Versão Inglês

Ano:  1972  Vol. 38   Ed. 2  - Maio - Agosto - (30º)

Seção: Artigos Originais

Páginas: 215 a 217

 

IMPERFURAÇÃO COANAL UNILATERAL (CONSIDERAÇÕES SOBRE DOIS CASOS)

Autor(es): Marcelo de Almeida Santos**,
Luiz Carlos de Avelino (relator)***,
Vicente de Paula Barbosa Marques***

Com o objetivo de contribuir de alguma forma com o estudo da Imperfuração coanal, resolvemos fazer um levantamento dos casos que apareceram nos últimos 6 meses no ambulatório da Clínica Prof. José Kós no Rio de Janeiro, em 1972.

Fazendo revisão dos 8 200 pacientes atendidos, encontramos apenas 2 (dois) casos de Imperfuração coanal, em crianças do sexo feminino com idades respectivas de 4 e 11 anos.

Apesar de sermos conhecedores dos cuidados que atualmente são dispensados aos recém-natos nas maternidades, como a aspiração naso-traqueal, etc., ainda encontramos casos que passam desapercebidos:

1º Caso: E. M. D., brasileira, nascida no Estado da Guanabara, 4 anos, sexo feminino, branca, com queixa de coriza permanente desde o nascimento.

Há de relatar que a menor apresentava imperfuração anal e também deformidade do polegar direito.

O estudo radiológico feito revelou: Coana esquerda normal; Imperfuração coanal direita e velamento do seio maxilar esquerdo.

2º Caso: M. M. O. M., brasileira, nascida no Estado da Guanabara, 11 anos, sexo feminino, branca, com queixa de coriza permanente e obstrução nasal.

O estudo radiológico revelou: Imperfuração coanal direita.

OBS: Os estudos radiológicos foram feitos no Instituto Estadual de Radiologia e Medicina Nuclear "Manoel de Abreu".

Por definição sabemos que a Imperfuração Coanal é uma anomalia congênita em que há persistência da membrana naso-bucal com osteogênese posterior.

Os aspectos embrionários já foram estudados minuciosamente por vários autores, entre os quais Davies.

Do ponto de vista etiológico esposamos, entre as várias teorias já conhecidas, a da "não" reabsorção da membrana buco-faríngea por cima do palato, durante o período embrionário".

A incidência, segundo Alonso, "não representa a verdade; há, pois um grande número de casos que não são diagnosticados, isto em face de não constituírem rotina nas autópsias, o exame das coanas".

Alguns autores relatam a proporção de 1:6000, outros 1:9000. 0 nosso estudo mostra 1:4000 sendo uma das freqüências mais elevadas, comparado com os estudos anteriores.

A cirurgia e a anatomia patológica nos mostram que a imperfuração na maioria dos casos é óssea, variando a espessura. O aspecto da cobertura nasal da oclusão não mostra nada especial além do aparente espessamento.

Um fato que não pode ser esquecido é a associação com outras malformações como: imperfuração anal, aboboda palatina elevada, etc.

A sintomatologia oscila de maneira gritante desde o mais dramático quadro de dispnéia intensa, às vezes levando à morte, ao mais simples quadro de coriza e obstrução nasal.

Um aspecto interessante de ser frisado é a coriza permanente, decorrente da drenagem natural da lágrima pelo conduto lacrimo-nasal que, não encontrando o ar aquecido necessário para ser evaporado, serve de fonte constante da secreção nasal, junto ainda aos produtos de eliminação glandulares dessa região.

Isto tudo é agravado pelo fato de o paciente não conseguir assoar o nariz.

No exame do paciente, quando não existem malformações associadas, encontramos apenas através do exame rinoscópico a fossa nasal com secreção e obstrução da porção coanal.

A pesquisa da permeabilidade nasal é feita simplesmente mandando o doente com a boca fechada respirar pelo nariz, ou através do uso de sonda de Nelaton introduzida na fossa nasal, sendo visualizada ou não no faringe. Ainda podemos utilizar a instilação de corante como o azul de metileno ou ainda o estudo radiológico contrastado que irá comprovar a imperfuração.

O diagnóstico diferencial da imperfuração coanal é feito com as seguintes patologias: 1. Hipertrofia das vegetações adenóides; 2. Corpo estranho; 3. Pólípos; 4. Neoplasias; 5. Estenoses cicatriciais secundárias a: traumatismos, queimaduras e cáusticos; 6. Infecções específicas ou não específicas.

Tratamento: no recém-nascido, em face da imperfuração ser na maioria dos casos membranosa é suficiente a introdução de um cateter de polietileno ou um estilete, resolvendo em parte o problema.

Segundo Berendes "a excisão simples da placa atrésica oferece apenas êxito imediato, pois algumas semanas ou meses após se reproduz um oclusão cicatricial, em que pese o tratamento regular ou a colocação de um tubo".

Após a 1ª década de vida poderemos efetuar o tratamento definitivo através das várias técnicas existentes.

Na nossa experiência foi utilizada a técnica transpalatina de Ruddy, obtendo-se bom resultado.

Resumo

Os autores apresentam dois casos de Imperfuração Coanal unilateral em pacientes de 4 e 11 anos de idade, sexo feminino, com história de obstrução nasal unilateral e coriza permanente. Em um dos pacientes estava associado a imperfuração anal e polidactilia (mão direita), já operado.

Mostram ainda o aumento da incidência da patologia na Guanabara, apesar dos modernos métodos de assistência ao recém-nascido.

Summary

The autores present two case of unilateral choanal imperforation in four (4) and eleven (11) years old femals patientes, with give and history of unilateral nasal blockage and constante stiffness. In one case this were associated with anal imperfuration and plydactilya (right hand), which has previsously beenn operated of such condicions.

They still present the increased pathology incidence in Guanabara, beside the modern newborn assistence techniques.

Bibliografia

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7. Ensyclopédie médico-chirurgicale, tome III, "Rhinologie". 18, rue Seguier. Paris. Fortunato, V. y Niccolini, P. L'olfatto. Coguizíonì antiche e recenti. 1958.
8. Lopes Filho, O. e Granato, L. - Imperfuração coanal em paciente de 61 anos. - Rev. Brasileira de Otorrinolaringologia, 176, 1971.
9. Larroudé, C. - Manual de Otorrinolaringologie, 329, 1945.




* Trabalho realizado na Clínica Prof. José Kós.

** Professor de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina de Valença e Assistente da Clínica Prof. José Kós.

*** Assistentes voluntários da Cadeira de Otorrinolaringologia de Valença e Médicos-Residentes da Clínica Prof. José Kós.

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