que representariam vasos linfáticos (1, 2, 3, 4, 5, 6). Estes espaços podem ou não conter linfa coagulada ou, ainda, eritrócitos e leucócitos.(1) Ocorrem tanto no córion, como no tecido muscular e mesmo no epitélio que, então, clinicamente se veria como inúmeras vesículas.(1)
Estas vesículas, segundo Koop (4), podem ter erupção espontânea, desaparecendo e sendo substituídas. Com estas mudanças as vesículas desaparecidas deixariam uma lesão residual papilomatosa (4)Para Paleta (6), no entanto, os linfangiomas não desaparecem expontaneamente. A aparência clínica papilar, também é comum no linfangioma de língua (3), nesse caso pela elevação das papilas linguais.
Em ambos os casos descritos encontramos ninhos linfocitários, os quais, somados aos vasos linfáticos, caracterizam o quadro histopatológico dos linfangiomas.
Quanto ao infiltrado inflamatório crônico encontrado, talvez tenha sido causado por traumas repetidos nas lesões.
Em um dos casos encontramos acentuada acantose, semelhante a do caso descrito por Guingrass (2). Um outro achado interessante foi a presença de espongiose em ambos os casos.
Resumo
Os autores apresentam dois casos de Linfangioma Oral, uma má formação relativamente rara, sendo um localizado na língua e outro na bochecha. É salientado o padrão histopatológico típico grandes vasos linfáticos revestidos por uma única camada de células endoteliais.
Summary
The authors presented two cases of lynphangiomas of the oral cavity. Attentions is call to the tipical histopathological pattern many endotheliallined spaces.
Bibliografia
1. DIGMANN, R. O. and GRABB, W. C. - Lymphangioma of the tongue, Plast Reconst Surg, 27: 214-233, 1961.
2. GUINGRASS, J. P. et alli - Lymphangioma of the oral cavity: report of three cases, J. Oral Surg, 29: 428-432, 1971.
3. GORLIM, R. J. et alli - Thoma's oral pathology, 6.º ed. C.V. Mosby Co.,St.º Louis, p. 882, 1970.
4. KOOP, C. E. and MOSCHARIS, E. A. - Capilary lymphangioma of the tongue complicated by glossitis, Pediatrics, 27: 800-810, 1961.
5. LITZOW, T. J. and LASH, H. - Lymphangioma of the tongue, Proc Mayo Clin, 36: 229-234, 1961.
6. PALETTA, F. X. - Lymphangioma, Plast Reconst Surg, 37: 269-279, 1966
(*) Trabalho realizado na Disciplina de Patologia Geral e Buco Dental do Departamento de Patologia do Instituto de Bio Ciências, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, P. Alegre.
(**) Professor Adjunto Professor Titular Auxiliar de Ensino.
(***) Professor Titular
(****) Auxiliar de Ensino