Versão Inglês

Ano:  1972  Vol. 38   Ed. 3  - Setembro - Dezembro - ()

Seção: Artigos Originais

Páginas: 311 a 317

 

A PROPÓSITO DE 100 TIMPANOPIASTIAS NA INFÂNCIA

Autor(es): Francisco Correa Sojos**,
José Pelerin***,
Joseph Delaunay*** e
Ossamu Butugan ****

I -INTRODUÇÃO

O presente trabalho se refere ao estudo estatístico dos resultados obtidos no tratamento cirúrgico das hipoacusias de transmissão de 100 crianças de menos de 12 anos de idade, efetuados na Clínica Universitária de O. R. L. - Bordeaux (França) - (Serviço do Prof. M. PORTMANN) sob o aspecto de diagnóstico operatório, técnica cirúrgica, cuidados operatórios, evolução e resultado funcional a médio e a longo prazo.

II - CASUÍSTICA E METODOLOGIA

Neste estudo de 100 timpanoplastias na infância, temos 25 casos de otite média crônica supurada simples, 30 de otite média crônica supurada colesteatomatosa, 6 de otite média crónica colesteatomatosa seca, 33 de seqüelas de otite média e 6 de agenesia do ouvido médio. O Quadro I permite ter uma idéia da freqüência de cada tipo de reconstrução funcional em função do diagnóstico operatório.


QUADRO I



A primeira constatação é a freqüência do colesteatoma, visto que encontramos 36 colesteatomas sobre 61 casos de otites médias crônicas ou seja mais de 59% dos casos. A timpanoplastia foi efetuada de acordo com a técnica de Portmann (1969, 1970a, 1970bb. 1971 e 1971. A utilização de tecido conjuntivo na reconstrução timpânica foi abandonado totalmente, usando-se a fascia temporal que é um material mais coerente e mais resistente, o que é comprovado no seguimento pós-operatório, onde constatamos a diminuição de casos de necrose de enxerto. Nós achamos que esta fascia é um vetor de escolha para a formação de uma neo,membrana timpânica. A reconstrução funcional consistiu sobretudo no tipo I, II ou III e em raros casos o tipo IV ou V. O efeito columelar nos tipos II e III foi assegurado por ossículos do paciente ou pelo ossículo do "banco" ou cortical mastoidiana ou mais recentemente por dente de 'banco. O ideal evidentemente é a utilização de auto-enxerto ossicular. Entre as intervenções cirúrgicas efetuadas, tivemos 5 cirurgias de reconstrução do tipo IV ou V. Entre os 100 casos tivemos 39 miringoplastias, 28 timpanoplastias tipo II e 27 do tipo III. E foi observado a predominância do tipo 1 nas OMC sup.-simples e de seqüelas de otites e o elevado número de tipo II nos colesteatomas (18 caso sobre 36). Nos casos onde a aticotomia foi necessário ou quando se efetuou o tempo funcional
para a cavidade de mastoidectomia radical, nós utilizamos como material de sustentação do enxerto ao nível de ático um fragmento de cartilagem retirado da concha auricular e adaptado às dimensões da parede atical a reconstruir. Não foi constatado em nenhum caso a ocorrência de pericondites do pavilhão no pós-operatório. Os pacientes após 7 dias de intervenção cirúrgica foram em seguida controlados do ponto de vista clínico e audiométrico no mês que se segue à cirurgia. Mas nós deteremos no nosso estudo nos audiogramas efetuados no 2.°, 3.° mês e depois do 6.° mês ou 12 meses para julgar a estabilidade do resultado funcional.

III - RESULTADOS E COMENTÁRIOS

1- Quanto aos cuidados pré-operatórios:

Foram efetuados cuidados pré-operatórios especiais para otorréia em 19 casos sobre 100:

1.º - em 7 casos de OMCS simples foi necessário colocar drenas na cavidade posterior transmastoidiano com lavagens pós-operatórias porque existia lesões mucosas crônicas ao nível dá cavidade antroatical, mastoidiana e caixa. E nós temos obtido bons resultados com esta orientação.

