Versão Inglês

Ano:  1972  Vol. 38   Ed. 2  - Maio - Agosto - (19º)

Seção: Artigos Originais

Páginas: 189 a 192

 

A IMPEDÂNCIOMETRIA ACÚSTICA EM INDIVÍDUOS NORMAIS DO SEXO FEMININO

Autor(es): Carlos Dantas*

A impedânciometria acústica tem assumido atualmente um lugar de destaque como elemento propedêutico na exploração otológica. Método essencialmente objetivo, em oposição a audiometria, independente do fator psicofisiológico fonte que é responsável por resultados equívocos em algumas ocasiões.

Investigações neste campo tem sido realizadas desde 1946 quando Metz(1) publicou sua clássica monografia, utilizando uma ponte mecânica. Passaram duas décadas até que Terkildsen e Nielsen(2) introduziram a ponte eletroacústica no seu uso clínico, objetivando a investigação das modificações da impedância acústica resultantes da contração reflexa dos músculos intra-timpânicos e da pressão no meato acústico externo; e, devido a estes investigadores a impedânciometria acústica tornou-se um instrumento de indiscutível valor no diagnóstico clínico em otologia. Desde então numerosos trabalhos focalizando diversos aspectos da impedância acústica tem sido publicados(3,4,5,6). Recentemente Jerger(7) em sua excelente monografia advoga a impedância acústica como um elemento indispensável na bateria de testes audiológicos.

É mérito de Otacilio de C. Lopes Filhos o esforço pioneiro entre nós de pesquisa, ensino e divulgação das técnicas da impedânciometria.

O propósito desta investigação é analisar os padrões de resposta à impedânciometria acústica, num grupo cronologicamente homogêneo de jovens do sexo feminino, procurando correlacionar os achados com grupos anteriormente estudados na literatura.

Material e Métodos

Esta pesquisa foi efetuada na clínica Otorrinolaringológica da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

Foram testados 43 pacientes normais, cuja média de idade foi de 24 anos. Procuramos excluir todo paciente com passado otológico através de anamnese cuidadosa. Os exames foram precedidos de otoscopia, voltando a atenção particularmente à lesões cicatriciais na membrana timpânica; testes de mobilidade ao especulo pneumático de Siegle e, subseqüente a audiometria tonal.

Utilizamos a ponte eletroacústica Madsen ZO-70 conectado a um audiômetro Zenith 2-All OT. Foram realizados por ordem: 1º a timpanometria; 2° a medida da complacência (em centímetro cúbico equivalente) e, em 3.° a medida do reflexo estapediano.

Foram obtidos e analisados os seguintes dados: tipo de curva padrão timpanométrica, curva de distribuição da pressão do ouvido médio em condições neutras (de máximo relaxamento), curva de distribuição da complacência, e, a relação entre limiar do reflexo estapediano (N.S.A.) e, o limiar tonal.

Resultados e Comentários

Observa-se nitidamente (fig. 1) que o ponto de máxima complacência está deslocado para a esquerda o que corresponde a pressão positiva no ouvido médio de 10 C.C. A análise na literatura mostra que no caso de ouvido médio normal o ponto de máxima complacência ocorre próximo da pressão zero, mas pode ser ligeiramente negativo. Esta noção é particularmente sublinhada por Beagley(9). Os resultados de Brooks(10) no exame de crianças entre 4 e 11 anos mostra que nas portadoras de ouvido médio normal a pressão podia variar de 0 a -170 C. C. O gráfico da distribuição da pressão (fig. 2) ilustra melhor tal discordância; a maioria dos casos cerca de 39 registra pressão positiva o que corresponde a 45% do total.



FIG. 1



A cifra média de complacência foi de 0,60 C.C. o que está de acordo com os dados anteriormente obtidos por diversos pesquisadores; todavia em 91% dos casos (fig. 3) a complacência variou de 0,3 a 0,8 C.C. É interessante notar que na análise de Jerger (segundo Otacilio de C. Lopes Filho(8)) 90% dos casos o valor encontrado situava-se em torno de 1,65 C.C. Os dados obtidos por Brooks(10) em igual percentagem foi de 1,05 C.C.

O limiar do reflexo estapediano mostra também resultados discordantes quando comparado a outros autores; pode-se notar na (fig. 4) que o ponto modal situa-se em torno de 75dB. enquanto que níveis de reflexo de 80 a 85dB são os classicamente encontrados(7, 11).

A análise global dos nossos resultados mostra haver uma discordância significativa quando comparada com a de outros autores. Observe-se no entanto que todos os estudos prévios realizados em indivíduos normais foram efetuados em grupos não selecionados de acordo com o sexo.

Qual o significado desta diferença? Davidson(12) indica que a ocorrência de otite média serosa é observada mais freqüentemente em crianças do sexo masculino quando comparadas ao sexo feminino numa proporção de 2 para 1. Bicknell e Morgan(13) utilizando a ponte eletro-mecânica de Zwislocki encontraram a faixa de complacência estreitada no sexo feminino. Os resultados "piores" nos grupos heterogêneos podem ser explicados em termos de um remanescente patológico no ouvido médio prevalente no sexo masculino? Não sabemos responder a esta questão. Acreditamos que pesquisas posteriores dirigidas no sentido de correlacionar os dados obtidos em ambos os sexos venham clarificar esta dúvida.




FIG. 2



FIG. 3



FIG. 4



Resumo

Medições da impedância acústica foram efetuadas em 43 indivíduos normais do sexo feminino. Os dados obtidos diferem significativamente dos descritos na literatura. A explicação em termos de patologia residual do ouvido médio na infância, prevalente no sexo masculino é sugerida.

Summary

Acoustic impedance measurements were carried out in fortythree normal women. The collected data. don't agree with previously reported ones.

This fact could be due to residual middle ear disease that is higher in boys than in girls.

Referências

1. Metz, O. - The acoustic impedance measu red on normal and pathological ears. Acta Otolaryng, suppl. 63, 1946.
2. Terkildsen, K., Nielsen, S. S. - An eletro-acoustic impedance measuring bridge for clinical use. Arch Otolaryng, 72:339-346, 1960.
3. Feldman, A - Acoustic impedance studies of the normal ear. J. Speech Hearing Res, 10 :165-176, 1967.
4. Robertson, E., Peterson, J., Lamb, L. - Re lative impedance measurements in young children. Arch Otolaryng, 88 :70-76, 1968.
5. Lamb, L., Peterson, J., Hansen, S. - Application of stapedius muscle reflex measures to diagnosis of auditory problems. Int Aud, 7:188-199, 1968.
6. Zwislocki, J., Feldman, A. - Acoustic impedante of Pathological Ears, technical report LSC-S-5 of the Laboratqty of Sensory Communication. Syracuse, NY, Syracuse University 1969.
7. Jerger, J. - Clinical Experiente With Impedance Audiometry. Arch Otolaryng, 92:311-324, 1970.
8. Lopes Filho, O. - Curso de Impedância acustica-realizado entre 3 e 9/5/1972 no Depto. de Otorrinolaringologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.
9. Beagley, H. - Progress in objective audiometry, J. Laryng, 86:225-235, 1972.
10. Brooks, D. - The use of the eletro-acoustic impedance bridge in the assesment of middle ear function. Int Aud, 8:563-569, 1969.
11. Ollvier, J. - Les mesures D'Impédance em audiométrie. Les cachiers de ta C.F.A., Paris, 1971, pág. 67.
12. Davidson, F. - Prevention of recurrent otites media in children. Ann. Otol. 75:735-742, 1966.
13. Bicknell; M., Morgan, N. - A clinical evaluation of the Zwlslocki acoustic bridge, J. Laryng, 82:673-691, 1968.




* Do Depto. de Otorrinolaringologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

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