2.° - em 12 casos de OMC colesteatomatosa, a cirurgia resolveu a otorréia em 11 casos.

2 - Quanto ao cuidado local pós-operatório:

Se nós não julgarmos os casos onde os cuidados locais foram praticados antes da intervenção, os seguimentos locais imediatos foram excelentes na grande maioria (84%). Entretanto nós ressaltaremos:

1.° - 8 pequenos incidentes pós-operatórios que foram:

a) - início de estenose do conduto, rapidamente controlado pela colocação de pequenos tampões de algodão embebidos de corticoide;

b) - início de otorréia, controlado por aspiração e instilações locais.

Neste grupo verificou-se que 7 casos eram portadores de colesteatoma.

2.° - 8 maus resultados imediatos, cujos seguimentos locais foram:

a) - necrose parcial ou sub total do enxerto;

b) - reaparecimento da otorréia, vertigem e acufenos.

Neste grupo tivemos 1 caso de OMCS Simples, 4 de colesteatoma, 2 de seqüela de otites e 1 de agenesia de ouvido médio.

Nestes 16 casos de dissabores pós-operatórios, 11 timpanoplastias correspondiam a colesteatomas.

3 - Quanto ao controle audiométrico no 2.°-3.° mês:

O controle audiométrico no 1.° mês que se seguiu à intervenção sempre foi efetuado. Porém, não foi possível realizá-lo em todos os pacientes no 2.°-3.° mês por motivos geográficos. Todavia, os exames audiométricos foram efetuados em 91 casos neste 1.° trimestre, como mostra o quadro II.


QUADRO II



Podemos assim estabelecer um ganho médio obtido ao 2.°-3.° mês. É necessário ressaltar que não é racional, analisar o sucesso funcional pelo ganho obtido porque se o Rinne inicial não é maior que 20 dB, um ganho de 15 dB é evidentemente um sucesso, ou que um ganho de 25 dB sobre um Rinne de 40 dB é um resultado relativamente bom. O quadro II permite, por outro lado, mostrar que sobre 91 casos controlados, 19 casos não obtiveram um ganho de mais de 10 dB e 72 casos com uma melhora funcional médio de 15 a 35 dB ou seja cerca de 80% de bons resultados.

4 - Quanto à estabilidade do ganho obtido:

Foi possível controlar uma parte dos pacientes, isto é, em 42 casos, após 1 ano da cirurgia, conforme o Quadro III.

Nós podemos assim, constatar sem prejulgar o diagnóstico operatório da timpanoplastia que os ganhos obtidos ao fim do 1.° trimestre restaram estáveis após o 1.° ano em 38 casos sobre 42. É necessário ressaltar todavia que estes 42 não compreendem que as timpanoplastias cujo ganho foi suficiente e não necessitaram uma reintervenção.

5 - Quanto à reintervenções:

Sobre os 100 casos estudados foi realizada a reintervenção cirúrgica em 22 pacientes nos dois primeiros anos de evolução, conforme o quadro IV.

É interessante salientar que:

1.º - Sobre 25 casos de OMCS Simples operados, 3 casos necessitaram uma reintervenção, onde 2 casos tinham antecedentes rinofaringeos evidentes. Dentre estes 3 casos 1 caso teve um ganho de mais de 35 dB enquanto os 2 outros melhoraram com a reintervenção.


QUADRO III



QUADRO IV



2.° - Sobre 30 casos de OMCS Colesteatomatosa, foram efetuados 11 reintervenções e dentre estas 4 tinham trompa dispermeáveis. A reintervenção permitiu em 6 casos ganhar entre 15 a 30 dB e em 4 casos o ganho foi inferior a 10 dB e em 1 caso, somente, foi controlado no 3.° mês.

3.° - Sobre 6 OMC Colesteatomatosa seca foi praticado uma reintervenção que não deu melhora funcional notável.

4.º - Sobre 33 seqüelas de otites foram efetuadas 7 reintervenções e em 6 foi obtido um ganho suplementar de 15 a 30 dB.

Este estudo de 22 reintervenções fez ressaltar a freqüência dos colesteatomas visto que este diagnóstico se verificou em 12 casos isto é, em 54,5% dos casos de reintervenção eram representados por OMC Colesteatomatosa.

IV - CONCLUSÕES

O estudo de 100 timpanoplastias nas crianças nos permite tirar um certo número de conclusões:

1.° - a freqüência de colesteatoma nas crianças foi de 36 casos sobre 61 de otite média crônica ou seja mais de 59%.

2.° - A OMC Colesteatomatosa parece ser uma fonte de dissabores pós-operatórias, visto que sobre 16 casos de mal-resultado local imediato; 11 casos eram de colesteatoma.

3.° - Dentre os 22 casos de reintervenção, 11 eram de colesteatoma que havia sido constatado por ocasião da primeira intervenção.

4.° - Convém, entretanto, ser otimista no que concerne ao conjunto dos resultados porque a intervenção permitiu secar 18 otorréias crônicas sobre 19 casos.

5.° - A indicação cirúrgica deve ser colocada sem reserva nas crianças porque:

a) - Os resultados funcionais são encorajantes sobre 91 timpanoplastias controlados, onde 72 casos obtiveram ganhos de 15 a 35 dB (80%) ; 13 casos melhoraram menos de 10 dB (14%) ; 6 casos obtiveram recuperação apreciável;

b) - Diante da freqüência e da gravidade do colesteatoma não se deve hesitar na intervenção cirúrgica, mesmo correndo o risco de insucesso funcional e no caso a idade do paciente não deve ser levado em conta, visto que na nossa casuística, crianças de desde 6 anos foram operados.

V - SUMÁRIO

Os autores descrevem 100 timpanoplastias de crianças, relatando e analisando sob o ponto vista diagnóstico operatório, técnica cirúrgica, cuidados operatórios, resultado funcional e reitervenções. Os mesmos concluem de que a otite média crônica colesteatomatosa é de ocorrência freqüente e algumas vezes motivo de dissabores pós-operatórios que requerem reintervenção. E indicam a timpanoplastia nas crianças devido a resultados funcionais encorajadores e à freqüência e gravidade do colesteatoma.

VI - RÉSUMÉ

Les auters ont fait un étude statistique des resultats obtenus dans le traitement chirutgical des 100 hypoacousies de transmission chez 1'enfant de moins de 12 ans, compre tendu traitement pré-operatoire eventuel, du type d'intervention, des suites locales et de 1'avenir fonctionnel à moyen et long terme.


VII - BIBLIOGRAFIA

1. Portmann, M. - Chirurgie tympanoplastique (Considérations générales) - Rev. Laryngologie 90:271-287, 1969.
2. Portmann, M. - Les voies d'accès dans la chirurgie tympanosplastique - Rev. Laryngologie 91:61-79, 1970.
3. Portmann, M. - Le temps d'éradication des lésions eu chirurgie tympanoplastique - Rev. Laryngologie 91 :156-168, 1970.
4. Portmann, M. - L'aménagement des cavités eu chirurgie tympanoplastique - Rev. Laryngologie, 92 :773-790, 1971.
5. Portmann, M. & LacUr, G. - Le temps fonctionnel eu chirurgie tympanoplastique - Rev. Laryngologie 92 :382-412, 1971.




* Trabalho da Clínica Universitária de O.R.L. - BORDEAUX (França) (Serviço do Professor M. PORTMANN).

** Ex-Estagiário do Serv. Prof. M. PORTMANN e Médico-O.R.L.-GUAIAQUIL (Equador).

*** Médicos-Assistentes do Serv. Prof. M. PORTMANN.

**** Ex-Bolsista da Fondation Portmann e do Gouvernement Français pela Cooperation Technique C.I.S. - Assistente-Doutor da Clínica ORL - Hospital das Clínicas da F.M.U.S.P. O Bolsista agradece sinceramente a todos os Membros da referida Fondation e C.I.S.

Imprimir:

BJORL

 

 

 

 

Voltar Voltar      Topo Topo

 

GN1
All rights reserved - 1933 / 2024 © - Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico Facial